segunda-feira, 15 de junho de 2015

Credo Niceno

Credo Niceno – Histórico
     No dia 19 de junho é o aniversário do Credo Niceno. No dia 19 de junho de 325 (Ano Domini, AD) se realizou em Nicéia (hoje Iznik, na Turquia) o primeiro Concílio Ecumênico que reuniu 318(?) bispos da Igreja, além de muitos diáconos e leigos, talvez um número de aproximadamente 2000 pessoas. Neste concílio foi formulado e aceito o CREDO NICENO.
     O imperador romano Diocleciano (284 – 305 AD) queria extinguir o cristianismo. Houve sangrentas perseguições em todo o Império Romano. Quando Constantino (306-337) se tornou imperador, decretou em 311 AD a lei da tolerância dos cristãos e já em 313 AD, pelo Edito de Milão, a liberdade religiosa geral. Isto terminou com as perseguições. Pouco depois, o imperador decretou a religião cristã como oficial do Império.
     Constantino foi um dos grandes imperadores do Império Romano. Ele procurou unir o império e venceu diversas batalhas. Tendo unido o império, viu com tristeza a divisão da Igreja Cristã. Convocou, então, os bispos, podemos dizer: o primeiro Concílio Ecumênico para a cidade de Nicéia na Ásia Menor, onde ele tinha seu palácio de verão. A Igreja, após tantos anos de perseguição não tinha força material para tal. O próprio Imperador hospedou os 318 bispos, além dos muitos diáconos e leigos, que compareceram.
     O Concílio foi aberto no dia 20 de maio de 325, pelo próprio Imperador com uma mensagem na qual ele pedia a união da Igreja. Ele participou também de algumas reuniões e se manteve bem informado, dando sugestões.
A doutrina de Ário
     No concílio havia dois grupos: Os adeptos do bispo Alexandre de Alexandria e os adeptos do teólogo Ário (270 – 336), também de Alexandria. Ário negou a divindade de Cristo e por isso foi excomungado pelo bispo Alexandre. Mas as discussões continuaram. Agora os dois grupos se enfrentaram no Concílio.
      No Concílio foram tratados também outros assuntos, mas o ponto principal foi a controvérsia de Ário. Ele afirmou que o “Logos”, isto é Jesus, é chamado de Deus, mas não o era. Mesmo existindo Jesus antes da criação, ele era criatura subordinada a Deus Pai. Com isto Ário negou a Trindade e ao mesmo tempo a obra da salvação. Pois se na cruz morreu somente um homem e não Deus, não temos salvação. No dia 19 de junho a formulação do Credo Niceno foi aceita e a doutrina de Ário condenada. Como ele insistiu em sua doutrina, ele teve que ir ao exílio.   
     Infelizmente, não era o fim do problema. A discussão brotou novamente sob o Imperador Constantino II e foi assunto de debates ainda em dois Concílios posteriores. Por fim dividiu a Igreja Cristã em Igreja do Ocidente, hoje a Igreja Católica Romana, que aceita o Credo Niceno, e a Igreja Católica do Oriente que em parte, até hoje, não aceita o Credo Niceno e segue a teoria de Ário, negando ser Jesus igual ao Pai, da mesma essência divina.
Afirmações da Bíblia
   Se olharmos a Bíblia, até parece que ela se contradiz. Por um lado, Jesus afirma: “Eu e o Pai somos um. Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 10.30; 14.10); ao mesmo tempo afirma:  “O Pai é maior do que eu” (Jo 14.28). Quanto ao dia do juízo final afirma: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt 24.36). Além disso, a Bíblia afirma: Jesus é “gerado do Pai desde a eternidade (Salmo 2.7), e é chamado “Filho unigênito” (Jo 3.16). Como vamos entendê-lo?
      Os bispos o formularam assim: “gerado, não criado, de uma só substância com o Pai”. No sentido de que Cristo tem sua essência do Pai. Ele não foi criado por um ato da vontade do Pai, por um caminho, um ato material. Ele é de uma só substância eterna do Pai. Como a discussão continuou mais tarde, o Credo Atanasiano o formulou assim: “O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado... O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.”
     Com respeito à primeira pergunta: “O Pai maior do que eu”, precisamos lembrar o que a Escritura ensina sobre a humilhação e exaltação de Cristo. Vamos resumi-lo aqui: “A humilhação de Cristo consistiu em não ter ele usado sempre e inteiramente a majestade divina, comunicada à sua natureza humana.” (Cf.: Fp 2.5-8). “A exaltação de Cristo consiste em que ele usa sempre e inteiramente a majestade divina comunicada (transmitida) à sua natureza humana.” (Cf.: Fp 2.9-11) Na humilhação Jesus não deixou de ser Deus. Ele só não usou sempre e inteiramente suas qualidades divinas, comunicadas a sua natureza humana.  Na exaltação, Jesus não deixou de ser homem, mas agora usa, também como homem, todas suas qualidades divinas, comunicadas à sua natureza humana. De modo que Jesus como homem é onipotente, onisciente, onipresente.  
     Em nosso meio temos os Testemunhas de Jeová, que vão de porta em porta, abrem a Bíblia e querem provar que a Trindade é uma doutrina cristã errada, que Jesus não é Deus, igual a Deus Pai, antes ele foi criado pelo Pai (mesmo antes da criação do universo) o qual lhe deu certos poderes. Ou ensinam que Deus adotou Jesus como filho e no decorrer da vida lhe conferiu certos poderes.  
     O Credo Niceno afirma a divindade de Cristo com as seguintes palavras: “E (cremos)  em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz de Luz,  verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai (consubstancial  ao Pai), por quem todas as coisas foram feitas.“
Por que uma Confissão, um Credo?
     Algumas igrejas cristãs rejeitam os credos. Eles dizem: Isto é palavra humana, é um radicalismo que só causa e cria divisões.
     No tempo de Jesus, muitos se perguntavam: Quem é Jesus? Um profeta, um revolucionário? etc. Jesus perguntou a seus discípulos: “Quem diz o povo que eu sou”? E depois perguntou diretamente aos discípulos: “Quem dizeis que eu sou?” Ao que Pedro respondeu (sem dúvida todos os outros endossaram a confissão): “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16.13-17)
     Assim, já nos primeiros tempos, até hoje, as pessoas que vem ao batismo (quer adultos ou a pais que trazem suas crianças) são perguntadas: Que crês a respeito de Jesus? (At 8.36-40) Respondiam e respondem ainda hoje com o Credo Apostólico, formulado de frases das cartas dos apóstolos.
     Ao longo da história da Igreja Cristã surgiram diversas perguntas e interpretações erradas da Escritura e a Igreja teve que reunir seus melhores homens (teólogos, pastores e leigos) para examinar a Escritura (a Bíblia) e confessar a verdadeira interpretação e doutrina da Bíblia. Hoje temos três Credos Ecumênicos: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano, bem como as respostas no tempo da Reforma Luterana: As confissões reunidas no Livro de Concórdia de 1580, no qual a Confissão de Augsburgo de 1530 e a Fórmula de Concórdia de 1580 são as principais. Que devem ser constantemente lidas e estudadas nas congregações.
    Em nossa época se detesta a “verdade absoluta”. Dizem, ninguém sabe o que é verdade. Cada um tem a sua verdade. Ninguém é dono da verdade. Por isso “Credos” são detestados com as mais variadas afirmações como, por exemplo: Afirmar um credo é radicalismo, ser reacionário. Jesus afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (Jo 14.6) Jesus orou por seus discípulos: Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. (Jo 17.17) A respeito dos discípulos lemos: “E permaneceram na doutrina dos apóstolos.” (At 2.42)
    Em contraposição às Confissões luteranas a Igreja Católica formulou sua posição doutrinária no Concílio de Trento (1545 – 1583) e os resumiu no seu Catecismo da Igreja Católico, atualizado em 1992. As Igrejas Reformadas expressam sua posição no Catecismo de Heidelberg (1858) e de Westminister.
                                                                                       São Leopoldo, 13/06/2015
                                                                                        Horst R. Kuchenbecker


Credo Niceno – Hinário Luterano
     Creio em um só Deus, Pai
todo-poderoso, Criador do céu e da terra, tanto das coisas visíveis como das invisíveis.
     E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e se encarnou pelo Espírito Santo na virgem Maria e foi feito homem; foi também crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado; e ao terceiro dia ressuscitou segundo as Escrituras, e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai, e virá novamente em glória a julgar os vivos e os mortos, cujo Reino não terá fim.
    E no Espírito Santo, Senhor e Doador da vida, o qual procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; que falou pelos profetas. E numa única santa Igreja Cristã e Apostólica, confesso um só Batismo para remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro. Amém. 

Credo Apostólico
     Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criado do céu e da terra.
     E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso senhor,  
o qual foi  concebido  pelo (do) Espírito Santo,
nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno,
no terceiro dia ressuscitou dos mortos,
subiu ao céu e está à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
     Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja cristã –
A comunhão dos santos, na remissão dos pecados,
Na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém



terça-feira, 26 de maio de 2015

Festa da SS. Trindade


Festa da Santíssima Trindade

     Chegamos ao fim do primeiro semestre no Ano Eclesiástico, com as grandes festas da cristandade: Natal, no qual celebramos o amor de Deus Pai; Sexta feira Santa, Páscoa e Ascensão, nos quais celebramos o amor do Filho e Pentecostes, no qual celebramos o amor do Espírito Santo.
     No segundo semestre do Ano Eclesiástico, que começa com a Festa da SS. Trindade, não temos festividades especiais, mas meditamos sobre o amor do Deus Triúno,  por isso chamamos este período de o “Período da Trindade”. Muitos denominam os domingos como Domingos após Pentecostes.
     O primeiro domingo do segundo semestre é dedicado, de forma especial, à Santíssima Trindade. Esta doutrina é ensinada com muita clareza em toda a Bíblia, e não é uma evolução neotestamentária. As principais passagens do Antigo Testamento são: Gn 1.1-3, 26 (Jo 1.1-3), Elohim no plural; Nm 6.24; 2 Sm 23.2; Sl 33.6; 45.6,7 (Hb 1.8,9); Is 42.1; Is 48.16,17; Is 61.1. As passagens do Novo Testamento são: Mt 3.16-17; Mt 17.5; Mt 28.19; Jo 14.6; Jo 17.5,24; Rm 8.26,27; 2 Co 13.13; 1 Pe 1.2. Estas verdades foram magistralmente resumidas, após muitas lutas, estudos, e orações nos três Credos Ecumênicos, o que se reflete em nossa liturgia e em nossos hinos.
     Vamos, pois, meditar na doutrina da Santíssima Trindade, analisando os Credos Ecumênicos e os principais cânticos litúrgicos.

Credos e Confissões
     Credos e Confissões são nossa resposta à leitura da Bíblia, o testemunho fiel da fé, da doutrina, a bandeira que unifica os fiéis e uma barreira contra erros doutrinários. Santo Agostinho (a.D. 354-430) definiu os símbolos assim: “Símbolo é uma regra de fé breve e grande: breve, pelo número de palavras; grande, quanto ao peso das sentenças.”

Deus
     O assunto Deus está novamente em debate. Perguntas e mais perguntas são levantadas, tais como: Quem é Deus? Quantos deuses há? Como posso conhecer a Deus? É possível ter-se absoluta certeza sobre isso? Os meios de comunicação trazem para dentro de nossos lares as mais diferentes opiniões sobre Deus, religião, doutrina e cultos. Não é de admirar que a idéias da globalização desperta cada vez mais o espírito ecumênico no qual se afirma: Deus é um só. Todas as religiões são boas, elas só diferem na forma.
      O mais importante na religião é o amor. Será tão simples assim? Vamos tomar o versículo: Deus amou o mundo... (Jo 3.16) No árabe se lê: Alá amou o mundo. A palavra hebraica é Elohim (pural), singular Eloha, tem como raiz: Alá.A questão, no entanto, não é de nomes, mas está na compreensão da divindade. Islâmicos adoram Alá, judeus, Elohim ou Jeová, espíritas o Espírito superior, filosofias orientais as forças da natureza, budistas, um deus impessoal, hindus: somos parte de Deus. Todas essas religiões negam a Trindade. O Islã, aceita os cinco livros de Moisés, mas afirma: Quem dá honras divinas a Jesus é Shirk, isto é, idolatria, tal pessoa é réu de apedrejamento.
 
     Quem é Deus? Como posso conhecê-lo? A natureza dá testemunho da excelência de Deus. Os céus proclamam a glória de Deus. (Sl 91.1) A consciência de cada pessoa dá testemunho da existência de Deus. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem desde o principio do mundo. (Rm 1.10) Mas a natureza e nossa consciência não nos revelam quem é esse Deus.   
    
     Homens não podem descobri-lo. Nem pela ciência, nem pela filosofia. É preciso que Deus se revele. E Deus, em grande amor para com a humanidade, se revelou. Havendo Deus, outrora falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas. (Hb 1.1,2) Deus se revela à humanidade na Bíblia e somente na Bíblia.     

     Cremos que a Bíblia é a inspirada e infalível palavra de Deus, não só no sentido, mas palavra por palavra. Mesmo assim, Deus permanece um Deus abscondito (escondido). Nenhum pecador poderá ver a face de Deus. (Ex 33.20) Ele só revelou o que precisamos saber para nossa salvação. À base da Bíblia, nosso Catecismo Menor afirma: Deus é espírito; eterno, onipresente, onisciente, onipotente, santo, justo, verdadeiro, bondoso, misericordioso e gracioso (Cat. Menor, perg. 111). Jesus nos revela o Pai. “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (João 14.9) E: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14.6) Jesus nos revela o Pai. No seu batismo resplandece a Trindade. Jesus disse: “Eu e o Pai somos um.” (João 10.30) A respeito dele o apóstolo Paulo afirmou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” (Atos 4.12) Cremos no Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas distintas num único ente divino.

     Vamos, com oração, meditar o que Deus nos revela em sua palavra sobre sua pessoa e obra. Nossos pais resumiram isto, após lutas e orações, com muita clareza e precisão em Credos e Confissões.

Credos e Confissões

O Credo Apostólico
    Quando uma pessoa vinha de outras cidades para uma comunidade cristã, dizendo ser cristão, ela era perguntada sobre sua fé. A pessoa respondia, normalmente, com frases tomadas das cartas dos apóstolos. Assim surgiu o Credo Apostólico. Já no ano a.D. 150 o bispo Ignatius de Antioquia, aprisionado em Roma entre os anos a.D. 110-117 e condenado à morte pelo imperador Trajano, menciona em suas cartas, fórmulas confessionais. Existiam várias em lugares diferentes. No segundo século já encontramos o Credo Apostólico mais ou menos na forma atual.
    O Credo Apostólico prima pela exposição positiva das principais e essenciais verdades bíblicas sobre o Deus triúno e seu amor revelado em Cristo, o Filho de Deus. O Pai, criador e mantenedor de todas as coisas; Jesus Cristo, salvador da humanidade; o Espírito Santo, doador da vida.

Credo Niceno   
     Quando em Roma o rei Constantino (a.D. 312-337) Assumiu o trono do império romano, o império estava dividido. Ele foi simpatizando do cristianismo. Deixou-se batizar pouco antes de sua morte. Procurou unir o império. Para sua tristeza notou a divisão no cristianismo. Convocou então o primeiro Concílio Ecumênico para Nicéia, Turquia, onde ele tinha um palácio. Ali hospedou os 300 bispos do seu vasto império. O bispo Arius (a. D. 256-336) de Alexandria, África, defendeu que Jesus, o Verbo (Jo 1.1) é chamado de filho de Deus só figurativamente. O pastor Atanásius (a.D. 296-373) se opôs. Os debates foram longos. A discussão girou em torno dos termos gregos semelhante ao Pai (homoi-ousios) e da mesma essência do Pai (momo-ousios). Termos sugeridos pelo próprio imperador. No dia 19/06/325) o Credo Niceno foi aceito e Arius condenado. Destacamos as palavras: E um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas.

     A falsa doutrina de Arius, no entanto, voltou a brotar. Surgiram novos debates e estudos. E o segundo Concílio geral, no a.D 381, em Constantinópola (hoje, Istambul), rejeitou estes erros novamente, fazendo o acréscimo: “que procede do Pai”. A mesma matéria foi reafirmada no Concílio de Toleno, na Espanha, em     a.D. 589, recebendo o seguinte acréscimo: “o qual procede do Pai e do Filho (latim: filioque).”

     Após isto, surgiram outros debates em torno da pessoa de Cristo, que levaram à formulação do Credo Atanasiano, cuja autoria foi, por um engano histórico, atribuído a Atanásio de Alexandria (a.D 296- 373). Mais tarde notou-se que Atanásio só escrevia em grego, mas o Credo foi elaborado em latim.

