quarta-feira, 27 de julho de 2016

500 Anos da Reforma Luterana

500 Anos da Reforma Luterana
31 de outubro de 2017
Se fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida. (Ap 2.10)
Í n d i c e
                                                               Páginas
Introdução ...................................................................         02
I – Causas que levaram à Reforma .................................       02
      1.1 – Datas e fatos ...................................................        03
      1.2 – Ruptura ..........................................................         05
      1.3 – Que escolherás? .............................................         06
II – Precursores ............................................................         33
III – As 95 Teses ...........................................................        34
       3.1 – Preliminares ... .............................................         35
       3.2 – 31 de Outubro de 1517 ..............................           36
       3.3 – Texto das Teses ...........................................         37
       3.4 – Análise das Teses ........................................         44
       3.5 – A lutas após a publicação das teses ...........           48 
IV – Três livros que abalaram o mundo .........................      52
V – A bula de Excomunhão ..........................................       53
VI – A idéia de celebrar a Reforma ..............................       55
            6.1 – O primeiro Centenário, 1617 ...................       56
            6.2 – O segundo Centenário, 1717 ...................       57
            6. 3 – O terceiro Centenário, 1817 ..................        58   
            6.4 – O quarto Centenário, 1917 .....................        61 
            6.5 – O quinto centenário, 2017 ......................        63 
           6.6  - Nossa Responsabilidade ..........................       68 
VII - Década de Lutero ou Década da Confissão ........       69
VIII – Do que a Igr. Luterana jamais pode abrir mão...      71
VIX - Festejar com quem e como ..............................        79
X -  Fundamentalismo ............................................            87
XI – Programas ...........................................................       91  
XII - Claus Harms e suas 95 Teses ................................    93                     
XIII – Bênção da Reforma ............................................     95
XIX – Rosa de Lutero   ..................................................  101
XV – A história de Luteranos no Brasil...............            105
XVI - Aproximação entre IELB e IECLB ....................  109
XVII - Nossa Mensagem ao Século XX .......................  115
XVIII – 9.5 Teses para a continuação da Reforma .......  125
XIX - Folheto: Que significa ser cristão Evg. Luterano  139
XX – Estudo – Por que sou Cristão Ev. Luterano? ...     142
XXI –  A Mensagem da Reforma na mutação
                do tempo. Dr. Hermann Sasse...................      150
XXII – Sermões para a Reforma_ 1, 2, 3 ....................   164
XXIII– Folheto. Reforma Luterana ............................   179
XXIV – Identidade Luterana frente ao calvinismo ...... 182
XXV – Desencontro entre Lutero e Melanchton.......    210
XXVI – Catecismos: Doutrina da Santa Ceia ...........    212
XXVII – Comunhão de Púlpito e de Altar ................    225
XXVIII – Objetivos na celebração dos 500 Anos .......  220

                       

Introdução

     As igrejas cristãs (luteranas, evangélicas, reformadas, unidas e anglicanas e também católicas) estão se preparando para os 500 Anos da Reforma Luterana, que será celebrada no dia 31 de outubro de 2017.
     Por iniciativa da Federação Luterana Mundial (FLM), as igrejas luteranas do mundo declaram os 10 anos, que antecedem os festejos dos 500 Anos da Reforma, a Década de Lutero (Luther Decade). A FLM elaborou temas com subtemas para cada ano dessa década. A Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche (SELK) da Alemanha, nossa igreja irmã, elaborou seu temário próprio. Durante esta caminhada da década de Lutero, cada celebração da Reforma, no dia 31 de outubro, tem seus destaques especiais.[1]
     Estes preparativos estão desencadeando uma série de perguntas, que são encaminhadas para diversos grupos de estudo e debates em busca de respostas e soluções.  Há perguntas gerais, com as quais todos se preocupam e perguntas específicas, com as quais cada igreja individualmente se ocupa. Há perguntas que nos afligem como Igreja Confessional, como Comunidade e perguntas que nos afligem individualmente como cristãos luteranos.
     Como nós, luteranos confessionais, que assinamos sob juramento fidelidade à inalteradaConfissão de Augsburgo de 1530 e ao Livro de Concórdia de 1580, estamos encarando esses festejos? Como vamos celebrá-los? Que desafios confessionais nos aguardam? Para responder estas perguntas e nos preparar para os festejos dos 500 Anos da Reforma, sim, para cada festividade da Reforma, será proveitoso fazer uma retrospectiva, a fim de ver como e em que situações nossos pais celebraram os primeiros centenários; para então analisarmos nosso contexto e nossa responsabilidade nos dias atuais como igreja confessional.
     Em primeiro lugar queremos olhar para as causas que motivaram a Reforma, em segundo lugar, queremos analisar o primeiro passo dado para a Reforma, as 95 Teses, seu conteúdo e que lutas desencadearam. Depois queremos ver como surgiu a idéia de festejar a Reforma e como ela foi festejada durante os primeiros centenários. Por fim, como nos preparar e como celebrar os 500 Anos da Reforma em 2017, se Deus nos permitir festejá-los.



I - Causas que levaram à Reforma

O CRISTIANISMO, DATAS FATOS HISTÓRICOS, DESVIOS[2]

Igreja Cristã Apostólica Católica (Romana ou Ortodoxa)
                                         Verdades Centrais da Bíblia:
- Somente a Escritura, nem mais nem menos.
- Somente por graça de Cristo.
- Somente pela fé.
             __________________________________________

I.I – Datas e fatos

-   70 Destruição de Jerusalém
-         CREDO APOSTÓLICO (250)
-         Perseguições dos imperadores romanos
- 312 Conversão do imperador Constantino
- 325 Concílio de Nicéia. CREDO NICENO
           Doutrina de Ario: Jesus não igual ao Pai
- 451 CREDO ATANASIANO, Concílio Calcedônio            
            Nestório nega a unidade das duas pessoas de Cristo.
            Macedônio negou a divindade do Espírito Santo.
-          Expansão do Cristianismo.
-          Desvios da fé
               - 593 O Purgatório
                 - 754 O Poder Temporal é dado ao Papa.
                            Imperador nomeava os bispos. Agora o Papa
                            empossa os imperadores (Carlos Magno ano 800).
                   - 847 Decretais de Isodoro. Falsos.
                            Conferem poder aos bispos
                     - 858 Doação de Constantino. Documento falso.
                               Doa o palácio de Latrão. Atual Vaticano.
                       - 1054 Ruptura entre o Oriente e Ocidente.
                                 O Papa Leão 9° de Roma versus Patriárca Miguel
                                     Cerulário de Constantinopla.
                         - 1075 Papa Gregório VII impõe o celibato aos padres.
                                     Divórcio em massa.
                           - 1095 - 1291 Cruzadas
                             - 1100 Dinheiro para Missas
                              - 1170 Pedro Waldus. Tenta reforma. Perseguido
                               - 1184 Inquisição
                                - 1190 Venda de Indulgências
                                 - 1226 Adoração da Hóstia
                                  - 1229 Concílio de Toledo condena a leitura da Bíblia
                                   - Corpus Christi, 11 de agosto. Bula Transiturus. Urbano IV
                                    - 1303 Bula Unam Sanctam. Para ser salvo é necessário
                                                obediência ao Papa.
                           - 1348 João Wiclif. Traduz a Bíblia para o inglês. Perseguido
                           - 1339-1373 João Huss. Boemia. Universidade de Praga. Queimado.
                           - 1415 Cálice na Santa Ceia negada ao povo  
                           - 1452-1498 Jerônimo de Savanarola. Monge Dominicano,
                                            na Itália. Tentou reforma. Foi queimado.
                          - 1483 Nascimento de Lutero (10/11/1483, + 18/02/1546).
                          -  1517 LUTERO. 95 TESES
                       - 1520 Lutero (10/12) excomungado pelo Papa Leão X
                       - 1521 Worms, 18/04 Lutero declarado réu de morte
                       - 1530 Confissão de Augsburgo
                       - 1530 Zwínglio (1484-1531, Zurich) Ratio Fidei
                                         - 1534 Inácio de Loiola, funda a ordem dos Jesuítas
                      - 1540 Calvino (1509-1549, Genova) Institutes
                      - 1540 Episcopais, Rei Eduardo IV, Inglaterra
                      - 1545 Concílio de Trento. Roma abandona a Bíblia.
                                    Tradições igualadas à Bíblia. Doutrina da justificação
                                       do pecador pela graça e por fé, condenada.                 
                      - 1546 (18/02) Falecimento de Lutero em Eisleben
                      - 1547 Guerra de Esmalcalde
                      - 1555 Paz de Augsburgo entre Católicos e Luteranos
                      - 1560 Presbiterianos, Calvino e John Knox
                      - 1572 Noite de São Bartolomeu. Paris. Católicos massacram
                                    Protestantes, por ordem do Imperador Carlos IX
                      - 1580 Fórmula de Concórdia. Martim Chemnitz. Divisão do      
                                  luteranismo
                      - 1600 Poder dos Escapulários. “Todo o que traz uma                        
                                      medalha da mãe de Deus ... será salvo.”
                       - 1602 Batistas, John Smyth
                       - 1618-1648 Guerra dos 30 anos. O imperador Rodolfo II quebra a
                                      paz de Augsburgo. O rei Gustavo Adolfo da Suécia vem
                                        em socorro dos Luteranos. Novo tratado de paz.
                       - 1729 Metodistas, J. Wesley
                       - 1740 Adventistas, G. Whiterfield
                       - 1789 Revolução Francesa
                       - Racionalismo
                       - 1817 União Prussiana. Rei Frederico Guilherme II.
                       - 1830 Mórmons, Joseph Smith
                       - 1839 Saxões emigram para os Estados Unidos da              
                                       América e da Austrália                    
                       - 1847 Fundação do Sínodo de Missouri (LCMS).
                       - 1866 Ciência Cristã, Mrs Eddy
                       - 1869 - 1870 Vaticano I - Infabilidade do Papa
                       - 1872 Testemunhas de Jeová, C. Russel
                       - 1878 Exército da Salvação, W. Booth
                       - 1892 Assembléia de Deus, Spurling e Bryant
                       - 1900 Pastor Broders, da LCMS vem ao Brasil
                       - 1900 Conselho Mundial de Igrejas (Ecumenismo)
                       - 1904 (24/06) Fundação da Igreja Ev. Luterana do Brasil
                       - 1908 Decreto papal que invalida os casamentos mistos
                                    não realizados por um sacerdote romano 
                       - 1914 Primeira Guerra Mundial (1914-1918
                       - 1923 Fundação da Federação Luterana Mundial
                       - 1939 Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
                       - 1950 Dogma da Assunção da Virgem Maria
                       - 1962 a 1965 Vaticano II - Reforma da Liturgia


I.2 - Ruptura entre Catolicismo Romano e Cristo

     Desde a ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja Cristã marchou unida e resoluta para o concílio imperial, convocado pelo imperador romano Constantino I, o Grande, para Nicéia, Turquia (hoje, Iznik), em 325 AD. Apesar da oposição pagã e das cruéis perseguições, estes primeiros quatro séculos do cristianismo foram um período de glória e conquista, não a ferro
e fogo, mas pela pregação da palavra de Deus e fé na graça de Cristo.
     A perseguição cedeu e deu lugar à certa prosperidade. O Imperador Constantino aboliu a perseguição aos cristãos e o imperador Teodósio o Grande tornou a religião cristã oficial no Império Romano. Rapidamente esta prosperidade se transformou em pompa na Roma Imperial.
 A Ruptura
     Cedo a ruptura entre a simplicidade do Evangelho e a grandiosidade de Roma se pôs em evidência. Esta ruptura alargou-se mais e mais no decorrer dos séculos, com preceitos de, com exigências após exigências, com regulamentos eclesiásticos após regulamentos eclesiásticos, (dando a todos eles força da lei divina em virtude do seu peculiar sistema ditatorial), a Igreja tem seguido tenazmente num rumo traçado para induzir, persuadir, lisonjear, enganar e, caso tudo falhe, submeter à força os homens à declaração de Bonifácio VIII: “É necessário para a salvação que cada um se submeta ao Papa”. (Bula Unam Sanctam, 1303, citada pelo papa Pio IX em sua encíclica de 8 de dezembro de 1864).

