A graciosa ação do Espírito Santo - Teses
A doutrina do Espírito Santo
Somos a única igreja que em nossos dias
ainda mantém puro o ensino sobre o Espírito Santo.
Confessamos no terceiro
Artigo do Credo Apostólico: Creio que
por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, nem vir a ele.
– Esta verdade da total corrupção do ser humana pela queda de Adão e Eva
(Pecado Original), que Jesus Cristo nos salvou do pecado, da morte e do poder
de Satanás, que Cristo salvou toda a humanidade (Salvação Objetiva), e que
somos salvo unicamente pela fé na graça de Cristo (salvação subjetiva). Esta fé
o Espírito Santo opera e mantêm pelos meios da graça, Palavra e Sacramentos. Estas verdades ensinadas na Escritura
Sagrada, são claramente expostas em nossas Confissões, Livro de Concórdia de
1580
.
Tanto na Igreja Católica
como nas diversas seitas esta verdade é negada de diversas formas. Eles
trabalham com a antiga pergunta calvinista: Deve
haver algo no ser humano, porque alguns se perdem e outros se salvam. E argumentam
com a afirmação do evangelho de Marcos: Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer
será condenado.” (Marcos 16.16) Logo - argumentam as seitas - Deus
exige uma decisão da pessoa. Isto só pode ser dito a um ser racional. Quem
ainda não está em condições de usar sua razão, como as crianças por exemplo,
não entram neste julgamento; ou quem ainda não ouviu o evangelho, a boa nova da
salvação, quem a desconhece é, por isso, uma pessoa que não está rejeitando o
evangelho pelo não crer, não poderá será condenado. Se Deus exige algo de
alguém, é porque esta pessoa é capaz disto. - Com tal afirmação ignoram todos
os outros versículos que proferem a maldição sobre o pecado, quer seja criança
ou adulto. Quem crer... não é uma exigência da lei, mas um convite de tomar o
que Jesus oferece: Perdão dos pecados, vida e eterna salvação. Isto o evangelho
opera.
A
afirmação de Lutero na explicação do terceiro Artigo do Credo Apostólico: “Espírito
Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou
na verdadeira fé” é aceito por católicos e evangélicos como alguém que nos
auxilia. Para alguns, ele dá a mão inicial para seguirem com sduas próprias
forças adiante e completarem a salvação (graça infusa), para outros ele auxilia
após terem dado o primeiro passo, a decisão por Cristo.
Além disso, há os que ensinam sobre a ação
direta do Espírito Santo fora dos meios da graça Palavra e Sacramentos. Ignoram
que o Espírito Santo nos amarrou aos meios a graça. “A fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo.” (Rm
10.17)
Por isso é muito necessário falarmos e
ensinarmos corretamente sobre o trabalho do Espírito Santo, não somente no dia
de Pentecostes, mas durante todo ano, esta doutrina precisa estar presente em
nossos sermões.
Introdução
Nos últimos anos, a doutrina do Espírito
Santo está sendo reexaminada por quase todas as igrejas cristãs. A razão disso
é que o Pentecostalismo – um movimento que já perpassa quase todas as denominações
cristãs – que dá grande ênfase à ação do Espírito Santo. Este movimento afirma
que existe um segundo batismo – que para eles é o verdadeiro batismo que
confere dons especiais aos fiéis. Este batismo deve ser buscado pelos cristãos
mediante jejum e orações.
Por isso o culto dos Pentecostais é
vibrante com muitos cantos e orações. As pessoas saem dos mesmos dizendo: Senti
a presença de Deus. Eles afirmam: As igrejas tradicionais estão do lado certo
do Calvário, mas do lado errado de Pentecostes; do lado certo do perdão, mas
desconhecem o poder do Espírito Santo.
Ao examinarmos a doutrina do Espírito
Santo, precisamos ter em mente de forma muito clara a doutrina do Pecado
Original, bem como a doutrina da salvação objetiva, de que Cristo, por sua
morte vicária na cruz, salvou toda a humanidade. Este perdão é oferecido à
humanidade pelos meios da graça: Palavra e sacramentos, pelos quais o Espírito
Santo opera, gera a fé, a confiança na graça de Cristo (justificação
subjetiva). Quem confia nesta graça, tem perdão, vida e eterna salvação.
Somos hoje quase a única igreja cristã
fiel à doutrina bíblica sobre a graciosa ação do Espírito Santo, fiel à verdade
fundamental: Somente a Escritura, somente por graça, somente pela fé.
A Igreja Católica, nega ser a Bíblia a
única fonte da verdade divina e acrescentam suas tradições e a autoridade do
Papa. Além disso, negam que somos salvos unicamente pela graça de Cristo, e
requerem a colaboração humana por obras. Muitas igrejas evangélicas, mesmos
tendo a Bíblia como sua base, a chamam de letra morta, dão valor à decisão
humana, a entrega a Cristo, e o receber do Espírito Santo de uma forma direta e
sentimental. Com isso derrubam a verdadeira base da fé cristã e roubam às
pessoas a certeza de sua salvação.
No estudo da doutrina do Espírito
Santo, nada melhor do que permanecer nas teses de nossos pais, que apresentamos
aqui.
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A
graciosa ação do Espírito Santo
nos corações dos fiéis, conforme as
palavras de despedida de Jesus (João 14 e 15)
Rev. G. A. Kilian, de Serbia, Texas, USA
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1ª Tese
Após a mensagem de despedida de Jesus a
seus discípulos, toda a graciosa ação do Espírito Santo, nas pessoas em geral e
no coração dos fiéis de forma especial, é a graciosa ação que a pessoa recebe e
desfruta unicamente por causa da eterna reconciliação que Cristo providenciou
por sua ida ao Pai.
2ª Tese
O Espírito Santo se manifesta e realiza
sua graciosa ação de forma regular pela Palavra e sacramentos. A Palavra de
Deus é o meio da ação de Deus e da mesma forma o único juiz infalível contra
todos os falsos espíritos.
3ª Tese
Tendo examinado a graciosa ação do
Espírito Santo em nosso coração, precisamos à base da mensagem de despedida de
Jesus destacar que a fé em Jesus Cristo é a ação principal do Espírito Santo,
sem a qual não há habitação do Espírito e nem se pode pensar na ação do
Espírito Santo no coração. A fé é a base e também o alvo, para fortalecer,
promover e conservar toda a interna e graciosa ação do Espírito Santo numa
pessoa em vista a este alvo.
4ª Tese
Das diversas e bem-aventuradas
conseqüências da graciosa ação do Espírito Santo em nosso coração queremos,
conforme as palavras de despedida de Jesus, destacar que o Espírito Santo, como
Espírito da verdade, guia todos os fiéis na verdade por sua poderosa iluminação.
Esta ação especial do Espírito santo, Jesus chama de um ensinar e lembrar. Tal
iluminação do Espírito Santo, por um lado, é necessária por causa da
profundidade da Palavra de Deus. O primeiro resultado desta iluminação nos
fiéis é a convicção divina da veracidade da Palavra de Deus.
5ª Tese
O mesmo Espírito Santo que ilumina
constantemente o intelecto dos fiéis, limpa e renova seus corações, e os
liberta mais e mais de todo o amor ao pecado e ao mundo, enche-os,
graciosamente, com verdadeiro amor a Cristo, amor à lei de Deus e inclina seus
corações a todo o bem.
6ª Tese
Por outro, o Espírito Santo glorifica
Cristo nos fiéis, como também através dos fiéis. Nos fiéis ele glorifica por
seu consolo e paz, que está ligado à experiência de sentimentos de alegria e
bem-aventurança nos corações; pelos fiéis o Espírito Santo glorifica a Cristo
ao fazer deles destemidas testemunhas
7ª Tese
No seu
ofício de testemunhar em meio a muitas tribulações e tentações, o Espírito
Santo ampara os fiéis com o espírito da oração. Ele os certifica em sua
peregrinação, constante, de serem filhos de Deus e lhes mostra que o Príncipe
deste mundo, que os aflige freqüentemente, já está julgado.
8ª Tese
Por fim,
como Espírito da Esperança, ele também clarifica o futuro. Ele dirige os olhos
e o coração dos fiéis para a pátria celestial, com muitas moradias. Onde o
trabalho imperfeito e corruptível terminará e os fiéis receberão um corpo
completamente santo e perfeito. Aqui, os fiéis já possuem as primícias do
Espírito Santo que lhes é um penhor e selo da esperança.
Teses
sobre a graciosa ação do Espírito Santo
Introdução
Cremos, com toda a cristandade na terra, na
ação, no agir, na atuação e no habitar
do Espírito Santo nos fiéis. Portanto, a pergunta: Você recebeu o
Espírito Santo? Não é uma pergunta simplesmente dos pentecostais, mas uma
pergunta atual, diante da qual nós nos devemos examinar.
Toda a pessoa que está unida com Cristo
pela fé, recebe o Espírito Santo, o qual no seu ser é diferente do espírito
natural do ser humano. Esta experiência do habitar e agir do Espírito, todas as
pessoas - desde as primeiras pessoas na terra – tiveram, que pelos meios da
Graça, Palavra e batismo de água, foram levados à fé na graça de Cristo. O Espírito Santo é que abre, individualmente,
para cada pessoa a porta para a entrada na santa Igreja Cristã, a comunhão dos
santos. Somente os que nasceram do Espírito Santo são membros do Reino de Deus.
O Espírito Santo chama, ilumina, santifica e edifica a Igreja. Infelizmente,
esta verdade tão consoladora de que o Espírito Santo habita e atua nos fiéis
foi e é em todos os tempos atacada, deturpada e obscurecida pela pecaminosidade
humana, e muitas vezes usada para alimentar o orgulho pessoal. Mesmo assim,
esta verdade tão maltratada, da graciosa habitação do Espírito Santo, é
revelada de forma clara e precisa nas Escrituras e aceita pelos fiéis com
reverência, como as demais verdades da Escritura. Visto, no entanto, que os entusiastas
pentecostais, especialmente neste respeito, criaram muitas falsas e enganos interpretações,
é necessário e proveitoso rever, à base da Escritura a doutrina sobre a pessoa
e obra do Espírito Santo.
“Hoje, a doutrina do Espírito Santo não é mais
reconhecida, ensinada e praticada na cristandade como deveria ser e como o era
em tempos passados. Nós pregadores deveríamos ensinar esta doutrina não somente
no dia de Pentecostes, mas durante todo o ano, constantemente, em nossas
pregações. Deveríamos sempre de novo louvar a grande benção do evangelho que
Cristo nos conquistou: O Espírito de
sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito
de conhecimento e de temor do SENHOR. (Isaías 11.2)
Devemos sempre de novo mostrar a nossos ouvintes que fomos levados e somos
mantidos na verdadeira fé, na graça de Cristo, pela graciosa ação do Espírito
Santo. Crer que recebemos o Espírito Santo não é falso pentecostalismo. (At
19.2) Esta pergunta é importante para cada cristão, pois, “ninguém pode chamar Jesus
de seu Senhor, senão pelo poder do Espírito Santo” (1 Co 13.2)d
Sem dúvida, cada um de nós subscreve estas palavras como a expressão da
verdade. Como o soprar do vento, assim é
também a ação do Espírito Santo. Esta ação do Espírito não é perceptível, nem
pode ser compreendida pela razão humana (ou detectada pela análise
psicológica). Pois o vento sopra onde
quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai, assim é todo
o que é nascido do Espírito. (Jo 3.8) Estas palavras que Jesus disse a Nicodemos
precisamos ter sempre Diane de nós, quando nos dispomos a tratar da doutrina e
obra do Espírito Santo. Nesta doutrina podemos ir somente até onde a Palavra de Deus
nos mostrar o caminho. Lutero disse: “Deus sabe como ele é como devemos falar
dele.” O que Deus nos ocultou, o mistério, o que ele não nos explicou, nem
revelou em sua Palavra, isto não podemos nem devemos tentar expor. Que Deus nos
conceda sua graça para não diminuir, nem estreitar ou roubar sua honra, mas
atribuir a ele a salvação que Cristo nos conquistou. Deus determinou a
salvação. Deus é quem conquistou a salvação. Deus é quem nos conferiu a
salvação. O apóstolo Paulo o afirma: Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre
todos, age por meio de todos e está em todos! (Ef 4.6; 2 Co 13.13)
Neste trabalho queremos tratar da comunhão
do Espírito Santo, e de sua graciosa ação nos fiéis, e isto conforme as
palavras de despedida de Jesus, dirigida a seus discípulos. Lutero chama estas
palavras de despedida de Jesus: “O melhor e mais consolador sermão que Jesus
proferiu nesta terra.” Não citaremos somente as palavras de despedida de Jesus,
que tratam especificamente do Espírito Santo, mas também citações que tratam do
amor, da oração e dos dons espirituais que, conforme a Escritura, estão
intimamente ligadas à ação do Espírito Santo.