     O Credo Niceno clarificou a pergunta sobre o Logos (Verbo, Jesus), a palavra que emana do Pai, afirmando que Jesus é realmente Deus, da substância do Pai.  Mas a pergunta sobre a “pessoa” de Jesus e o relacionamento entre as duas pessoas, a divina e a humana entre si, permaneceram abertas e geraram muitas outras perguntas e discussões. As perguntas que mais absorveram os debates foram: Quanto à pessoa de Cristo, a encarnação e a união das duas naturezas em Cristo. As confissões respondem: A união existe desde a concepção. Maria deu à luz ao Filho de Deus,  (theotokos = mãe de Deus), não só à natureza humana de Cristo, mas ao “Logos”. As Confissões afirmam que Maria deu à luz ao “Logos” (Jo 1.14), ao Filho de Deus (Gl 4.4; Rm  9.5), ao “ente santo (Lc 1.35), ao qual Isabel chama de “o meu Senhor”(Lc 1.43). Outros diziam que a divindade perpassava a natureza humana, como por exemplo o fogo perpassa o ferro incandescente. Também este erro foi rejeitado.

     Cristo não é um ser duplo, com duas pessoas, como os nestorianos (Nestorius, bispo em Constantinópola (a.D. 428) e Êfeso (a.D. 431) afirmava, nem um ser composto de meio termo, que seria nem só divino, nem só humano. Mas Cristo é uma pessoa, divino-humana. Cristo é uma só pessoa, que tem uma completa natureza divina e uma completa natureza humana. As duas natureza estão unidas de modo a constituírem uma pessoa, uma individualidade. De sorte que há um Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

     “Cremos, ensinamos e confessamos que o Filho de Deus, ainda que desde a eternidade é pessoa particular, distinta e integra, e, por conseguinte, verdadeiro, essencial e perfeito Deus com o Pai e o Espírito Santo, contudo, quando se cumpriu o tempo, assumiu também a natureza humana na unidade de sua pessoa, não de modo que agora haja duas pessoas ou dois cristos, mas por forma que Cristo Jesus é agora, em uma só pessoa, simultaneamente verdadeiro e eterno Deus, nascido do Pai desde a eternidade, e verdadeiro homem, nascido da laudatíssima Virgem Maria, conforme está escrito Rm 9.5: Também deles descendo o Cristo, segundo a carne, o qual é Deus sobre tudo, bendito para sempre. (FC DS, Art. VIII.6).

     Essa união pessoal das duas naturezas em Cristo é um profundo mistério (1 Tm 3.16). Todavia, para dar-nos uma pálida idéia, a Escritura a compara com a união que existe entre corpo e alma. Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2.9 RA). As duas naturezas não estão misturadas, de modo a formarem um novo composto. Nem uma se transformou na outra, perdendo sua própria identidade.

      À semelhança de corpo e alma, as duas naturezas permanecem distintas. Também não existem lado a lado, como duas tábuas coladas, sem comunhão e inter relação. A semelhança de corpo e alma, a natureza divina de tal maneira permeia e penetra a natureza humana, e a natureza humana é de tal maneira penetrada pela natureza divina, que ambas as naturezas formam uma só pessoa. “A união das duas naturezas é tão estreita e inseparável, que uma já não pode ser concebida como existindo sem a outra ou separada dela, senão que ambas devem ser consideradas em todos os sentidos unidas, todavia de modo tal, que cada uma retêm seu caráter essencial e suas peculiaridades como antes, e permanece impermista com a outra ... De sorte que onde está o Filho de Deus, a natureza divina, aí está igualmente o Filho do homem, a natureza humana. Desde o momento em que o Verbo se fez carne (João 1.14), a carne não está sem o Verbo, e o Verbo não está sem a carne. As duas naturezas são inseparáveis, embora distintas.” (Sumário, p. 90)

     Isto precisa ser mantido, pois é importante para nossa salvação. Perguntamos: Quem morreu na cruz? Nossas confissões respondem corretamente: Portanto, a divindade e humanidade em Cristo é uma só pessoa, a Escritura, por causa dessa união pessoal atribui também à divindade tudo o que sucede à humanidade e vice-versa. (DS VIII.42) Com isso quero dizer: se não é o caso de Deus haver morrido por nós, mas apenas um homem, então estamos perdidos. Se, porém, a morte de Deus e Deus morto estão na balança, ele desce e nós  subimos como prato leve e vazio... (nós, perdoados e absolvidos, justificados, pela morte de Cristo). Em sua natureza Deus não pode morrer; como, porém, Deus e homem estão unidos em uma pessoa, é correto dizer: morte de Deus, quando morre aquele homem que é uma só coisa ou pessoa com Deus... Por isso Lutero afirmou: Dizer Deus sofreu, Deus morreu...  não são meras palavras, e que não é assim de fato. Pois nossa singela  fé cristã mostra que o Filho de Deus, o qual se fez homem, por nós sofreu e morreu, e nos redimiu com seu sangue. (DS VIII,44,45)

     Assim distinguimos entre obras interna (opera ad intra) e obras externas (opera ad extra) na Trindade. As obras internas são: O Filho foi gerado pelo Pai... O Espírito Santo procede do Pai e do Filho... As obras externas são a criação e manutenção do universo, a salvação, o gerar a fé e conservá-la e governar a Igreja, ou seja, obras atribuídas especialmente: ao Pai, a criação, ao Filho, a redenção, ao Espírito Santo, a santificação. Mas isto não exclui a participação de toda a Trindade em todas as obras, pois a essência divina é uma.

Credo Atanasiano (Hinário Luterano, pág. 88)
     O Credo Atanasiano, aprovado, provavelmente no Concílio de Calcedônia (a.D. 451 e reafirmado no Concílio II e II de Constantinópola, a.D. 553 e 681/690) trata deste mistério como todo o respeito, firmado na Bíblia. Não procura resolver pela razão o mistério, mas vai somente até onde a Bíblia o revelou, sem diminuir nem acrescentar, nem tentar harmonizar... O Credo Atanasiano é o mais teológico dos três Credos. É chamado de o Creio Musical ou o Salmo didático, assemelha-se à Fórmula de Concórdia entre as Confissões.

O que dizer das cláusulas condenatórias do Credo Atanasiano?Um dos aspectos que destaca o Credo Atanasiano dos dois anteriores são suas frase condenatórias no começo, meio e fim. Vejamos: - Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã. Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente. - Aquele, portanto, que quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade. Entretanto é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo. - Esta é a verdadeira fé cristã. Aquele que não o crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.
     A base bíblica para tal afirmação são as palavras: - Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai. (1 João 2.22-23) - E todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. (1 João 4.3).- Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus. (1 João 5.12-13)
     As verdades do Credo Atanasiano são doutrinas fundamentais. Isto precisa ser ressaltado em nossos dias, nos quais, num falso espírito ecumênico, muitos dizem: Há um só Deus. Pouco importa como alguém o chama e invoca. Cada um tem a liberdade de invocá-lo a seu modo. E mesmo entre cristãos há pessoas que dizem: Invocar o Deus triúno como Pai, Filho e Espírito Santo, ou chamá-lo de Deus Pai e mãe, etc, pouco faz, desde que feito com sinceridade e amor. Não! Não podemos pensar assim. Deus se revelou em sua palavra e quer ser adorado assim como ele se revelou. Adorar a Deus “em espírito e verdade” (Jo 4.24), significa adorá-lo assim como ele se revelou, no correto espírito bíblico, distinguindo também lei e evangelho, adorando em verdadeira arrependimento e fé. Por isso queremos permanecer firmemente apegados às nossas Confissões, conhecer e apreciá-las. Pois, quem não o crê assim, não tem a fé cristã, e não poderá ser salvo.
    
      É importante notar ainda, que as Confissões Luteranas, como a Confissão de Augsburgo e a Fórmula de Concórdia, também contém condenações, como por exemplo ao afirmarem: “Ensinamos, confessamos e condenamos...”  Elas condenam o erro, mas não afirmam que quem estiver neste ou naquele erro, não poderá ser salvo. Pelo contrário, admitem que mesmo ali onde erros são ensinados ao lado da verdade bíblica principal, pessoas podem chegar à verdadeira fé e alcançarem a salvação. Mas no Credo Atanasiano trata-se de algo essencial, sem o que ninguém poderá ser salvo.

    Não foi intenção dos confessores pronunciar a sentença condenatório sobre pessoas que devido a certa simplicidade da mente ou por desconhecerem as verdades bíblicas fundamentais. Mas o Credo Atanasiano pronuncia a sentença condenatória sobre aqueles que propositadamente e por obstinação rejeitam estas verdades reveladas.

     O que o Credo Atanasiano nos coloca com muita clareza, não pode ser descuidado. Não pode ser matéria de indiferença para uma pessoa ou um corpo de igreja. O pastor Johann Gerhard afirmou com razão: “Aqueles que ignoram o mistério da Trindade não conhecem a Deus.”

O uso do Credo Atanasiano nas igrejas da cristandade
     A Igreja Católica Ortodoxa (do Oriente) aceita o Credo Atanasiano, porém sem o “e do Filho” (latim: filioque), mas não o usam em seus cultos. A Igreja Católica Romana o aceita e usa em sua liturgia. A Igreja Luterana o incluiu no Livro de Concórdia, mas o usa pouco em seus cultos. As igrejas reformadas, o aceitam, mas não o usam, provavelmente devido a sua aversão a credos e confissões.

Os cânticos litúrgicos que testificam da Trindade
     Glória Patri (Glória ao Pai) - O Glória Patri um canto angelical, tem um valor doutrinal e devocional. Ele é usado logo após a leitura do Salmo, texto do Antigo Testamento, para mostrar a unidade entre os dois Testamentos. É uma clara confissão da Trindade. A base escriturística para ele é: Rm 16.27; Ef 3.21; Fp 4.10; Ap 1.6. Encontramos este canto incluído nos cantos litúrgicos, na igreja oriental, já desde A.D. 530.
     Gloria in Excelsis  (Glórias a Deus nas alturas!) - O Glória a Deus nas alturas menciona as três pessoas. É um hino de louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Um hino de louvor ao amor salvador do Deus triúno. É uma confissão da encarnação de Cristo, de sua satisfação vicária e de sua contínua intercessão por nós. Ele fala da glória eterna de Cristo. Este canto é uma luz consoladora. Data do século quarto. Encontra-se na Constituição Apostólica (vii.47), como citado por Atanásio (em 373).
    Te Deum Laudamus (A ti, ó Deus, louvamos) - Este canto é considerado o hino mais nobre da Igreja Cristã. Ele combina o louvor e a oração em estrofes de exaltação em ritmo e prosa. A base do hino é o credo e ao mesmo tempo reúne pedidos de significado universal.
     A primeira referência a este canto temos no ano A.D. 500. Não se conhece ao certo o seu autor. Tudo indica que o compositor tenha sido Niceta, bispo missionário de Romesiana em Dacia (A.D. 335-444), contemporâneo de São Jerônimo e Ambrósio (+ 397).   
                                                              Festa da SS. Trindade, 2015
                                                                 Horst R. Kuchenbecker



     

terça-feira, 14 de abril de 2015

A graciosa ação do Espírito Santo - Teses
A doutrina do Espírito Santo
     Somos a única igreja que em nossos dias ainda mantém puro o ensino sobre o Espírito Santo.
     Confessamos no terceiro Artigo do Credo Apostólico: Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, nem vir a ele. – Esta verdade da total corrupção do ser humana pela queda de Adão e Eva (Pecado Original), que Jesus Cristo nos salvou do pecado, da morte e do poder de Satanás, que Cristo salvou toda a humanidade (Salvação Objetiva), e que somos salvo unicamente pela fé na graça de Cristo (salvação subjetiva). Esta fé o Espírito Santo opera e mantêm pelos meios da graça, Palavra e Sacramentos.  Estas verdades ensinadas na Escritura Sagrada, são claramente expostas em nossas Confissões, Livro de Concórdia de 1580[1].
    Tanto na Igreja Católica como nas diversas seitas esta verdade é negada de diversas formas. Eles trabalham com a antiga pergunta calvinista: Deve haver  algo no ser humano,  porque alguns  se perdem e outros se salvam. E argumentam com a afirmação do evangelho de  Marcos: Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos 16.16) Logo - argumentam as seitas - Deus exige uma decisão da pessoa. Isto só pode ser dito a um ser racional. Quem ainda não está em condições de usar sua razão, como as crianças por exemplo, não entram neste julgamento; ou quem ainda não ouviu o evangelho, a boa nova da salvação, quem a desconhece é, por isso, uma pessoa que não está rejeitando o evangelho pelo não crer, não poderá será condenado. Se Deus exige algo de alguém, é porque esta pessoa é capaz disto. - Com tal afirmação ignoram todos os outros versículos que proferem a maldição sobre o pecado, quer seja criança ou adulto. Quem crer... não é uma exigência da lei, mas um convite de tomar o que Jesus oferece: Perdão dos pecados, vida e eterna salvação. Isto o evangelho opera.

      A afirmação de Lutero na explicação do terceiro Artigo do Credo Apostólico: “Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé” é aceito por católicos e evangélicos como alguém que nos auxilia. Para alguns, ele dá a mão inicial para seguirem com sduas próprias forças adiante e completarem a salvação (graça infusa), para outros ele auxilia após terem dado o primeiro passo, a decisão por Cristo.
     Além disso, há os que ensinam sobre a ação direta do Espírito Santo fora dos meios da graça Palavra e Sacramentos. Ignoram que o Espírito Santo nos amarrou aos meios a graça. “A fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo.” (Rm 10.17)

    Por isso é muito necessário falarmos e ensinarmos corretamente sobre o trabalho do Espírito Santo, não somente no dia de Pentecostes, mas durante todo ano, esta doutrina precisa estar presente em nossos sermões. 

Introdução
     Nos últimos anos, a doutrina do Espírito Santo está sendo reexaminada por quase todas as igrejas cristãs. A razão disso é que o Pentecostalismo – um movimento que já perpassa quase todas as denominações cristãs – que dá grande ênfase à ação do Espírito Santo. Este movimento afirma que existe um segundo batismo – que para eles é o verdadeiro batismo que confere dons especiais aos fiéis. Este batismo deve ser buscado pelos cristãos mediante jejum e orações.
     Por isso o culto dos Pentecostais é vibrante com muitos cantos e orações. As pessoas saem dos mesmos dizendo: Senti a presença de Deus. Eles afirmam: As igrejas tradicionais estão do lado certo do Calvário, mas do lado errado de Pentecostes; do lado certo do perdão, mas desconhecem o poder do Espírito Santo.
     Ao examinarmos a doutrina do Espírito Santo, precisamos ter em mente de forma muito clara a doutrina do Pecado Original, bem como a doutrina da salvação objetiva, de que Cristo, por sua morte vicária na cruz, salvou toda a humanidade. Este perdão é oferecido à humanidade pelos meios da graça: Palavra e sacramentos, pelos quais o Espírito Santo opera, gera a fé, a confiança na graça de Cristo (justificação subjetiva). Quem confia nesta graça, tem perdão, vida e eterna salvação.
     Somos hoje quase a única igreja cristã fiel à doutrina bíblica sobre a graciosa ação do Espírito Santo, fiel à verdade fundamental: Somente a Escritura, somente por graça, somente pela fé.
      A Igreja Católica, nega ser a Bíblia a única fonte da verdade divina e acrescentam suas tradições e a autoridade do Papa. Além disso, negam que somos salvos unicamente pela graça de Cristo, e requerem a colaboração humana por obras. Muitas igrejas evangélicas, mesmos tendo a Bíblia como sua base, a chamam de letra morta, dão valor à decisão humana, a entrega a Cristo, e o receber do Espírito Santo de uma forma direta e sentimental. Com isso derrubam a verdadeira base da fé cristã e roubam às pessoas a certeza de sua salvação.
          No estudo da doutrina do Espírito Santo, nada melhor do que permanecer nas teses de nossos pais, que apresentamos aqui.

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A graciosa ação do Espírito Santo
     nos corações dos fiéis, conforme as palavras de despedida de Jesus (João 14 e 15)
                                                    Rev. G. A. Kilian, de Serbia, Texas, USA[2]
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1ª Tese

     Após a mensagem de despedida de Jesus a seus discípulos, toda a graciosa ação do Espírito Santo, nas pessoas em geral e no coração dos fiéis de forma especial, é a graciosa ação que a pessoa recebe e desfruta unicamente por causa da eterna reconciliação que Cristo providenciou por sua ida ao Pai. 

2ª Tese

     O Espírito Santo se manifesta e realiza sua graciosa ação de forma regular pela Palavra e sacramentos. A Palavra de Deus é o meio da ação de Deus e da mesma forma o único juiz infalível contra todos os falsos espíritos.

3ª Tese

     Tendo examinado a graciosa ação do Espírito Santo em nosso coração, precisamos à base da mensagem de despedida de Jesus destacar que a fé em Jesus Cristo é a ação principal do Espírito Santo, sem a qual não há habitação do Espírito e nem se pode pensar na ação do Espírito Santo no coração. A fé é a base e também o alvo, para fortalecer, promover e conservar toda a interna e graciosa ação do Espírito Santo numa pessoa em vista a este alvo.