Se Lutero vivesse hoje, protestaria ainda?
     Lutero não viveu mais para ver o dia 14 de agosto de 1572, dia em que milhares cristãos foram trucidados nas ruas de Paris pelo simples crime de serem protestantes. Não mais viveu para ver a procissão do papa Gregório XIII e de seus cardeais, com todas as igrejas de Roma, na qual entoaram o solene Te Deum em louvor do massacre daquela noite 24/08/1572 em São Bartolomeu, Paris, França.
Lutero não viveu mais em
- 1824, quando o papa Leão XII advertiu publicamente contra a leitura da Bíblia,
- 1864, quando o papa repudiou a democrática separação da Igreja do Estado,
- 1870, quando o papa proclamou a sua própria infalibilidade,
- 1908, quando o papa, por decreto especial, Ne Temere, invalidou os casamentos não   
               realizados por um sacerdote romano.
- 2015, o Papa Francisco decretou o ano do Jubileu da Misericórdia (13/032015 a
                08/12/2016), que é um incentivo às Indulgências.
 - 2016 - Hoje, quatrocentos e setenta anos após a morte de Lutero, nós nos    
                  defrontamos com o surpreendente fato de a Igreja Católica
                    Romana controlar a maior parte do nosso hemisfério ocidental;
                      nós nos vemos face à face com o fato de a América do Norte, Protestante
                        se tornar uma América Romana; nós temos que responder a pergunta:
                           Qual o caminho correto, o de Roma ou de Cristo?

A FINALDIADE DESTE FOLHETO

     O apelo da Igreja Romana, dirigida aos protestantes, no sentido de reconhecerem o Papa em Roma como cabeça da cristandade, está se tornando cada vez mais insistente, especialmente diante dos festejos da Reforma em 2017.
                O argumento da história é empregado pela Igreja Romana numa tentativa de perturbar a fé dos protestantes e convencê-los de que só a Igreja Romana é a genuína Igreja Cristã e que o Papa em Roma o verdadeiro e único representante de Jesus Cristo na terra, portanto o único guia verdadeiro da cristandade.  O presente folheto visa esclarecer os fiéis sobre verdade bíblica.
APENAS FATOS
     Os fatos da história, um por um, demonstram como o abismo entre a Igreja de Cristo e o mecanismo de Roma se alargou e alarga sempre mais. Os fatos históricos evidenciam, igualmente, que todo cristão, que se defronta hoje com o insistente apelo da Igreja de Roma, precisa fazer nítida escolha entre os dogmas de Roma engendrados por homens e as doutrinas da Bíblia, dadas por Deus. O presente estudo apresenta tão somente fatos históricos lado a lado, a palavra da Igreja Romana e da palavra de Deus.
                Algumas datas são, necessariamente, de valor aproximado. Os versículos bíblicos são da tradução de Almeida, revista e atualizada (RA), da Sociedade Bíblica do Brasil, 1961, as afirmações católicas são do Catecismo da Igreja Católicade 1993, Concílio Ecumênico de Trento, da Montfort Associação Cultural (htt://WWW.montfort, org.br/índex.php?secão=documentos&subsecão=concílios&artigos=trento&lang=bra).

1.3 - Que escolherás – palavras de homens ou a Palavra de Deus?

PURGATORIO – 593 depois de Cristo (d.C.)

Palavra de Roma

Roma inventou o Purgatório.

“Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu” (Cat. Católico, §[3]  1030, pág. 247).

“Lemos em 2 Macabeus 12.46 [Livro Apócrifo]: Eis por que ele [Judas Macabeus] mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado”. Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício Eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatificada de Deus (Cat. Católico, § 1032, pág. 248) .
Pena temporal não perdoada

Se alguém disser que a todo pecador penitente, que recebeu a graça da justificação, é de tal modo perdoada a ofensa e desfeita e abolida a obrigação à pena eterna, que não lhe fica obrigação alguma da pena temporal a pagar, seja neste mundo ou no outro, no purgatório, antes que lhe posam ser abertas as portas para o reino dos céus – seja excomungado (Concílio de Trento, Sessão VI, Cânon 30).

Se alguém disser que Deus sempre perdoa toda a pena junto com a culpa, e que a satisfação dos penitentes não é outra coisa senão a fé com a qual creem ter Cristo satisfeito por eles – seja excomungando. (Concílio de Trento, Sessão XIV, Cânon 12).

Indulgências para a pena temporal

A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel bem disposto obtém em certas condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoria o tesouro das santificações de Cristo e dos santos (Cat. Católico, § 1471, pág. 351).

A indulgência se obtém pela Igreja que, em virtude do poder de ligar e desligar que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas aos seus pecados (Cat. Católico, § 1478, pág. 352).

Já que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, apoiada nas Sagradas Letras e na antiga Tradição dos Padres, ensinou nos sagrados Concílios e recentemente também neste Concílio Ecumênico, que existe purgatório, e que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar, prescreve o santo Concílio aos bispos que façam com que os fiéis mantenham e creiam a sã doutrina sobre o purgatório (Concílio de Trento, Sessão XXV. § 983).
A Palavra de Deus

A Bíblia em parte alguma fala de Purgatório

Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (Lucas 23.43 RA).

Cristo diz estar posto um grande abismo:

E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui (do céu) para vós outros (no inferno) não podem, nem os de lá passar para nós (Lucas 16.26 RA).

Uma única oportunidade

E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hebreus 9.27 RA).

Deus não perdoa em parte, mas totalmente

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Romanos 8.1 RA).

A reconciliação por Cristo é sem purgatório

Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação (2 Coríntios 5.19 RA).

O sacrifício Perfeito de Cristo

Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados (Hebreus 10.14 RA).

Justificação gratuita

Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3.23-24 RA)

Tudo Perdoado

E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz (Colossenses 2.13-14 RA).

Tirado do castigo

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5 RA).

 Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro (1 João 2.2 RA).

Poder Temporal – 754 d.C.

Palavra de Roma

(O papa Estêvão II coroou a Pepino rei dos francos, em recompensa ao seu auxílio no estabelecimento da autoridade papal na Itália.)

Por isso, apoiados no testemunho manifesto da Sagrada Escritura e concordes com os decretos formais e evidentes, tanto dos Romanos Pontífices, nossos predecessores, como dos Concílios gerais, renovamos a definição do Concílio Ecumênico de Florença (1438 – 1445), que obriga todos os fiéis cristãos a crerem que a Santa Sé Apostólica e o Pontífice Romano têm o primado sobre todo o mundo, e que o mesmo Pontífice Romano é o sucessor de S. Pedro, o príncipe dos Apóstolos, é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a Igreja que o pai e douro de todos os cristãos; e que a ele entregou nosso Senhor Jesus Cristo todo o poder de apascentar, reger e governar a igreja universal, conforme também se lê nas atas dos Concílios Ecumênicos e nos sagrados cânones (Concílio de Trento, Sessão IV, capítulo III. § 1826);
     O Papa, Bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, “é perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis”. Com efeito, o pontífice Romano, em virtude do seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode sempre livremente exercer este seu poder (Cat. Católico, § 882, pág. 216).
Palavra de Deus

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui (João 18.36 RA).
- (Igrejas cujo programa visa o poder secular, não pertencem a Jesus Cristo.)


As decretais de Isidoro – 847 d.C.

Palavra de Roma

(As decretais são uma coleção de cartas papais de 33 papas, coligidas por um certo “Isidoro”, desde Silvestre I (314 – 335) até Gregório II (715 – 731). A edição oficial do Corpus Juris (lei canônica oficial) em 1580 ainda as declarou legítimas. O propósito das decretais foi tão só o de garantir o poder do bispo católico romano, incluindo o Bispo de Roma. A falsificação desses documentos foi provada primeiramente por Erasmo (falecido em 1536) e por Carlos Du Moulin (falecido em 1556, um canonista católico romano que aderiu à Reforma.)

    Amostra das decretais:

1º, um leigo não pode levantar acusação contra um bispo.
2º, um clérigo não pode levantar acusação contra o seu superior.
3º, a condenação de um bispo requer 72 testemunhas.
4º, um bispo não pode ser nem acusado nem condenado perante um tribunal secular.
(O papa Nicolau I (858 – 867) foi o primeiro a usar uma coroa. Ele se serviu deste documento espúrio, os Pseudo Decretais de Isidoro. Ele alegou que os Decretais contém os arquivos da Igreja Romana (carta de 22 de janeiro de 865). Ele fez uso copioso deles numa controvérsia com os bispos da França).
     No século XI as falsas Decretais chegaram a fazer parte da lei canônica da Igreja Romana e, por conseguinte, ocuparam lugar de destaque no ensino da lei até ao tempo da Reforma.

O papa Gregório VII (1073 – 1085) decretou à base dos Decretais o Direito Exclusivo de governar a Igreja.

A Igreja romana admite dúvidas sobre esses Decretais

Continua, porém, sendo verdadeiro que Isidoro tramou esses planos. Os papas foram beneficiados por estas falsificações. Embora temos que admitir a boa fé de Isidoro, ele escreveu muito distante de Roma. Não foi procedimento muito honesto, e Isidoro estava longe de ser escrupuloso. Não se deve, porém, julgar os homens do século IX em acordo com as ideias modernas de moral literária. É impossível perdoar tais falsificações, mas sua história nos permite ajuizá-las melhor e mesmo descobrir circunstâncias atenuantes em seu favor, dando ênfase às poderosas forças ativas na sociedade daquela época, vítimas, por assim dizer, por um fatalismo histórico. (Catholic Encyclopedia V, pág. 773-780)
    
Palavra de Deus

O único programa da Igreja proveio de Cristo, não do homem.

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século (Mateus 28.19-20 RA).

Cristo condena preceitos de homens prescritos à Igreja.

 E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens (Mateus 15.9 RA).


























Se foi admitido – por que não foi retificado? Para que este maquinário engendrado por mão humana? Por que não voltar à Bíblia e ao programa de Cristo dado à Igreja? 

A Doação de Constantino – 858 d. C.