O que tange especialmente as teses e sua
formulação, destacamos o seguinte: A 1ª Tese: A obra de Cristo e sua ida ao Pai
é o eterno fundamento da comunhão de Deus conosco. A 2ª Tese: Destaca os meios
da graça, os únicos meios da ação divina, do Espírito Santo. Estas duas teses
são básicas para o que segue. Pois sem a obra de Cristo e sua Palavra, não se pode
falar da graciosa ação do Espírito Santo. A 3ª Tese trata da fé cristã, que se
apega à graça divina e toda sua força. A 4ª Tese, a partir da qual destacamos
as ações individuais e separadas do Espírito santo: a iluminação; a 5ª Tese, a
santificação e purificação do coração e da vontade; a 6ª Tese, a glorificação
de Cristo em e pelos fiéis; a 7ª Tese, a assistência do Espírito Santo nas
tribulações; a 8ª Tese, a esperança cristã e o fim bem-aventurado dos salvos.
1ª Tese
Após a mensagem de despedida de Jesus a
seus discípulos, toda a graciosa ação do Espírito Santo, nas pessoas em geral e
no coração dos fiéis de forma especial, é a graciosa ação que a pessoa recebe e
desfruta unicamente por causa da eterna reconciliação que Cristo providenciou
por sua ida ao Pai.
Confira:
- Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá,
porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu
for, eu vo-lo enviarei (João 16.7).
- Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (João 14.6).
- Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de
tudo o que vos tenho dito (João 14.26).
- Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de
Jesus Cristo, nosso Salvador. (Tito 3.5,6.)
- Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar
(porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito
prometido (Gálatas 3.13-14).
Exposição
Um
fato, claramente afirmado na Palavra de Deus e suficientemente confirmado pela
experiência cristã, é que o Espírito Santo não trabalha somente nos fiéis, mas
em todas as pessoas que estão sob a audição da Palavra de Deus e ao alcance dos
meios da graça ordenados por Deus. Mesmo nos ímpios antes do dilúvio, que não
se converteram, o Espírito operou. Eles não se deixaram repreender pelo
Espírito Deus. Deus afirmou a respeito deles: “O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e
os seus dias serão cento e vinte anos” (Gênesis 6.3). Vemos a ação do Espírito
Santo no rei Agripa e no governador Festo (At 25), bem como em muitas outras
pessoas, mas que não se deixaram mover pelo Espírito de Deus. Lemos na carta do
apóstolo Paulo: “Eu vos
faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema,
Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! Se não pelo Espírito
Santo” (1 Coríntios 12.3). Logo, em todos os que crêem, o
Espírito Santo foi ativo e poderoso, antes de terem chegado à fé. No mundo há
muitas pessoas que de repente são atormentadas em sua consciência por
pensamentos angustiantes como: A minha vida, do jeito que eu a levo, não terá
um fim bem-aventurado. De onde vem esta intranqüilidade da consciência, senão
do Espírito? Permanece a verdade: Em todas as pessoas que de qualquer forma se
encontram no âmbito dos divinos meios da graça, o Espírito Santo opera, mesmo
que as condições e a forma de sua ação sejam diferentes nos fiéis e nos
incrédulos, como veremos mais tarde. Esta ação do Espírito Santo em geral e em
especial chamamos, conforme a tese, de a graciosa ação do Espírito de Deus. Quem
atribui esta benevolência divina do Espírito Santo a sua própria natureza
corrupta, ou quem quer provar com esta sua angústia interna mostra que a
natureza humana não é tão e completamente corrompida, como a Escritura o
afirma, este coloca a corda no seu próprio pescoço, e sem culpa do Espírito Santo,
sufoca sua própria alma na mais fina justiça própria. Nós afirmamos que toda a
graciosa ação do espírito divino é pura e graciosa ação do Espírito Santo. O
ser humano, como ele é em si, não tem direito a esta reivindicação. Toda
reivindicação a este direito do ser humano é uma rejeição da graciosa ação de
Deus. Pois qualquer reivindicação de seu direito ou capacidade anula a graça
divina e se firma em sua própria justiça. Só há uma razão pela qual Deus envia
seu Espírito Santo para que atue no ser humano, esta é a eterna reconciliação
que Cristo estabeleceu por sua ida ao Pai. Jesus o afirma com toda clareza a
seus discípulos ao dizer: Eu vos digo a
verdade: “Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá
para vós outros, se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7). Tomemos as
palavras como são. Elas não dizem outra coisa do que: A obra redentora de
Cristo é a causa da vinda e ação do Espírito Santo. Sem a obra redentora de
Cristo, não haveria atuação do Espírito Santo no ser humano. E um pedido, neste
sentido, de nossa parte, seria em vão. Jesus continua: “Ele me glorificará
porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14,15). O que
vem a ser: “Do que é meu”? Isto é sua obra redentora e tudo o que foi
conquistado por ela. Pois a obra redentora é a obra específica do Senhor Jesus.
E quando Jesus diz: Ele tomará do que é meu,
isto significa: tudo o que o Espírito faz no ser humano e nele trabalha,
isto ele o faz por amor a Jesus, por causa de sua obra redentora. Toda a luz,
força, e graça que ele vos concede, o Espírito Santo o toma de mim, da minha
redenção. Qualquer bem, que ele vos dá, vocês devem agradecer a minha obra
redentora. Nós só compreenderemos corretamente a relação entre Cristo e o Espírito
Santo quando olhamos para a obra da reconcilia de Cristo como causa e
fundamento único do fato de nós e outras pessoas termos renascido e perseverado
neste renascimento. A razão de nosso renascimento espiritual encontramos em
Cristo. A apropriação da salvação que acontece pelo Espírito Santo em nós, é
sempre e em todos os casos fruto e conseqüência do Cristo morto na cruz. A
redenção no Gólgota foi um ato único e é a causa permanente da constante
comunicação do Espírito Santo com o ser humano. Que a obra redentora de Cristo
é a única causa da ação do Espírito Santo, Jesus o afirmou em diversos lugares,
como: “O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse
vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”
(Jo 14.26). O nome de Jesus não é outra coisa do que seu sofrer e morrer, pelo
qual nos conquistou justiça. Por isso diz o profeta: Este será o seu nome: “O Senhor Justiça nossa” (Jr 23.6). Sobre
tudo o próprio Jesus confirma que sem a ligação entre ele e o Espírito não se pode
falar da salvação. “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão
por mim” (Jo 14.6). Por Cristo
chegamos ao Pai. Se houvesse um Espírito de Deus que independente da graça de
Cristo pudesse operar, então Cristo não seria o único caminho e não “seria o
Autor da salvação eterna” (Hb 5.9), nem o “Autor de Consumador da nossa fé” (Hb
12.2). O fato de termos parte na ação do Espírito Santo, o apóstolo Paulo
testemunha ao escrever: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: “Maldito do aquele que
for pendurado em madeiro”; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em
Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito Santo” (Gl 3.13,14).
Isto o apóstolo Paulo confirma também em
sua carta a Tito: “Que o Espírito Santo derramou sobre nós ricamente, por meio
de Jesus Cisto nosso Salvador” (Tt 3.6). A obra da reconciliação de Jesus
Cristo tornou possível e é a causa da vinda do Espírito Santo ao nosso coração
para nos santifica. Assim permanece a eterna verdade da palavra de Cristo: “Não
fostes vós que me escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça”
(Jo 15.16).
Esta verdade, de que a ação do Espírito Santo
acontece somente por causa da obra da reconciliação de Cristo, é nosso grande
consolo. Este consolo consiste nisso de que não depende da nossa justiça ou de
nossa dignidade, de Deus Espírito Santo querer
trabalhar em nossa alma para glorificar Cristo nela. Isto é um forte consolo
para pessoas atribuladas, que julgam precisarem em primeiro lugar possuir uma
justiça própria, para que sua súplica pelo Espírito Santo seja atendida. Esta
verdade inclui também uma séria admoestação. Se o Espírito Santo é dado somente
por causa da obra redentora de Cristo, não devemos considerar a posse do
Espírito Santo como algo óbvio, que nos cabe por direito, mas como uma ação da
pura e livre graça que brota da fonte do eterno mérito de Cristo. Há,
infelizmente, muitos que querem ser cristãos e mesmo assim, em sua luta por
santificação, colocam a obra da reconciliação em segundo plano ou até a
desprezam. Estas pessoas são todas aquelas que se chamam cristãos, que buscam o
alvo de Cristo, a bem-aventurança eterna, e se esforçam e luta pelo alvo, mas
que colocam, infelizmente, todo o peso em seus próprios esforços, em seu correr
e fazer e menosprezam a verdadeira base que foi colocada, que é Cristo, o
eterno Salvador. É uma direção totalmente errada colocar o cristianismo sobre
uma base subjetiva, como por exemplo a experiência interna, como o pietismo o
faz. Não podemos louvar suficientemente a graça de Deus, por pertencermos à
Igreja que também neste detalhe tem a doutrina pura. Todas as seitas confiam de
alguma forma, umas mais outras menos, em seus próprios méritos. Faça o bem – isto é o centro do seu ensino.
Esta verdade principal permanece e precisa ser mantida, de que a ida de Cristo
ao Pai, sua obra da reconciliação é a base de toda ação do Espírito Santo. Com
isto está posto o fundamento para a continuação e exposição do estudo sobre o
Espírito Santo. Em primeiro lugar está a reconciliação que Cristo efetuou, cujo
fruto e ação é a santificação interna dos salvos. O apóstolo João nos admoesta:
“Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus
Cristo veio em carne é de Deus e todo o espírito que não confessa a Jesus, não
procede de Deus” (1 Jo 4.2.3). Tudo o que se manifesta como de Cristo
desvinculado de sua obra salvífica é um espírito falso. Onde o Espírito de
Cristo está e atua, ali ecoa o louvor a Cristo, por ter dado sua vida pela
humanidade, ali sua reconciliação é louvada, obra que abrange passado e futuro,
tempo e eternidade e de onde provém unicamente toda a salvação ao coração
humano.
2ª Tese
O Espírito Santo se manifesta e realiza
sua graciosa ação de forma regular pela Palavra e sacramentos. A Palavra de
Deus é o meio da ação de Deus e da mesma forma o único juiz infalível contra
todos os falsos espíritos.
Confira:
- Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho
falado (João 15.3).
- Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras
permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito (João 15.7).
- Não rogo somente por estes, mas também por
aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra (João 17.20).
- Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele
vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que
tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do
que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo
quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu
e vo-lo há de anunciar (João 16.13-15).
- Pois fostes regenerados não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é
permanente (1 Pedro 1.23).
- Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela
palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas
(Tiago 1.18).
- Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o
Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra (Atos 10.44).
- E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação,
pela palavra de Cristo (Romanos 10.17).
Exposição
Em sua mensagem de despedida a
seus discípulos, Jesus afirma: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (João 15.3). Para que tenham certeza de serem
justificados (estais limpos) e de estarem na graça, Jesus os dirige à Palavra.
Ele não os dirige a uma palavra futura, nem a um sentimento interno, nem a uma
verdade a ser ainda revelada, mas à Palavra que ele lhes falou, a Palavra que
ele lhes disse: “Vós já estais limpos”. Vossos pecados já foram e já estão perdoados.
Isto os torna limpos. Hoje temos sua palavra na Bíblia, a palavra escrita.
Jesus disse: “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me
rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou” (Lucas 10.16).
Portanto, temos sua palavra na Bíblia. Ela é agora o meio da justificação. Sim,
esta Palavra é agora o único meio bem-aventurado pelo qual o Espírito Santo vem
a nós para realizar sua graciosa ação em nós. Por isso Jesus acrescentou: “Se permanecerdes em mim, e as minhas
palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (João
15.7). Jesus faz o permanecer nele depender totalmente de sua Palavra. Cristo
habitará neles, enquanto sua Palavra estiver neles. Pela Palavra Jesus habita
nos fiéis. “Isto precisa ser considerado”, afirma o prof. D. G. Stöckhardt,
“quando falamos da maravilhosa e graciosa habitação do Espírito Santo no
coração dos fiéis. Isto não é sectarismo. Mesmo assim precisamos cuidar para
não macular este bem-aventurado mistério com nossa imundície. Pois alguns se
jactam, orgulhosamente, de terem o Espírito Santo, de que Deus habita neles,
querem com isso justificar de que tudo o que eles pensam, falam e fazem por si
mesmos, seja do Espírito Santo. Por isso, para que as pessoas não tenham seus
próprios e pobres pensamentos como revelação de Deus, é importante manter que o
Espírito Santo habita em nossos corações somente pela palavra de Deus e só
reside em nosso coração na medida em que a temos recebido em nosso coração.” A
habitação e a ação de Deus Espírito Santo é dada pela Palavra. Em sua oração
sumo sacerdotal Jesus afirma: “As palavras que me deste eles a receberam” (Jo
17.8). E: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer
em mim, por intermédio da sua palavra” (João 17.20). Pela palavra de Deus, pela
palavra dos profetas e apóstolos, o Espírito Santo gera, fortalece e mantém a
fé. A palavra de Deus e os sacramentos são poderosos pela vontade de Deus. Eles
são os meios ordenados por Deus, pelos quais Deus age como e quando quer.