4ª Tese

     Das diversas e bem-aventuradas conseqüências da graciosa ação do Espírito Santo em nosso coração queremos, conforme as palavras de despedida de Jesus, destacar que o Espírito Santo, como Espírito da verdade, guia todos os fiéis na verdade por sua poderosa iluminação. Esta ação especial do Espírito santo, Jesus chama de um ensinar e lembrar. Tal iluminação do Espírito Santo, por um lado, é necessária por causa da profundidade da Palavra de Deus. O primeiro resultado desta iluminação nos fiéis é a convicção divina da veracidade da Palavra de Deus.

5ª Tese

     O mesmo Espírito Santo que ilumina constantemente o intelecto dos fiéis, limpa e renova seus corações, e os liberta mais e mais de todo o amor ao pecado e ao mundo, enche-os, graciosamente, com verdadeiro amor a Cristo, amor à lei de Deus e inclina seus corações a todo o bem.

6ª Tese

     Por outro, o Espírito Santo glorifica Cristo nos fiéis, como também através dos fiéis. Nos fiéis ele glorifica por seu consolo e paz, que está ligado à experiência de sentimentos de alegria e bem-aventurança nos corações; pelos fiéis o Espírito Santo glorifica a Cristo ao fazer deles destemidas testemunhas


7ª Tese

     No seu ofício de testemunhar em meio a muitas tribulações e tentações, o Espírito Santo ampara os fiéis com o espírito da oração. Ele os certifica em sua peregrinação, constante, de serem filhos de Deus e lhes mostra que o Príncipe deste mundo, que os aflige freqüentemente, já está julgado.

8ª Tese

    Por fim, como Espírito da Esperança, ele também clarifica o futuro. Ele dirige os olhos e o coração dos fiéis para a pátria celestial, com muitas moradias. Onde o trabalho imperfeito e corruptível terminará e os fiéis receberão um corpo completamente santo e perfeito. Aqui, os fiéis já possuem as primícias do Espírito Santo que lhes é um penhor e selo da esperança.










Teses sobre a graciosa ação do Espírito Santo

Introdução
    Cremos, com toda a cristandade na terra, na ação, no agir, na atuação e no habitar  do Espírito Santo nos fiéis. Portanto, a pergunta: Você recebeu o Espírito Santo? Não é uma pergunta simplesmente dos pentecostais, mas uma pergunta atual, diante da qual nós nos devemos examinar.
     Toda a pessoa que está unida com Cristo pela fé, recebe o Espírito Santo, o qual no seu ser é diferente do espírito natural do ser humano. Esta experiência do habitar e agir do Espírito, todas as pessoas - desde as primeiras pessoas na terra – tiveram, que pelos meios da Graça, Palavra e batismo de água, foram levados à fé na graça de Cristo.  O Espírito Santo é que abre, individualmente, para cada pessoa a porta para a entrada na santa Igreja Cristã, a comunhão dos santos. Somente os que nasceram do Espírito Santo são membros do Reino de Deus. O Espírito Santo chama, ilumina, santifica e edifica a Igreja. Infelizmente, esta verdade tão consoladora de que o Espírito Santo habita e atua nos fiéis foi e é em todos os tempos atacada, deturpada e obscurecida pela pecaminosidade humana, e muitas vezes usada para alimentar o orgulho pessoal. Mesmo assim, esta verdade tão maltratada, da graciosa habitação do Espírito Santo, é revelada de forma clara e precisa nas Escrituras e aceita pelos fiéis com reverência, como as demais verdades da Escritura.  Visto, no entanto, que os entusiastas pentecostais, especialmente neste respeito, criaram muitas falsas e enganos interpretações, é necessário e proveitoso rever, à base da Escritura a doutrina sobre a pessoa e obra do Espírito Santo.[3]
     “Hoje, a doutrina do Espírito Santo não é mais reconhecida, ensinada e praticada na cristandade como deveria ser e como o era em tempos passados. Nós pregadores deveríamos ensinar esta doutrina não somente no dia de Pentecostes, mas durante todo o ano, constantemente, em nossas pregações. Deveríamos sempre de novo louvar a grande benção do evangelho que Cristo nos conquistou: O Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR. (Isaías 11.2)[4] Devemos sempre de novo mostrar a nossos ouvintes que fomos levados e somos mantidos na verdadeira fé, na graça de Cristo, pela graciosa ação do Espírito Santo. Crer que recebemos o Espírito Santo não é falso pentecostalismo. (At 19.2) Esta pergunta é importante para cada cristão, pois, “ninguém pode chamar Jesus de seu Senhor, senão pelo poder do Espírito Santo” (1 Co 13.2)[5]d Sem dúvida, cada um de nós subscreve estas palavras como a expressão da verdade. Como  o soprar do vento, assim é também a ação do Espírito Santo. Esta ação do Espírito não é perceptível, nem pode ser compreendida pela razão humana (ou detectada pela análise psicológica). Pois o vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai, assim é todo o que é nascido do Espírito. (Jo 3.8) Estas palavras que Jesus disse a Nicodemos precisamos ter sempre Diane de nós, quando nos dispomos a tratar da doutrina e obra do Espírito Santo. Nesta doutrina    podemos ir somente até onde a Palavra de Deus nos mostrar o caminho. Lutero disse: “Deus sabe como ele é como devemos falar dele.” O que Deus nos ocultou, o mistério, o que ele não nos explicou, nem revelou em sua Palavra, isto não podemos nem devemos tentar expor. Que Deus nos conceda sua graça para não diminuir, nem estreitar ou roubar sua honra, mas atribuir a ele a salvação que Cristo nos conquistou. Deus determinou a salvação. Deus é quem conquistou a salvação. Deus é quem nos conferiu a salvação.  O apóstolo Paulo o afirma: Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos! (Ef 4.6; 2 Co 13.13)
     Neste trabalho queremos tratar da comunhão do Espírito Santo, e de sua graciosa ação nos fiéis, e isto conforme as palavras de despedida de Jesus, dirigida a seus discípulos. Lutero chama estas palavras de despedida de Jesus: “O melhor e mais consolador sermão que Jesus proferiu nesta terra.” Não citaremos somente as palavras de despedida de Jesus, que tratam especificamente do Espírito Santo, mas também citações que tratam do amor, da oração e dos dons espirituais que, conforme a Escritura, estão intimamente ligadas à ação do Espírito Santo.
     O que tange especialmente as teses e sua formulação, destacamos o seguinte: A 1ª Tese: A obra de Cristo e sua ida ao Pai é o eterno fundamento da comunhão de Deus conosco. A 2ª Tese: Destaca os meios da graça, os únicos meios da ação divina, do Espírito Santo. Estas duas teses são básicas para o que segue. Pois sem a obra de Cristo e sua Palavra, não se pode falar da graciosa ação do Espírito Santo. A 3ª Tese trata da fé cristã, que se apega à graça divina e toda sua força. A 4ª Tese, a partir da qual destacamos as ações individuais e separadas do Espírito santo: a iluminação; a 5ª Tese, a santificação e purificação do coração e da vontade; a 6ª Tese, a glorificação de Cristo em e pelos fiéis; a 7ª Tese, a assistência do Espírito Santo nas tribulações; a 8ª Tese, a esperança cristã e o fim bem-aventurado dos salvos.


1ª Tese

     Após a mensagem de despedida de Jesus a seus discípulos, toda a graciosa ação do Espírito Santo, nas pessoas em geral e no coração dos fiéis de forma especial, é a graciosa ação que a pessoa recebe e desfruta unicamente por causa da eterna reconciliação que Cristo providenciou por sua ida ao Pai. 

Confira:
- Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei (João 16.7).

- Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (João 14.6).

- Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (João 14.26).

- Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. (Tito 3.5,6.)

-  Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),  para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido (Gálatas 3.13-14).


Exposição
     Um fato, claramente afirmado na Palavra de Deus e suficientemente confirmado pela experiência cristã, é que o Espírito Santo não trabalha somente nos fiéis, mas em todas as pessoas que estão sob a audição da Palavra de Deus e ao alcance dos meios da graça ordenados por Deus. Mesmo nos ímpios antes do dilúvio, que não se converteram, o Espírito operou. Eles não se deixaram repreender pelo Espírito Deus. Deus afirmou a respeito deles: “O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos” (Gênesis 6.3). Vemos a ação do Espírito Santo no rei Agripa e no governador Festo (At 25), bem como em muitas outras pessoas, mas que não se deixaram mover pelo Espírito de Deus. Lemos na carta do apóstolo Paulo: “Eu vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! Se não pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12.3). Logo, em todos os que crêem, o Espírito Santo foi ativo e poderoso, antes de terem chegado à fé. No mundo há muitas pessoas que de repente são atormentadas em sua consciência por pensamentos angustiantes como: A minha vida, do jeito que eu a levo, não terá um fim bem-aventurado. De onde vem esta intranqüilidade da consciência, senão do Espírito? Permanece a verdade: Em todas as pessoas que de qualquer forma se encontram no âmbito dos divinos meios da graça, o Espírito Santo opera, mesmo que as condições e a forma de sua ação sejam diferentes nos fiéis e nos incrédulos, como veremos mais tarde. Esta ação do Espírito Santo em geral e em especial chamamos, conforme a tese, de a graciosa ação do Espírito de Deus. Quem atribui esta benevolência divina do Espírito Santo a sua própria natureza corrupta, ou quem quer provar com esta sua angústia interna mostra que a natureza humana não é tão e completamente corrompida, como a Escritura o afirma, este coloca a corda no seu próprio pescoço, e sem culpa do Espírito Santo, sufoca sua própria alma na mais fina justiça própria. Nós afirmamos que toda a graciosa ação do espírito divino é pura e graciosa ação do Espírito Santo. O ser humano, como ele é em si, não tem direito a esta reivindicação. Toda reivindicação a este direito do ser humano é uma rejeição da graciosa ação de Deus. Pois qualquer reivindicação de seu direito ou capacidade anula a graça divina e se firma em sua própria justiça. Só há uma razão pela qual Deus envia seu Espírito Santo para que atue no ser humano, esta é a eterna reconciliação que Cristo estabeleceu por sua ida ao Pai. Jesus o afirma com toda clareza a seus discípulos ao dizer: Eu vos digo a verdade: “Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros, se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7). Tomemos as palavras como são. Elas não dizem outra coisa do que: A obra redentora de Cristo é a causa da vinda e ação do Espírito Santo. Sem a obra redentora de Cristo, não haveria atuação do Espírito Santo no ser humano. E um pedido, neste sentido, de nossa parte, seria em vão. Jesus continua: “Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14,15). O que vem a ser: “Do que é meu”? Isto é sua obra redentora e tudo o que foi conquistado por ela. Pois a obra redentora é a obra específica do Senhor Jesus. E quando Jesus diz: Ele tomará do que é meu, isto significa: tudo o que o Espírito faz no ser humano e nele trabalha, isto ele o faz por amor a Jesus, por causa de sua obra redentora. Toda a luz, força, e graça que ele vos concede, o Espírito Santo o toma de mim, da minha redenção. Qualquer bem, que ele vos dá, vocês devem agradecer a minha obra redentora. Nós só compreenderemos corretamente a relação entre Cristo e o Espírito Santo quando olhamos para a obra da reconcilia de Cristo como causa e fundamento único do fato de nós e outras pessoas termos renascido e perseverado neste renascimento. A razão de nosso renascimento espiritual encontramos em Cristo. A apropriação da salvação que acontece pelo Espírito Santo em nós, é sempre e em todos os casos fruto e conseqüência do Cristo morto na cruz. A redenção no Gólgota foi um ato único e é a causa permanente da constante comunicação do Espírito Santo com o ser humano. Que a obra redentora de Cristo é a única causa da ação do Espírito Santo, Jesus o afirmou em diversos lugares, como: “O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). O nome de Jesus não é outra coisa do que seu sofrer e morrer, pelo qual nos conquistou justiça. Por isso diz o profeta: Este será o seu nome: “O Senhor Justiça nossa” (Jr 23.6). Sobre tudo o próprio Jesus confirma que sem a ligação entre ele e o Espírito não se pode falar da salvação. “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Por Cristo chegamos ao Pai. Se houvesse um Espírito de Deus que independente da graça de Cristo pudesse operar, então Cristo não seria o único caminho e não “seria o Autor da salvação eterna” (Hb 5.9), nem o “Autor de Consumador da nossa fé” (Hb 12.2). O fato de termos parte na ação do Espírito Santo, o apóstolo Paulo testemunha ao escrever: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: “Maldito do aquele que for pendurado em madeiro”; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito Santo” (Gl 3.13,14).
     Isto o apóstolo Paulo confirma também em sua carta a Tito: “Que o Espírito Santo derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cisto nosso Salvador” (Tt 3.6). A obra da reconciliação de Jesus Cristo tornou possível e é a causa da vinda do Espírito Santo ao nosso coração para nos santifica. Assim permanece a eterna verdade da palavra de Cristo: “Não fostes vós que me escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16).
     Esta verdade, de que a ação do Espírito Santo acontece somente por causa da obra da reconciliação de Cristo, é nosso grande consolo. Este consolo consiste nisso de que não depende da nossa justiça ou de nossa  dignidade, de Deus Espírito Santo querer trabalhar em nossa alma para glorificar Cristo nela. Isto é um forte consolo para pessoas atribuladas, que julgam precisarem em primeiro lugar possuir uma justiça própria, para que sua súplica pelo Espírito Santo seja atendida. Esta verdade inclui também uma séria admoestação. Se o Espírito Santo é dado somente por causa da obra redentora de Cristo, não devemos considerar a posse do Espírito Santo como algo óbvio, que nos cabe por direito, mas como uma ação da pura e livre graça que brota da fonte do eterno mérito de Cristo. Há, infelizmente, muitos que querem ser cristãos e mesmo assim, em sua luta por santificação, colocam a obra da reconciliação em segundo plano ou até a desprezam. Estas pessoas são todas aquelas que se chamam cristãos, que buscam o alvo de Cristo, a bem-aventurança eterna, e se esforçam e luta pelo alvo, mas que colocam, infelizmente, todo o peso em seus próprios esforços, em seu correr e fazer e menosprezam a verdadeira base que foi colocada, que é Cristo, o eterno Salvador. É uma direção totalmente errada colocar o cristianismo sobre uma base subjetiva, como por exemplo a experiência interna, como o pietismo o faz. Não podemos louvar suficientemente a graça de Deus, por pertencermos à Igreja que também neste detalhe tem a doutrina pura. Todas as seitas confiam de alguma forma, umas mais outras menos, em seus próprios méritos. Faça o bem – isto é o centro do seu ensino. Esta verdade principal permanece e precisa ser mantida, de que a ida de Cristo ao Pai, sua obra da reconciliação é a base de toda ação do Espírito Santo. Com isto está posto o fundamento para a continuação e exposição do estudo sobre o Espírito Santo. Em primeiro lugar está a reconciliação que Cristo efetuou, cujo fruto e ação é a santificação interna dos salvos. O apóstolo João nos admoesta: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus e todo o espírito que não confessa a Jesus, não procede de Deus” (1 Jo 4.2.3). Tudo o que se manifesta como de Cristo desvinculado de sua obra salvífica é um espírito falso. Onde o Espírito de Cristo está e atua, ali ecoa o louvor a Cristo, por ter dado sua vida pela humanidade, ali sua reconciliação é louvada, obra que abrange passado e futuro, tempo e eternidade e de onde provém unicamente toda a salvação ao coração humano.

2ª Tese

     O Espírito Santo se manifesta e realiza sua graciosa ação de forma regular pela Palavra e sacramentos. A Palavra de Deus é o meio da ação de Deus e da mesma forma o único juiz infalível contra todos os falsos espíritos.

Confira:
- Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado (João 15.3).

- Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito (João 15.7).

- Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra (João 17.20).

- Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.  Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.  Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar (João 16.13-15).

- Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente (1 Pedro 1.23).

- Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas (Tiago 1.18).

- Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra (Atos 10.44).

- E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Romanos 10.17).