Doação de Constantino (Constitutum Donatio Constantini ouConstitutum domini Constantini imperatoris, em latim) foi umdocumento apresentado na Idade Média como um édito imperial romano. Sua validade foi questionada por motivos históricos. A legitimidade do domínio da Igreja Católica sobre os territórios ainda é aceita historicamente, embora esse domínio fosse devido a outras razões. A própria Igreja Católica considera o documento sem validade.

Este documento é um escrito onde, o imperador Constantino I (306-337 d.C. teria doado ao Papa Silvestre I (314-335 d.C.) terras e prédios dentro e fora da Itália, durante o quarto consulado do monarca (315).

A Doação é um documento falso do Imperador Constantino o Grande, endereçado ao Papa Silvestre I (314 – 335), em que declara outorgar ao papa, entre outras doações, os seguintes privilégios e possessões:
1º O bispo de Roma, como sucessor de S. Pedro, deve ter a primazia sobre os 4 bispos de Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Jerusalém. Do mesmo modo sobre todos os bispos do mundo.

2º A basílica de Latrão em Roma, construída por Constantino, deveria superar todas as igrejas como sede.

3º, o bispo de Roma deve gozar os mesmos direitos honoríficos como o imperador, entre eles o direito de usar uma coroa imperial, um manto purpúreo e túnica e, em geral, todas as insígnias imperiais ou sinais de distinção.

4º, o imperador dá de presente ao bispo de Roma e aos seus sucessores o Palácio de Latrão, todas as províncias da cidade de Roma e todas as províncias, distritos e cidades da Itália e dos territórios ocidentais.

5º, o Imperador estabeleceu no oriente, nova capital que tem seu nome (Constantinopla). Mudou o seu governo para esta cidade, visto ser inconveniente um governo secular ter poderes onde Deus estabeleceu a residência da cabeça da religião cristã.

6º, o documento amaldiçoa a quantos ousam violar estas doações e assegura que o Imperador se assinou de próprio punho e as colocou sobre o túmulo de S. Pedro.

     O papa usou a “Doação” para reclamar a assistência de Carlos Magno:

“Como no tempo do agraciado Silvestre, Pontífice Romano de santa memória, pelo muito piedoso imperador Constantino o Grande e pela sua generosidade, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana de Deus foi elevada e exaltada e dotada do direito de outorgar poderes nestas regiões do ocidente, assim também nesses vossos e nossos tempos extremamente felizes queira a Santa Igreja de Deus, isto é do bem-aventurado Pedro, o Apóstolo, crescer e prosperar”. (Papa Adriano I, carta a Carlos Magno do ano de 778.)

A Igreja Católica Romana admite serem falsos! Mesmo assim, durante a Reforma, escritos católicos romanos continuaram defendendo a doação.

Muito depois de a autenticidade da Doação ter sido discutida no século XV, ainda foi mantida a sua validez pela maioria dos canonistas e juristas, que em todo o século XVI continuaram a citá-la como autêntica (Catholic Encyclopedia V “Donation of Constantine”, pág. 121).

Outros Papas usaram a “Doação” como documento autêntico

     Esta falsificação foi usada oficialmente pelo papa Leão IX em 1054 para sustentar as reivindicações do papismo no que respeita o poder secular.
     O papa Urbano II usou este documento em 10921 para fundamentar suas reivindicações no tocante à ilha de Córsica.
    Inocência III, Gegório IX e Inocêncio IC usaram também este documento da “Doação” como documento autêntico para provar as pretensões papais pelo que toca o poder secular.
     
Deus condena a mentira em toda parte

Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros (Efésios 4.25 RA).

 Deus condena a mentira na igreja

Os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim? (Jeremias 5.31 RA)

Jesus disse:

 Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus (Mateus 5.19 RA).


O   C E L I B A T O
Divórcio em massa, o maior da história, imposto ao clero por Gregório VII – 1075 d.C.

     Gregório VII declarou inválido todos os matrimônios de clérigos.
   “O nosso julgamento no que respeita matrimônios contratados por pessoas desta espécie (clero) é que devem ser quebrados”. (Primeiro Concílio de Latrão, 1123, Cânon XXI)
     Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos permanentes, normalmente são escolhidos entre os homens fiéis que vivem em celibato e pretendem manter o celibato “por causa do Reino dos céus (Mt 19.12). Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a “cuidar das coisas do Senhor”, entregam-se inteiramente a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é consagrado; aceito com coração alegro, ele anuncia de modo radiante o Reino de Deus. (Cat. Católico. § 1579, pág. 373).

- Deixando ele a sinagoga, foi para a casa de Simão. Ora, a sogra de Simão achava-se enferma, com febre muito alta; e rogaram-lhe por ela. (Lucas 4.38 RA)
      O apóstolo Pedro era homem casado, e Cristo não declarou seu matrimônio inválido.

  Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. (Marcos 10.9 RA)

- É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar. (1 Timóteo 3:2 RA)
- Que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?). (1 Timóteo 3.4-5 RA)

    O apóstolo Paulo não teve objeções contra o matrimônio da parte do clero.

Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade. (1 Timóteo 4.1-3 RA)

Dinheiro para missas – 1100 d.C.

Dinheiro – “O costume de dar ao sacerdote uma esmola em dinheiro para uma missa data desde o século VII ou VIII e se tornou costume geral no século XII. Pedindo-se maior número de missas do que um sacerdote pode rezar, este é obrigado a transferi-las a paróquias pobres, onde se fazem poucas ofertas, o a sacerdotes em missões estrangeiras”.
     O costume de aceitar estipêndios para missas é aprovado somente pela tradição, isto é, pela aprovação da Igreja nos mil e duzentos anos passados. Como intérprete divina das revelações de Cristo, esta não pode decretar lei universal alguma que contrarie à lei natural ou positivamente divina. ”  (Connay, the Question Box, pág. 271

Pedro, porém, lhe respondeu (ao Simão o mágico): O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. (Atos 8.20 RA)

     Mesmo tendo Pedro desaprovado o pecado de alcançar o dom de Deus por dinheiro, Roma o aprovou.

    Jesus disse:
-  E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição. (Marcos 7.9 RA)

 - Invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes. (Marcos 7.13 RA)

 - E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. (Mateus 15.9 RA)

     Roma admite que o costume de exigir dinheiro é um simples preceito de homens.

A Inquisição – 1184 d.C.



O próprio papa estabeleceu a inquisição em 1213, juntamente com a pena capital por heresia.

A tortura aprovada pelo papa

“É bastante curioso que a tortura não foi considerada como um modo de castigo, mas apenas como um meio para provocar a confissão da verdade. Foi autorizada primeiramente por Inocêncio IV em sua bula Ad Extirpanda de 15 de maio de 1252, que foi confirmada por Alexandre IV em 30 de novembro de 1259 e por Clemente IV em 3 de novembro de 1265”. (Catholic Enyclopedia VIII Inquisition, pág. 33).

Prisão como castigo religioso

“A prisão nem sempre foi considerada castigo no sentido próprio da palavra; foi antes tida por uma oportundide para o arrependimento, um preventivo contra a apostasia ou o contágio de outros”. (Catholic Encyclopedia VIII, Inquisição, pág. 33)

Morte aos acatólicos

A inquisição na Espanha foi estabelecida pelo papa Gregório IX (Bula Declinante iam mundo de 26 de maio de 1232). Esta instituição de infame memória foi aprovada por numerosos papas, incluindo Pio VII (1800 – 1823). Foi abolida, faz apenas um século, pela revolução espanhola, em 1820.

- Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão. (Mateus 26.52 RA)
 (Cristo não quer que sua igreja seja edificada por meio da espada.)

A verdadeira espada da igreja é a Palavra de Deus
- Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; (Efésios 6.17 RA)

 - Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. (Mateus 11.29 RA)

Onde na inquisição está a mansidão de Cristo?

O apóstolo Paulo afirma:
- Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor. (Efésios 4:1-2 RA)

Jesus disse a seus discípulos:
- Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.  Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.  Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. (Mateus 5.10-12 RA)

Indulgências 1190 d.C.


Decreto sobre as Indulgências

Tendo recebido de Cristo o poder de conferir indulgências, já nos tempos antiquíssimos usou a Igreja deste poder, que divinamente lhe fora doado (Mt 16.19; 18.18). Por isso ensina e ordena o sacro Concílio que se deve manter na Igreja o uso das Indulgências, alias muito salutar para o povo cristão, e aprovado pela autoridade dos sacros Concílios, condenando como excomungados os que afirmem serem as indulgências inúteis, bem como os que negarem à Igreja o poder de concedê-las. (Concílio de Trento, Sessão XXV, § 989)

Diferentes espécies de Indulgências

     Indulgência plenária significa a remissão de todos castigos temporais, proveniente do pecado, não sendo mais exigida expiação no purgatório.
     A indulgência parcial comuta apenas certa parte da pena. (Catholic Encyclopedia VII, Indulgences, pág. 783).

Quem pode conceder Indulgência?
    O Papa, na qualidade de suprema cabeça da Igreja na terra, pode conceder todas as espécies de indulgências, a um ou a todos aos fiéis.  Pio X (28 de agosto de 1903) permitiu aos cardeais nas suas igrejas titulares e dioceses conceder 200 dias, aos arcebispos 100 Dias, aos bispos 50 Dias (Catholic Encyclopedia VII, Indulgences, pág. 784).

A base desta doutrina

     Um elemento essencial nas indulgências é o aplicar-se alguém a satisfação efetuada por outros. Além (da satisfação de Cristo), há as obras satisfatórias da Santa Virgem Maria, não diminuídas por pena devida a pecado seu, e as virtudes, penitências e sofrimentos dos santos, que em muito superam qualquer pena temporal em que estes servos de Deus possam ter incorrido. Estas são acrescentadas ao tesouro da Igreja como depósito secundário. (Catholic Encyclopedia, Indulgences, pág. 784).

     A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da penitência.

     Que é a indulgência?
     A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel bem-disposto obtém em certas condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos.
    A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados. As indulgências podem aplicar-se aos vivos e aos defuntos.

 Cristo expiou todos os pecados

 Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (João 1.29 RA)

 O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 João 1.7 RA)

Apenas Deus pode perdoar pecados

- E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? (Lucas 5.21 RA)

- Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. (1 João 1.9 RA)

Nenhuma pessoa humana pode expiar os pecados de outrem

Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre.), (Salmos 49.7-8 RA)









Transubstanciação – 1215 d.C.


Pão e vinho são transformados em corpo e sangue de Jesus

“Por ter Cristo, nosso Redentor, dito que aquilo que oferecia sob a espécie de pão era verdadeiramente o seu Corpo, sempre se teve na Igreja esta convicção, que o santo Concílio declara novamente: pela consagração do pão e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue. Esta conversão foi com muito acerto e propriedade chamada pela Igreja Católica detransubstanciação. (Concílio de Trento, Sessão XIII, Cânon IV, # 877; Cat. Católico, § 1376, pág. 330).

Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque re-presenta (torna presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:
  
E como neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, se encerra e é sacrificado incruentamente aquele mesmo Cristo que uma só vez cruentamente no altar da cruz se ofereceu a si mesmos (Hb 9.27), ensina o santo Concílio que este sacrifício é verdadeiramente propiciatório, e que, se com coração sincero e fé verdadeira, com temor e reverência, contritos e penitentes nos achegarmos a Deus, conseguiremos misericórdia e acharemos graça no auxílio oportuno (Hb 14.16). Porquanto, aplacado o Senhor com a oblação dele e concedendo o bom da graça e da penitência, perdoa os maiores delitos e pecados... Por isso, com razão se oferece, consoante a Tradição apostólica, este sacrifício incruento, não só pelos pecados, pelas penas, pelas satisfações e por outras necessidades dos fiéis vivos, mas também pelo que morreram em Cristo, e que estão plenamente purificados. (Concílio de Trento, Sessão XXI, capítulo 2; § 940).

Se alguém disser que o santo sacrifício da Missa é uma blasfêmia contra o santíssimo sacrifício que Cristo realizou na Cruz, ou que aquele derroga este – seja excomungando. (Concílio de Trento, Sessão XII, cânon 4; § 951)

 A importância desta invenção aparentemente inofensiva tornou-se evidente, onze anos mais tarde, pela introdução da ideia de “um novo sacrifício incruento e a adoração da hóstia.

Pão e vinho, corpo e sangue

- Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; (1 Coríntios 11.28 RA)

- Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? (1 Coríntios 10.16 RA)

Na Santa Ceia pão e vinho não se transformam. A Escritura afirma expressamente que comemos pão e bebemos vinho, e o corpo e sangue estão presentes: em, com e sob o pão e o vinho. É um comer sacramental.



Adoração da Hóstia – 1226 d.C.

Origem desta praxe

O costume de expor a hóstia para fins de adoração foi iniciado pelo bispo Pierre de Corbie (1185 – 1195), em comemoração da vitória de Luiz VII sobre os albiguenses. Esta exposição atraiu grandes multidões que prosseguiram na adoração dia e noite, adoração essa subsequentemente aprovada pelo próprio papa.

Culto e veneração que se devem tributar à Eucaristia

Não há dúvida alguma de que todos os fiéis de Cristo, segundo o costume que sempre vigorou na Igreja, devem tributar a este santíssimo sacramento a veneração e o culto de adoração (latria), que só se deve a Deus. Nem se deve adorá-lo menos pelo fato de ter sido instituído por Cristo Senhor nosso como alimento. Pois cremos estar nele presente aquele mesmo, do qual o Eterno Pai, ao introduzi-lo no mundo, disse: Adorem-no todos os anjos de Deus (Hb 1.6; Sl 96.7) e os Magos, prostrando-se, o adoraram Mt 2.11). (Concílio de Trento Sessão XIII, capítulo 5, § 878)

O culto da Eucaristia. Na liturgia da missa, exprimimos a nossa fé na presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras coisas, dobrando os joelhos, ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. “A Igreja católica professou e professa este culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia não somente durante a Missa, mas também fora da celebração dela, conservando com o máximo cuidado as hóstias consagradas, expondo-as aos fiéis para que as venerem com solenidade, levando-as em procissão. (Mysterium Fidei, 56) ]

Associações de adoração perpétua seguiram depois de 1592, quando se lhes concederam indulgências especiais. Uma das mais importantes é a organização (estabelecida em Roma em 1882) da “Adoração perpétua das nações católicas”, representada na Cidade Eterna.

Jesus disse:

- Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. (João 4.24 RA)

- Não haja no meio de ti deus alheio, nem te prostres ante deus estranho. (Salmos 81.9 RA)

Não há razão para fazer deste sacramento um deus estranho.




A Bíblia – 1229 d.C.


As Escrituras não bastam – a tradição deve ser acrescentada

“A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas. (Cat. Católico, §36, pág.26)

A Revelação

A mesma Santa Igreja crê e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas; pois as perfeições invisíveis tornaram-se visíveis depois da criação do mundo, pelo conhecimento que as suas obras nos dão dele (Rm 1.20); mas que aprouve à sua misericórdia e bondade revelar-se a si e os eternos decretos da sua vontade ao genro humano por outra via, e esta sobrenatural, conforme testemunha o Apóstolo. (Hb 1.1)
   Esta revelação sobrenatural, porém, segundo a doutrina da Igreja universal, definida pelo Concílio Tridentino, está contida “nos livros e nas tradições não escritas que, recebidas pelos Apóstolos da boca do próprio Cristo, ou que transmitidas como que mão em mão pelos próprios Apóstolos sob a inspiração do Espírito Santo, chegaram até nós” (Concílio Tridentino). Estes livros do Antigo e do Novo Testamento, inteiros e com todas as suas partes, conforme vem enumerados no decreto do mesmo Concílio e se encontram na antiga edição latina da Vulgata, devem ser aceitos como sagrados e canônicos... a ninguém é permitido interpretar a mesma Sagrada Escritura contrariamente a este sentido ou também contra o consenso unânime dos Santos Padres. (Concílio de Trento Sessão III, capítulo II, § 1785, 1787, 1788).

O concílio de Toledo (1229) colocou a Bíblia noIndex Librorum prohibitorum, lista de livros cuja leitura não é permitida aos católicos.

Condenação das Sociedades Bíblicas

“Entre as principais maquinações com que, em nossos tempos, acatólicos de diferentes denominações (isto é, evangélicos) procuram ludibriar fiéis católicos e dissuadi-los da santidade de sua fé, ocupam lugar de destaque as Sociedades Bíblicas. A estas sociedades, estabelecidas primeiramente na Inglaterra e desde então espalhadas por toda a parte, vemos agora em ordem de batalha, tramando a traduzir os livros das divinas Escrituras para todas as línguas faladas, a fornecer inúmeros exemplares, a distribuí-los indiscriminadamente entre os cristãos e gentios e a induzir cada indivíduo a lê-las sem orientação alguma.” (Papa Gregório XVI, Encíclica Inter Praecipuas, 08 de maior de 1844).

“Elas (Bíblia e Tradição) estão entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois promanando ambas da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim. “ (Dei Verbum) Tanto uma como a outra tornam presente o fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer com os seus “todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20). (Cat. Católico, § 80; pág. 35)

A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo.
     Quanto à Sagrada Tradição, ela “transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito santo aos apóstolos para que, sob a luz do Espírito da verdade, eles por sua pregação fielmente a conservem, exponham e difundam.
   Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. (Dei Verbum, 9)

(Hoje, devido a difusão da Bíblia pelos evangélicos, os católicos também se esforçam na propagação da Escritura e lançam Bíblias com notas ao pé da página, firmando sua posição doutrinária).

Somente a Escritura

- Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. (João 5.39 RA)

 - Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.15-17 RA)

 Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. (Atos 17.11 RA)

(Muitos acusam os luteranos dizendo: Vocês têm as vossas Confissões! É verdade, mas elas não se equiparam a Bíblia. A Bíblia é a única fonte, as Confissões são norma normada, isto é, enquanto de acordo com a Bíblia.)

O Papa reivindica a supremacia política – 1303 d.C.

O papa Bonifácio VIII (1235 – 1303) emitiu o documento oficial com respeito aos objetivos políticos do papismo com sua bula Unam Sanctum (18 de novembro de 1302), hoje boa lei canônica:
   1º  É necessário para a salvação que todos os homens se submetam ao Papa.
   2º A espada material é desembainhada a favor da Igreja, a espiritual pela Igreja.
   3º A supremacia do Papa, também em assuntos temporais, deve ser inculcada.
   4º O poder secular está subordinado ao eclesiástico como poder superior.

O Papa pretende ainda hoje esta reivindicação?

Papa, Bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, “é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis. Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude do seu múnus (função) de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode sempre livremente exercer este seu poder. (Lumen Gentium, 22; Cat. Católico, § 882. Pág. 216).

Houve quem perguntasse se à Igreja cabe a autoridade não só para condenar um delinquente a penas físicas, mas também para ela mesma as infligir. Quanto a isto, basta lembrar que o direito de a Igreja apelar para a ajuda do poder civil na execução de suas sentenças foi expressamente defendido por Bonifácio VIII na bula Unam Sanctum. A questão é mais de importância teórica que prática, visto terem os poderes civis de há muito deixando de reconhecer a sua obrigação de inculcar as decisões de qualquer autoridade eclesiástica. O suposto estado de coisas tão só existiria, se toda uma nação fosse de espírito inteiramente católico e a força das decisões papais fossem por todos reconhecidos como caso de consciência”. (Catholic Encyclopedia XII, Pope, pág. 266)  

Um só Mestre

- Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. (Mateus 23.10 RA)

Somente uma ordem para a Igreja

- E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Marcos 16.15 RA)

 Igreja e Estado

 Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (Mateus 22.21 RA)

A respeito do Reino de Deus

 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. (João 18.36 RA)


Negando aos leigos o cálice da Comunhão – 1415 d.C.


Somente o pão no sacramento

Leigos e aqueles clérigos que não oficiam, ... recebem o sacramento sob uma espécie... , tão pouco se porá de qualquer maneira em dúvida, sem prejuízo da fé, que a Comunhão sob uma das espécies lhes basta para a salvação. (Concílio de Trento, Sessão XXI, Cânon 1)

Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a comunhão somente sob a espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia. Por motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais habitual no rito latino. (Cat. Católico, § 1390; pág. 333)

A Instituição da Santa Ceia é um testamento de Cristo. Ninguém tem o direito de alterar um testamento, por isso deve ser dada sob os dois elementos: pão e vinho.

1º Tomai, comei; isto é o meu corpo.
2º Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.

Mt 26.26-29; Mc 14.22-26; Lc 22.14-20; 1 Co 11.23-26.

Como os sacerdotes católicos se atrevem a negar aos leigos o cálice, transgredindo a ordem de Cristo?


A tradição igualada à Bíblia em autoridade – 1545 d.C.


A Sagrada Escritura não é a única fonte teológica de revelação dada por Deus à sua Igreja. Lado a lado com as Escrituras corre a tradição. Este ponto de vista tornou-se parte da tradição do Concílio de Trento. (Concílio de Trento, 1545 – 1563)

A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam através do Espírito Santo. Com efeito, a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva.
   Dela é preciso distinguir as “tradições” teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da grande Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja.
   O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo (Dei Verbum), isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. (Cat. Católico, § 83, 85; pág. 35, 36)

Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, (2 Pedro 1.16 RA)

 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. (1 Coríntios 2.2 RA)

 A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. (1 Coríntios 2.4-5 RA)

Cristo – não a tradição

 Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. (Colossenses 2.8-10 RA)

A Bíblia é suficiente. A tradição católica é desnecessária.

Justificação – 1545 d. C.


Opinião católica

   Se alguém disser que a fé que justifica não é outra coisa, senão uma confiança na divina misericórdia, que perdoa os pecados por causa de Cristo ou que é só por esta confiança que somos justificados — seja excomungado. (Concílio de Trento, Sessão VI, Cânon 12, # 822)   

Todos os erros de Martinho Lutero se resumem no ponto – Justificação – donde resolveu a questão da eficácia dos Sacramentos, a autoridade dos sacerdotes, o purgatório, o sacrifício da Missa e todos os outros recursos para obter remissão dos pecados. É necessário, por isso, pelo contrário, que aquele que quer estabelecer o corpo da doutrina católica, destronize a heresia da justificação somente pela fé. (Giovani Del Monte, pouco antes de se tornar Papa Júlio III, no Concílio de Trento.) 