Isto é comprovado também pelas seguintes passagens da Escritura:
- Pois
fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a
palavra de Deus, a qual vive e é permanente (1 Pedro 1.23).
-
Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que
fôssemos como que primícias das suas criaturas (Tiago 1.18).
-
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que
ouviam a palavra (Atos 10.44).
Todo o tipo de entusiastas e falsa
cristandade tem, normalmente, nisto seu fundamento, eles menosprezam a Palavra
contida na Escritura
e a chamam de letra morta. Nisto está
o ser dos entusiastas, por não aceitarem a ação do Espírito Santo por meios,
condicionado à Palavra escrita. Mas, o poder e a ação do Espírito Santo para
nós só está ali unido com a Palavra. Portanto, quem separa a Palavra do
Espírito Santo ou vice versa, perde, necessariamente a ambos, a Palavra e o
Espírito Santo. A Palavra escrita é para o orgulhoso coração humano algo
desprezível, sem importância. Que a Palavra é o meio da fé e a base firme e
certa para a comunhão com Deus, isto é para os entusiastas simples e comum
demais. Sim, se Cristo em lugar de dizer: “Vocês já estão limpos pela palavra
que vos tenho falado” e tivesse dito: Por vossos sentimentos, por vossa própria
pureza, por vossas grandes obras, por vossas palavras vivas vocês estão limpos,
então sim, as palavras de despedida de Jesus estariam em conformidade com o
gosto do ser humano. O ser humano procura outros meios e caminhos para entrar
em comunhão com Deus, só não o caminho que Cristo prescreveu. Assim como o rico
no inferno, que implorou: a Abraão: “Pai, eu te imploro que o mandes à minha
casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de
não virem também para este lugar de tormento.
Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém
dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a
Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite
alguém dentre os mortos” (Lucas 16.27-31). Assim muitos pensam ainda hoje: Se
houvesse um milagre, um sonho, uma visão, a aparição de anjos, isto seria um
meio melhor para levar alguém à fé do que a simples Palavra de Deus.
Nós, no entanto, cremos e confessamos com
nossos pais e a Igreja Luterana fiel
que o Espírito Santo vem ao nosso coração com, em e através da palavra de Deus
e não fora dela. Nossa igreja confessa isso claramente na Confissão de
Augsburgo (1530) no Artigo V:
Do Ofício da Pregação – Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação,
dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o
Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o
evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo não pelos nossos um
Deus gracioso, se o cremos. – Condenam-se os anabatistas e outros que ensinam
alcançarmos o Espírito Santo mediante preparação, pensamentos e obras próprias
sem a palavra física do evangelho. (Livro de Concórdia, p. 30)
E nos
Artigos de Esmalcalde lemos:
E nessas partes, que dizem respeito à
palavra falada, externa, é preciso permanecer com firmeza nisso que Deus a ninguém
dá o seu Espírito ou a graça a não ser por intermédio da palavra exterior
precedente ou com ela. Assim nos protegemos dos entusiastas, isso é, dos
espíritos que se jactam de terem o Espírito sem a palavra e antes dela e que
depois julgam, interpretam e esticam a Escritura ou a palavra oral a seu
talante (sua vontade)... Pois também o papado é puro entusiasmo, e que o papa
se gloria de que “todos os direitos estão no escrínio (cofre) de seu coração; e
o que ele julga e ordena com sua igreja é para ser espírito justo, ainda que esteja
acima e contra a Escritura ou a palavra falada. Tudo isso é o antigo diabo e a
antiga serpente que também transformou em entusiastas a Adão e Eva, levando-os
da palavra externa de Deus a uma espiritualidade de entusiastas e a inventiva
própria. (Art. Esmalcalde, 3, VIII, 43-5; Livro de Concórdia, p.336)
Na segunda parte desta tese afirmamos que
o Espírito Santo manifesta e realiza sua graciosa ação por Palavra e
sacramentos e acrescentamos a palavra: “de forma regular” (ordentlicher Weise).
Com isso estamos dizendo que o Espírito Santo também atua excepcionalmente
(auserordentlicher Weise), sem os meios da Palavra. Tal acontece, por exemplo,
com as crianças de pais cristãos que falecem antes de serem batizadas. Neste
caso consolamos os pais, que oraram pela criança, que o Espírito Santo pode
agir também sem os meios para levar as crianças à fé. Lembramos o caso de João
Batista que já no ventre materno estava cheio do Espírito Santo.
No final da tese dizemos: “A palavra de
Deus é igualmente o meio da ação de Deus e da mesma forma o único e infalível
juiz contra todos os falsos espíritos.” Que a Palavra é o meio da ação de Deus
já mostramos e que a Palavra é o meio pelo qual o Espírito Santo ilumina,
santifica, renova é o significado principal da Palavra. Ao lado desta
afirmação, a Palavra tem ainda mais uma finalidade, a saber, a Palavra é ao
mesmo tempo o único, infalível e confiável juiz contra os falsos espíritos.
Jesus disse a seus discípulos: “Quando
vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não
falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas
que hão de vir. Ele me glorificará,
porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que
vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João
16.13-15). Aqui está afirmado que o
Espírito Santo sempre concorda com a palavra de Deus, por isso a Palavra é o
único e confiável juiz contra todos os falsos espíritos. Se pensarmos nos movimentos que emanam
dos falsos espíritos, como iríamos julgá-los sem a Palavra? Como poderíamos
distinguir entre bons e maus frutos sem a Palavra? Como seria possível nesse
emaranhado de seitas, encontrar a verdade?
Julgaríamos conforme o gosto de cada um?
Um prefere amargo outro doce; uns apreciam comida imunda e prejudicial à saúde
mais do que a comida saudável de nosso Pai celestial. Ou será que deveríamos
nos reputar ao nosso próprio coração?
Muitos fazem isso. O que eles julgam ser verdade, nisso eles se firmam. Eles
fazem da inclinação de seus corações, do que eles sentem e acham, o juiz da
verdade suprema de todas as coisas. Verdade para eles é aquilo que entrou em
seus corações, o que concorda com seus desejos e suas inclinações. Tudo isso,
no entanto, não é outra coisa do que desprezo da palavra de Deus que afirma: “Porque
do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição,
furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15.19). Se nosso coração deve
ser juiz diante do qual devemos nos inclinar, estamos perdidos. Então estamos
entregues à nossas inclinações, aos ventos de todos os lados de doutrina falsa,
sem base, nem segurança.
Outros colocam sua razão no espírito da
época, a formação, a ciência como juiz. Para eles só aquilo que é racional é verdade.
Esse é o princípio do racionalismo. Até a sua sepultura os antigos
racionalistas mantiveram seu princípio. Eles afirma, nós não nos mantemos à
letra, mas ao espírito da Escritura. O que, no entanto, compreendem sob
espírito, não é outra coisa do que o pensar subjetivo de sua razão natural, ou
ampliando um pouco, a formação e ciência do seu tempo, como produto da
capacidade natural, da mútua compreensão. Quem escolheu isso como seu princípio
não tem somente um princípio errado, ma também mutável. Tal princípio errado é
um não princípio, os entusiastas pentecostais o têm. Eles falam de novas revelações,
da luz interior, de sonhos, da aparição de espírito.
Concluímos esta tese com a explanação de
que quem quiser examinar os espíritos e não os examina à luz da Palavra, esse
cai em muitas fantasias e decepções e terminará adorando seu próprios
pensamentos como revelação de Deus. Toda pessoa, no entanto, que quer ser
cristã precisa manter esse princípio: O Espírito Santo amarrou a si e a nós à Palavra
escrita. Deus Espírito Santo atua pela Palavra da Sagrada Escritura. Por meio
deles gera, vivifica e fortalece a fé e guia. Por esta Palavra em todos os
tempos a Igreja cristã foi construída e conservada. Por esta mesma Palavra
escrita o Espírito Santo gera e mantém a fé, disciplina e julga os espíritos na
terra, para que o espírito humano não se
exalte como Lúcifer (Is 14.12) ao torno de Deus.
Resumindo, visto que mesmo o melhor
cristão pode carecer de clareza e conhecimento, e ser enganado por seu
entusiasmo momentâneo, ou por sua fervorosa oração ser enganado, ele não está
livre de ser manchado de pecado, por sua natureza pecaminosa, em meio às
pessoas pecaminosas, por isso tudo precisa ser constantemente examinado à luz
da infalível e imutável palavra de Deus. “À lei e ao testemunho! Se eles não
falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8.20).
Um versículo que comprova esta verdade de
que o Espírito Santo atua somente pela palavra de Deus temos em Romanos: “E,
assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Romanos
10.17). A esta Palavra o Espírito se amarrou ao prometer que não virá a nos de
outra forma, para operar a fé a não ser pela palavra da Escritura.
Quem se mantém a esta Palavra, não será enganado.
3ª Tese
Tendo examinado a graciosa ação do
Espírito Santo em nosso coração, precisamos à base da mensagem de despedida de
Jesus destacar que a fé em Jesus Cristo é a ação principal do Espírito Santo,
sem a qual não há habitação do Espírito e nem se pode pensar na ação do
Espírito Santo no coração. A fé é a base e também o alvo, para fortalecer,
promover e conservar toda a interna e graciosa ação do Espírito Santo numa
pessoa em vista a este alvo.
Confira:
- Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a
minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada
(João 14.23).
- Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o
agricultor. Todo ramo que, estando em
mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza
mais fruto ainda. Vós já estais limpos
pela palavra que vos tenho falado;
permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo
produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o
podeis dar, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse
dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado
fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o
queimam. Se permanecerdes em mim, e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito
(João 15.1-7).
- O Espírito da verdade, que o mundo não pode
receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita
convosco e estará em vós (João 14.17).
- Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda,
esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o
amarei e me manifestarei a ele.
Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para
manifestar-te a nós e não ao mundo? (João 14.21-22)
- Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a
eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas
habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito
dos abatidos e vivificar o coração dos contritos (Isaías 57.15).
- Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra
da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes
selados com o Santo Espírito da promessa (Efésios 1.13).
- E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela
fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor (Efésios 3.17).
Exposição
Logo no início de sua mensagem de
despedida, Jesus diz a seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes
em Deus, crede também em mim” (João 14.1). Jesus requer de seus discípulos a
fé, pela qual possam vencer as turbulentas ansiedades de seus corações, e se apropriem
do consolo que está em sua mensagem de despedida. Esta fé não é somente a
exigência principal do Salvador, mas a ação básica da qual depende toda
habitação e atuação do Espírito Santo. O Salvador faz depender diretamente da
existência da fé no coração a habitação do Espírito Santo no coração, ao dizer:
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para
ele e faremos nele morada” (João 14.23). Aqui Jesus está pensando,
indubitavelmente, na fé, pois o amor está sempre ligado de forma inseparável à
fé. Assim que em todo o lugar onde há verdadeiro amor a Jesus, há também fé. Além
disso, podemos descrever as palavras “quem guardar minha palavra”, como sendo a
descrição da fé. “Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha
palavra, não verá a morte, eternamente” (João 8.51). Assim, sob as palavras: “Guardar as minhas palavras”
compreendemos a fé no evangelho, de forma que ninguém pode dizer que renasceu a
não ser aquele que tem fé nas palavras da promessa de Deus em Cristo.
O fato de considerarmos a fé em Jesus
Cristo a ação básica do Espírito Santo tem sua razão por ser a fé realmente a
base, o início e a expressão da vida espiritual em nosso interior. Sim, todos
os dons e virtudes brotam e emanam da fé. Johann Arndt (1555 – 1621) na
introdução ao seu primeiro livro: Vom Wahren
Christentum (Do verdadeiro cristianismo) escreve: “Se fé é aguardar
constantemente os bens que foram prometidos, então brota da fé a esperança.
Pois o que é a fé senão um constante esperar e aguardar os bens prometidos. Quando
a fé reparte com o próximo os bens recebidos, brota da fé o amor ao próximo,
pois o cristão faz ao próximo o que Deus lhe fez. Quando a fé, ao ser provada,
vence a prova da cruz e se submete á vontade de Deus, cresce da fé a paciência.
Quando o cristão clama a Deus sob a cruz, ou agradece a Deus por bens
recebidos, brota da fé a oração. Quando o cristão contempla a onipotência de Deus
e o sofrimento humano e geme e se dobra diante de Deus, nasce da fé a
humildade. Quando ele se preocupa para não perder a graça de Deus, ou como o apóstolo
Paulo o expressa: “Desenvolvei a vossa
salvação com temor e tremor” (Filipenses 2.12), nasce da fé o temor.” Assim vemos que as verdadeiras virtudes
cristas não podem ser separadas de sua origem, a fé. Tudo precisa ser tirado
pela fé de Cristo, o poço da salvação, ambos, a justiça (perdão dos pecados)
bem como os frutos da justiça. Portanto, a fé é a ação básica, por ela somos
unidos intimamente à videira. Pois, se não formos enxertados na videira da qual
o apóstolo João escreve em Jo 15.1-7, estaremos longe da vida que é de Deus,
como Cristo o afirma: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim,
e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.5).