Exposição

     Em sua mensagem de despedida a seus discípulos, Jesus afirma: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (João 15.3). Para que tenham certeza de serem justificados (estais limpos) e de estarem na graça, Jesus os dirige à Palavra. Ele não os dirige a uma palavra futura, nem a um sentimento interno, nem a uma verdade a ser ainda revelada, mas à Palavra que ele lhes falou, a Palavra que ele lhes disse: “Vós já estais limpos”. Vossos pecados já foram e já estão perdoados. Isto os torna limpos. Hoje temos sua palavra na Bíblia, a palavra escrita. Jesus disse: “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou” (Lucas 10.16). Portanto, temos sua palavra na Bíblia. Ela é agora o meio da justificação. Sim, esta Palavra é agora o único meio bem-aventurado pelo qual o Espírito Santo vem a nós para realizar sua graciosa ação em nós. Por isso Jesus acrescentou: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (João 15.7). Jesus faz o permanecer nele depender totalmente de sua Palavra. Cristo habitará neles, enquanto sua Palavra estiver neles. Pela Palavra Jesus habita nos fiéis. “Isto precisa ser considerado”, afirma o prof. D. G. Stöckhardt,[6] “quando falamos da maravilhosa e graciosa habitação do Espírito Santo no coração dos fiéis. Isto não é sectarismo. Mesmo assim precisamos cuidar para não macular este bem-aventurado mistério com nossa imundície. Pois alguns se jactam, orgulhosamente, de terem o Espírito Santo, de que Deus habita neles, querem com isso justificar de que tudo o que eles pensam, falam e fazem por si mesmos, seja do Espírito Santo. Por isso, para que as pessoas não tenham seus próprios e pobres pensamentos como revelação de Deus, é importante manter que o Espírito Santo habita em nossos corações somente pela palavra de Deus e só reside em nosso coração na medida em que a temos recebido em nosso coração.” A habitação e a ação de Deus Espírito Santo é dada pela Palavra. Em sua oração sumo sacerdotal Jesus afirma: “As palavras que me deste eles a receberam” (Jo 17.8). E: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra” (João 17.20). Pela palavra de Deus, pela palavra dos profetas e apóstolos, o Espírito Santo gera, fortalece e mantém a fé. A palavra de Deus e os sacramentos são poderosos pela vontade de Deus. Eles são os meios ordenados por Deus, pelos quais Deus age como e quando quer[7]. Isto é comprovado também pelas seguintes passagens da Escritura:
- Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente (1 Pedro 1.23).
- Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas (Tiago 1.18).
- Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra (Atos 10.44).

     Todo o tipo de entusiastas e falsa cristandade tem, normalmente, nisto seu fundamento, eles menosprezam a Palavra contida na Escritura[8] e a chamam de letra morta. Nisto está o ser dos entusiastas, por não aceitarem a ação do Espírito Santo por meios, condicionado à Palavra escrita. Mas, o poder e a ação do Espírito Santo para nós só está ali unido com a Palavra. Portanto, quem separa a Palavra do Espírito Santo ou vice versa, perde, necessariamente a ambos, a Palavra e o Espírito Santo. A Palavra escrita é para o orgulhoso coração humano algo desprezível, sem importância. Que a Palavra é o meio da fé e a base firme e certa para a comunhão com Deus, isto é para os entusiastas simples e comum demais. Sim, se Cristo em lugar de dizer: “Vocês já estão limpos pela palavra que vos tenho falado” e tivesse dito: Por vossos sentimentos, por vossa própria pureza, por vossas grandes obras, por vossas palavras vivas vocês estão limpos, então sim, as palavras de despedida de Jesus estariam em conformidade com o gosto do ser humano. O ser humano procura outros meios e caminhos para entrar em comunhão com Deus, só não o caminho que Cristo prescreveu. Assim como o rico no inferno, que implorou: a Abraão: “Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento.  Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.  Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.  Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lucas 16.27-31). Assim muitos pensam ainda hoje: Se houvesse um milagre, um sonho, uma visão, a aparição de anjos, isto seria um meio melhor para levar alguém à fé do que a simples Palavra de Deus.
     Nós, no entanto, cremos e confessamos com nossos pais e a Igreja Luterana fiel[9] que o Espírito Santo vem ao nosso coração com, em e através da palavra de Deus e não fora dela. Nossa igreja confessa isso claramente na Confissão de Augsburgo (1530) no Artigo V:
Do Ofício da Pregação – Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo não pelos nossos um Deus gracioso, se o cremos. – Condenam-se os anabatistas e outros que ensinam alcançarmos o Espírito Santo mediante preparação, pensamentos e obras próprias sem a palavra física do evangelho. (Livro de Concórdia, p. 30)

E nos Artigos de Esmalcalde lemos:

E nessas partes, que dizem respeito à palavra falada, externa, é preciso permanecer com firmeza nisso que Deus a ninguém dá o seu Espírito ou a graça a não ser por intermédio da palavra exterior precedente ou com ela. Assim nos protegemos dos entusiastas, isso é, dos espíritos que se jactam de terem o Espírito sem a palavra e antes dela e que depois julgam, interpretam e esticam a Escritura ou a palavra oral a seu talante (sua vontade)... Pois também o papado é puro entusiasmo, e que o papa se gloria de que “todos os direitos estão no escrínio (cofre) de seu coração; e o que ele julga e ordena com sua igreja é para ser espírito justo, ainda que esteja acima e contra a Escritura ou a palavra falada. Tudo isso é o antigo diabo e a antiga serpente que também transformou em entusiastas a Adão e Eva, levando-os da palavra externa de Deus a uma espiritualidade de entusiastas e a inventiva própria. (Art. Esmalcalde, 3, VIII, 43-5; Livro de Concórdia, p.336)

     Na segunda parte desta tese afirmamos que o Espírito Santo manifesta e realiza sua graciosa ação por Palavra e sacramentos e acrescentamos a palavra: “de forma regular” (ordentlicher Weise). Com isso estamos dizendo que o Espírito Santo também atua excepcionalmente (auserordentlicher Weise), sem os meios da Palavra. Tal acontece, por exemplo, com as crianças de pais cristãos que falecem antes de serem batizadas. Neste caso consolamos os pais, que oraram pela criança, que o Espírito Santo pode agir também sem os meios para levar as crianças à fé. Lembramos o caso de João Batista que já no ventre materno estava cheio do Espírito Santo.
     No final da tese dizemos: “A palavra de Deus é igualmente o meio da ação de Deus e da mesma forma o único e infalível juiz contra todos os falsos espíritos.” Que a Palavra é o meio da ação de Deus já mostramos e que a Palavra é o meio pelo qual o Espírito Santo ilumina, santifica, renova é o significado principal da Palavra. Ao lado desta afirmação, a Palavra tem ainda mais uma finalidade, a saber, a Palavra é ao mesmo tempo o único, infalível e confiável juiz contra os falsos espíritos.
     Jesus disse a seus discípulos: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.  Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.  Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João 16.13-15). Aqui está afirmado que o Espírito Santo sempre concorda com a palavra de Deus, por isso a Palavra é o único e confiável juiz contra todos os falsos espíritos.[10] Se pensarmos nos movimentos que emanam dos falsos espíritos, como iríamos julgá-los sem a Palavra? Como poderíamos distinguir entre bons e maus frutos sem a Palavra? Como seria possível nesse emaranhado de seitas, encontrar a verdade?
     Julgaríamos conforme o gosto de cada um? Um prefere amargo outro doce; uns apreciam comida imunda e prejudicial à saúde mais do que a comida saudável de nosso Pai celestial. Ou será que deveríamos nos reputar ao nosso próprio coração?[11] Muitos fazem isso. O que eles julgam ser verdade, nisso eles se firmam. Eles fazem da inclinação de seus corações, do que eles sentem e acham, o juiz da verdade suprema de todas as coisas. Verdade para eles é aquilo que entrou em seus corações, o que concorda com seus desejos e suas inclinações. Tudo isso, no entanto, não é outra coisa do que desprezo da palavra de Deus que afirma: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15.19). Se nosso coração deve ser juiz diante do qual devemos nos inclinar, estamos perdidos. Então estamos entregues à nossas inclinações, aos ventos de todos os lados de doutrina falsa, sem base, nem segurança.
     Outros colocam sua razão no espírito da época, a formação, a ciência como juiz. Para eles só aquilo que é racional é verdade. Esse é o princípio do racionalismo. Até a sua sepultura os antigos racionalistas mantiveram seu princípio. Eles afirma, nós não nos mantemos à letra, mas ao espírito da Escritura. O que, no entanto, compreendem sob espírito, não é outra coisa do que o pensar subjetivo de sua razão natural, ou ampliando um pouco, a formação e ciência do seu tempo, como produto da capacidade natural, da mútua compreensão. Quem escolheu isso como seu princípio não tem somente um princípio errado, ma também mutável. Tal princípio errado é um não princípio, os entusiastas pentecostais o têm. Eles falam de novas revelações, da luz interior, de sonhos, da aparição de espírito.
     Concluímos esta tese com a explanação de que quem quiser examinar os espíritos e não os examina à luz da Palavra, esse cai em muitas fantasias e decepções e terminará adorando seu próprios pensamentos como revelação de Deus. Toda pessoa, no entanto, que quer ser cristã precisa manter esse princípio: O Espírito Santo amarrou a si e a nós à Palavra escrita. Deus Espírito Santo atua pela Palavra da Sagrada Escritura. Por meio deles gera, vivifica e fortalece a fé e guia. Por esta Palavra em todos os tempos a Igreja cristã foi construída e conservada. Por esta mesma Palavra escrita o Espírito Santo gera e mantém a fé, disciplina e julga os espíritos na terra, para que o espírito  humano não se exalte como Lúcifer (Is 14.12) ao torno de Deus. 
     Resumindo, visto que mesmo o melhor cristão pode carecer de clareza e conhecimento, e ser enganado por seu entusiasmo momentâneo, ou por sua fervorosa oração ser enganado, ele não está livre de ser manchado de pecado, por sua natureza pecaminosa, em meio às pessoas pecaminosas, por isso tudo precisa ser constantemente examinado à luz da infalível e imutável palavra de Deus. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8.20).
     Um versículo que comprova esta verdade de que o Espírito Santo atua somente pela palavra de Deus temos em Romanos: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Romanos 10.17). A esta Palavra o Espírito se amarrou ao prometer que não virá a nos de outra forma, para operar a fé a não ser pela palavra da Escritura[12]. Quem se mantém a esta Palavra, não será enganado[13].


3ª Tese

     Tendo examinado a graciosa ação do Espírito Santo em nosso coração, precisamos à base da mensagem de despedida de Jesus destacar que a fé em Jesus Cristo é a ação principal do Espírito Santo, sem a qual não há habitação do Espírito e nem se pode pensar na ação do Espírito Santo no coração. A fé é a base e também o alvo, para fortalecer, promover e conservar toda a interna e graciosa ação do Espírito Santo numa pessoa em vista a este alvo.

Confira:

- Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada (João 14.23).
- Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.  Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda.  Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado;  permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim.  Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.  Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.  Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito (João 15.1-7).

- O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós (João 14.17).

- Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.  Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo? (João 14.21-22)

- Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos (Isaías 57.15).

- Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa (Efésios 1.13).

- E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor (Efésios 3.17).

Exposição

     Logo no início de sua mensagem de despedida, Jesus diz a seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (João 14.1). Jesus requer de seus discípulos a fé, pela qual possam vencer as turbulentas ansiedades de seus corações, e se apropriem do consolo que está em sua mensagem de despedida. Esta fé não é somente a exigência principal do Salvador, mas a ação básica da qual depende toda habitação e atuação do Espírito Santo. O Salvador faz depender diretamente da existência da fé no coração a habitação do Espírito Santo no coração, ao dizer: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (João 14.23). Aqui Jesus está pensando, indubitavelmente, na fé, pois o amor está sempre ligado de forma inseparável à fé. Assim que em todo o lugar onde há verdadeiro amor a Jesus, há também fé. Além disso, podemos descrever as palavras “quem guardar minha palavra”, como sendo a descrição da fé. “Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte, eternamente” (João 8.51). Assim, sob as palavras: “Guardar as minhas palavras” compreendemos a fé no evangelho, de forma que ninguém pode dizer que renasceu a não ser aquele que tem fé nas palavras da promessa de Deus em Cristo.
     O fato de considerarmos a fé em Jesus Cristo a ação básica do Espírito Santo tem sua razão por ser a fé realmente a base, o início e a expressão da vida espiritual em nosso interior. Sim, todos os dons e virtudes brotam e emanam da fé. Johann Arndt (1555 – 1621) na introdução ao seu primeiro livro: Vom Wahren Christentum (Do verdadeiro cristianismo) escreve: “Se fé é aguardar constantemente os bens que foram prometidos, então brota da fé a esperança. Pois o que é a fé senão um constante esperar e aguardar os bens prometidos. Quando a fé reparte com o próximo os bens recebidos, brota da fé o amor ao próximo, pois o cristão faz ao próximo o que Deus lhe fez. Quando a fé, ao ser provada, vence a prova da cruz e se submete á vontade de Deus, cresce da fé a paciência. Quando o cristão clama a Deus sob a cruz, ou agradece a Deus por bens recebidos, brota da fé a oração. Quando o cristão contempla a onipotência de Deus e o sofrimento humano e geme e se dobra diante de Deus, nasce da fé a humildade. Quando ele se preocupa para não perder a graça de Deus, ou como o apóstolo Paulo  o expressa: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Filipenses 2.12), nasce da fé o temor.” Assim vemos que as verdadeiras virtudes cristas não podem ser separadas de sua origem, a fé. Tudo precisa ser tirado pela fé de Cristo, o poço da salvação, ambos, a justiça (perdão dos pecados) bem como os frutos da justiça. Portanto, a fé é a ação básica, por ela somos unidos intimamente à videira. Pois, se não formos enxertados na videira da qual o apóstolo João escreve em Jo 15.1-7, estaremos longe da vida que é de Deus, como Cristo o afirma: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.5). Lembremos o Salvador que está se despedindo afirma que o jardineiro celestial é seu Pai celestial, que plantou no mundo da morte uma videira nobre. Esta videira nobre é seu Filho unigênito, Jesus Cristo. Jesus destaca nesse trecho que os ramos frutíferos são somente os que pela fé estão nele e ele neles. Somente pela fé, pela qual renascemos somos justificados e estamos em Cristo. A condição que devemos observar como ramos na videira é sobre tudo uma condição graciosa. Cristo a menciona aqui no diálogo com seus discípulos. Seus discípulos são ramos e eles o são, como Cristo o afirma, através do fato de que eles estão limpos e devem ser considerar limpos por causa da Palavra que Cristo lhe disse.
     A palavra de Cristo é Palavra divina, revelação divina. Nela Deus mostra que por nós mesmos estamos totalmente perdidos, mas somos salvos se aceitarmos, crermos na sua Palavra de que Deus Pai, por amor a Jesus Cristo, nos perdoa os nossos pecados, nos recebe e reconhece como seus filhos, desde que busquemos nossa salvação unicamente em sua Palavra. No momento em que o Espírito Santo opera em nosso coração a fé na palavra de Cristo, estamos salvos e experimentamos em nosso coração a vida e grande alegria. Este é o ponto alto da fé e a coroa, a habitação do Espírito Santo em nosso coração. Desta forma, a maior promessa da qual o apóstolo Pedro fala, a saber, de que somos filhos de Deus, povo de Deus (1 Pe 2.9), torna-se verdade e realidade. Então Jesus começa a revelar-se graciosamente a nós, em nosso interior, que o mundo incrédulo não conhece. Nesta revelação o mundo incrédulo não tem parte, como o próprio Jesus o afirmou muitas vezes ao dizer: “O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós” (João 14.17). Judas, não o Iscariotes perguntou: “Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo? Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (João 14.22-23). O Espírito Santo não pode habitar no mundo incrédulo, somente no coração dos fiéis, isto é confirmado pelas seguintes passagens: -“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Isaías 57.15). – “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Efésios 1.13). – “E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor” (Efésios 3.17). Este habitar é um mistério. Esta íntima união que consiste não somente na concordância de nossa vontade com a vontade de Deus, não só no simples amar e inclinação mútua, nem só num estar cheio de forças e dons espirituais, muito menos em algumas idéias ou imaginações espirituais dos fiéis, mas em que o próprio Deus como pessoa vive de forma real e verdadeira nos fiéis. Aqui precisamos simplesmente unir toda nossa ingenuidade e infantilidade da fé e confessar humildemente com Maria: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lucas 1.38). Assim também nós queremos aceitar este mistério, mesmo não podendo compreender nem explicar o mesmo. Este mistério incompreensível é inescrutável. Nós o aceitamos em fé, permanecendo apegados à palavra de Deus, que afirma: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (João 14.23). Esta habitação não pode ser imaginada como uma simples força ou um simples governar, mas é uma habitação verdadeira, mesmo misteriosa. Neste mistério está para nós também a admoestação para:  o cuidadoso andar, estando sempre conscientes de que estamos andando na presença do Deus triúno, que está em nós, conhece e vê nossos mais íntimos pensamentos; 2°, aqui está também para nós admoestação de que devemos crescer na fé, pois onde Deus habita, ele não é inativo, mas ativo. Ali deve haver e há um crescimento na fé. Não queremos ser um empecilho à obra de Deus em nós; 3°, esta habitação do Espírito Santo em nós é uma habitação graciosa e cheio de consolado. Pois o Espírito Santo está ativo em nós e nos mantém na fé, mesmo não podendo nós explicar ou compreender plenamente este mistério da habitação do Espírito Santo. Mesmo assim sabemos o que a tese afirma, que a fé é a base e também o alvo para que aconteça o fortalecimento, promoção e conservação de toda a interna e graciosa ação do Espírito Santo. A fé é o fim intermediário (finis intermedius). Toda a obra do Espírito Santo em nossa vida está direcionada ao crescimento da fé. Quando o bom Espírito de Deus nos disciplina internamente com tristeza e pesar no coração e nos reergue com suas bem-aventuradas consolações, tudo isso acontece com a finalidade para que nossa fé aumente e cresça.
     Concluímos esta tese com as palavras do Salvador: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.  Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado” (João 7.38-39).