O sacramento do Perdão

   Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de converter-se a de recobrar a graça da justificação. Os Padres d Igreja apresentam este sacramento como “a segunda tábua (de salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça”.
... A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, um nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação. (Cat. Católico, § 1446 e 1448; pág. 345) 

Se alguém disser que a Penitência na Igreja Católica não é verdadeiro e próprio sacramento instituído por Jesus Cristo Nosso Senhor para reconciliar os fiéis com o mesmo Deus, todas as vezes que depois do Batismo caírem em pecados – seja excomungado (Concílio de Trento, Sessão XIV, Cânon 1, § 911)                                                
                                                                               

A Bíblia afirma:

- Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. (Romanos 3.28 RA)

- Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. (Romanos 5.1 RA)

- De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. (Gálatas 3.24 RA)

- Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2.8-9 RA)
     (Esta justificação somente pela fé a Igreja católica destroniza.)

- E ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. (Filipenses 3.9 RA)

- Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. (João 6.47 RA)

Observação: Lemos na Declaração conjunto Católica Romana – Evangélica Luterana. Porto Alegre, 1998. Preâmbulo, 1997: § 7). Assim como os próprios diálogos, também está a DC se baseia na convicção de que uma superação de questões controversas e de condenações doutrinárias até agora vigentes não minimiza as divisões e condenações nem desautoriza o passado da própria Igreja. Repousa, porém, sobre a convicção de que no decorrer da história nossas igrejas chegam a novas percepções e de que ocorrem desdobramentos que não só lhes permitem, mas ao mesmo tempo também exigem que as questões e condenações divisórias sejam examinadas e vistas a uma nova luz.
     Nossa igreja (IELB, com suas igrejas irmãs no mundo não assinou esta DC. Não podemos abrir mão das verdades bíblicas e de nosas confissões.


Escapulários

Que são escapulários?

Uma prática oriunda do século XVI, após a Reforma, de levar consigo tiras de pano por cima ou por baixo das vestes para obter indulgências oferecidas pelos grupos que abençoaram estes escapulários. O Escapulário de Nossa Senhora do Monte Carmelo é o mais conhecido, se bem que haja mais que uma dúzia de outros dessa espécie.

O Poder dos Escapulários

Todo aquele, embora agora seja pecador, que traz a medalha da mãe de Deus durante toda a sua vida como seu fiel servo, não se fiando presunçosamente no escapulário como amuleto milagroso, antes confiante fielmente no poder e na bondade de Maria, pode esperar firmemente que Maria, por sua poderosa e maternal intercessão, procurará em favor dele todas as graças necessárias para a verdadeira conversão e a perseverança no bem. É este o sentido e a importância do primeiro privilégio do Escapulário Carmelite, que costuma ser expresso com as palavras: “Todo aquele que trouxer o escapulário até a morte, será preservado do inferno.”
   O segundo privilégio do escapulário pode ser definido em poucas palavras como significando que a assistência maternal de Maria aos seus servos na Confraria do Escapulário continuará depois da morte e terá o seu efeito especialmente nos sábados, dia da consagração em sua honra”. (Catholic Encyclopedia, XIII “Scapular”, pág. 510)

Medalhas escapulários

Desde 16 de dezembro de 910 é permitido usar uma única medalha de metal em lugar de um ou mais pequenos escapulários” (Catholic. Encyclopedia XIII “Scapulár”, pág. 510).

Escapulários tem virtude apenas quando usados

Caso alguém deixasse de usar o escapulário por muito tempo (mesmo por causa de indiferentismo), não obtém nenhuma das indulgências durante esse período; retomando, porém, simplesmente o escapulário, participa novamente das indulgências privilégios, etc. (Catholic Encyclopedia XIII, “Scapular”, pág. 510)

Deus cuida de nós e não a virgem Maria

- Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. (1 Pedro 5.6-7 RA)


Um só Advogado

- Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; (1 João 2.1 RA)

Um só Mediador

- Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, (1 Timóteo 2.5 RA)


Imaculada conceição de Maria – 1854 d.C.


O papa Pio IX, pela Bula Ineffabilis Deus, em 08 de dezembro de 1854, proclamou e definiu o novo dogma da imaculada Conceição da Virgem Maria: “No primeiro momento de sua conceição, por um privilégio singular uma graça concedida por Deus, tendo em vista a raça humana, a Virgem Maria foi conservada isenta de toda mancha do pecado original, e viveu uma vida completamente livre de pecado”.

Pio IX (Encíclica Lux Veritatis, Natal de 1931) decretou que cada bom católico deve crer na Virgem Maria como medianeira e intercessora perante Deus. Ao mesmo tempo o papa apelou aos protestantes para se associarem à adoração de Maria.

A Igreja Católica Romana admite que a Bíblia não fala sobre isso

Não se pode encontrar nenhuma prova direta ou categórica e rigorosa para esta doutrina (Catholic Encyclopedia VII, Immaculate Conception, pág. 675) 

Todas as pessoas nascem com o pecado original

Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque. (Eclesiastes 7.20 RA)

 Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. (Romanos 3.23 RA)

 Quando fizeste coisas terríveis, que não esperávamos, desceste, e os montes tremeram à tua presença. (Isaías 64.3 RA)

Maria confessa ser Jesus o seu Salvador

 Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador. (Lucas 1.46-47 RA)


Syllabus de Erros – 1864 d.C.

Esta encíclica o papa Pio IX refutou oitenta erros sérios, incluindo a liberdade de imprensa, protestantismo, comunismo, sociedades bíblicas, casamento civil, livre investigação científica, separação da Igreja e do Estado, escolas públicas e tolerância religiosa. Concluindo, condenou a exigência de o “pontífice romano poder e dever conformar-te e estar de acordo com o progresso, o liberalismo e a civilização, ultimamente introduzidos”.

   Exemplos de erros condenados peloSyllabus:

15º Cada homem é livre para aceitar e professar a religião que, guiado pela luz da razão, considerar a verdadeira.
   A Igreja Romana condena esse fundamental direito americano.

55º A Igreja devia estar separada do Estado e o Estado da Igreja.
  A Igreja Romana condena esse fundamental princípio.

Qual a atitude Católica Romana para com a liberdade?

   No tocante à lei de Deus, ninguém tem o direito de aceitar qualquer religião a não ser a católica, ou de ser membro de qualquer igreja senão da Igreja Católica, ou de exercer qualquer forma de culto divino a não ser aquele que é ordenado ou sancionado pela Igreja Católica. (Connell, opus cit. Pág. 4.

A Igreja não usa a força para converter alguém

- Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos. (Zacarias 4.6 RA)
- E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8.32 RA)

Igreja e Estado separados

- Jesus, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (Mateus 22.21 RA)


A Infalibilidade do Papa – 1870 d. C.

O concílio Vaticano I definiu, em 18 de julho de 1870, sob o Papa Pio IX, como dogmadivinamente revelado que o Pontífice Romano, falando ex-cátedra, é munido daquela infalibilidade de que o divino Redentor deseja ver dotada a sua Igreja ao definir doutrinas de fé e de moral. O Papa, ensinando ex-cátedra, é um independente órgão da infalibilidade. “As condições exigidas para ensinar ex-cátedra são mencionadas no decreto vaticano”:
a)       O Pontífice deve ensinar em suas
atribuições públicas e oficiais de pastor e doutor de todos os cristãos, não apenas em suas atribuições particulares de teólogo, pregador ou locutor, nem em suas atribuições de príncipe secular ou de mero ordinário da Diocese de Roma. Deve estar claro que fale como cabeça espiritual da Igreja Universal.
b)      Somente quando ensina nestas
atribuições alguma doutrina de fé ou de moral, é infalível.
c)       Outrossim, deve ser bastante
evidente que pretende ensinar com toda a plenitude e finalidade de sua Suprema Autoridade Apostólica, em outras palavras, que ele deseja determinar um ponto de doutrina dum modo absolutamente definitivo e irrevogável ou defini-lo no sentido técnico.
d)      Finalmente, para que seja uma
decisão ex-cátedra, deve estar claro que o Papa vise obrigar toda a Igreja, exigir de todos os fiéis o assentimento interno ao seu ensino, sob pena de incorrer em naufrágio espiritual, de acordo com a expressão usada por Pio IX ao definir a Imaculada Conceição da bendita Virgem. (Catholic Encyclopedia VII, Infalility, pág. 796; Wikipédia, a encuclopédia livre)

Cânones:
1837. Foi, portanto, este Dom da verdade e da fé, que nunca falece, concedido divinamente a Pedro e aos seus sucessores nesta cátedra, a fim de que cumprissem seu sublime encargo para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado por eles do venenoso engodo do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina celeste, para que assim, removida toda ocasião de cisma, e apoiada no seu fundamento, se conservasse unida a Igreja Universal, firme e inexpugnável contra as portas do inferno.
1838. Mas, como nestes nossos tempos, em que mais do que nunca se precisa da salutífera eficácia do ministério apostólico, muitos há que combatem esta autoridade, julgamos absolutamente necessário afirmar solenemente esta prerrogativa que o Filho Unigênito de Deus dignou-se ajuntar ao supremo ofício pastoral.
1839. Por isso Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis.
1840. [Cânon]: Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita, - seja excomungado.

Sinal do Anticristo

Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus. (2 Ts 2.3-4 RA)


Decreto invalidando todos os casamentos mistos não realizados por um sacerdote romano – 1908 d.C.

Estes casamentos eram válidos antes de 19 de abril de 1908

Um casamento entre um católico e um protestante batizado... ou entre dois católicos... celebrado por um ministro ou um juiz de paz, era válido (Conway, “The Question Box, The Paulist Fathers, N.Y., 2. Ed. 1929, pág. 337).

O decreto Ne Temere de Pio IX que entrou em vigor no domingo de Páscoa, 19 de abril de 1908, declara: Só aqueles casamentos são válidos que são contratados perante o sacerdote paroquial ou o ordinário local ou o sacerdote encarregado por um ou outro destes dois e, pelo menos, duas testemunhas (Cânon 1904, Conway, op. pág. 337-838)

Recentemente há um abrandamento neste sentido. Eis as recentes declarações no Catecismo Católico:
- A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculo insuperável para o casamento, desde que consigam colocar em comum o que cada um deles recebeu na sua comunidade.
- Conforme o direito em vigor na Igreja Latina, um casamento misto exige, para sua legalidade, a permissão expressa da autoridade eclesiástica. Em caso de disparidade de culto, requer-se uma dispensa expressa do impedimento para a validade do casamento.
- Em muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs envolvidas conseguiram criar uma pastoral comum para os casamentos mistos.
- Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados, como sacramento especial, aos deveres e à dignidade do seu estado. (Cat. Católico # 1633 – 1638; pág. 385, 396)

O infeliz decreto Ne Temere foi baixado por um homem para escravizar o povo; não por Cristo, que os libertou de semelhantes regulamentos cruéis.

- Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. (Gálatas 5.1 RA)




PS – Não podíamos deixar de incluir aqui o Ano Jubilar de Misericórdia da Igreja Católica.
Jubileu da Misericórdia

     O Papa decretou no dia 13 de março de 2015 o Jubileu da Misericórdia, que oficialmente estende-se de 08 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016, chamado também de Ano Santo ou Ano Jubilar.
     O Papa, que estabeleceu tal ano, foi Sisto IV em 1475. Este ano Jubilar pode ser repetido de 25 em 25 anos, ou por ocasiões e momentos bem especiais. Ele se inspira no Ano Sabático judaico (Levíticos 25.8). O Ano Jubilar tem a duração de um ano e consiste, afirma o Papa, “no perdão dos pecados dos fiéis que cumprem certas disposições eclesiais estabelecidas pelo Vaticano (Indulgências). É o ano do perdão e da reconciliação”.
     Como se obtém este perdão? É um verdadeiro momento de encontro com a “misericórdia de Deus”. Como? “Espero que a indulgência jubilar chegue a cada um”, disse o Papa Francisco.
     Para viver e obter a “indulgência” os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa”, aberta em cada Catedral importante. E os doentes? O Papa respondeu: É preciso “viver com fé e esperança jubilar este momento... recebendo a comunhão ou participando na santa missa... que será para eles o modo de obter a indulgência jubilar”, afirmou o Papa.
     A pergunta é: O que uma indulgência? O Catecismo Católico responde: “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devido aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, bem disposto, obtém em certas condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos”. 
     “A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados”. As indulgências podem aplicar-se aos vivos e aos defuntos.
     As penas do pecado – Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos torna incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exigem purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado purgatório. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado... (Catecismo da Igreja Católica. Editora Vozes. 1993; X Indulgências, § 1471, 1472; pág. 351)
     Interessante que o Papa Francisco, com toda sua aparência cordial e amável, que fala tanto da “misericórdia de Deus”, que abre a porta na Catedral no Vaticano, bate com o martelo três vezes nela e diz em latim: “Abram-me as portas da justiça, entrando por elas confessarei ao Senhor”. Afirma que “assim a Igreja pode tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia”. E sublinha: “Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus e que a Igreja é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém. As suas portas estão escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o pecado, maior deve ser o amor que a Igreja manifesta aos que se concertem”. No entanto, nega o “somente pela misericórdia”.
    Um católico piedoso reagiu e escreveu: “Espero que neste jubileu, os padres se disponham a atender confissões! Que não inventem desculpas, cursos, projetos, compromissos, para atender só na Semana Santa...”
    Apesar de todas as palavras bonitas sobre “misericórdia” permanece a doutrina católica das obras, das indulgências, do purgatório e roubam, com isso, a certeza da salvação “somente por graça”. Que triste! Desconhecem a “justificação objetiva e subjetiva”. De que Cristo ao exclamar na cruz: Está consumado, pagou a culpa de toda a humanidade. E que ao Deus Pai ressuscitar Jesus no dia da Páscoa, declarou que aceitou o sacrifício de seu filho e absolveu toda a humanidade de seus pecados (João 3.26). Nada mais precisa ser feito. O convite está aí: “Vinde que tudo está preparado”. Os que, na verdade, rejeitam este convite, perdem a mesa posta, por sua própria culta (Mateus 22.1-14). Mas aí, também, dos que distorcem e obscurecem este maravilhoso convite. Não há dúvida de que o Papa, por mais cordial e amável que se apresente, “é o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2 Tessalonicenses 2.4). Apesar dos muitos anticristos que se levantam no mundo (1 João 2.18) o Papa é o que fere com toda sua aparente piedade o ponto central da igreja, fere a Cristo nos olhos, negando o “somente pela graça”.  “Não vos enganeis, de Deus não se zomba” (Gálatas 6.7).
    O que consola, é que muitos católicos – na hora da morte – jogam tudo isso fora e se apegam unicamente à graça. É o que tenho presenciado muitas vezes nos hospitais.
      Lutero e a Igrja Católica -  Aqui precisamos relembrar uma palavra de Lutero sobre a Igreja Católica do seu tempo. Lutero estava convencido que a verdadeira Igreja Cristã ainda existia mesmo nos dias da mais pavorosa decadência na igreja medieval. Ele escreveu: Com seu misericordioso poder, como no tempo de Elias, Deus preservou sua igreja. Pois por aquilo que ainda permanecia no papado, o Espírito Santo pôde trabalhar, gerar e manter a fé. Vejam, ali ainda havia: 1. O Santo Batismo, 2. A leitura da Palavra de Deus, 3. O perdão dos pecados pela absolvição, 4. O santo sacramento do altar, mesmo privado de uma das espécies. 5. O sacerdócio para consolar com o crucifixo, lembrando a paixão de Cristo. 6. A oração, o Credo e o Pai Nosso (WA, XXXVIII, p.221).

Conclusão. Muitas vezes ouvimos as afirmações: Isto são coisas do passado. Muitas coisas já mudadas. Quais? Alguns costumes mudaram. Um detalhe visível que mudou é a questão da Bíblia. Diante da grande difusão da Bíblia, a Igreja Católica passou a incentivar a leitura da Bíblia, para o que recomendam as suas traduções. Na Declaração Conjunta Católica Romana – Evangélica Luterana FLM, 1993, consta a resolução “de não invocarem mais as condenações mútuas”. O que significa isso? Mudaram a doutrina? Não.
                                                                                  São Leopoldo, março de 2012
                                                                                           Horst R. Kuchenbecker          




[1] A Vereinigte Evangelisch-lutherische Kirche (VELK), tem os seguintes temas, adotados pela FLM: 2008: Abertura; 2009: Confissão; 2010: Formação; 2011: Liberdade; 2012: Música; 2013: Tolerância; 2014: Política; 2015: Bíblia; 2016: O mundo. Confira e acompanhe estes temas na seguinte página da internet: www.luther2017.de – A Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche (SELK - nossa Igreja irmã na Alemanha) tem os seguintes temas: 2009: 95 Teses; 2010: A Confissão de Pecados; 2011: O Batismo; 2012: A Santa Ceia; 2013: A Comunidade; 2014: A Igreja; 2015: Tradições; 2016: A vida cristã; 2017: Reforma. Cada tema está dividido em 10 subtemas. Confira na seguinte página da internet: www.blickpunkt-2017.de.  
[2] RUPTURA, do Rev. Rodolfo Hasse, Livreto editado pela Editora Concórdia, Porto Alegre, 1948, aqui ampliado.
[3] Indica o Parágrafo no Catecismo Católico.

II - Precursores da Reforma

      Não podemos deixar de mencionar de forma breve os precursores da Reforma.                                                                                                                            
     A luta em prol da verdade começou cedo. Jesus advertiu seus apóstolos ao dizer: “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos, sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios”. (Mt 10.16-18)
     Os apóstolos, com exceção do apóstolo João, experimentaram todos  essa  verdade e sofreram morte de mártir. Eles advertiram as congregações: “Assim como no meio do povo surgirão falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si “mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1). “Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora” (1 Jo 4.1). A história da igreja nos mostra o quanto isso foi e é verdade.
     Vejamos alguns exemplos. Atanásio (296-373), chamado também de o pai da ortodoxia. DepoisAgostinho (354-430), cuja literatura ajudou muito a Lutero para encontrar a correta interpretação da Escritura.
     Na história do cristianismo em nenhuma época faltaram mártires. Uma das perseguições mais cruentas foi a do imperador romano Diocleciano (245-313). Sua perseguição durou de 284-305. Ele ordenou que todos os pastores e diretorias das Comunidades fossem mortos e todas as Bíblias queimadas. Muitos cristãos enterraram seus manuscritos dos evangelhos e das epístolas. O que se tornou, mais tarde, uma grande bênção para a igreja.
      Inácio de Antioquia sofreu o martírio sob o imperador Trajano (198-117). Ele foi lançado às feras no Coliseu em Roma. A mesma sorte tiveram muitos pais apostólicos. Policarpo (60-156), Papias (150), Hermes (140) e outros.
     Com o imperador Constantino o grande (274-337) a situação mudou. As perseguições foram abolidas. O rei instituiu a liberdade religiosa e decretou depois a religião cristã como oficial do império.
     Então Satanás mudou de estratégia. A igreja enriqueceu. Seus líderes tornaram-se cobiçosos e vaidosos. Surgiram disputas doutrinárias. Grande foi a luta de Agostinho pela verdade. E não demorou, com o surgimento do papado em Roma, que erros doutrinários criaram raízes na igreja. Começaram as perseguições contra os que não se submetiam ao papal em Roma. 
     Assim Pedro Waldus (1170) de Lion. Ele viu que a cristandade se havia desviada do caminho reto da salvação. Começou a pregar o evangelho. Mandou traduzir os quatro evangelhos para a língua francesa. Teve milhares de seguidores, chamados de valdenses. Ele foi excomungando pelo Papa e seus seguidores perseguidos. Faleceu em 1217.
     João Wiclif  (132 –1384) foi doutor e professor de Teologia, docente na Universidade de Oxford. Condenou com veemência o comercio das indulgências e a veneração de relíquias. Traduziu a Bíblia para a língua inglesa. Foi acusado de herege. Devido a sua habilidade dialética conseguiu se defender e foi absolvido. Mas o ódio contra ele não cessou nem após sua morte. O concílio de Constança condenou sua doutrina. Seus restos mortais exumados e queimados.
     João Hus (1368-1416) tornou-se sacerdote em 1400 e reitor da Universidade em Praga. Chegou ao conhecimento da verdade pelas pregações de Wiclif. Levantou sua voz contra os erros de Roma. Foi excomungado e as portas de sua igreja lacradas. Ele foi convocado para o concílio de Constança para ali ser julgado. Recebeu o salvo- conduta do imperador Siegesmundo, confirmado pelo papa João XXIII. Quando chegou a Constança foi imediatamente preso. Diante do Concílio defendeu sua causa de forma clara e firme. No dia 06/07/1415 foi condenado à morte na fogueira. 
Jerônimo de Savanarola (1452-1488) Monge dominicano. Ele adquiriu seus conhecimentos estudando a Bíblia e os escritos de Agostinho. Tornou-se um orador eloqüente e passional de arrependimento em Florença. Com isso atraiu sobre si a ira do papa. Não poupou o papa em suas pregações. O papa tentou dissuadi-lo de suas pregações por reforma. Não conseguindo seu intento, o papa o amaldiçoou. Ele foi condenado pela justiça secular à morte na fogueira. Morreu pela mão do carrasco no dia 23 de maior de 1498.                                                                                                                                                                                                           
                                                (Fontes: Encyclopedia Luterana, 1954.
                                                GUSTAVO JUST, Deus despertou Lutero.