Lembremos o Salvador que está se despedindo afirma que o jardineiro celestial é
seu Pai celestial, que plantou no mundo da morte uma videira nobre. Esta
videira nobre é seu Filho unigênito, Jesus Cristo. Jesus destaca nesse trecho
que os ramos frutíferos são somente os que pela fé estão nele e ele neles.
Somente pela fé, pela qual renascemos somos justificados e estamos em Cristo. A
condição que devemos observar como ramos na videira é sobre tudo uma condição
graciosa. Cristo a menciona aqui no diálogo com seus discípulos. Seus
discípulos são ramos e eles o são, como Cristo o afirma, através do fato de que
eles estão limpos e devem ser considerar limpos por causa da Palavra que Cristo
lhe disse.
A palavra de Cristo é Palavra divina,
revelação divina. Nela Deus mostra que por nós mesmos estamos totalmente
perdidos, mas somos salvos se aceitarmos, crermos na sua Palavra de que Deus
Pai, por amor a Jesus Cristo, nos perdoa os nossos pecados, nos recebe e reconhece
como seus filhos, desde que busquemos nossa salvação unicamente em sua Palavra.
No momento em que o Espírito Santo opera em nosso coração a fé na palavra de
Cristo, estamos salvos e experimentamos em nosso coração a vida e grande
alegria. Este é o ponto alto da fé e a coroa, a habitação do Espírito Santo em
nosso coração. Desta forma, a maior promessa da qual o apóstolo Pedro fala, a
saber, de que somos filhos de Deus, povo de Deus (1 Pe 2.9), torna-se verdade e
realidade. Então Jesus começa a revelar-se graciosamente a nós, em nosso
interior, que o mundo incrédulo não conhece. Nesta revelação o mundo incrédulo
não tem parte, como o próprio Jesus o afirmou muitas vezes ao dizer: “O
Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o
conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós” (João
14.17). Judas, não o Iscariotes perguntou: “Donde procede, Senhor, que estás
para manifestar-te a nós e não ao mundo? Respondeu Jesus: Se alguém me ama,
guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele
morada” (João 14.22-23). O Espírito Santo não pode habitar no mundo incrédulo,
somente no coração dos fiéis, isto é confirmado pelas seguintes passagens: -“Porque assim diz o Alto, o Sublime,
que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo
lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o
espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Isaías 57.15). – “Em
quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa” (Efésios 1.13). – “E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé,
estando vós arraigados e alicerçados em amor” (Efésios 3.17). Este habitar é um
mistério. Esta íntima união que consiste não somente na concordância de nossa
vontade com a vontade de Deus, não só no simples amar e inclinação mútua, nem só
num estar cheio de forças e dons espirituais, muito menos em algumas idéias ou
imaginações espirituais dos fiéis, mas em que o próprio Deus como pessoa vive
de forma real e verdadeira nos fiéis. Aqui precisamos simplesmente unir toda
nossa ingenuidade e infantilidade da fé e confessar humildemente com Maria: “Aqui
está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lucas
1.38). Assim também nós queremos aceitar este mistério, mesmo não podendo
compreender nem explicar o mesmo. Este mistério incompreensível é inescrutável.
Nós o aceitamos em fé, permanecendo apegados à palavra de Deus, que afirma: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele
e faremos nele morada” (João 14.23). Esta habitação não pode ser imaginada como
uma simples força ou um simples governar, mas é uma habitação verdadeira, mesmo
misteriosa. Neste mistério está para nós também a admoestação para: o cuidadoso andar, estando sempre conscientes
de que estamos andando na presença do Deus triúno, que está em nós, conhece e
vê nossos mais íntimos pensamentos; 2°, aqui está também para nós admoestação
de que devemos crescer na fé, pois onde Deus habita, ele não é inativo, mas
ativo. Ali deve haver e há um crescimento na fé. Não queremos ser um empecilho
à obra de Deus em nós; 3°, esta habitação do Espírito Santo em nós é uma
habitação graciosa e cheio de consolado. Pois o Espírito Santo está ativo em
nós e nos mantém na fé, mesmo não podendo nós explicar ou compreender
plenamente este mistério da habitação do Espírito Santo. Mesmo assim sabemos o
que a tese afirma, que a fé é a base e também o alvo para que aconteça o
fortalecimento, promoção e conservação de toda a interna e graciosa ação do
Espírito Santo. A fé é o fim intermediário (finis intermedius). Toda a obra do
Espírito Santo em nossa vida está direcionada ao crescimento da fé. Quando o
bom Espírito de Deus nos disciplina internamente com tristeza e pesar no coração
e nos reergue com suas bem-aventuradas consolações, tudo isso acontece com a
finalidade para que nossa fé aumente e cresça.
Concluímos esta tese com as palavras do
Salvador: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios
de água viva. Isto ele disse com
respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito
até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda
glorificado” (João 7.38-39).
4ª Tese
Das diversas e bem-aventuradas
conseqüências da graciosa ação do Espírito Santo em nosso coração queremos,
conforme as palavras de despedida de Jesus, destacar que o Espírito Santo, como
Espírito da verdade, guia todos os fiéis na verdade por sua poderosa
iluminação. Esta ação especial do Espírito santo, Jesus chama de um ensinar e
lembrar. Tal iluminação do Espírito Santo, devido a pecaminosidade do ser
humano, por outro divido a inesgotável profundidade da Palavra de Deus. O
primeiro resultado desta iluminação nos fiéis é a convicção divina da
veracidade da Palavra de Deus.
Confira
- Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de
tudo o que vos tenho dito (João 14.26).
- Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o
podeis suportar agora; quando vier,
porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não
falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas
que hão de vir. Ele me glorificará,
porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar (João 16.12-14).
- E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de
glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito (2 Coríntios
3.18).
- E vós possuís unção que vem do Santo e todos
tendes conhecimento (1 João 2.20).
- Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes
permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como
a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é
falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou (1 João 2.27).
Exposição
Mesmo que se possa tratar de muitas e
abençoadas conseqüências da habitação do Espírito Santo, como dos frutos do
Espírito: devoção, entrega a Deus, sabedoria, paciência, cordialidade e
mansidão; e também dos dons do Espírito, quer os extraordinários como os
ordinários e suas diferenças entre si, nesta tese queremos destacar,
especialmente, a iluminação. Aqui trataremos da iluminação continuada, que se
concretiza nos fiéis. Com isto não queremos negar que a iluminação já acontece
na conversão e no arrependimento, que se repetem ao longo da vida. Jesus
testemunha com respeito aos fiéis, de que o Espírito Santo os guiará em toda a
verdade. Mesmo tendo que admitir que há certa diferença no conduzir em toda a
verdade entre nós e os apóstolos, os pré-escolhidos de Deus, e todos os fiéis
dos tempos posteriores. Mesmo assim, podemos aplicar esta promessa, na qual
Jesus promete a direção em toda a verdade, com todo o direito, a todos os fiéis
em todos dos tempos, louvando esta iluminação como uma ação bem-aventurada da
habitação do Espírito.
Vejamos
em primeiro lugar o sentido da palavra “iluminação” nas palavras de despedida
de Jesus. “Quando vier, porém, o Espírito da
verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas
dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (João
16.13). Vejamos o que está no texto original. “O Espírito da verdade guiará em
a vós a verdade toda”, (à verdade em toda sua abrangência). Esta verdade não é
infinita, nem uma verdade múltipla desconectada, não a coleção de verdades
isoladas e independentes entre si, mas única. Mesmo assim uma verdade orgânica
com membros. Quando lemos na Escritura: “Ele vos guiará na verdade”, surge a
pergunta: Isto é no sentido amplo ou restrito? No sentido amplo, poderíamos
pensar que o Espírito, que Cristo prometeu, nos introduziria em todos os
mistérios divinos e também do mundo. Isto, como podemos supor antecipadamente, não é a finalidade do envio do Espírito Santo.
Sem dúvida, o apóstolo João não quer dizer isto, ao escrever em sua carta: “E
vós possuis a unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento” (1 Jo 2.20).
Jesus fala da verdade, como o apóstolo João aqui, da verdade no sentido
restrito. Esta verdade é Cristo, como ele o confirma no evangelho de João: “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). “Em Cristo estão ocultos todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3). É muito importante para a
vida dos cristãos focar e manter este significado restrito. Com isto não é dito
e nem deve ser negado que, quando alcançarmos isto (sermos iluminados pelo
Espírito Santo), então nos seja dado por esta iluminação e trabalho do Espírito
Santo, o poder de reconhecer a verdade, passo a passo, em todos os aspectos da vida.
Pois a verdade que é que o próprio Cristo é a chave de todas as verdades. Toda
a verdade está organicamente unida. Se tirarmos Cristo da Bíblia, ela nos
permanece fechada a sete chaves, como o vemos nos judeus, que lêem o Antigo
Testamento e não reconhecem a verdade. Aqui também não vale a objeção de que a
verdade não pode ser pensada como uma pessoa. Por que não? Se o próprio Cristo
se denomina a verdade. Para os judeus isto foi e é um escândalo e aos gentios
loucura (1 Co 1.23), que a verdade possa ser uma pessoa e mesmo assim ela o é.
A vinda de Cristo ao mundo é o ponto alto de toda a revelação divina neste
mundo, e ao mesmo tempo a solução bem-aventurada de todas as dúvidas, e
completa revelação do gracioso conselho divino. O paraíso perdido, nosso
sofrimento e angústias neste mundo, o trovão do Sinai (acusação e maldição) –
tudo, tudo isso é iluminado pela luz da verdadeira compreensão de Cristo. Nesta
luz nós nos reconhecemos a nós mesmos sob a cruz, que o juízo de Deus em
relação a nós é uma intenção graciosa, que visa nossa salvação. Por isso o
Senhor Jesus diz em sua oração sumo sacerdotal: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro,
e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17.3).
Nesta verdade que é o próprio Jesus, que
temos na Escritura, o Espírito Santo nos conduz a uma paternal iluminação interna
– Jesus fala disso ao dizer: “Mas o
Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João
14.26). Ele nos ensina internamente de uma formar viva, poderosa,
convincente o que a palavra externa da Escritura testifica. Para uma explicação
mais detalhada, referente ao ensinar e relembrar como acontece, citamos o que o
prof. G. Stöckhardt escreve:
O ofício e a obra do Espírito Santo é
ensinar. O Espírito Santo ensina internamente. Ele traz consigo a forma e a
natureza espiritual, para atuar sobre nosso espírito e coração. Ele ilumina
internamente os sentidos e a compreensão... e ao o Espírito Santo dar aos fiéis
a correta compreensão da Escritura, ele ilumina os olhos da razão. Ao mesmo
tempo ele derrama todo o conteúdo consolador e a força da Escritura no coração.
O Espírito Santo escreve e grava a palavra de Deus em nosso coração para que
brilhe e atue ali e nos fortalece, console e alegre... Este ensinar do Espírito
Santo, o Senhor chama também de lembrar: “E
vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). Muitas coisas que
Jesus havia dito aos discípulos eles não compreenderam. Eles carregavam isso
consigo como um tesouro morto. Depois, o Espírito Santo lembrou-lhes uma após
outra palavra de seu Mestre, clarificando e expondo-a. Assim o Espírito Santo o
faz também conosco. Muitas palavras (da Escritura) que lemos ou ouvimos nos
permanecem obscuras, incompreensíveis. Mesmo decorando-as, ainda não sabemos o
que realmente significam. E mesmo quando julgamos que as temos compreendido,
ainda não temos captado seu verdadeiro ou total sentido. Mesmo tendo entendido
em parte, ainda não captamos seu significado para a fé e a vida. Então, mais tarde
vem uma hora na qual a semente lança raízes no coração. Talvez seja um momento
de necessidade, de medo, de tentação. Esta é a hora na qual o Espírito nos
busca graciosamente. Ele nos lembra esta ou aquela palavra da Escritura e a
imprime em nosso coração, abre seu verdadeiro sentido, dá-nos a compreensão da
Palavra, deixa-nos experimentar o consolo e força da mesma e nos guia.
(Stöckhardt, Homiletik Magazin, nº 13, ano 1889, p. 174ss.)
Visto que esta iluminação acontece somente
pela palavra, há nela uma admoestação para todos os cristãos, a saber, que
sejam zelosos no ouvir e ler a Palavra de Deus. Por outro lado, segue disso também
para nós pregadores e professores, que o Espírito usa como seus instrumentos, a
admoestação para não deixarmos passar nenhum momento, na igreja e escola, para
ensinar de forma simples e compreensível a Palavra de Deus.
Nosso texto afirma ainda que esta
iluminação do Espírito Santo é necessária devido a pecaminosidade do ser humano
e por causa da inesgotável riqueza da palavra de Deus.