4ª Tese

     Das diversas e bem-aventuradas conseqüências da graciosa ação do Espírito Santo em nosso coração queremos, conforme as palavras de despedida de Jesus, destacar que o Espírito Santo, como Espírito da verdade, guia todos os fiéis na verdade por sua poderosa iluminação. Esta ação especial do Espírito santo, Jesus chama de um ensinar e lembrar. Tal iluminação do Espírito Santo, devido a pecaminosidade do ser humano, por outro divido a inesgotável profundidade da Palavra de Deus. O primeiro resultado desta iluminação nos fiéis é a convicção divina da veracidade da Palavra de Deus.

Confira

- Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (João 14.26).

- Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora;  quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.  Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar (João 16.12-14).

- E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito (2 Coríntios 3.18).

- E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento (1 João 2.20).

- Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou (1 João 2.27).


Exposição
     Mesmo que se possa tratar de muitas e abençoadas conseqüências da habitação do Espírito Santo, como dos frutos do Espírito: devoção, entrega a Deus, sabedoria, paciência, cordialidade e mansidão; e também dos dons do Espírito, quer os extraordinários como os ordinários e suas diferenças entre si, nesta tese queremos destacar, especialmente, a iluminação. Aqui trataremos da iluminação continuada, que se concretiza nos fiéis. Com isto não queremos negar que a iluminação já acontece na conversão e no arrependimento, que se repetem ao longo da vida. Jesus testemunha com respeito aos fiéis, de que o Espírito Santo os guiará em toda a verdade. Mesmo tendo que admitir que há certa diferença no conduzir em toda a verdade entre nós e os apóstolos, os pré-escolhidos de Deus, e todos os fiéis dos tempos posteriores. Mesmo assim, podemos aplicar esta promessa, na qual Jesus promete a direção em toda a verdade, com todo o direito, a todos os fiéis em todos dos tempos, louvando esta iluminação como uma ação bem-aventurada da habitação do Espírito.   
    Vejamos em primeiro lugar o sentido da palavra “iluminação” nas palavras de despedida de Jesus. “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (João 16.13). Vejamos o que está no texto original. “O Espírito da verdade guiará em a vós a verdade toda”, (à verdade em toda sua abrangência). Esta verdade não é infinita, nem uma verdade múltipla desconectada, não a coleção de verdades isoladas e independentes entre si, mas única. Mesmo assim uma verdade orgânica com membros. Quando lemos na Escritura: “Ele vos guiará na verdade”, surge a pergunta: Isto é no sentido amplo ou restrito? No sentido amplo, poderíamos pensar que o Espírito, que Cristo prometeu, nos introduziria em todos os mistérios divinos e também do mundo. Isto, como podemos supor antecipadamente,  não é a finalidade do envio do Espírito Santo. Sem dúvida, o apóstolo João não quer dizer isto, ao escrever em sua carta: “E vós possuis a unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento” (1 Jo 2.20). Jesus fala da verdade, como o apóstolo João aqui, da verdade no sentido restrito. Esta verdade é Cristo, como ele o confirma no evangelho de João: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). “Em Cristo estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3). É muito importante para a vida dos cristãos focar e manter este significado restrito. Com isto não é dito e nem deve ser negado que, quando alcançarmos isto (sermos iluminados pelo Espírito Santo), então nos seja dado por esta iluminação e trabalho do Espírito Santo, o poder de reconhecer a verdade, passo a passo, em todos os aspectos da vida. Pois a verdade que é que o próprio Cristo é a chave de todas as verdades. Toda a verdade está organicamente unida. Se tirarmos Cristo da Bíblia, ela nos permanece fechada a sete chaves, como o vemos nos judeus, que lêem o Antigo Testamento e não reconhecem a verdade. Aqui também não vale a objeção de que a verdade não pode ser pensada como uma pessoa. Por que não? Se o próprio Cristo se denomina a verdade. Para os judeus isto foi e é um escândalo e aos gentios loucura (1 Co 1.23), que a verdade possa ser uma pessoa e mesmo assim ela o é. A vinda de Cristo ao mundo é o ponto alto de toda a revelação divina neste mundo, e ao mesmo tempo a solução bem-aventurada de todas as dúvidas, e completa revelação do gracioso conselho divino. O paraíso perdido, nosso sofrimento e angústias neste mundo, o trovão do Sinai (acusação e maldição) – tudo, tudo isso é iluminado pela luz da verdadeira compreensão de Cristo. Nesta luz nós nos reconhecemos a nós mesmos sob a cruz, que o juízo de Deus em relação a nós é uma intenção graciosa, que visa nossa salvação. Por isso o Senhor Jesus diz em sua oração sumo sacerdotal: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17.3).
     Nesta verdade que é o próprio Jesus, que temos na Escritura, o Espírito Santo nos conduz a uma paternal iluminação interna – Jesus fala disso ao dizer: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 14.26). Ele nos ensina internamente de uma formar viva, poderosa, convincente o que a palavra externa da Escritura testifica. Para uma explicação mais detalhada, referente ao ensinar e relembrar como acontece, citamos o que o prof. G. Stöckhardt escreve:

O ofício e a obra do Espírito Santo é ensinar. O Espírito Santo ensina internamente. Ele traz consigo a forma e a natureza espiritual, para atuar sobre nosso espírito e coração. Ele ilumina internamente os sentidos e a compreensão... e ao o Espírito Santo dar aos fiéis a correta compreensão da Escritura, ele ilumina os olhos da razão. Ao mesmo tempo ele derrama todo o conteúdo consolador e a força da Escritura no coração. O Espírito Santo escreve e grava a palavra de Deus em nosso coração para que brilhe e atue ali e nos fortalece, console e alegre... Este ensinar do Espírito Santo, o Senhor chama também de lembrar:E vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). Muitas coisas que Jesus havia dito aos discípulos eles não compreenderam. Eles carregavam isso consigo como um tesouro morto. Depois, o Espírito Santo lembrou-lhes uma após outra palavra de seu Mestre, clarificando e expondo-a. Assim o Espírito Santo o faz também conosco. Muitas palavras (da Escritura) que lemos ou ouvimos nos permanecem obscuras, incompreensíveis. Mesmo decorando-as, ainda não sabemos o que realmente significam. E mesmo quando julgamos que as temos compreendido, ainda não temos captado seu verdadeiro ou total sentido. Mesmo tendo entendido em parte, ainda não captamos seu significado para a fé e a vida. Então, mais tarde vem uma hora na qual a semente lança raízes no coração. Talvez seja um momento de necessidade, de medo, de tentação. Esta é a hora na qual o Espírito nos busca graciosamente. Ele nos lembra esta ou aquela palavra da Escritura e a imprime em nosso coração, abre seu verdadeiro sentido, dá-nos a compreensão da Palavra, deixa-nos experimentar o consolo e força da mesma e nos guia.[14] (Stöckhardt, Homiletik Magazin, nº 13, ano 1889, p. 174ss.) 

     Visto que esta iluminação acontece somente pela palavra, há nela uma admoestação para todos os cristãos, a saber, que sejam zelosos no ouvir e ler a Palavra de Deus. Por outro lado, segue disso também para nós pregadores e professores, que o Espírito usa como seus instrumentos, a admoestação para não deixarmos passar nenhum momento, na igreja e escola, para ensinar de forma simples e compreensível a Palavra de Deus.
     Nosso texto afirma ainda que esta iluminação do Espírito Santo é necessária devido a pecaminosidade do ser humano e por causa da inesgotável riqueza da palavra de Deus.
     Por causa da pecaminosidade, a pessoa precisa necessariamente a força da iluminação divina. “Na tua luz, vemos a luz” (Sl 36.9), visto que reconhecer Deus sem Deus é impossível. Além do conhecimento lingüístico e da história, é impossível obter um conhecimento vivo da Escritura sem a iluminação divina. Também o cristão fiel não pode manter a graça da vida, sem a iluminação constante do Espírito Santo. Sem a graça da iluminação tudo ficaria ao cristão novamente inócuo e sem força. O cristão fiel precisa ser conduzido, diariamente, pelo Espírito Santo para dentro da Escritura para aprofundar-se mais e mais na verdade para a vida e a bem-aventurança.
    A pecaminosidade é a causa por a iluminação em todos os fiéis ser, em uns mais em outros menos, obscurecida e ofuscada. A iluminação é, na verdade, como procedente do Espírito de Deus infalível e pura, mas por o Espírito Santo atuar no ser humano machado pela pecaminosidade (pecado original) que ainda adere ao cristão. Por isso, a verdade é ali ofuscada e obscurecida. A única exceção aqui foram os profetas e apóstolos. Mesmo sendo eles também pessoas manchadas pela pecaminosidade como nós, eles são testemunhas infalíveis da verdade. Eles foram instrumentos inspirados (guiados) pelo Espírito Santo. Por isso a Igreja tem nos escritos dos profetas e apóstolos o infalível e inerrante testemunho do Espírito Santo. Isto, por causa da permanente e existente pecaminosidade, é impossível afirmar das demais testemunhas em geral.  A igreja precisa examinar e julgar seus ministros chamados (escolhidos) à luz do Espírito e disciplinar a quem se desvia da Escritura e das Confissões, pois nossas Confissões estão amarradas à Escritura.                                                                                                                                                 
     A iluminação do Espírito Santo é, por outro, necessária por causa da inesgotável profundidade da Palavra de Deus. Precisamos compreender isso bem, pois não estamos dizendo que a Escritura seja obscura e que por isso nenhuma pessoa possa compreender nem sequer seu sentido exterior, que não possa extrair da Escritura o necessário para sua salvação. Não! A Escritura é clara e compreensível. Isto não pode ser posto em dúvida. Louvamos e somos gratos a Deus por ter-nos dado sua Palavra de tal forma que ela torna até as pessoas mais simples sábias para a salvação. Julgamos a iluminação necessária não por causa da obscuridade da Escritura e de suas frases, mas devido a sua espiritualidade e divindade. A Escritura Sagrada não é ambígua, mas simples, clara e singela. Mesmo assim sua simplicidade é profunda e maravilhosa, tão profunda que o salmista afirma: “Quão grandes, SENHOR, são as tuas obras! Os teus pensamentos, que profundos!” (Salmos 92.5) E o apóstolo exclama: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11.33) Também Jesus disse a seus discípulos na hora da despedida: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (João 16.12). O apóstolo Paulo chama o Evangelho de “multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3.10), pois ela é inesgotável em sua aplicação. Para nos apropriarmos desta riqueza, precisamos da constante iluminação do Espírito Santo, como o rei Davi a pede: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Salmos 119.18).
     Da pecaminosidade do ser humano e da constituição da Palavra de Deus precisamos reconhecer as seguintes conclusões: a) A iluminação acontece gradativamente, passo a passo, como o afirma o apóstolo:E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Coríntios 3.18). Ela tem seus diversos graus e é com exceção dos apóstolos em todos os cristãos subordinada à possibilidade de  b) ser ofuscada e obscurecida. Por isso todos os professores e dirigentes de organizações eclesiásticas, em relação a sua razão iluminada e seu conhecimento cristão, c) precisam ser examinados e provados conforme a única e certa direção da Palavra de Deus.
     Vamos, no entanto, contemplar as mais imediatas conseqüências da iluminação de Deus. Nossa tese afirma: “O primeiro resultado desta iluminação é nos fiéis a convicção divina da veracidade da Palavra de Deus.” Sob Palavra de Deus compreendemos ambos: Lei e Evangelho. De ambos, tanto da Lei como do Evangelho o cristão iluminado tem uma convicção de que ambos são verdade e ambos lhe valem.
     Certeza e convicção divina (a respeito da Palavra de Deus) o mundo não conhece. Jesus disse a Tomé: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6). O mundo também em nossos dias indaga como Pilatos: “Que é a verdade? (João 18.38) E desta dúvida não escapam mesmo aqueles que se orgulham possuírem a verdade e certeza absoluta dela. Tal orgulho só pertence a seus lábios e imaginação de sua mente, mas nos seus corações há desconsolo, a que estão sujeitos todos os que não se firmam, pelo Espírito Santo, na graça de Cristo. Mesmo aqueles que guiados por seu amor próprio julgam-se os únicos certos, que olham com desprezo para os outros, sabemos que sua consciência lhes mostra constantemente que seus pensamentos são vãos e nulos.
     Resumindo, o mundo não tem convicção divina, e o que passa em seu interior, isto é mostrado por Pilatos que perguntou: “Que é verdade?”
     Mas dos cristãos o apóstolo João afirma em sua carta: “Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou” (1 João 2.27). Por esta unção, por esta iluminação queremos pedir. Então teremos a firme convicção de que aquilo, pelo que lutamos e confessamos, não é simplesmente uma opinião humana, um exaltar-se, mas verdade divina. Por isso também nós pastores devemos estar seriamente preocupados com cada alma que nos é confiada, para que ela tenha esta mesma certeza de estar na graça. Também os professores na escola devem procurar “em meu” e “em teu lugar” plantar no coração das crianças a Palavra de Deus. Por outro é preciso manter que haja uma apropriação pessoal, mesmo não estando a mesma sempre plenamente consciente. Pois, não é assim como se o cristão não é mais tentado por dúvidas. Lembremos a afirmação de Lutero: “A fé não duvida, mas o crente Jacó tem dúvidas.”[15]

5ª Tese

     O mesmo Espírito Santo que ilumina constantemente o intelecto dos fiéis, limpa e renova seus corações, e os liberta mais e mais de todo o amor ao pecado e ao mundo, enche-os, graciosamente, com verdadeiro amor a Cristo, amor à lei de Deus e inclina seus corações a todo o bem.


Confira

-Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (João 15.2).

- Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais;  do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado (João 16.8-11).

- Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor (João 15.9).

- Se me amais, guardareis os meus mandamentos (João 14.15).