III – As  95 Teses

     Na preparação dos 500 Anos da Reforma estão surgindo muitos estudos e conferências a respeito das 95 Teses.. Cada qual procura um ângulo novo para ver e interpretar Lutero. A tendência de interpretar as teses conforme o desejo pessoal de cada um é grande. A produção literária, em nossos dias, o confirma.
     Outro fator, em nossos dias de ecumenismo, há uma forte tendência de interpretar as 95 Teses de Lutero conforme o espírito ecumênico ou confessional de nossos dias.
      Diante disso, precisamos lembrar que Lutero foi professor e pastor. As teses brotaram de sua alma pastoral, pelo cuidado de seu rebanho que estava sendo desviado da verdade. São, portanto, teses profundamente pastorais como já o demonstra a primeira tese: “Dizendo nosso Senhor Jesus Cristo: Arrependei-vos, etc.
[1], certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento”. Neste espírito as teses também terminam: 94ª e 95ª: “Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno; - E desta maneira mais esperem entrar no Reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessa de paz infundadas”.
     O verdadeiro chamado a Cristo sempre inicia com o chamado ao arrependimento e termina com o convite para confiar em Cristo, em verdadeira fé, sob a cruz. Isto é verdadeiro ecumenismo.

3.1 - Preliminares
     As preleções de Lutero sobre os Salmos e a carta aos Romanos nos anos entre 1513 a 1516, nos levam a concluir que os conhecimentos teológicos de Lutero já estavam maduros. Os ensinamentos essenciais da Escritura estavam claros em sua alma e mente, como: A corrupção da humanidade: Pecado Original; a morte vicária de Cristo por toda a humanidade (justificação objetiva): a justificação do pecador pela fé na graça de Cristo (justificação subjetiva); o amor e a vida em santificação como frutos da fé, a luta pela vida santificada sob a cruz.
     O segundo passo de Lutero foi destronar, do âmbito da religião cristã, a Aristóteles e Platão, com toda sua teologia pagã, Com a palavra de Deus, a espada de dois gumes, Lei e Evangelho, Lutero triturou o humanismo daquele tempo. As teses dessa discussão foram impressas e distribuídas em 04/09/1517. Naquele tempo, Christoph Scheurl escreveu: “Uma grande mudança está à vista na teologia. Em breve será possível ser um teólogo sem Aristóteles e Platão”. Melanchton, em sua gramática grega de 1518, quando ele ainda não era amigo de Lutero, tachou Lutero de superficial. A universidade de Erfurt, Leipzig e mesmo os colegas de Lutero se incomodaram com os escritos de Lutero contra Aristóteles e Platão, mas Karlstadt e Armsdorf o apoiaram. As lutas e disputas, naqueles dias foram intensas.
      É preciso lembrar que desde 1514, Lutero não era somente monge e professor universitário, mas também pregador em Wittenberg, na Igreja da cidade. Sua tarefa era mostrar às pessoas o verdadeiro caminho a Deus e denunciar os falsos caminhos, entre eles, as aberrações das indulgências. 
    Por isso, quando começou o barulho da venda de Indulgências em sua volta, ele preparou algumas teses contra as indulgências em 1516, para discussão. Apesar do tom agressivo e crítico a várias formas do ensino, ninguém reagiu. O mundo intelectual em sua volta, não lhe deu a mínima atenção. Como pastor, no entanto, ouviu, no confessionário de seus congregados, as declarações sobre as promessas do monge Dominicano Tetzel.
     Nesse período, Lutero estava muito ocupado. Ele escreveu a um de seus amigos em outubro de 1516: “Na verdade, eu precisaria de dois secretários. Gasto o dia escrevendo cartas. Sou pregador no mosteiro, leitor na mesa, diariamente me querem como pregador na Igreja, sou orientador dos estudantes, prior de onze mosteiros. Cuido do meu açude em Zeitzkau, tenho preleções sobre Romanos, etc. Exatamente desses trabalhos brotou sua obra de Reformador.  Como pastor da Igreja da cidade de Wittenberg era responsável pelo bem-estar espiritual de seu rebanho.
     Nisto surgiu o padre dominicano Tetzel com a venda de Indulgências. Ele era padre, mesmo assim tinha duas filhas. Ele era hábil orador. O Conde de Brandenburg o contratou para vender indulgências. Tetzel se gabava de ter feito mais pelo reino de Deus do que a virgem Maria. Ele proclamava: “Tão logo a moeda tinir no cofre, a alma de vossos entrequeridos saem do purgatório e vão para o céu”.
     Lutero ficou revoltado. Ele disse a seus amigos: “A casa de oração tornou-se, novamente, um covil de ladrões e salteadores. (Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 9.46)
     No ano de 1517, Lutero pregou quatro vezes contra as indulgências, sendo a última, provavelmente, na noite antes do dia 1º de novembro daquele ano.
     Ele continuou estudando cuidadosamente o assunto durante seis meses até lançar mão à pena para escrever. Ele sabia que o assunto iria despertar acirradas discussões. Ao escrever, tinha que medir cada palavra e precisava estar bem preparado para responder as indagações e acusações. Assim formulou as 95 teses. Ele as escreveu a mão, em latim numa grande folha e as fixou no dia 31 de outubro (ou 1° de novembro) de 1517 à porta da igreja do castelo de Wittenberg. Elas deveriam servir de base para discussão com padres e professores sobre o assunto indulgências. As teses, no entanto, foram logo copiadas e traduzidas para outras línguas. Elas se espalharam qual fogo em palha seca por toda a Europa. Chegaram também ao Papa em Roma que ficou furioso, pois, com o dinheiro da venda das indulgências ele estava construindo a Basílica de São Pedro em Roma. Banqueiros e duques tinham parte no lucro, por isso as teses desencadearam duras contestações. Mas, da parte dos intelectuais não houve reação. A finalidade para a qual foram escritas: Debater o assunto. Não aconteceu. Não houve nenhum debate sobre elas. O povo simples as aceitou de bom grado. E as teses desencadearam uma mudança na igreja, a qual Lutero jamais imaginou, mesmo estando ciente com quem estava mexendo.  
     Naquele ano, realizou-se em Wittenberg a grande exposição das relíquias do Eleitor Frederico o Sábio a qual, pela visita às mesmas, dava indulgências. Entre outras coisas, Lutero afirmou: “Pelas indulgências ninguém pode ter certeza de que seus pecados tenham sido completamente perdoados, pois verdadeiro perdão, a pessoa só obtém se estiver arrependida de seus pecados e confiar em Cristo”. Ele disse a um de seus amigos: “A Eleitor Frederico ficou indignado com ele por causa daquele sermão”.

Indulgências
     O que são indulgências? Na verdade, ninguém sabe ao certo o que são indulgências. É uma instituição da Igreja, criada na época das Cruzadas. A Igreja Católica tem no seu Sacramento de Penitência três passos: Contritio cordis (contrição), confessio oris (confissão) e satisfactio (satisfação). Esta última imposta pelo sacerdote, a saber: esmolas, jejuns, peregrinações, orações e outras práticas.[2] Estas obrigações, impostas pela igreja, poderiam ser pagas aqui ou no purgatório, ou por indulgências (pagamentos em dinheiro). Elas livram, no entanto, somente das obrigações impostas pela igreja. Não livram do inferno. Cinqüenta anos antes de Lutero, o Papa Clemente VI, por sua Bula“Unigenitus de 27 de janeiro de 1343”, estendeu as indulgências também em favor dos já falecidos. Alguns Papas se valeram das indulgências para arregimentar pessoas para as cruzadas e também para angariar dinheiro para a construção de igrejas e, especialmente, a Basílica de São Pedro. Mais tarde, o Concílio de Trento (1564) se ocupou com a matéria das Indulgências e procurou colocar certa ordem nas mesmas e defini-las melhor.[3]
    Quando o padre Dominicano Tetzel se engajou nesse trabalho, ele foi a certos extremos. Lutero nunca o viu, mas ouviu muito a respeito dele e de sua campanha. O Eleitor Frederico o Sábio, para resguardar sua grande exposição de relíquias[4] que também forneciam indulgências, não permitiu a Tetzel entrar em sua jurisdição. Muitos dos congregados de Lutero, no entanto, foram até a fronteira para comprar ali as indulgências. No confessionário Lutero ouviu a respeito e ficou horrorizado. Em seu cuidado pastoral, ele não pôde mais ficar calado. Era hora de levantar sua voz. Ele o fez por escrito.
     As teses ainda hoje são importantes e merecem ser lidas e estudadas com cuidado.

 3.2 - 31 de outubro de 1517
    No dia 31 de outubro, ao meio dia, havendo já uma multidão esperando a abertura da igreja, Lutero passou no meio dela e pregou as teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg.[5] Gustav Just descreve o momento assim: As pessoas se aglomeravam na rua principal, aguardando o culto que costumava preceder à festa da igreja a realizar-se no dia de Todos os Santos. Nisso, um homem de passos apressado rompia a multidão expectante; magro e macilento era seu corpo, descorado o seu rosto, mas seus olhos tinham um brilho vivo e intenso. Dirigindo-se ao portal da igreja do paço, ele tirou da sua escura roupa de frade uma folha de pergaminho escrita e a afixou, com poderosas marteladas, na porta da igreja. No começo, a sua ação foi notada apenas pelos circunstantes mais próximos. Então um deles leu em voz alta o seguinte: “Debate sobre o esclarecimento do poder das indulgências. Por amor à verdade e pela necessidade de trazê-la à luz, será discutido em Wittenberg o que abaixo segue, sob a presidência do respeitável padre M. Lutero. Aqueles que não podem debater esse assunto pessoalmente conosco, poderão fazê-lo por escrito. Em nome de nossos Senhor Jesus Cristo, Amém”. Terminada a leitura, ouviu-se uma voz do meio da multidão: “Vamos, leiam! O que nos anuncia este escrito maravilhoso?”[6] As teses estavam escritas a mão, em latim.  Nas mesmas, Lutero convidou o clero para discutir o assunto das indulgências. Os letrados não lhe deram atenção. Ninguém aceitou o desafio; o povo, porém, cansado das indulgências, estava sedento pelo evangelho. O que Lutero nem imaginou, aconteceu. Em poucos dias as teses se espalharam por toda a Europa. Elas foram traduzidas do latim para o espanhol, o holandês e o italiano. Consta que após 4 anos, um monge comprou uma cópia delas em Jerusalém. Houve elogios, bem como condenações. Quando Tetzel tomou conhecimento das mesmas, ele se encheu de furor. Realmente as teses eram uma declaração de guerra. 
     No mesmo dia, à noite, Lutero pregou sobre as indulgências. Gastou a tarde escrevendo cartas a diversas autoridades eclesiásticas, que foram enviadas com uma cópia das teses. Ele, em si, não fez nada para que as teses fossem espalhadas entre o povo. Ele queria discutir o assunto com os responsáveis.
     A primeira carta foi dirigida ao Arcebispo Eleitor de Mogúncia[7] que estava comandando a venda de indulgência na sua jurisdição em Brandenburg. Ele também havia elaborado Instruções sobre a venda das Indulgências e amparou Tetzel e seus auxiliares. Lutero se dirigiu ao arcebispo de forma mui respeitosa e humilde. Contou o que seus congregados lhe contaram a respeito de Tetzel.[8] “Que posso fazer digníssimo bispo, sereníssimo príncipe, se não rogar a Vossa Alteza, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que se digne olhar com fraternal cuidado para este assunto retirando as “Instruções” e impondo outro tom aos pregadores de indulgências?... Queira teu amor paternal aceitar minha fiel admoestação. Também eu sou servo de tuas ovelhas. Queira o Senhor Jesus Cristo te proteger em todos os tempos! Amém. ”[9] O Arcebispo não respondeu, mas mandou as Teses imediatamente para Roma. Lutero considerou esta sua carta um dos documentos principais de seus trabalhos.