Por causa da pecaminosidade, a pessoa
precisa necessariamente a força da iluminação divina. “Na tua luz, vemos a luz”
(Sl 36.9), visto que reconhecer Deus
sem Deus é impossível. Além do conhecimento lingüístico e da história, é
impossível obter um conhecimento vivo da Escritura sem a iluminação divina.
Também o cristão fiel não pode manter a graça da vida, sem a iluminação
constante do Espírito Santo. Sem a graça da iluminação tudo ficaria ao cristão
novamente inócuo e sem força. O cristão fiel precisa ser conduzido,
diariamente, pelo Espírito Santo para dentro da Escritura para aprofundar-se
mais e mais na verdade para a vida e a bem-aventurança.
A pecaminosidade é a causa por a iluminação
em todos os fiéis ser, em uns mais em outros menos, obscurecida e ofuscada. A
iluminação é, na verdade, como procedente do Espírito de Deus infalível e pura,
mas por o Espírito Santo atuar no ser humano machado pela pecaminosidade
(pecado original) que ainda adere ao cristão. Por isso, a verdade é ali
ofuscada e obscurecida. A única exceção aqui foram os profetas e apóstolos.
Mesmo sendo eles também pessoas manchadas pela pecaminosidade como nós, eles
são testemunhas infalíveis da verdade. Eles foram instrumentos inspirados
(guiados) pelo Espírito Santo. Por isso a Igreja tem nos escritos dos profetas
e apóstolos o infalível e inerrante testemunho do Espírito Santo. Isto, por
causa da permanente e existente pecaminosidade, é impossível afirmar das demais
testemunhas em geral. A igreja precisa
examinar e julgar seus ministros chamados (escolhidos) à luz do Espírito e
disciplinar a quem se desvia da Escritura e das Confissões, pois nossas
Confissões estão amarradas à Escritura.
A iluminação do Espírito Santo é, por
outro, necessária por causa da inesgotável profundidade da Palavra de Deus.
Precisamos compreender isso bem, pois não estamos dizendo que a Escritura seja
obscura e que por isso nenhuma pessoa possa compreender nem sequer seu sentido
exterior, que não possa extrair da Escritura o necessário para sua salvação.
Não! A Escritura é clara e compreensível. Isto não pode ser posto em dúvida.
Louvamos e somos gratos a Deus por ter-nos dado sua Palavra de tal forma que
ela torna até as pessoas mais simples sábias para a salvação. Julgamos a
iluminação necessária não por causa da obscuridade da Escritura e de suas
frases, mas devido a sua espiritualidade e divindade. A Escritura Sagrada não é
ambígua, mas simples, clara e singela. Mesmo assim sua simplicidade é profunda
e maravilhosa, tão profunda que o salmista afirma: “Quão grandes, SENHOR, são
as tuas obras! Os teus pensamentos, que profundos!” (Salmos 92.5) E o apóstolo
exclama: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos!” (Romanos 11.33) Também Jesus disse a seus discípulos na hora da
despedida: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”
(João 16.12). O apóstolo Paulo chama
o Evangelho de “multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3.10), pois ela é inesgotável
em sua aplicação. Para nos apropriarmos desta riqueza, precisamos da constante
iluminação do Espírito Santo, como o rei Davi a pede: “Desvenda os meus olhos,
para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Salmos 119.18).
Da pecaminosidade do ser humano e da
constituição da Palavra de Deus precisamos reconhecer as seguintes conclusões:
a) A iluminação acontece gradativamente, passo a passo, como o afirma o
apóstolo: “E todos nós, com o rosto
desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o
Espírito” (2 Coríntios 3.18). Ela tem seus diversos graus e é com exceção dos
apóstolos em todos os cristãos subordinada à possibilidade de b) ser ofuscada e obscurecida. Por isso todos
os professores e dirigentes de organizações eclesiásticas, em relação a sua
razão iluminada e seu conhecimento cristão, c) precisam ser examinados e
provados conforme a única e certa direção da Palavra de Deus.
Vamos, no entanto, contemplar as mais
imediatas conseqüências da iluminação de Deus. Nossa tese afirma: “O primeiro
resultado desta iluminação é nos fiéis a convicção divina da veracidade da
Palavra de Deus.” Sob Palavra de Deus compreendemos ambos: Lei e Evangelho. De
ambos, tanto da Lei como do Evangelho o cristão iluminado tem uma convicção de
que ambos são verdade e ambos lhe valem.
Certeza e convicção divina (a respeito da
Palavra de Deus) o mundo não conhece. Jesus disse a Tomé: “Eu sou o caminho, e
a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6). O mundo
também em nossos dias indaga como Pilatos: “Que é a verdade? (João 18.38) E
desta dúvida não escapam mesmo aqueles que se orgulham possuírem a verdade e
certeza absoluta dela. Tal orgulho só pertence a seus lábios e imaginação de
sua mente, mas nos seus corações há desconsolo, a que estão sujeitos todos os que
não se firmam, pelo Espírito Santo, na graça de Cristo. Mesmo aqueles que
guiados por seu amor próprio julgam-se os únicos certos, que olham com desprezo
para os outros, sabemos que sua consciência lhes mostra constantemente que seus
pensamentos são vãos e nulos.
Resumindo, o mundo não tem convicção
divina, e o que passa em seu interior, isto é mostrado por Pilatos que
perguntou: “Que é verdade?”
Mas dos cristãos o apóstolo João afirma em
sua carta: “Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós,
e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos
ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei
nele, como também ela vos ensinou” (1 João 2.27). Por esta unção, por esta
iluminação queremos pedir. Então teremos a firme convicção de que aquilo, pelo
que lutamos e confessamos, não é simplesmente uma opinião humana, um
exaltar-se, mas verdade divina. Por isso também nós pastores devemos estar
seriamente preocupados com cada alma que nos é confiada, para que ela tenha
esta mesma certeza de estar na graça. Também os professores na escola devem
procurar “em meu” e “em teu lugar” plantar no coração das crianças a Palavra de
Deus. Por outro é preciso manter que haja uma apropriação pessoal, mesmo não
estando a mesma sempre plenamente consciente. Pois, não é assim como se o
cristão não é mais tentado por dúvidas. Lembremos a afirmação de Lutero: “A fé
não duvida, mas o crente Jacó tem dúvidas.”
5ª Tese
O mesmo Espírito Santo que ilumina constantemente
o intelecto dos fiéis, limpa e renova seus corações, e os liberta mais e mais
de todo o amor ao pecado e ao mundo, enche-os, graciosamente, com verdadeiro
amor a Cristo, amor à lei de Deus e inclina seus corações a todo o bem.
Confira
-Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele
o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (João
15.2).
- Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da
justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou
para o Pai, e não me vereis mais; do
juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado (João 16.8-11).
- Como o Pai me amou, também eu vos amei;
permanecei no meu amor (João 15.9).
- Se me amais, guardareis os meus mandamentos (João
14.15).
Exposição
Junto com a iluminação do intelecto, o
Espírito Santo renova e purifica constantemente o coração dos fiéis. O coração
cede e ponto central, onde o saber, querer, a percepção e o sentimento do ser
humano estão unidos. Toda busca por iluminação do conhecimento, toda luta por
santificação da vontade ou por sentimentos de bem-aventurança, têm como
pressuposto a necessária purificação do coração. Visto que o coração é também a
própria cede de uma eventual mudança ou endurecimento.
Jesus afirma: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e
todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda” (João 15.2). Disto vemos que os fiéis, que são os
ramos, necessitam de constante purificação. O Espírito Santo conserva e move os
fiéis. Ele os purifica, conduzindo-os ao diário arrependimento e fé.
Isto o Espírito Santo faz devido sua fidelidade e misericórdia, sua
longanimidade que cada verdadeiro cristão experimenta e que o cobre de
vergonha, o que ele também confessa com lágrimas e a mais profunda gratidão.
Para libertar nosso coração dos pecados,
do egoísmo e do amor ao mundo, servem especialmente também as disciplinas do
Espírito Santo.
Há entre os cristãos aqueles que se apegam
somente ao consolo, mas largam os castigos ao vento. O consolo, dizem eles,
vale aos cristãos, os castigos ao mundo. Mas onde encontraríamos um cristão em
cujo coração não há um pedaço do ser mundano? O que dizer da oração daquele
homem que sob lágrimas suplicou Jesus: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de
fé!” (Marcos 9.24) Ele tinha fé, mas ao mesmo tempo dúvidas o assaltavam e ele
sentiu a fraqueza de sua fé. Não é esta a situação e oração de todos os fiéis?
E por ser isto assim, todos os cristãos, que infelizmente se deixam enredar
demasiadamente pelo mundo, necessitam da repreensão e castigo do Espírito
Santo. O Espírito Santo toma tudo o que ele precisa ensinar de Jesus. E veja,
em certas ocasiões, Jesus não poupou nem os discípulos de Emaús. Jesus os
repreendeu por causa de sua incredulidade e lhes disse: Naquele mesmo dia, dois
deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém
dez quilômetros. E iam conversando a
respeito de todas as coisas sucedidas.
Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se
aproximou e ia com eles. Os seus olhos,
porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que
vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam
entristecidos. Um, porém, chamado Cléopas,
respondeu, dizendo: “És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém,
ignoras as ocorrências destes últimos dias?
Ele lhes perguntou: Quais?” E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o
Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e
de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o
entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia
de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde
que tais coisas sucederam. É verdade
também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo
ido de madrugada ao túmulo; e, não achando
o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais
afirmam que ele vive. De fato, alguns
dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as
mulheres; mas não o viram. Então, lhes
disse Jesus: “Ó néscios e tardos de
coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24.13-35) Assim o
Espírito Santo disciplina e repreende também o nosso coração. Quão pequena é
muitas vezes nossa confiança em Deus, quão fácil esquecemos o auxílio recebido
e mergulhamos em vergonhosas preocupações. Quão fácil nos deixamos amedrontar por pessoas ou procuramos agradar
as pessoas em detrimento da palavra de Deus. Quão fácil desanimamos quando
somos atingidos por uma onda de aflições. Por outro, com que facilidade nós
somos captados pela sedutora beleza do mundo, a amar o mundo. Mas o que significa
a impureza do mundo ou o amor ao mundo? Com a palavra “mundo” não estamos pensando
no universo criado por Deus, o mundo como o “estrado de seus pés.” (Mt 5.15) Pois
toda a criatura, como saiu das mãos de Deus, é boa e maravilhosa. “Mundo” no
seu sentido perverso está ali onde o pecado tem seu domínio. O apóstolo João o
afirma: Tirai daqui estas coisas; não
façais da casa de meu Pai casa de negócio. (João 2.16) Fazer negócio não é
pecado, mas ali no templo não era lugar para isso.
O Espírito Santo disciplina os fiéis e lhes
mostra que por de trás da fugaz e passageira concupiscência deste mundo está o
príncipe das trevas, o invisível poder do maligno. Muitos que se deixam
escravizar pela concupiscência do mundo, não pensam em outra coisa do que nesta
fugaz êxtase e prazer. E, se eles se queixam de algo com este respeito, é
somente do limite das alegrias deste mundo, que são todas passageiras. Mas
quais são as verdadeiras situações desse mundo, isto o Espírito Santo revela
disciplinando e libertando os fiéis do nefasto amor ao mundo, elevando seus
olhos às coisas celestiais, ao mundo que há de vir.
Por outro, o Espírito Santo liberta o
coração dos fiéis do amor próprio. A devastação que o amor próprio causa é
terrível, especialmente quando ele se desenvolve de forma desenfreada no campo
da religião e da igreja. Quando o egoísmo, o orgulho, o endeusamento próprio, a
promoção própria se apresenta com a aparência da mais variada humildade. Mas
sob esta máscara procuram sua honra, proveito e vantagem. Isto é confirmado por
quase todos os líderes heréticos. O ponto de partida desta heresia não foram
suas dúvidas, mas o amor próprio e o orgulho de seus corações.
Esta é a marca e o sinal de quase todos os
falsos profetas. Eles enganam as pessoas para que estas se apeguem a eles em
vez de a Cristo, o Senhor. Mesmo o conhecimento da verdade pode tornar-se para
nós uma maldição, quando a usamos para orgulho próprio, em vez de adorar aquele
que abriu nossos olhos. Para guardar-nos de tal amor próprio, o Espírito Santo
nos mostra nossa pobreza, a fim de nos enriquecer em Cristo. Uma cura
substancial de todo o amor ao mundo e do egoísmo acontece quando o Espírito
Santo inflama e conserva o verdadeiro amor a Jesus. Para nos libertar dos laços
do amor ao mundo e do amor próprio, é preciso que um amor, cujas raízes estão
em Deus nos domine. Só assim podemos largar tudo por teremos algo melhor do que
nosso próprio eu. Que o Espírito Santo nos agracie com verdadeiro amor a
Cristo, isto afirmamos na tese. Deste amor, Jesus fala seguidamente em seu
sermão de despedida. [Cf.: Se me amais,
guardareis os meus mandamentos. (João 14.15) Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos
de meu Pai e no seu amor permaneço. (João 15.10)]
Onde este amor a Cristo impera no coração,
ali a lei como lei morreu e ressuscitou em nosso coração a alegria e o prazer
na lei de Deus. Temos então prazer na lei de Deus e nossa vontade se inclina
com força para todo o bem. Cumprimos a lei, não porque a lei o requer, mas por
livre impulso de amor do coração. Pelo menos deveria ser assim e quando não o é,
vemos que ainda não estamos perpassados totalmente pelo amor de Deus, pois na
medida em que nós ainda nos precisamos forçar no fazer o bem, nesta medida
ainda não estamos perpassados pela graça de Cristo, do novo concerto. Por isso
também o cristão tem motivos para suplicar com o poeta:
Perdoa o meu pecado, renova o
coração.