Exposição

     Junto com a iluminação do intelecto, o Espírito Santo renova e purifica constantemente o coração dos fiéis. O coração[16] cede e ponto central, onde o saber, querer, a percepção e o sentimento do ser humano estão unidos. Toda busca por iluminação do conhecimento, toda luta por santificação da vontade ou por sentimentos de bem-aventurança, têm como pressuposto a necessária purificação do coração. Visto que o coração é também a própria cede de uma eventual mudança ou endurecimento.
     Jesus afirma: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda” (João 15.2). Disto vemos que os fiéis, que são os ramos, necessitam de constante purificação. O Espírito Santo conserva e move os fiéis. Ele os purifica, conduzindo-os ao diário arrependimento e fé.[17] Isto o Espírito Santo faz devido sua fidelidade e misericórdia, sua longanimidade que cada verdadeiro cristão experimenta e que o cobre de vergonha, o que ele também confessa com lágrimas e a mais profunda gratidão.
     Para libertar nosso coração dos pecados, do egoísmo e do amor ao mundo, servem especialmente também as disciplinas do Espírito Santo.
     Há entre os cristãos aqueles que se apegam somente ao consolo, mas largam os castigos ao vento. O consolo, dizem eles, vale aos cristãos, os castigos ao mundo. Mas onde encontraríamos um cristão em cujo coração não há um pedaço do ser mundano? O que dizer da oração daquele homem que sob lágrimas suplicou Jesus: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!” (Marcos 9.24) Ele tinha fé, mas ao mesmo tempo dúvidas o assaltavam e ele sentiu a fraqueza de sua fé. Não é esta a situação e oração de todos os fiéis? E por ser isto assim, todos os cristãos, que infelizmente se deixam enredar demasiadamente pelo mundo, necessitam da repreensão e castigo do Espírito Santo. O Espírito Santo toma tudo o que ele precisa ensinar de Jesus. E veja, em certas ocasiões, Jesus não poupou nem os discípulos de Emaús. Jesus os repreendeu por causa de sua incredulidade e lhes disse: Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém dez quilômetros.  E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas.  Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles.  Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer.  Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.  Um, porém, chamado Cléopas, respondeu, dizendo: “És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?  Ele lhes perguntou: Quais?” E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.  Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.  É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo;  e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive.  De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram.  Então, lhes disse Jesus: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24.13-35) Assim o Espírito Santo disciplina e repreende também o nosso coração. Quão pequena é muitas vezes nossa confiança em Deus, quão fácil esquecemos o auxílio recebido e mergulhamos em vergonhosas preocupações. Quão fácil nos deixamos  amedrontar por pessoas ou procuramos agradar as pessoas em detrimento da palavra de Deus. Quão fácil desanimamos quando somos atingidos por uma onda de aflições. Por outro, com que facilidade nós somos captados pela sedutora beleza do mundo, a amar o mundo. Mas o que significa a impureza do mundo ou o amor ao mundo? Com a palavra “mundo” não estamos pensando no universo criado por Deus, o mundo como o “estrado de seus pés.” (Mt 5.15) Pois toda a criatura, como saiu das mãos de Deus, é boa e maravilhosa. “Mundo” no seu sentido perverso está ali onde o pecado tem seu domínio. O apóstolo João o afirma: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. (João 2.16) Fazer negócio não é pecado, mas ali no templo não era lugar para isso.
     O Espírito Santo disciplina os fiéis e lhes mostra que por de trás da fugaz e passageira concupiscência deste mundo está o príncipe das trevas, o invisível poder do maligno. Muitos que se deixam escravizar pela concupiscência do mundo, não pensam em outra coisa do que nesta fugaz êxtase e prazer. E, se eles se queixam de algo com este respeito, é somente do limite das alegrias deste mundo, que são todas passageiras. Mas quais são as verdadeiras situações desse mundo, isto o Espírito Santo revela disciplinando e libertando os fiéis do nefasto amor ao mundo, elevando seus olhos às coisas celestiais, ao mundo que há de vir.
     Por outro, o Espírito Santo liberta o coração dos fiéis do amor próprio. A devastação que o amor próprio causa é terrível, especialmente quando ele se desenvolve de forma desenfreada no campo da religião e da igreja. Quando o egoísmo, o orgulho, o endeusamento próprio, a promoção própria se apresenta com a aparência da mais variada humildade. Mas sob esta máscara procuram sua honra, proveito e vantagem. Isto é confirmado por quase todos os líderes heréticos. O ponto de partida desta heresia não foram suas dúvidas, mas o amor próprio e o orgulho de seus corações.
    Esta é a marca e o sinal de quase todos os falsos profetas. Eles enganam as pessoas para que estas se apeguem a eles em vez de a Cristo, o Senhor. Mesmo o conhecimento da verdade pode tornar-se para nós uma maldição, quando a usamos para orgulho próprio, em vez de adorar aquele que abriu nossos olhos. Para guardar-nos de tal amor próprio, o Espírito Santo nos mostra nossa pobreza, a fim de nos enriquecer em Cristo. Uma cura substancial de todo o amor ao mundo e do egoísmo acontece quando o Espírito Santo inflama e conserva o verdadeiro amor a Jesus. Para nos libertar dos laços do amor ao mundo e do amor próprio, é preciso que um amor, cujas raízes estão em Deus nos domine. Só assim podemos largar tudo por teremos algo melhor do que nosso próprio eu. Que o Espírito Santo nos agracie com verdadeiro amor a Cristo, isto afirmamos na tese. Deste amor, Jesus fala seguidamente em seu sermão de despedida. [Cf.: Se me amais, guardareis os meus mandamentos. (João 14.15) Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. (João 15.10)]
     Onde este amor a Cristo impera no coração, ali a lei como lei morreu e ressuscitou em nosso coração a alegria e o prazer na lei de Deus. Temos então prazer na lei de Deus e nossa vontade se inclina com força para todo o bem. Cumprimos a lei, não porque a lei o requer, mas por livre impulso de amor do coração. Pelo menos deveria ser assim e quando não o é, vemos que ainda não estamos perpassados totalmente pelo amor de Deus, pois na medida em que nós ainda nos precisamos forçar no fazer o bem, nesta medida ainda não estamos perpassados pela graça de Cristo, do novo concerto. Por isso também o cristão tem motivos para suplicar com o poeta:
  
            Perdoa o meu pecado, renova o coração.
            Dá graça ao condenado, / e vence a escuridão.
            A tua paz conforte / minha alma até à morte,
            Em santa comunhão. /

A mente purifica, / expulsa o tentador.
            Por graça justifica / o pobre pecador.
            Concede-me a vitória / que exalte a tua glória,
            Amando o Salvador. (HL 275.2,3)


6ª Tese

     Por outro, o Espírito Santo glorifica Cristo nos fiéis, como também através dos fiéis. Nos fiéis ele glorifica por seu consolo e paz, que está ligado à experiência de sentimentos de alegria e bem-aventurança nos corações; pelos fiéis o Espírito Santo glorifica a Cristo ao fazer deles destemidas testemunhas

Confira

- Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar (João 16.14).

- Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar (Jo 16.22).

- Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (João 14.26,27).

- Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo (João 15.11).

- Quando, porém vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim. (João 15.26).

Exposição

    O Espírito Santo glorifica Cristo. Ele engrandece Cristo no coração dos fiéis. Ele revela a glória e majestade de Cristo e sua importância para nós e o mundo. “Ele me glorificará” (João 16.14), diz Jesus. Em forma geral, o Espírito Santo faz isto ao mostrar aos fiéis de forma poderosa, viva e convincente os benefícios de Jesus. Ele os explica e aplica a eles. Então lhes mostra a obra de Cristo, seu mérito que é proclamado pela pregação ao mundo.
     Em primeiro lugar queremos ver como o Espírito Santo glorifica Cristo nos fiéis. Ele o faz, como já vimos, unicamente pela Palavra de Deus e os sacramentos. Por estes meios, ele consola. Deste consolo brota a “paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Fp 4.7). Que este consolo do Espírito Santo é grande, que excede a tudo e é maravilhoso, isto já vemos das circunstâncias sob as quais Cristo falou do mesmo. Estas palavras sobre o Espírito Santo, Jesus falou na última noite de sua peregrinação na terra, na noite em que ele foi traído. Lembremos, Cristo estava por deixar seus discípulos e sobre eles viria grande sofrimento. O Senhor, sob cujo cuidado e proteção eles andaram até agora consolados, iria para o amargo sofrer e morrer. Jesus iria por um caminho no qual eles não poderiam segui-lo. (Jo 13.36) E mais do que isto, ele previu que seus discípulos, na hora da tentação, iriam se escandalizar nele. Tudo isso Jesus havia explicado a eles antes de proferir suas palavras de despedida. Ele não falou somente da crueldade e das dores do sofrimento que estavam diante dele, mas também dos pecados de seus discípulos, sim, de que o apóstolo Pedro iria traí-lo. Mesmo assim Jesus diz logo no início de sua despedida: “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim.” (João 14.1). Com estas palavras Jesus aponta para o consolo que é maior do que o aparente abandono dos discípulos, maior do que todo o medo do mundo, sim, maior do que nossos pecados, nossa culpa, negação e infidelidade. Este é o consolo que necessitamos. Exatamente tal consolo é o consolo do Espírito Santo. Por causa deste consolo Jesus chama o Espírito Santo de Consolador. (Jo 14.26; Jo 15.26).
     Mas, em que consiste e em que se baseia este consolo? O que consola os fiéis quando eles são afligidos pelo mundo e quando se levantam tentações do próprio coração? Ele os consola com algo que não é passageiro, nada tomado do momento atual, mas com algo que é eterno, a saber, o eterno amor de Deus, que existia antes de serem colocados os fundamentos deste universo. Isto é o amor, com o qual Deus nos amou em Cristo desde a eternidade, que ele confirmou no tempo ao entregar Jesus à morte de cruz. Este amor nos pertence pela promessa de Deus. Ele vem a nós pelo Espírito Santo, o Consolador celestial, que sela[18] este consolo em nossos corações. Ao o Espírito Santo nos consolar com o imutável amor do Pai e com a eterna salvação e graça de Cristo. Então temos um consolo que é imperecível e invariável, um consolo que brota do sangue de Cristo e enche nosso coração com paz, que o mundo não pode dar, nem tirar. A paz desse consolo, Jesus tem em mente ao se despedir de seus discípulos e lhes dizer estas palavras que consola a alma e conferem paz. “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14.27). Esta paz não se baseia na força de nossa fé, nem no fervor de nosso amor, nem na intensidade de nossa esperança, em nada do que está em nós ou com nós, mas unicamente na graça e fidelidade do amor de nosso Salvador, que justifica também os ímpios, que permanece sempre fiel, mesmo quando nós, temporariamente, nos tornamos infiéis. Sua graciosa promessa: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as ovelhas arrebatará da minha mão” (João 10.28). Com a graça desse rico e eterno Senhor, o Espírito Santo consola os fiéis e glorifica Cristo em seus corações lhes mostra o incomensurável amor, a eterna bondade e imutável fidelidade de Deus, o Salvador. Este consolo que é tirado da rocha eterna, que é o próprio Cristo, permanece, mesmo quando tudo for abalado, se desfaz e perece. Em meio ao medo, o Espírito Santo nos mostra, como que apontando com o dedo para o coração do Salvador e nos diz: Veja este coração, nele não há engano nem falsidade, mas a mais preciosa verdade e a mais alta fidelidade, sim: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamado à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1.9). “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Tessalonicenses 5.24).   
      Nesta tese temos ainda as palavras: “Muitas vezes os fiéis experimentam em seus corações sentimentos de alegria e bem-aventurança, mesmo que nem sempre na mesma intensidade”. Jesus diz: “Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo” (João 15.11), e: “Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará e a vossa alegria ninguém poderá tirar” (João 16.22). A paz e a alegria do consolo do Espírito Santo são percebidos no fundo do coração e de forma viva. Por isso a Escritura fala no provar: “Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia” (Salmo 34.8). “E provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”. (Hebreus 6.5) “Para com estes, cheio de morte para a morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente par estas coisas.” (2 Coríntios 2.16). Nós não desprezamos os sentimentos. Por exemplo, nos hinos de nosso Hinário Luterano, sob a rubrica: Jesus o Redentor, temos hinos que expressam este profundo e vivo sentimento de bem-aventurança. Cf.: “Meu céu começa neste mundo, e sentirá prazer profundo, quem seu repouso em ti buscar” (HL n° 283). “És minha alegria!” (HL 291) “Eu tanto quero eterno Amigo.” (HL 283) Mas cuidado, mesmo assim, não baseamos nosso estar na graça em nossos sentimentos, também não afirmamos que a verdadeira fé e a ação do Espírito Santo sejam sem sentimento, sem percepção. Quando pregamos contra os sentimentos, sejamos cautelosos, para não dar apoio a um cristianismo só de boca. Este consolo e paz no coração do cristão é muitas vezes como o mar com suas ondas altas e baixas. Na sua superfície podem se levantar ondas assustadoras, mas ao descermos para o fundo do mar chegamos a um ponto onde tudo é calmo. Assim o é com o coração humano. E deste ponto fluem também as ondas que nos acalmam e nos deixam bem envergonhados ao nos perguntarmos: Como pude ter tantas dúvidas. Esta é a paz de Deus que está no coração pela fé. Temos esta paz mesmo quando não estamos conscientes dela. A paz do mundo é facilmente perturbada, mas esta paz permanece. Estevão, na hora em que foi apedrejado, não viu o rosto irado cheio de ódio dos judeus. Seu rosto resplandecia como a face de anjos. Em meio às pedras que seus inimigos atiraram sobre ele, que o levaram à morte, ele viu o céu aberto e o Filho de Deus assentado à direita do Pai. (Atos 7) Esta é a paz de Deus que excede a todo o entendimento. 
     O Espírito Santo não glorifica somente a Cristo nos corações dos fiéis, mas também através dos fiéis. A respeito do Espírito Santo, Jesus testifica que ele testemunhará dele e não só internamente no coração dos fiéis, mas também através dos fiéis, diante do mundo. O Espírito Santo testemunhou de Cristo imediatamente ao ser derramado sobre os apóstolos no dia de Pentecostes. Ali o Espírito Santo equipou e capacitou os apóstolos para o inerrante testemunho de Cristo. Ele dá a todos os fiéis, em todos os tempos capacidade para testemunhar, coragem e alegria. Mesmo que, com justiça precisamos fazer uma diferença entre o testemunho dos apóstolos e nosso testemunho de Cristo. Mesmo assim o testemunho de todos os cristãos é unânime nisso: Eles testemunharam de Cristo, o eterno Filho de Deus, testemunham diante do mundo sobre pecado, justiça e juízo. O mundo nega a divindade de Jesus, como Filho de Deus que veio na carne, negam também a condenação na qual todas as pessoas estão diante de Deus e que Jesus é o único Salvador. As testemunhas, equipadas pelo Espírito Santo, confessam livremente diante do mundo que sua bem-aventurada comunhão com Cristo é seu maior tesouro e bem nessa vida. Isto é o ser do seu testemunho. Mesmo que na forma do testemunho pessoal possa haver diferença e de fato ela existe. Se pela palavra escrita ou falada ou ação, se é uma forma de confissão livre ou motivada por uma ocasião especial, isto não muda o ser do testemunho. O martírio é, também por si, a mais alta e última forma de confissão de Cristo. Nele, como a entrega da própria vida, se testemunha que a comunhão com Deus e com Cristo lhes é mais preciosa do que a própria vida. “Então, vi a mulher embriagada como sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto” (Apocalipse 17.6). Do apóstolo Pedro Jesus afirma: “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me” (João 21.19). Estas passagens dão testemunho de que a morte, que o mártir sofre, glorifica a Cristo. E, é preciso lembrar, que ambas as coisas podem ser também erradas e desprezíveis se o mártir procura o martírio por sua vaidade, ou foge do mesmo por covardia. A morte de mártir é julgada não pelo feito do sofrimento, mas pela razão do sofrimento. “Não o sofrer, mas a causa do sofrimento perfaz um mártir”, disse Agostinho.


7ª Tese

     No seu ofício de testemunhar em meio a muitas tribulações e tentações, o Espírito Santo ampara os fiéis com o espírito da oração. Ele os certifica em sua peregrinação, constantemente, de serem filhos de Deus e lhes mostra que o Príncipe deste mundo, que os aflige freqüentemente, já está julgado.


Confira

- Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis. Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus. Isto farão porque não conhecem o Pai, nem a mim. Ora estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o princípio, porque eu estava convosco (João 16.1-4).

- Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fosseis do mundo, mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos razão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. (João 15.17-21).

- O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. (Romanos 8.16).

- Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos (Romanos 8.26-27.

- Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. (João 16.23).