Dá graça ao condenado, / e vence a
escuridão.
A tua paz conforte / minha alma até
à morte,
Em santa comunhão. /
A mente purifica, / expulsa o tentador.
Por graça justifica / o pobre
pecador.
Concede-me a vitória / que exalte a
tua glória,
Amando o Salvador. (HL 275.2,3)
6ª Tese
Por outro, o Espírito Santo glorifica
Cristo nos fiéis, como também através dos fiéis. Nos fiéis ele glorifica por
seu consolo e paz, que está ligado à experiência de sentimentos de alegria e
bem-aventurança nos corações; pelos fiéis o Espírito Santo glorifica a Cristo
ao fazer deles destemidas testemunhas
Confira
- Ele me glorificará porque há de receber do
que é meu, e vo-lo há de anunciar (João 16.14).
- Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra
vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá
tirar (Jo 16.22).
- Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de
tudo o que vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou
como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (João
14.26,27).
- Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo
esteja em vós, e o vosso gozo seja completo (João 15.11).
- Quando, porém vier o Consolador, que eu vos
enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará
testemunho de mim. (João 15.26).
Exposição
O Espírito Santo glorifica Cristo. Ele
engrandece Cristo no coração dos fiéis. Ele revela a glória e majestade de
Cristo e sua importância para nós e o mundo. “Ele me glorificará” (João 16.14),
diz Jesus. Em forma geral, o Espírito Santo faz isto ao mostrar aos fiéis de
forma poderosa, viva e convincente os benefícios de Jesus. Ele os explica e
aplica a eles. Então lhes mostra a obra de Cristo, seu mérito que é proclamado
pela pregação ao mundo.
Em primeiro lugar queremos ver como o Espírito
Santo glorifica Cristo nos fiéis. Ele o faz, como já vimos, unicamente pela
Palavra de Deus e os sacramentos. Por estes meios, ele consola. Deste consolo
brota a “paz de Deus, que excede todo
o entendimento” (Fp 4.7). Que este consolo do Espírito Santo é grande, que
excede a tudo e é maravilhoso, isto já vemos das circunstâncias sob as quais
Cristo falou do mesmo. Estas palavras sobre o Espírito Santo, Jesus falou na última
noite de sua peregrinação na terra, na noite em que ele foi traído. Lembremos,
Cristo estava por deixar seus discípulos e sobre eles viria grande sofrimento.
O Senhor, sob cujo cuidado e proteção eles andaram até agora consolados, iria
para o amargo sofrer e morrer. Jesus iria por um caminho no qual eles não
poderiam segui-lo. (Jo 13.36) E mais do que isto, ele previu que seus
discípulos, na hora da tentação, iriam se escandalizar nele. Tudo isso Jesus
havia explicado a eles antes de proferir suas palavras de despedida. Ele não
falou somente da crueldade e das dores do sofrimento que estavam diante dele,
mas também dos pecados de seus discípulos, sim, de que o apóstolo Pedro iria traí-lo.
Mesmo assim Jesus diz logo no início de sua despedida: “Não se turbe o vosso
coração, credes em Deus, crede também em mim.” (João 14.1). Com estas palavras
Jesus aponta para o consolo que é maior do que o aparente abandono dos
discípulos, maior do que todo o medo do mundo, sim, maior do que nossos
pecados, nossa culpa, negação e infidelidade. Este é o consolo que
necessitamos. Exatamente tal consolo é o consolo do Espírito Santo. Por causa
deste consolo Jesus chama o Espírito Santo de Consolador. (Jo 14.26; Jo 15.26).
Mas, em que consiste e em que se baseia
este consolo? O que consola os fiéis quando eles são afligidos pelo mundo e
quando se levantam tentações do próprio coração? Ele os consola com algo que
não é passageiro, nada tomado do momento atual, mas com algo que é eterno, a
saber, o eterno amor de Deus, que existia antes de serem colocados os
fundamentos deste universo. Isto é o amor, com o qual Deus nos amou em Cristo
desde a eternidade, que ele confirmou no tempo ao entregar Jesus à morte de
cruz. Este amor nos pertence pela promessa de Deus. Ele vem a nós pelo Espírito
Santo, o Consolador celestial, que sela
este consolo em nossos corações. Ao o Espírito Santo nos consolar com o
imutável amor do Pai e com a eterna salvação e graça de Cristo. Então temos um
consolo que é imperecível e invariável, um consolo que brota do sangue de
Cristo e enche nosso coração com paz, que o mundo não pode dar, nem tirar. A
paz desse consolo, Jesus tem em mente ao se despedir de seus discípulos e lhes
dizer estas palavras que consola a alma e conferem paz. “Deixo-vos a paz, a
minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize” (João 14.27). Esta paz não se baseia na força de
nossa fé, nem no fervor de nosso amor, nem na intensidade de nossa esperança,
em nada do que está em nós ou com nós, mas unicamente na graça e fidelidade do
amor de nosso Salvador, que justifica também os ímpios, que permanece sempre
fiel, mesmo quando nós, temporariamente, nos tornamos infiéis. Sua graciosa
promessa: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as ovelhas
arrebatará da minha mão” (João 10.28). Com a graça desse rico e eterno Senhor,
o Espírito Santo consola os fiéis e glorifica Cristo em seus corações lhes
mostra o incomensurável amor, a eterna bondade e imutável fidelidade de Deus, o
Salvador. Este consolo que é tirado da rocha eterna, que é o próprio Cristo,
permanece, mesmo quando tudo for abalado, se desfaz e perece. Em meio ao medo,
o Espírito Santo nos mostra, como que apontando com o dedo para o coração do
Salvador e nos diz: Veja este coração, nele não há engano nem falsidade, mas a
mais preciosa verdade e a mais alta fidelidade, sim: “Fiel é Deus, pelo qual
fostes chamado à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios
1.9). “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Tessalonicenses 5.24).
Nesta tese temos ainda as palavras: “Muitas
vezes os fiéis experimentam em seus corações sentimentos de alegria e
bem-aventurança, mesmo que nem sempre na mesma intensidade”. Jesus diz: “Tenho-vos
dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja
completo” (João 15.11), e: “Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra
vez vos verei; o vosso coração se alegrará e a vossa alegria ninguém poderá
tirar” (João 16.22). A paz e a alegria do consolo do Espírito Santo são
percebidos no fundo do coração e de forma viva. Por isso a Escritura fala no
provar: “Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele
se refugia” (Salmo 34.8). “E provaram a boa palavra de Deus e os poderes do
mundo vindouro”. (Hebreus 6.5) “Para com estes, cheio de morte para a morte;
para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente par estas
coisas.” (2 Coríntios 2.16). Nós não desprezamos os sentimentos. Por exemplo,
nos hinos de nosso Hinário Luterano, sob a rubrica: Jesus o Redentor, temos hinos que expressam este profundo e vivo
sentimento de bem-aventurança. Cf.: “Meu céu começa neste mundo, e sentirá
prazer profundo, quem seu repouso em ti buscar” (HL n° 283). “És minha alegria!”
(HL 291) “Eu tanto quero eterno Amigo.” (HL 283) Mas cuidado, mesmo assim, não
baseamos nosso estar na graça em nossos sentimentos, também não afirmamos que a
verdadeira fé e a ação do Espírito Santo sejam sem sentimento, sem percepção.
Quando pregamos contra os sentimentos, sejamos cautelosos, para não dar apoio a
um cristianismo só de boca. Este consolo e paz no coração do cristão é muitas
vezes como o mar com suas ondas altas e baixas. Na sua superfície podem se
levantar ondas assustadoras, mas ao descermos para o fundo do mar chegamos a um
ponto onde tudo é calmo. Assim o é com o coração humano. E deste ponto fluem
também as ondas que nos acalmam e nos deixam bem envergonhados ao nos
perguntarmos: Como pude ter tantas dúvidas. Esta é a paz de Deus que está no
coração pela fé. Temos esta paz mesmo quando não estamos conscientes dela. A
paz do mundo é facilmente perturbada, mas esta paz permanece. Estevão, na hora
em que foi apedrejado, não viu o rosto irado cheio de ódio dos judeus. Seu
rosto resplandecia como a face de anjos. Em meio às pedras que seus inimigos
atiraram sobre ele, que o levaram à morte, ele viu o céu aberto e o Filho de
Deus assentado à direita do Pai. (Atos 7) Esta é a paz de Deus que excede a
todo o entendimento.
O Espírito Santo não glorifica somente a
Cristo nos corações dos fiéis, mas também através dos fiéis. A respeito do
Espírito Santo, Jesus testifica que ele testemunhará dele e não só internamente
no coração dos fiéis, mas também através dos fiéis, diante do mundo. O Espírito
Santo testemunhou de Cristo imediatamente ao ser derramado sobre os apóstolos
no dia de Pentecostes. Ali o Espírito Santo equipou e capacitou os apóstolos
para o inerrante testemunho de Cristo. Ele dá a todos os fiéis, em todos os
tempos capacidade para testemunhar, coragem e alegria. Mesmo que, com justiça
precisamos fazer uma diferença entre o testemunho dos apóstolos e nosso
testemunho de Cristo. Mesmo assim o testemunho de todos os cristãos é unânime
nisso: Eles testemunharam de Cristo, o eterno Filho de Deus, testemunham diante
do mundo sobre pecado, justiça e juízo. O mundo nega a divindade de Jesus, como
Filho de Deus que veio na carne, negam também a condenação na qual todas as
pessoas estão diante de Deus e que Jesus é o único Salvador. As testemunhas,
equipadas pelo Espírito Santo, confessam livremente diante do mundo que sua
bem-aventurada comunhão com Cristo é seu maior tesouro e bem nessa vida. Isto é
o ser do seu testemunho. Mesmo que na forma do testemunho pessoal possa haver
diferença e de fato ela existe. Se pela palavra escrita ou falada ou ação, se é
uma forma de confissão livre ou motivada por uma ocasião especial, isto não
muda o ser do testemunho. O martírio é, também por si, a mais alta e última
forma de confissão de Cristo. Nele, como a entrega da própria vida, se testemunha
que a comunhão com Deus e com Cristo lhes é mais preciosa do que a própria
vida. “Então, vi a mulher embriagada como sangue dos santos e com o sangue das
testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto”
(Apocalipse 17.6). Do apóstolo Pedro
Jesus afirma: “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia
de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me” (João
21.19). Estas passagens dão testemunho de que a morte, que o mártir sofre,
glorifica a Cristo. E, é preciso lembrar, que ambas as coisas podem ser também
erradas e desprezíveis se o mártir procura o martírio por sua vaidade, ou foge
do mesmo por covardia. A morte de mártir é julgada não pelo feito do sofrimento,
mas pela razão do sofrimento. “Não o sofrer, mas a causa do sofrimento perfaz
um mártir”, disse Agostinho.
7ª Tese
No seu
ofício de testemunhar em meio a muitas tribulações e tentações, o Espírito
Santo ampara os fiéis com o espírito da oração. Ele os certifica em sua
peregrinação, constantemente, de serem filhos de Deus e lhes mostra que o
Príncipe deste mundo, que os aflige freqüentemente, já está julgado.
Confira
- Tenho-vos dito estas coisas para que não vos
escandalizeis. Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o
que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus. Isto farão porque não
conhecem o Pai, nem a mim. Ora estas coisas vos tenho dito para que, quando a
hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o
princípio, porque eu estava convosco (João 16.1-4).
- Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se
o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se
vós fosseis do mundo, mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do
mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.
Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor.
Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha
palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos razão por causa do meu
nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. (João 15.17-21).
- O próprio Espírito testifica com o nosso espírito
que somos filhos de Deus. (Romanos 8.16).
- Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste
em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito
intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda
os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é
que ele intercede pelos santos (Romanos 8.26-27.
- Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em
verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu
nome. (João 16.23).
Exposição
Em suas palavras de despedida, Jesus
acentuou enfaticamente e o repetiu em diversos lugares (Jo 16.1-4; Jo
15.17-21), que os fiéis teriam que enfrentar muitas tribulações. Ele lhes
anunciou que seriam expulsos das Sinagogas, odiados e martirizados. No
evangelho de João 15.17-31, Jesus dá a razão porque o mundo os odeia, porque
Cristo os escolheu do mundo, por não pertencerem mais ao mundo. Em meio aos
diversos sofrimentos previstos, Jesus prepara e arma seus discípulos para
poderem suportar o ódio do mundo, a fim de não olharem para os mesmos como algo
estranho e inusitado. Após as explicações de Jesus, em suas palavras finais,
eles devem saber que é uma imaginação bem errada do cristianismo, pensar que o
cristianismo tarará dias felizes, de júbilo e triunfos aos cristãos aqui na
terra. Não! Jesus anunciou aos apóstolos diversas tribulações. Olhemos para a
vida dos apóstolos, estas testemunhas pré-escolhidas. Ouvimos e lemos sobre
açoites, prisões, ódio por parte dos judeus e perseguições por parte dos
gentios, além de todo o tipo de tentações e sofrimentos externos como doenças e
desastres, e enganos por parte de falsos profetas. Os apóstolos também sabiam
que estes sofrimentos não estão no fim. Eles anunciam sofrimentos e enganos
ainda mais cruéis para as gerações futuras. (Cf.: At 20.29; 1 Tm 4.1; 2 Pe 3.6)
Em todo esse sofrer precisamos lembrar as palavras de Jesus no Sermão do Monte:
Porque deles é o reino dos céus (Mt 5.10,12) O que Cristo anunciou com respeito
aos sofrimentos cumpriu-se fartamente. Somente os cristãos de nome escapam a
essas aflições e ódios, visto ser uma geração sem sal nem poder, do qual o
mundo não tem o que temer, por isso os deixam em paz. Há na verdade também
aqueles que afirmam: “A verdade, sem bem anunciada, sempre encontra aceitação
no mundo. Importa encontrar o correto tom na proclamação, então as coisas vão
bem.” Esta afirmação, de que o evangelho depende do tom na abordagem,
precisamos contestar decididamente. Pois nesse caso, Jesus e os apóstolos
falharam por não terem encontrado o tom correto na abordagem, o que nós hoje
sabemos fazê-lo melhor. Judeus, gentios e tudo que é considerado digno e
respeitado neste mundo combate a verdade a qual Jesus proclamou. A isto se
somam ainda as aflições e tentações internas que levam os fiéis muitas vezes a
vacilar. Este é o destino das testemunhas de Cristo neste mundo. Mas neste seu
árduo ofício de testemunhar, o Espírito Santo ampara os fiéis com o espírito da
oração. Ele os ensina a orar com plena confiança em nome de Jesus. O Espírito Santo
faz com que, em meio ao medo e as perseguições do mundo, eles se apequem e
confiem nas palavras de Jesus: “A fim de tudo quanto pedirdes ao Pai em meu
nome, ele vo-lo conceda” (Jo 15.16). E não somente isso, o próprio Espírito
intercede por eles, como lemos: “Também
o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos
orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com
gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26). Muitos, que se têm por sábios e
entendidos, julgam ser uma vergonha se o cristão não sabe o que pedir, e
perguntam: Será que os cristãos não conhecem as muitas necessidades externas e
internas das quais gostaria de ser libertado? Sem dúvida que sim. Eles têm e
conhecem as muitas necessidades, mesmo assim é verdade que muitas vezes eles não
sabem se o sofrimento ou a alegria será uma bênção para eles ou não. Será que
um verdadeiro cristão sabe dizer o que lhe será bênção? Será que nós cristãos
podemos afirmar com toda certeza: Agora eu mereço felicidade e não sofrimento,
alegria e não tristeza? Exatamente por isso o
Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis, por não
sabermos o que devemos pedir como convém. Tolos são aqueles que imaginam
saberem sempre o que servirá para o bem de suas almas. – Foi dito que a tarefa
de testemunhar está ligada a muitas tribulações, mas há também aqueles cristãos
que testemunham e por culpa própria se impõe tribulações. Nem toda a tribulação
é uma conseqüência do “por amor a Cristo”. Basta que nós pastores olhemos para
nossos primeiros anos de ministério. Quantos erros cometemos. Nosso zelo carnal
provocou murmurações por parte da diretoria ou dos membros contra nós. Nesses
casos, nós não devemos nos colocar logo como mártires, mas nos examinar se não
foi por nossa culpa que vieram dificuldades e angústias sobre nós. E quando
descontamos o que foi por nossa culpa, ainda restará muita coisa que é
inevitável na pregação do evangelho e que provoca resistência. – Ao ouvirmos “não
sabemos o que pedir”, isso não deve nos levar a nos abster da oração, nem do
pedir coisas materiais. O Espírito Santo é o que opera em nós o ardente desejo
de orar. O fato de muitos não orarem é devido sua fraqueza de fé e por não
pedirem ao Espírito Santo o dom da oração.
Consta ainda na tese: “O Espírito Santo... os certifica
constantemente, em sua peregrinação, de serem filhos de Deus”. Contra as
acusações de nossa consciência, do mundo e do diabo, o Espírito Santo
testemunha poderosamente em nós, de sermos filhos de Deus. “O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8.16), apesar de os fiéis ainda serem
pecadores e a cruz pesar sobre eles. Quando o mundo e sua própria razão os
desprezam, eles têm no seu interior o testemunho divino de serem filhos de Deus
e isto constantemente. Por nossos pecados de fraqueza nos darem ainda muito trabalho,
precisamos do testemunho de Cristo, pois, mesmo como cristãos, nunca deixamos
em nenhum momento de ser parte do mundo pecador.
Em relação às seitas que afirmam serem filhos
de Deus e terem o testemunho interno do Espírito, e mesmo assim vivem
freqüentemente em pecados abertos, precisamos manter que o Espírito testemunha
somente pela Palavra. Pela Palavra o Espírito Santo consola em toda a
tribulação. Mesmo que o cristão não esteja sempre consciente de se firmar numa
palavra específica, mesmo assim é a Palavra, pois sem a palavra de Deus ninguém
pode achar consolo.
Por fim, temos na tese: O Espírito Santo... lhes mostra que o
Príncipe deste mundo, que os aflige, freqüentemente, já está julgado.
Jesus disse a seus discípulos em suas
palavras de despedida: “Vem aí o
príncipe do mundo e ele nada tem em mim” (Jo 14.30). “Estas coisas vos tenho
dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom
ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
Isto dá aos cristãos coragem e alegria em
sua missão de testemunharem. Eles sabem com antecedência e são fortalecidos pelo
Espírito Santo, e vivamente convencidos da vitória de Cristo sobre todos os
podres das trevas, que já foram vencidos quando Cristo morreu na cruz. Na
verdade, tudo isso não seria consolo, se nós olhássemos para a vitória de
Cristo somente como a vitória de um simples homem. Neste caso isso seria
incompreensível. Como poderíamos tirar consolo do fato de outra pessoa ter
vencido o medo do mundo. Uma simples pessoa humana teria a vitória somente para
si, e seria incompreensível querer nos consolar com isso. Mas a vitória de
Cristo tem poder e significado eterno, por ter lutado e sofrido como Filho de
Deus. Por isso, sua vitória única é uma vitória meritória para toda a
humanidade e profundo consolo para nossa alma. A força e o significado desta
vitória de Cristo, o Espírito Santo clarifica e confere a nossa alma. Jesus,
nosso Salvador, nos conquistou vitória, força e bem-aventurança. A vitória de
Cristo é nossa força em nossa luta, a ela nós nos apegamos, nele nós nos firmamos
e nele confiamos, não em nossa própria sabedoria e destemor. A palavra de Cristo:
“Tende bom ânimo, eu venci o mundo”, é
nossa força e poder na luta. De nada Cristo nos aproveitaria, se ele não fosse o
Filho de Deus. E mais um detalhe: Ele é o cabeça e nós membros do seu corpo, no
qual fomos enxertados pelo batismo e enquanto na fé. Ele, nossa cabeça, passou
pelo sofrimento e morte à glória, assim também nós, seus membros passaremos
vitoriosos para a glória celestial.
8ª Tese
Por fim,
como Espírito da Esperança, ele também clarifica o futuro. Ele dirige os olhos
e o coração dos fiéis para a pátria celestial, com muitas moradias. Onde o
trabalho imperfeito e corruptível terminará e os fiéis receberão um corpo
completamente santo e perfeito. Aqui, os fiéis já possuem as primícias do
Espírito Santo que lhes é um penhor e selo da esperança.
Confira
- Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele
vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o
que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que há de vir (Jo 16.13).
- Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim
não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e
vos preparar lugar, voltarei e vos receberei par mim mesmo, par que, onde eu
estou, estejais vos também (João 14.2-3).
- E não somente ela, mas também nós, que temos as
primícias do Espírito igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção
de filhos, a redenção do nosso corpo.. (Romanos 8.23).
- Que também nos selou e nos deu o penhor do
Espírito em nosso coração. Eu, porém, por minha vida, tomo a Deus por
testemunho de que, para vós poupar, não tornei ainda a Corinto. (2 Coríntios
1.22,23)
- Porque, em parte, conhecemos e, em parte,
profetizamos (1 Coríntios 13.9).
- Porque, agora, vemos como em espelho,
obscuramente; então veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei
como também sou conhecido (1 Coríntios 13.12).
- O qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da
sua propriedade, em louvor da sua glória (Efésios 1.14).
Exposição
Em Cristo, Deus Espírito Santo já se
glorifica nos fiéis aqui na terra, pelas primícias de sua ação, que são: fé,
amor, mas em sua plenitude, completa e visível, de toda a glória só no paraíso,
no futuro. O apóstolo Paulo afirma aos Colossenses: “Porque morrestes, e a
vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a
nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em
glória” (Colossenses 3.3-4). O que ainda está por vir, o que nós ainda não
vemos, disto trata a esperança cristã. O objeto, com que a esperança cristã
lida, é a visível e gloriosa consumação do Reino de Deus, a ressurreição da
carne, a eterna glorificação de nosso corpo, a entrada na vida eterna. O
completo cumprimento, a concretização visível desta esperança, o triunfo final
da Igreja sobre os poderes das trevas, esta é a esperança não somente dos fiéis
deste ou daquele tempo, mas a esperança comum de todos os cristãos de todos os
tempos. Quando Jesus se despediu de seus queridos discípulos na noite em que
foi traído, ele não apontou aos discípulos uma consumação gloriosa neste mundo,
mas dirigiu seus corações e sua visão para aquilo que realmente importa nesta
vida passageira, a saber, unicamente, o lar eterno, a casa do Pai. Jesus falou
a seus discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu
vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar
lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou,
estejais vós também” (João 14.2-3). Com isso Jesus diz a seus discípulos: Meus
queridos discípulos, se muitas vezes vocês desanimarem neste mundo, pensando
que a esperada paz se quebrou para vocês, então lembrem o bem-aventurado lar do
Pai celestial. Ali vocês têm casa, não feita por mãos humanas, mas construído
pelo Pai, com muitas moradas para cada um que aspira chegar lá. Uma morada
cheia de paz, um descanso no colo do Pai celestial. O Espírito Santo dá e firma
os fiéis nesta esperança. Ele nos mostra que ali onde a glória de Cristo é vista
em eterna alegria e bem-aventurada luz, ali está a nossa verdadeira pátria,
nosso eterno lar. Aqui estamos sob a cruz e de passagem. Por isso, avivar esta esperança,
constantemente, é muito necessário, pois há muitos e poderosos empecilhos que
se opõe a esta esperança. Também o coração dos fiéis, ao longo de sua
peregrinação, é atribulado por muitas dúvidas e incertezas. O mundo não quer
saber desta esperança celestial, do esperar por um novo céu e uma nova terra no
futuro. O mundo não quer esperar, mas possuir e despreza todo o esperar e a
esperança por medo ou desalento. Esta forma mundana de pensar quer-se infiltrar
também nos fiéis. Desejam um cristianismo de paz e felicidade terrena, (como o
vemos na pregação da teologia da glória e da prosperidade). Quando então
sobrevêm dificuldades, lutas, muitos se desorientam em Cristo. Eles gostariam de
ver na igreja aqui a perfeição e isto imediatamente. A isso se juntam os
zombadores que ridicularizam abertamente esta esperança, dizendo: “Onde está a
promessa do futuro”? (2 Pe 3.4) Continuamente dizem aos cristãos: “Vocês se
deixam ofuscar por estas palavras bíblicas, importa cuidar das coisas terrenas
e não das celestiais. Deixem essas coisas. De que vos valem todas estas
esperanças do além?” Facilmente nossa esperança esmorece diante dessas
zombarias do mundo, se o Espírito Santo não nos amparasse nesta tentações,
desesperaríamos. Em primeiro lugar o Espírito Santo nos mostra de que aqui na
terra tudo é corrupção e passageiro. O apóstolo Paulo escreve: “Porque, em
parte, conhecemos e, em parte, profetizamos... Porque, agora, vemos como em espelho,
obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei
como também sou conhecido” (1 Coríntios 13.9,12). Neste mundo não há nada completo, pleno nem
para a igreja, nem para seus membros, nem para um cristão individual. Aqui na
terra, assim nos ensina o Espírito Santo, tudo é vaidade e transitório. Neste
mundo não temos de que nos orgulhar, nem de nossas posses com aparente
perfeição. Cumpre, no entanto, elevar nossos olhos para o alto e desejar
ardentemente a vinda de Cristo, como único futuro e verdadeira comunhão. Na
carta a Tito, o apóstolo Paulo escreve: “Portanto. a graça de Deus se
manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11), para que possamos esperar
esta bem-aventurada aparição da glória de Deus e de nosso Salvador. O alvo de
nossa completa renovação está no futuro, na eternidade. Queremos, porém, não
esquecer que a esperança de um futuro glorioso se revela agora poderosamente
nos cristãos individualmente. Jesus disse: “Não
vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (João 14.18). Nós cristãos
não devemos simplesmente ter uma idéia de um futuro esplêndido, mas o próprio
Deus, o Espírito Santo, é o selo e penhor
desta nossa esperança. O apóstolo Paulo escreve: “Mas aquele que nos confirma
convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que também nos selou e nos deu penhor do
Espírito em nossos corações” ( 2 Coríntios 1.21-22). “O qual é penhor da nossa
herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Efésios 1.14).