Exposição

     Em suas palavras de despedida, Jesus acentuou enfaticamente e o repetiu em diversos lugares (Jo 16.1-4; Jo 15.17-21), que os fiéis teriam que enfrentar muitas tribulações. Ele lhes anunciou que seriam expulsos das Sinagogas, odiados e martirizados. No evangelho de João 15.17-31, Jesus dá a razão porque o mundo os odeia, porque Cristo os escolheu do mundo, por não pertencerem mais ao mundo. Em meio aos diversos sofrimentos previstos, Jesus prepara e arma seus discípulos para poderem suportar o ódio do mundo, a fim de não olharem para os mesmos como algo estranho e inusitado. Após as explicações de Jesus, em suas palavras finais, eles devem saber que é uma imaginação bem errada do cristianismo, pensar que o cristianismo tarará dias felizes, de júbilo e triunfos aos cristãos aqui na terra. Não! Jesus anunciou aos apóstolos diversas tribulações. Olhemos para a vida dos apóstolos, estas testemunhas pré-escolhidas. Ouvimos e lemos sobre açoites, prisões, ódio por parte dos judeus e perseguições por parte dos gentios, além de todo o tipo de tentações e sofrimentos externos como doenças e desastres, e enganos por parte de falsos profetas. Os apóstolos também sabiam que estes sofrimentos não estão no fim. Eles anunciam sofrimentos e enganos ainda mais cruéis para as gerações futuras. (Cf.: At 20.29; 1 Tm 4.1; 2 Pe 3.6) Em todo esse sofrer precisamos lembrar as palavras de Jesus no Sermão do Monte: Porque deles é o reino dos céus (Mt 5.10,12) O que Cristo anunciou com respeito aos sofrimentos cumpriu-se fartamente. Somente os cristãos de nome escapam a essas aflições e ódios, visto ser uma geração sem sal nem poder, do qual o mundo não tem o que temer, por isso os deixam em paz. Há na verdade também aqueles que afirmam: “A verdade, sem bem anunciada, sempre encontra aceitação no mundo. Importa encontrar o correto tom na proclamação, então as coisas vão bem.” Esta afirmação, de que o evangelho depende do tom na abordagem, precisamos contestar decididamente. Pois nesse caso, Jesus e os apóstolos falharam por não terem encontrado o tom correto na abordagem, o que nós hoje sabemos fazê-lo melhor. Judeus, gentios e tudo que é considerado digno e respeitado neste mundo combate a verdade a qual Jesus proclamou. A isto se somam ainda as aflições e tentações internas que levam os fiéis muitas vezes a vacilar. Este é o destino das testemunhas de Cristo neste mundo. Mas neste seu árduo ofício de testemunhar, o Espírito Santo ampara os fiéis com o espírito da oração. Ele os ensina a orar com plena confiança em nome de Jesus. O Espírito Santo faz com que, em meio ao medo e as perseguições do mundo, eles se apequem e confiem nas palavras de Jesus: “A fim de tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda” (Jo 15.16). E não somente isso, o próprio Espírito intercede por eles, como lemos: “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26). Muitos, que se têm por sábios e entendidos, julgam ser uma vergonha se o cristão não sabe o que pedir, e perguntam: Será que os cristãos não conhecem as muitas necessidades externas e internas das quais gostaria de ser libertado? Sem dúvida que sim. Eles têm e conhecem as muitas necessidades, mesmo assim é verdade que muitas vezes eles não sabem se o sofrimento ou a alegria será uma bênção para eles ou não. Será que um verdadeiro cristão sabe dizer o que lhe será bênção? Será que nós cristãos podemos afirmar com toda certeza: Agora eu mereço felicidade e não sofrimento, alegria e não tristeza? Exatamente por isso o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis, por não sabermos o que devemos pedir como convém. Tolos são aqueles que imaginam saberem sempre o que servirá para o bem de suas almas. – Foi dito que a tarefa de testemunhar está ligada a muitas tribulações, mas há também aqueles cristãos que testemunham e por culpa própria se impõe tribulações. Nem toda a tribulação é uma conseqüência do “por amor a Cristo”. Basta que nós pastores olhemos para nossos primeiros anos de ministério. Quantos erros cometemos. Nosso zelo carnal provocou murmurações por parte da diretoria ou dos membros contra nós. Nesses casos, nós não devemos nos colocar logo como mártires, mas nos examinar se não foi por nossa culpa que vieram dificuldades e angústias sobre nós. E quando descontamos o que foi por nossa culpa, ainda restará muita coisa que é inevitável na pregação do evangelho e que provoca resistência. – Ao ouvirmos “não sabemos o que pedir”, isso não deve nos levar a nos abster da oração, nem do pedir coisas materiais. O Espírito Santo é o que opera em nós o ardente desejo de orar. O fato de muitos não orarem é devido sua fraqueza de fé e por não pedirem ao Espírito Santo o dom da oração.
     Consta ainda na tese: “O Espírito Santo... os certifica constantemente, em sua peregrinação, de serem filhos de Deus”. Contra as acusações de nossa consciência, do mundo e do diabo, o Espírito Santo testemunha poderosamente em nós, de sermos filhos de Deus. “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8.16), apesar de os fiéis ainda serem pecadores e a cruz pesar sobre eles. Quando o mundo e sua própria razão os desprezam, eles têm no seu interior o testemunho divino de serem filhos de Deus e isto constantemente. Por nossos pecados de fraqueza nos darem ainda muito trabalho, precisamos do testemunho de Cristo, pois, mesmo como cristãos, nunca deixamos em nenhum momento de ser parte do mundo pecador.
     Em relação às seitas que afirmam serem filhos de Deus e terem o testemunho interno do Espírito, e mesmo assim vivem freqüentemente em pecados abertos, precisamos manter que o Espírito testemunha somente pela Palavra. Pela Palavra o Espírito Santo consola em toda a tribulação. Mesmo que o cristão não esteja sempre consciente de se firmar numa palavra específica, mesmo assim é a Palavra, pois sem a palavra de Deus ninguém pode achar consolo.
     Por fim, temos na tese: O Espírito Santo... lhes mostra que o Príncipe deste mundo, que os aflige, freqüentemente, já está julgado.
     Jesus disse a seus discípulos em suas palavras de despedida: “Vem aí o príncipe do mundo e ele nada tem em mim” (Jo 14.30). “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
     Isto dá aos cristãos coragem e alegria em sua missão de testemunharem. Eles sabem com antecedência e são fortalecidos pelo Espírito Santo, e vivamente convencidos da vitória de Cristo sobre todos os podres das trevas, que já foram vencidos quando Cristo morreu na cruz. Na verdade, tudo isso não seria consolo, se nós olhássemos para a vitória de Cristo somente como a vitória de um simples homem. Neste caso isso seria incompreensível. Como poderíamos tirar consolo do fato de outra pessoa ter vencido o medo do mundo. Uma simples pessoa humana teria a vitória somente para si, e seria incompreensível querer nos consolar com isso. Mas a vitória de Cristo tem poder e significado eterno, por ter lutado e sofrido como Filho de Deus. Por isso, sua vitória única é uma vitória meritória para toda a humanidade e profundo consolo para nossa alma. A força e o significado desta vitória de Cristo, o Espírito Santo clarifica e confere a nossa alma. Jesus, nosso Salvador, nos conquistou vitória, força e bem-aventurança. A vitória de Cristo é nossa força em nossa luta, a ela nós nos apegamos, nele nós nos firmamos e nele confiamos, não em nossa própria sabedoria e destemor. A palavra de Cristo: “Tende bom ânimo, eu venci o mundo”, é nossa força e poder na luta. De nada Cristo nos aproveitaria, se ele não fosse o Filho de Deus. E mais um detalhe: Ele é o cabeça e nós membros do seu corpo, no qual fomos enxertados pelo batismo e enquanto na fé. Ele, nossa cabeça, passou pelo sofrimento e morte à glória, assim também nós, seus membros passaremos vitoriosos para a glória celestial.[19] 


8ª Tese

    Por fim, como Espírito da Esperança, ele também clarifica o futuro. Ele dirige os olhos e o coração dos fiéis para a pátria celestial, com muitas moradias. Onde o trabalho imperfeito e corruptível terminará e os fiéis receberão um corpo completamente santo e perfeito. Aqui, os fiéis já possuem as primícias do Espírito Santo que lhes é um penhor e selo da esperança.

Confira

- Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que há de vir (Jo 16.13).

- Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei par mim mesmo, par que, onde eu estou, estejais vos também (João 14.2-3).

- E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.. (Romanos 8.23).

- Que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração. Eu, porém, por minha vida, tomo a Deus por testemunho de que, para vós poupar, não tornei ainda a Corinto. (2 Coríntios 1.22,23)

- Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos (1 Coríntios 13.9).

- Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido (1 Coríntios 13.12).

- O qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (Efésios 1.14).

Exposição

     Em Cristo, Deus Espírito Santo já se glorifica nos fiéis aqui na terra, pelas primícias de sua ação, que são: fé, amor, mas em sua plenitude, completa e visível, de toda a glória só no paraíso, no futuro. O apóstolo Paulo afirma aos Colossenses: “Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória” (Colossenses 3.3-4). O que ainda está por vir, o que nós ainda não vemos, disto trata a esperança cristã. O objeto, com que a esperança cristã lida, é a visível e gloriosa consumação do Reino de Deus, a ressurreição da carne, a eterna glorificação de nosso corpo, a entrada na vida eterna. O completo cumprimento, a concretização visível desta esperança, o triunfo final da Igreja sobre os poderes das trevas, esta é a esperança não somente dos fiéis deste ou daquele tempo, mas a esperança comum de todos os cristãos de todos os tempos. Quando Jesus se despediu de seus queridos discípulos na noite em que foi traído, ele não apontou aos discípulos uma consumação gloriosa neste mundo, mas dirigiu seus corações e sua visão para aquilo que realmente importa nesta vida passageira, a saber, unicamente, o lar eterno, a casa do Pai. Jesus falou a seus discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (João 14.2-3). Com isso Jesus diz a seus discípulos: Meus queridos discípulos, se muitas vezes vocês desanimarem neste mundo, pensando que a esperada paz se quebrou para vocês, então lembrem o bem-aventurado lar do Pai celestial. Ali vocês têm casa, não feita por mãos humanas, mas construído pelo Pai, com muitas moradas para cada um que aspira chegar lá. Uma morada cheia de paz, um descanso no colo do Pai celestial. O Espírito Santo dá e firma os fiéis nesta esperança. Ele nos mostra que ali onde a glória de Cristo é vista em eterna alegria e bem-aventurada luz, ali está a nossa verdadeira pátria, nosso eterno lar. Aqui estamos sob a cruz e de passagem.  Por isso, avivar esta esperança, constantemente, é muito necessário, pois há muitos e poderosos empecilhos que se opõe a esta esperança. Também o coração dos fiéis, ao longo de sua peregrinação, é atribulado por muitas dúvidas e incertezas. O mundo não quer saber desta esperança celestial, do esperar por um novo céu e uma nova terra no futuro. O mundo não quer esperar, mas possuir e despreza todo o esperar e a esperança por medo ou desalento. Esta forma mundana de pensar quer-se infiltrar também nos fiéis. Desejam um cristianismo de paz e felicidade terrena, (como o vemos na pregação da teologia da glória e da prosperidade). Quando então sobrevêm dificuldades, lutas, muitos se desorientam em Cristo. Eles gostariam de ver na igreja aqui a perfeição e isto imediatamente. A isso se juntam os zombadores que ridicularizam abertamente esta esperança, dizendo: “Onde está a promessa do futuro”? (2 Pe 3.4) Continuamente dizem aos cristãos: “Vocês se deixam ofuscar por estas palavras bíblicas, importa cuidar das coisas terrenas e não das celestiais. Deixem essas coisas. De que vos valem todas estas esperanças do além?” Facilmente nossa esperança esmorece diante dessas zombarias do mundo, se o Espírito Santo não nos amparasse nesta tentações, desesperaríamos. Em primeiro lugar o Espírito Santo nos mostra de que aqui na terra tudo é corrupção e passageiro. O apóstolo Paulo escreve: “Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos... Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido” (1 Coríntios 13.9,12).  Neste mundo não há nada completo, pleno nem para a igreja, nem para seus membros, nem para um cristão individual. Aqui na terra, assim nos ensina o Espírito Santo, tudo é vaidade e transitório. Neste mundo não temos de que nos orgulhar, nem de nossas posses com aparente perfeição. Cumpre, no entanto, elevar nossos olhos para o alto e desejar ardentemente a vinda de Cristo, como único futuro e verdadeira comunhão. Na carta a Tito, o apóstolo Paulo escreve: “Portanto. a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11), para que possamos esperar esta bem-aventurada aparição da glória de Deus e de nosso Salvador. O alvo de nossa completa renovação está no futuro, na eternidade. Queremos, porém, não esquecer que a esperança de um futuro glorioso se revela agora poderosamente nos cristãos individualmente. Jesus disse: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (João 14.18). Nós cristãos não devemos simplesmente ter uma idéia de um futuro esplêndido, mas o próprio Deus, o  Espírito Santo, é o selo e penhor desta nossa esperança. O apóstolo Paulo escreve: “Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que também nos selou e nos deu penhor do Espírito em nossos corações” ( 2 Coríntios 1.21-22). “O qual é penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Efésios 1.14). Uma promessa escrita é confirmada por um selo que a torna certa e firme. Por um penhor, aquele que o dá, se torna ainda mais comprometido a cumprir o que prometeu. O selo, o penhor de nossa esperança é o próprio Espírito Santo, como afirma o apóstolo Paulo: “E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Romanos 8.23). A glória futura, onde veremos Deus, o Senhor, com nossos próprios olhos, não tem outro começo do que o fato de Deus Pai e o Filho terem vindo ao mundo e feito aqui habitação em nós pelo Espírito Santo. A primeira ação do Espírito Santo em nós é a confirmação, o selar nossa herança eterna. Sim, quando os mortos ressuscitarão no dia do juízo final, e os corpos daqueles, que entrarão no lar bem-aventurado, participarão da glorificação; eles serão vivificados por Cristo por nenhum outro motivo do que pelo fato do Espírito Santo habitar neles. O apóstolo Paulo afirma: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita” (Romanos 8.11).
     Em vez de nos lamentar aqui, queremos ir ao encontro desta esperança. Ali estão  as moradas onde Deus enxugará as lágrimas daqueles que seguiram a Cristo aqui na terra. Ali o primeiro, que era em parte passou; ali o Senhor estará novamente de forma visível e reconhecível com os seus. Nós seremos seu povo e ele próprio, o Emanuel, o Deus conosco. Não precisaremos mais de outra luz, pois a glória do Senhor iluminará a pacífica Comunidade, sua lâmpada é o Cordeiro. Onde está o Espírito de Deus, ali está a viva esperança. Ela é uma esperança viva e confiável. Se não tivermos esta esperança, então todo nosso correr é pobre, um correr atrás de coisas materiais, uma alegria passageira e perecível. Mas se temos em nosso coração a esperança do glorioso e celestial reino de Cristo, então o nosso labutar e sacrificar pelo reino de Deus não será em vão, mas está ligado com a incorruptível esperança.[20]
     Que Deus conceda a cada um de nós, para que na vinda de Cristo, quando os fundamentos da terra serão abalados (Lc 21.26) e os montes cairão, que então cada um de nós possa na plenitude do Espírito Santo, em nome de Jesus, orar consolado a Deus Pai. Sim, Deus Espírito Santo conceda a cada um de nós vermos a glória de Cristo, aqui na Palavra e em fé, ali no ver em eterna glorificação. Amém.
                                                                                               São Leopoldo, 27/04/2015
                                                                                                 Horst R. Kuchenbecker           

Anexo I - A Doutrina do Espírito Santo – Carta aos pastores luteranos, n° 51 (1960).
Dr. Hermann Sasse, Austrália

Resumo

1 – A verdadeira doutrina do Espírito Santo não tem mais sua pátria na Igreja, até parece que esta doutrina tornou-se um corpo estranho nela. (Otto Henning Nebe, 1934)
- Onde não se ensina mais corretamente o Evangelho e se falsifica os sacramentos, perde-se o Espírito Santo e a Cristo, e as instituições da igreja entram em colapso. Exemplos: Como explicar a falta de pastores, pastores entrando em colapso (born out) mulheres no ministério pastoral, etc.?

2 – Nós, cristãos modernos, procuramos o Espírito Santo ali onde ele não se encontra.
- Este perigo não é novo.
- Os movimentos dos entusiastas, do pietismo, do ecumenismo e outros ismos que procuram edificar a igreja com seus pensamentos positivos, implicações psicológicas ou promover o crescimento da igreja com técnicas comerciais, e que aplaudem a união de luteranos com reformados como uma manifestação do Espírito Santo.

3 - Nós, cristãos modernos, procuramos o Espírito Santo ali onde não se encontra, quando julgamos como algo normal que o Espírito Santo obrigatoriamente vem por nossas pregações.
- Mas será que aquilo que pregamos é a palavra de Deus?
- Estamos dividindo lei e evangelho corretamente?
- Estamos conscientes de que o Espírito Santo opera “onde e quando lhe aprouver” (CA  
     VII), não no sentido da interpretação do Dr. Karl Barth, de que o Espírito Santo não
     está preso aos meios da graça, mas tem liberdade de trabalhar onde e quanto quer.
- A correta pregação do Evangelho sempre traz o Espírito Santo, que “opera onde e
     quando lhe apraz”, reservando-se a premissa maior: Deus quer que todos cheguem
    ao pleno conhecimento da verdade e vivam. (2 Tm 2.4)
- Os modernos métodos de evangelismo e mordomia orgulham-se de seus sucessos, e
    não entendem o profundo mistério do Espírito Santo.  

4 – Nós cristãos modernos não encontramos mais o Espírito Santo ali onde ele quer ser encontrado.
- Compreendemos ainda a verdade de que o Espírito Santo só opera pelos meios da graça, Palavra e Sacramentos? A condenação do quinto artigo da Confissão de Augsburgo bem como dos Artigos de Esmalcalde, 3.VIII, 3,4, que condenam os anabatistas que procura o Espírito Santo fora dos meios da graça?
- Que em todos os tempos e também hoje, existem os que procuram o Espírito Santo por suas próprias preparações.
-  Procuramos o Espírito Santo em todos os lugares, mas rejeitamos o batismo de crianças e a Santa Ceia.

5 – O Espírito Santo quer ser procurado na Palavra. Ali ele se revela como o verdadeiro Des.
- O Espírito Santo é mais do que uma força divina, ele é pessoa.
- Na Escritura, o Espírito dá testemunho de ser ele pessoa, um só Deus com o Pai e o Filho. (Credo Niceno)
- O ser Deus está intimamente ligado com a inspiração da Escritura.
- Onde a doutrina da inspiração não é mais compreendida, ali também a doutrina do Espírito Santo não é compreendida, nem a doutrina da pessoa e obra redentora de Cristo.

6 – A doutrina da inspiração das Escrituras é parte da doutrina do Espírito Santo.
- Na doutrina do Espírito Santo só podemos ir até onde a Escritura o revela e afirma.
- Como o Espírito Santo, assim também a ação do Espírito Santo é inacessível à psicologia. Pois, o que realmente é a ação do Espírito Santo, o renascimento, as experiências dos profetas com Deus, o efeito da Palavra de Deus e dos sacramentos de Cristo sobre a alma humana, está fora do alcance da psicologia para explicar ou descrevê-la. A importância desta verdade deve ser lembrada na pregação e no aconselhamento.
- A cristologia e a doutrina do Espírito Santo estão ali nas Escrituras, mas levou-se muito tempo até clarificar as mesmas. Só a partir do Concílio de Constantinópola (381 AD) estas doutrinas foram clarificadas.

7 – Será que a doutrina da Trindade e com ela a do Espírito Sano estão realmente completos?
- Achava-se que sim, mas ainda há muitas perguntas abertas.

8 – A ausência, no sexto século, de pessoas que pensam, impossibilitou o processo de clarificação da doutrina do Espírito Santo.
-  Muitos teólogos foram ceifados pelas guerras e a migração dos povos impediu o aprofundamento dos estudos teológicos.

9 – É importante manter nas orações a confissão: “E no Espírito Santo, Senhor e doador da vida, o qual procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. - Nas orações dirigidas ao Pai manter no final: “Mediante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo para todo o sempre”. E se dirigida ao Filho: “Tu que vives e governas com o Pai e o Espírito Santo de eternidade a eternidade”. Amém. 

10 – A doutrina do Espírito Santo pertence às doutrinas incompletas da Igreja, bem como à escatologia e as últimas coisas.
- Não podemos esquecer que os apóstolos vivenciaram o Espírito Santo na prática, não em primeira linha os dons visíveis como o falar em línguas, mas os dons da fé,
esperança e amor (Jo 16.20-22).
- As portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16.18) Nesta fé queremos pedir e nesta fé queremos trabalhar.  
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Anexo II – A pergunta sempre volta: O Espírito Santo não age (ou poderia agir) sem os meios da graça? O Espírito Santo não é livre para agir como e onde quer? Dizer que Deus nos amarrou ou se amarrou aos meios da graça não é exagerado? O que dizer a respeito dos testemunhos a respeito da ação do Espírito Santo nos campos de missão? Ali pessoas afirmam, freqüentemente, que Jesus ou anjos lhes apareceram em sonhos ou visões, estimulando-os a irem a uma igreja cristã ou lerem a Bíblia. Vejamos alguns relatos.

1 – O primeiro missionário de nossa igreja irmã americana, a Lutheran Church Missouri Synod (LCMS) enviado para a Nigéria foi morto nos primeiros meses de trabalho. Enviaram então o segundo pastor. Mal chegado, os nativos investiram contra ele. Ele e a esposa se refugiaram na oração. De repente os nativos fugiram. Eles ficaram maravilhados. Alguns meses depois, um dos nativos meio temeroso veio em busca de um remédio para um de seus filhos doente. O pastor auxiliou e o menino ficou curado. Esta família veio aos estudos bíblicos e foi batizada. No terceiro estudo, o pai daquela criança olhava em seu derredor e o pastor lhe perguntou: Você está procurando alguma coisa?- Sim, disse ele. Onde estão os homens que defendem você? Pois no dia em que atacamos você, nos vimos, ao chegar mais perto, que a casa estava cercada por soldados e nós fugimos. – Sem dúvida Deus protegeu o pastor, dando aos inimigos um visão de anjos.

2 -  Um pastor que trabalha em Berlim, Alemanha, na missão entre islâmicos relatou o seguinte em 2010: Seguidamente alguns islâmicos que estão na instrução relatam sobre visões e sonhos. Um deles contou o seguinte: Eu vi em sonho um ser resplandecente que me dizia: Vá a uma igreja cristã. - Ouro relatou algo semelhante com a recomendação: Leia a Bíblia. Em conseqüência disso vieram à nossa missão.

3 – Um pastor de nossa igreja irmã nos Estados Unidos relatou o seguinte: Um membro convertido de sua congregação lhe relatou com muito entusiasmo que teve uma visão à noite. Jesus lhe apareceu e lhe disse que procurasse uma igreja cristã. Ele o fez. Gostou do culto e foi instruído. Agora ele gosta de contar essa sua visão a todos, mas estranha que muitos dos irmãos na fé o ridicularizavam. Por isso veio procurar o pastor com a pergunta: Será que meu sonho foi real ou imaginário?
     O pastor lhe respondeu: Agradeça a Deus que o trouxe ao conhecimento de Jesus pela palavra de Deus. Apegue-se à mesma. Deus tem muitos caminhos para conduzir alguém a sua Palavra, pela qual o Espírito Santo chama, ilumina, congrega e conserva na fé. Se foi Jesus que lhe apareceu ou não, é secundário. Isto deve ficar só para você. Mas de Cristo e de sua Palavra você deve continuar a testemunhar.
     O pastor que relatou este fato disse a todos nós: Quanto às revelações especiais das quais um e outro fala, tenho muitas dúvidas. Elas podem ser uma imaginação motivada por uma palavra ouvida ou lida, pelo testemunho de um cristão, etc.; por um forte desejo de conhecer o cristianismo, entusiasmo ou medo. Eles podem até ser reais, pois Deus tem muitos caminhos para dirigir alguém a sua Palavra e igreja. No entanto, nós temos que dizer a estas pessoas, que não devem firmar sua fé nestas visões ou sonhos, mas na palavra de Deus. E devem manter esses acontecimentos para si, sem se orgulharem nem falarem delas.
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[1] Livro de Concórdia, Editora Sinodal, São Leopoldo, RS; Editor Concórdia, Porto Alegre, RS. 1980
[2] Estas teses foram apresentadas na 12ª Johresversammlung des Südlichen Districts – Evg.-Lutherische Synode Missouri, Ohio und anderen Staaten. Houston Texas, 9 a 15 de fevereiro de 1898
[3] As observações ao pé da página são notas do tradutor. – Ao meditarmos sobre a pessoa e obra do Espírito Santo à luz da palavra de Deus, precisamos manter diante de nós as principais verdades da fé cristã: a) Pela queda do Adão e Eva em pecado, toda a raça humana se corrompeu. Nascemos com o Pecado Original. É o pecado que herdamos de Adão, Isto é, a completa corrupção de toda a natureza humana, agora privada da justiça original, inclinada para todo o mal, sujeita à condenação (Rm 5.19; Sl 51.5; Jo 3.6; Rm 7.18; Gn 8.21; Ef 2.3; 2 Co 2.14; 1 Pe 2.24); b) Cristo, por seu sacrifício vicário, salvou toda a humanidade e deseja que todos cheguem ao conhecimento da verdade (justificação objetiva) (Jo 3.16; Rm 5.1,2; 2 Tm 2.4); c) Somos salvos unicamente pela fé na graça de Cristo (justificação objetiva), sem as obras da lei (Rm 2.28; Ef 2.8-10; Gl 2.16). Resumindo: Só existem duas religiões no mundo: a) a religião da lei, que é aquela que procuram a reconciliação com a divindade por suas obras; e b) a religião do Evangelho, que ensina que somos salvos unicamente pela fé na graça de Cristo, revelada pelo Evangelho na Escritura. Algumas religiões cristãs misturam as duas coisas: obra e graça. Ensinam que somos salvos em parte pela graça de Cristo e em parte por nossas boas obras. 
[4] A Bíblia usada aqui é a: Revista e Atualizada da Soc. Bíblica do Brasil, 2008.
[5] Sinodalbericht, des California und Oregon-District, 1897, p. 11ss.)
[6] Ev.-luth. Homiletik Magazin e em Die biblische Geschichte des Neuen Testaments. Str. Louis, Mo. Concordia Publishing House, 1906, p. 270-272.
[7] Confira as teses do Dr. H. Sasse no final deste estudo, Anexo I, e Confissão de Augsburgo V.
[8] No mundo evangélico é comum se ouvir: O Espírito Santo me revelou! Ou: Busque o Espírito Santo pela súplica e ele te revelará o que deves fazer. – Existem muitas maneiras levianas de falar das experiências do Espírito Santo. Por exemplo: No dia da Igreja (Kirchentag) no ano de 1853, em Berlim, Alemanha, se aceitou a Confissão de Augsburgo, com a ressalva de que o Artigo VII da Santa Ceia não prejudicasse a união entre luteranos, reformados e unitários. Esta união foi considerada por muitos uma gloriosa manifestação do Espírito Santo. O mesmo aconteceu na Conferência de Barmen, em 1934, e na Conferência de Leuenberg, em 1974. Ali louvou-se a Deus pela grande orientação do Espírito Santo para concretizar a união entre luteranos e reformados. Mas, pergunta o Dr. H. Sasse, onde ficou o: “Agradou ao Espírito Santo e a nós, pois era uma resolução contra a Palavra de Deus“ (At 15.28). O agradar ao Espírito Santo significa que a resolução deve estar em pleno acordo com a palavra de Deus. Este não foi o caso no Kirchentag, nem em Barmen e em Leuenberg.  Nós, no entanto, podemos dizer isso de nossas Confissões reunidas no Livro de Concórdia que, firmados na Bíblia, são a correta interpretação da mesma. 
[9] Sob Igreja Luterana fiel entendemos aquela igreja luterana que subscreve o Livro de Concórdia  e a aceita como sua confissão.
[10] Aqui cumpre lembrar: 1º. A Palavra escrita, em seus originais, é inspirada por Deus e Palavra infalível e inerrante, único juiz em matéria de fé (doutrina) e vida. Por ela o Espírito Santo nos guia. Apesar de ela falar em mistérios, a Palavra é clara e compreensível. 2°. Ela é completa. Não há o que acrescentar nem diminuir (Ap 22.18-20). Não precisamos de novas revelações. 3°. Não há nela contradições, nem dubiedades, de modo que alguém possa chegar a uma conclusão e outro à outra, alegando: Deus mo revelou assim pela Escritura. Abrindo assim caminho para as mais diferentes interpretações e doutrinas. Há um só batismo, uma só esperança, uma só fé (Ef 4.1-6), não vários batismos, várias ceias, várias esperanças. 4°. Para uma interpretação correta, a pessoa precisa conhecer os originais (porque as muitas traduções geram dúvida), o conhecimento da hermenêutica (leis da tradução e interpretação), bem como as leis especiais da interpretação da Bíblia: somente a Escritura, somente por graça, somente pela fé, somente Cristo (analogia da fé). – Diante disso o leigo dirá: E como fico eu? Para isso Deus deu pastores e mestres (Ef 4.11-12), para orientar e instruir os membros. Somos gratos a Deus pela herança de nossos pais, as boas traduções da Bíblia, as Confissões reunidas no Livro de Concórdia de 1580, que reconhecemos como a correta interpretação das Escrituras. A Escritura é a base que oriente tudo, as Confissões são declarações à base da Escritura.  
[11] Neali Dondd Walsch em seu livro Conversando com Deus afirma: O sentimento é a linguagem da alma. Se você quiser saber o que é verdade para você em relação a alguma coisa, veja como você se sente em relação a ela. O truque é então encontrar como esses sentimentos o que Deus lhe quer dizer. Pois Deus lhe disse: “Eu também me comunico através de pensamentos. Pensamentos e sentimentos não são a mesma coisa, embora possa ocorrer ao mesmo tempo. Eu me comunico através de pensamentos, freqüentemente, uso imagens e figuras.” (Conversando com Deus. Editora Agir, 1997, Vol. I, p. 16)
[12] Importa lembrar que não temos nenhuma promessa de que o Espírito Santo possa gerar filhos do Reino sem a Palavra e o sacramento do santo batismo; como também não temos nenhuma promessa de que sem Palavra, sem instrução na Palavra, as pessoas possam aprender a orar corretamente. O Espírito Santo nos ensina a orar corretamente só pela Escritura.
[13] Nas Missões: Consulte no final o Anexo 2.
[14] Confirmandos perguntam muitas vezes: Porque preciso decorar isto? Preciso dizer-lhes: Um dia vocês vão precisar isso. Estudem. – Após um sermão uma pessoa me disse na saída do culto: Seu sermão, hoje, não me disse nada! – Respondi: Guarde-o, você pode precisar este ensino oportunamente. Já na quinta-feira da mesma semana, esta pessoa me telefonou e agradeceu pelo sermão. – Pastor! Obrigado pelo sermão. Não sei o que seria de mim se tivesse perdido este sermão. Tive um problema, e exatamente o seu sermão me consolou e mostrou o caminho.                   
[15] Revelação do Espírito – Aqui estamos diante de um dos maiores problemas na interpretação da Escritura. Sempre de novo ouço a pergunta e afirmações de leigos: Pastor, como eu vou julgar entre o falso e o verdadeiro? Tenho parentes e amigos que pertencem às diversas igrejas cristãs. São seguidores fiéis. Cada um me argumenta que está convencido pela revelação do Espírito Santo que sua interpretação das Escrituras e a correta. Será que o Espírito Santo revela a Escritura a um de um jeito e a outro de outro? Pois cada um se firma na Escritura e diz estar convencido pelo Espírito Santo de ter a verdade. – Voltamos a afirmar que a Palavra escrita é o juiz. Cabe-nos estudar a Escritura (os originais). Para isso preciso: 1) de um conhecimento da lingüística. 2) Conhecimento geral da Escritura. 3) Observar bem o contexto, pois não há contradições na Escritura. 4) Centralidade de Cristo. 5) O Antigo Testamento precisa ser interpretado à luz do Novo Testamento, as profecias, Apocalipse, a partir de passagens claras do evangelho e das epístolas. Confira a observação n° 9 da página 12, desse trabalho.
[16] “Coração” é aqui uma expressão dos antigos, visto que a alegria, a tristeza, o medo e o pavor faziam-se sentir pelas palpitações do coração.
[17] Esta fé Lutero descreve assim: “Assim a fé é obra divina em nós, que nos transforma e novamente nos gera de Deus, e mata o velho homem, torna-nos homens completamente diferentes no coração, ânimo, mente e todas as forças e traz consigo o Espírito santo. Oh! A fé é coisa viva, diligente, ativa, poderosa, de tal sorte que lhe é impossível deixar de operar incessantemente o bem. Nem pergunta ela se boas obras devem ser praticadas, mas antes que se pergunte, as praticou, e sempre está em ação. Aquele, porém, que não faz tais obras é homem sem f[é,  e tateia e olha ao redor de si buscando a fé e as boas obras, e não sabem nem o que vem a ser fé nem o que são boas obras, e contudo palra e tagarela com muitas palavras sobre fé e boas obras. A fé e confiança viva e decidida na graça de Deus, tão certa, que por ela morreria mil vezes. (Livro de Concórdia, Declarátio Sólida, IV Das Boas Obras,10-12; p. 592)
[18] Deus dá o Espírito Santo aos fiéis como “selo”, como garantia da salvação (2 Co 1.22; Ef 1.13; Ef 4.30).
[19] A luta no final, no entanto, é árdua. Um pastor fiel disse, certa vez, a nós teologando no seu leito de morte: Vocês nem sabem que trabalho o diabo e minha carne me dão mesmo no final da vida. Precisamos permanecer apegados à palavra de Deus – e ele pediu que lêssemos e cantássemos hinos para consolo, pelos quais o Espírito Santo ampara e consola.
[20] Milênio.  Muitos cristãos têm hoje dúvidas sobre o milenarismo e o juízo final. Nós luteranos, que aceitamos a Confissão de Augsburgo, rejeitamos, conforme expresso no Art. XVII da CA, qualquer tipo de milenarismo ou chiliasmo, isto é, a opinião de que Cristo voltará visível a este mundo para governar  aqui durante mil anos antes do juízo final, para estabelecer o domínio da igreja sobre o mundo, ou que antes do fim do mundo a igreja terá um período de prosperidade especial; ou que antes da ressurreição geral no dia do juízo final um número de cristãos separados ou mártires serão ressuscitados para reinarem com Cristo em glória neste mundo; ou, que antes do fim do mundo, haverá uma conversão universal da nação judaica (Israel conforme a carne). Contra isso a Escritura ensina claramente, e nós também ensinamos assim, que o reino de Cristo no mundo permanece sob  cruz até o fim do mundo (At 14.22; Jo 16.33; Jo 18.36; Lc 9,23; Lc 14.27; Lc 17.20-37; 2 Tm 4.18; Hb 12.28; Lc 18.8), que a segunda vinda visível do Senhor será  seu advento final, sua vinda para julgar vivos e mortos (Mt 24.29,30; Mt 25.31; 2 Tm 4.1; 2 T 2.8; Hb 9.26-28);  que haverá só uma ressurreição dos mortos (Jo 5.28; Jo 6.39,40); que o tempo, o último dia, é e permanece desconhecido (Mt 24.42; Mt 25.13; Mc 13.32,37; At  1.7), o que não seria o caso se o último dia,  viesse após os mil anos, após o começo do milênio; e que não haverá uma conversão geral dos judeus, uma conversão em massa da nação judaica (Rm 1.7; 2 Co .3.14; Rm 11.25; 1 Ts .2.16);
     Conforme claras passagens da Escritura, rejeitamos todo o milenarismo, porque ele não somente contradiz a Escritura, mas também engendra uma falsa concepção do reino de Cristo, colocando a esperança cristã em alvos terrenos (1 Co 15.19; Cl 3.2), levando as pessoas a olharem para a Bíblia como um livro obscuro. (Breve Afirmação Doutrinária – LCMS)