Uma promessa escrita é confirmada por um selo que a torna certa e firme. Por um
penhor, aquele que o dá, se torna ainda mais comprometido a cumprir o que
prometeu. O selo, o penhor de nossa esperança é o próprio Espírito Santo, como
afirma o apóstolo Paulo: “E não somente
ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em
nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”
(Romanos 8.23). A glória futura, onde veremos Deus, o Senhor, com nossos
próprios olhos, não tem outro começo do que o fato de Deus Pai e o Filho terem
vindo ao mundo e feito aqui habitação em nós pelo Espírito Santo. A primeira
ação do Espírito Santo em nós é a confirmação, o selar nossa herança eterna.
Sim, quando os mortos ressuscitarão no dia do juízo final, e os corpos
daqueles, que entrarão no lar bem-aventurado, participarão da glorificação;
eles serão vivificados por Cristo por nenhum outro motivo do que pelo fato do
Espírito Santo habitar neles. O apóstolo Paulo afirma: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará
também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita”
(Romanos 8.11).
Em vez de nos lamentar aqui, queremos ir ao
encontro desta esperança. Ali estão as
moradas onde Deus enxugará as lágrimas daqueles que seguiram a Cristo aqui na
terra. Ali o primeiro, que era em parte passou; ali o Senhor estará novamente
de forma visível e reconhecível com os seus. Nós seremos seu povo e ele próprio,
o Emanuel, o Deus conosco. Não precisaremos mais de outra luz, pois a glória do
Senhor iluminará a pacífica Comunidade, sua lâmpada é o Cordeiro. Onde está o
Espírito de Deus, ali está a viva esperança. Ela é uma esperança viva e
confiável. Se não tivermos esta esperança, então todo nosso correr é pobre, um
correr atrás de coisas materiais, uma alegria passageira e perecível. Mas se
temos em nosso coração a esperança do glorioso e celestial reino de Cristo,
então o nosso labutar e sacrificar pelo reino de Deus não será em vão, mas está
ligado com a incorruptível esperança.
Que Deus conceda a cada um de nós, para
que na vinda de Cristo, quando os fundamentos da terra serão abalados (Lc
21.26) e os montes cairão, que então cada um de nós possa na plenitude do
Espírito Santo, em nome de Jesus, orar consolado a Deus Pai. Sim, Deus Espírito
Santo conceda a cada um de nós vermos a glória de Cristo, aqui na Palavra e em
fé, ali no ver em eterna glorificação. Amém.
São Leopoldo, 27/04/2015
Horst R. Kuchenbecker
Anexo I - A Doutrina do Espírito Santo – Carta aos
pastores luteranos, n° 51 (1960).
Dr.
Hermann Sasse, Austrália
Resumo
1 – A verdadeira doutrina do Espírito Santo não tem
mais sua pátria na Igreja, até parece que esta doutrina tornou-se um corpo
estranho nela. (Otto Henning Nebe, 1934)
-
Onde não se ensina mais corretamente o Evangelho e se falsifica os sacramentos,
perde-se o Espírito Santo e a Cristo, e as instituições da igreja entram em
colapso. Exemplos: Como explicar a falta de pastores, pastores entrando em
colapso (born out) mulheres no ministério pastoral, etc.?
2 – Nós, cristãos modernos, procuramos o Espírito Santo
ali onde ele não se encontra.
-
Este perigo não é novo.
-
Os movimentos dos entusiastas, do pietismo, do ecumenismo e outros ismos que
procuram edificar a igreja com seus pensamentos positivos, implicações
psicológicas ou promover o crescimento da igreja com técnicas comerciais, e que
aplaudem a união de luteranos com reformados como uma manifestação do Espírito
Santo.
3 - Nós, cristãos modernos, procuramos o Espírito
Santo ali onde não se encontra, quando julgamos como algo normal que o Espírito
Santo obrigatoriamente vem por nossas pregações.
-
Mas será que aquilo que pregamos é a palavra de Deus?
-
Estamos dividindo lei e evangelho corretamente?
-
Estamos conscientes de que o Espírito Santo opera “onde e quando lhe aprouver”
(CA
VII), não no sentido da interpretação do
Dr. Karl Barth, de que o Espírito Santo não
está preso aos meios da graça, mas tem
liberdade de trabalhar onde e quanto quer.
- A
correta pregação do Evangelho sempre traz o Espírito Santo, que “opera onde e
quando lhe apraz”, reservando-se a premissa
maior: Deus quer que todos cheguem
ao pleno conhecimento da verdade e vivam.
(2 Tm 2.4)
-
Os modernos métodos de evangelismo e mordomia orgulham-se de seus sucessos, e
não entendem o profundo mistério do
Espírito Santo.
4 – Nós cristãos modernos não encontramos mais o
Espírito Santo ali onde ele quer ser encontrado.
-
Compreendemos ainda a verdade de que o Espírito Santo só opera pelos meios da
graça, Palavra e Sacramentos? A condenação do quinto artigo da Confissão de
Augsburgo bem como dos Artigos de Esmalcalde, 3.VIII, 3,4, que condenam os
anabatistas que procura o Espírito Santo fora dos meios da graça?
- Que
em todos os tempos e também hoje, existem os que procuram o Espírito Santo por
suas próprias preparações.
- Procuramos o Espírito Santo em todos os
lugares, mas rejeitamos o batismo de crianças e a Santa Ceia.
5 – O Espírito Santo quer ser procurado na Palavra.
Ali ele se revela como o verdadeiro Des.
- O
Espírito Santo é mais do que uma força divina, ele é pessoa.
-
Na Escritura, o Espírito dá testemunho de ser ele pessoa, um só Deus com o Pai
e o Filho. (Credo Niceno)
- O
ser Deus está intimamente ligado com a inspiração da Escritura.
-
Onde a doutrina da inspiração não é mais compreendida, ali também a doutrina do
Espírito Santo não é compreendida, nem a doutrina da pessoa e obra redentora de
Cristo.
6 – A doutrina da inspiração das Escrituras é parte
da doutrina do Espírito Santo.
-
Na doutrina do Espírito Santo só podemos ir até onde a Escritura o revela e afirma.
-
Como o Espírito Santo, assim também a ação do Espírito Santo é inacessível à
psicologia. Pois, o que realmente é a ação do Espírito Santo, o renascimento,
as experiências dos profetas com Deus, o efeito da Palavra de Deus e dos
sacramentos de Cristo sobre a alma humana, está fora do alcance da psicologia
para explicar ou descrevê-la. A importância desta verdade deve ser lembrada na
pregação e no aconselhamento.
- A
cristologia e a doutrina do Espírito Santo estão ali nas Escrituras, mas
levou-se muito tempo até clarificar as mesmas. Só a partir do Concílio de
Constantinópola (381 AD) estas doutrinas foram clarificadas.
7 – Será que a doutrina da Trindade e com ela a do
Espírito Sano estão realmente completos?
- Achava-se
que sim, mas ainda há muitas perguntas abertas.
8 – A ausência, no sexto século, de pessoas que
pensam, impossibilitou o processo de clarificação da doutrina do Espírito
Santo.
- Muitos teólogos foram ceifados pelas guerras
e a migração dos povos impediu o aprofundamento dos estudos teológicos.
9 – É importante manter nas orações a confissão: “E no Espírito Santo, Senhor e doador da vida, o qual procede do Pai e
do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. - Nas
orações dirigidas ao Pai manter no final: “Mediante Jesus Cristo, teu Filho,
nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo para todo o
sempre”. E se dirigida ao Filho: “Tu que vives e governas com o Pai e o
Espírito Santo de eternidade a eternidade”. Amém.
10 – A doutrina do Espírito Santo pertence às
doutrinas incompletas da Igreja, bem como à escatologia e as últimas coisas.
-
Não podemos esquecer que os apóstolos vivenciaram o Espírito Santo na prática,
não em primeira linha os dons visíveis como o falar em línguas, mas os dons da
fé,
esperança
e amor (Jo 16.20-22).
-
As portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16.18) Nesta fé queremos
pedir e nesta fé queremos trabalhar.
............................................................
Anexo II – A pergunta
sempre volta: O Espírito Santo não age (ou poderia agir) sem os meios da graça?
O Espírito Santo não é livre para agir como e onde quer? Dizer que Deus nos
amarrou ou se amarrou aos meios da graça não é exagerado? O que dizer a
respeito dos testemunhos a respeito da ação do Espírito Santo nos campos de
missão? Ali pessoas afirmam, freqüentemente, que Jesus ou anjos lhes apareceram
em sonhos ou visões, estimulando-os a irem a uma igreja cristã ou lerem a
Bíblia. Vejamos alguns relatos.
1 –
O primeiro missionário de nossa igreja irmã americana, a Lutheran Church
Missouri Synod (LCMS) enviado para a Nigéria foi morto nos primeiros meses de
trabalho. Enviaram então o segundo pastor. Mal chegado, os nativos investiram
contra ele. Ele e a esposa se refugiaram na oração. De repente os nativos
fugiram. Eles ficaram maravilhados. Alguns meses depois, um dos nativos meio
temeroso veio em busca de um remédio para um de seus filhos doente. O pastor
auxiliou e o menino ficou curado. Esta família veio aos estudos bíblicos e foi
batizada. No terceiro estudo, o pai daquela criança olhava em seu derredor e o
pastor lhe perguntou: Você está procurando alguma coisa?- Sim, disse ele. Onde
estão os homens que defendem você? Pois no dia em que atacamos você, nos vimos,
ao chegar mais perto, que a casa estava cercada por soldados e nós fugimos. –
Sem dúvida Deus protegeu o pastor, dando aos inimigos um visão de anjos.
2
- Um pastor que trabalha em Berlim,
Alemanha, na missão entre islâmicos relatou o seguinte em 2010: Seguidamente
alguns islâmicos que estão na instrução relatam sobre visões e sonhos. Um deles
contou o seguinte: Eu vi em sonho um ser resplandecente que me dizia: Vá a uma
igreja cristã. - Ouro relatou algo semelhante com a recomendação: Leia a
Bíblia. Em conseqüência disso vieram à nossa missão.
3 –
Um pastor de nossa igreja irmã nos Estados Unidos relatou o seguinte: Um membro
convertido de sua congregação lhe relatou com muito entusiasmo que teve uma
visão à noite. Jesus lhe apareceu e lhe disse que procurasse uma igreja cristã.
Ele o fez. Gostou do culto e foi instruído. Agora ele gosta de contar essa sua
visão a todos, mas estranha que muitos dos irmãos na fé o ridicularizavam. Por
isso veio procurar o pastor com a pergunta: Será que meu sonho foi real ou
imaginário?
O pastor lhe respondeu: Agradeça a Deus
que o trouxe ao conhecimento de Jesus pela palavra de Deus. Apegue-se à mesma.
Deus tem muitos caminhos para conduzir alguém a sua Palavra, pela qual o
Espírito Santo chama, ilumina, congrega e conserva na fé. Se foi Jesus que lhe
apareceu ou não, é secundário. Isto deve ficar só para você. Mas de Cristo e de
sua Palavra você deve continuar a testemunhar.
O pastor que relatou este fato disse a
todos nós: Quanto às revelações especiais das quais um e outro fala, tenho
muitas dúvidas. Elas podem ser uma imaginação motivada por uma palavra ouvida
ou lida, pelo testemunho de um cristão, etc.; por um forte desejo de conhecer o
cristianismo, entusiasmo ou medo. Eles podem até ser reais, pois Deus tem
muitos caminhos para dirigir alguém a sua Palavra e igreja. No entanto, nós
temos que dizer a estas pessoas, que não devem firmar sua fé nestas visões ou
sonhos, mas na palavra de Deus. E devem manter esses acontecimentos para si,
sem se orgulharem nem falarem delas.
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