3.3 - Texto das 95 TESES

Frei MARTINHO LUTERO
CONTRA O COMÉRCIO DAS INDULGÊNCIAS
Tradução: Rodolfo F. Hasse

     Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittenberg, sob a presidência do rev. padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito.
                  Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

1ª Tese
Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
2ª Tese
E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.
3ª Tese
Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de modificações da carne.
4ª Tese
Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.
5ª Tese
O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6ª Tese
O papa não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que Já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados.  Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.
7ª Tese
Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.
8ª Tese
Canones poenitendiales, que não as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.
9ª Tese
Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema
10ª Tese
Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos penitencias canônicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.
11ª Tese
Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, previstas pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.
12ª Tese
Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.
13ª Tese
Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.
14ª Tese
Piedade ou amor Imperfeitos da parte daquele qtie se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.
15ª Tese
Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.
16ª Tese
Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
17ª Tese
Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.
18ª Tese
Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.
19ª Tese
Ainda parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta certeza disto.
20ª Tese
Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário de todas as penas” que todo o tormento é perdoado, mas as penas por ele impostas.
21ª Tese
Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
22ª Tese
Pensa com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.
23ª Tese
Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.
24ª Tese
Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
25ª Tese
Exatamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.
26ª Tese
O papa faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do poder das chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.
27ª Tese
Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28ª Tese
Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só corresponde à vontade e ao agrado de Deus.
29ª Tese
E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.
30ª Tese
Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.
31ª Tese
Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.
32ª Tese
Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
33ª Tese
Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.
34ª Tese
Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.
35ª Tese
Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36ª  Tese
Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
37ª  Tese
Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.
38ª  Tese
Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa.  Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.
39ª  Tese
É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.
40ª  Tese
O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.
41ª Tese
É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.
42ª  Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.
43ª  Tese
Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.
44ª Tese
Ê que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.
45ª  Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus.
46ª  Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
47ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada
48ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
49ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.
50ª  Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro.
52º Tese
Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.
53ª Tese
São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.
54ª Tese
Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.
55ª Tese
A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o Evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.
56ª Tese
Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja de Cristo.
57ª Tese
Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
58ª Tese
Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.
59ª Tese
São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.
60ª Tese
Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.
61ª Tese
Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.
62ª Tese
O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63ª Tese
Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.
64ª Tese
Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.
65ª Tese
Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.
66ª Tese
Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.
67ª Tese
As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
68ª Tese
Nem por isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69ª Tese
Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência-
70ª Tese
Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.
71ª Tese
Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
72ª Tese
Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.
73ª  Tese
Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.
74ª Tese
Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.
75ª  Tese
Considerar as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.
78ª  Tese
Bem ao contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.
77ª Tese
Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.
78ª Tese
Em contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.
79ª Tese
Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.
80ª Tese
Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.
81ª Tese
Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.
82ª Tese
Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima' caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssirno motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante Insignificante?
83ª Tese
Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas oferecidos em favor dos mortos, visto ser injusto continuar a rezar pelos já resgatados?
84ª Tese
Ainda:  Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga?
85ª Tese
Ainda: Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?
86ª Tese
Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?
87ª Tese
Ainda: Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste o direito à indulgência plenária?
88ª Tese
Afinal:  Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como já o faz, cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.
89ª Tese
Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes?
90ª Tese
Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91ª Tese
Se a Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.
92ª Tese
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz!  Paz! e não há Paz.
93ª Tese
Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz!  Cruz! e não há cruz.
94ª Tese
Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.
95ª Tese
E assim esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas tribulações do que
facilitado diante de consolações infundadas.
    (Confira mais adiante: 95 Teses de Harms e 9.5 Teses de Senkbeil)

3.4 - Análise das Teses

     As teses de Lutero diferem das disputas comuns. Elas foram escritas na santa ira pastoral e são ousadas, claras e diretas.
     As teses se dirigiram principalmente contra o abuso das indulgências. Ele escreveu: “É preciso ensinar aos cristãos que, se o Papa conhecesse as exações (cobranças) dos pregadores de indulgência, preferiria que a metrópole de São Pedro[10] fosse queimada e reduzida a cinzas a vê-la edificada com a pele, carne e os ossos de suas ovelhas”. Logo mais, Lutero descobriu que o Papa pensava bem diferente.                                                          
     Nas teses há três grandes afirmações, duas negativas e uma positiva: 1) Contestação e condenação do comércio das indulgências. 2) Negação ao poder do Papa de perdoar penas do purgatório. 3) Reflexão sobre a salvação do pecador. 
a)      Condenação do comércio das indulgências. Todas as economias do povo
cristão estão sendo engolidas por Roma, para a construção da Basílica de São Pedro. Em breve todas as igrejas, murros e pontes em Roma serão construídos com o nosso dinheiro.
b)     O Papa não tem poder para perdoar pecados ou castigos, ou remir do
castigo do purgatório. Perdão é dado no sacramento de penitência aos pecadores verdadeiramente arrependidos. As indulgências não livram da culpa e do pecado. Isto só Deus pode fazer. Os santos não têm um crédito em obras que possa ser vendido aos outros. Se o Papa tivesse um reservatório de perdão, porque não o distribui gratuitamente a todos. Tese 82: “Indulgências são vãs e desviam do verdadeiro amor”. 
c)      O verdadeiro caminho de salvação do pecador. As pessoas (também cada
cristão) deve ser ensinado que quem dá aos pobres faz algo melhor do que comprar indulgências. Quem compra indulgências não ganha perdão, mas a ira de Deus. Se alguém crê que está totalmente perdido, então a luz do evangelho começa a brilhar. Paz vem pela palavra de Deus, de Cristo, pela fé. Quem não tem fé na graça de Cristo, está condenado. “Verdadeiro arrependimento e pesar busca e ama o castigo” (40ª Tese).

Vejamos alguns detalhes   
     Quando examinamos as teses, precisamos lembrar alguns fatos. Lutero não foi um sectário. Ele foi pastor da Una Santa Igreja Católica. Viveu, orou e lutou por esta igreja. Reconheceu que a igreja (invisível) é a noiva de Cristo, adornada pela graça de Cristo, sem mácula e sem defeito. Ao mesmo tempo reconheceu que a Igreja (visível) é um hospital. O remédio para o ser humano enfermo pelo pecado é a Palavra de Deus, lei e evangelho corretamente ensinados, aplicados e administrados pelos ministros fiéis, para cura e o correto relacionamento do ser humano com Deus, para que o pecador possa desfrutar a paz e a esperança da graça de Cristo.
    Por isso, analisando as 95 teses, precisamos ter em mente que o centro pastoral delas visa o correto relacionamento do pecador com Deus, não por indulgências, mas pela fé na graça de Deus. Portanto, “o Evangelho é o centro da igreja e das teses”. (Sasse)
     Outro detalhe para podermos compreender as teses, precisamos conhecer o contexto histórico no qual foram escritas, melhor, precisamos conhecer o Catecismo Católico, para reconhecer os reais erros da Igreja Católica que vigoram ainda hoje.  Usaremos para isso o Catecismo da Igreja Católica, Editora Vozes, 3ª edição, 1993, Vejamos esses detalhes.

3.4 --Breve exposição das teses

Teses 1 a 4
     As teses começam e terminam com a preocupação pelas almas, daí o chamado ao arrependimento e para seguir a Cristo sob a cruz. (1,94,95)
    Este arrependimento “não deve ser interpretado como referindo-se ao sacramento                   da penitência”. (2)
- Catecismo Católico: “Chama-se sacramento da Penitência porque consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação do cristão pecador”. (§ 1423, pág. 340)
     Lutero afirma: “Arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de mortificação da carne”. (3)
Cat. Católico: A penitência interior. Como já nos profetas, o apelo de Jesus à conversão e à penitência visa em primeiro lugar as obras exteriores, “o saco e a cinza”, os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior... Sem ela as obras de penitência continuam estéreis... (§1430, pág. 342) Para os Católicos o arrependimento consiste em contrição, confissão e satisfação, sendo a satisfação a parte essencial do arrependimento.
 - Confissão de Augsburgo afirma: “O arrependimento consiste propriamente nas duas partes seguintes: uma é a contrição, ou os terrores metidos na consciência pelo reconhecimento do pecado, a outra é a fé, que nasce do evangelho ou da absolvição, e crê que os pecados são perdoados por causa de Cristo, consola a consciência e liberta dos terrores”. (Art. XII, 3-6)

     Nas Teses de 5 a 10, Lutero condena os erros do Papa.  Nas Teses 11 a 13, a falha da Igreja, em transformar penitência e satisfação em penas no purgatório.
Cat. Católico: Que é indulgência? A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel bem-disposto obtém em certas condições determinadas, pela intervenção da Igreja, que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos. – A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados. As indulgências podem aplica-se a vivos e a mortos.  (§ 1471, p. 351) – A purificação final ou Purgatório. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu. A Igreja denomina de Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. (§ 1030; p. 247)
 -  Confissão de Augsburgo: “Ensina-se também que não podemos alcançar remissão do pecado e justiça diante de Deus por mérito, obras e satisfação nossos, porém que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e que por sua causa os pecados nos são perdoados e nos são dados justiça e vida eterna. (Rm 3 e 4). CA Art. IV) “Daí o axioma: A graça divina e o merecimento humano se excluem mutuamente; todavia a graça divina inclui os méritos divino de Cristo”. (Dogmática de Mueller, pág. 245)

     Teses 14 a 20, falam do relacionamento com Deus.
- Piedade ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte, necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menos o amor; tanto maior o temor. (14) O relacionamento com Deus, na época de Lutero era através de sofrimentos aqui ou no purgatório. A falta do verdadeiro amor a Deus era para o homem mortal: medo, pavor, desespero. Mas o relacionamento com Deus deve ser sem medo, em amor. O homem moribundo vê a morte e o juízo como uma coisa só. Diante de Deus a consciência levanta as perguntas: Será que minha vida agradou a Deus? Querer consolar-se com o sofrimento das penas no purgatório não aumentam o amor a Deus, é pura ilusão.
“Por isso o Papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário de todas as penas”, o perdão de todo o tormento, mas tão só as penas por ele impostas” (20).
Cat. Católico: “A satisfação. Muitos pecados prejudicam o próximo...  É preciso restituir... restabelecer... A simples justiça exige isso... A absolvição tira o pecado, mas não remedia todas as desordens que ele causou... Liberto do pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, fazer alguma coisa a mais para reparar seus pecados, deve “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” seus pecados:
Esta satisfação chama-se também “penitência”.  (§ 1459; p. 348)
     Nossa Confissão: “Embora a graça nos seja dada por nada, assim que nada nos custa, não obstante a alguém outro custou muitíssimo em benefício nosso; pois foi obtida mediante um tesouro incalculável, a saber, mediante o próprio Filho de Deus”. (Dog. Mueller, pág. 245)
Confissão de Augsburgo: Ensina-se também que não podemos alcançar remissão do pecado e justiça diante de Deus por mérito, obra e satisfação nossos, porém, que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e que, por sua causa, os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna. Pois Deus quer considerar e atribuir essa fé como justiça diante de si, conforme diz São Paulo em Romanos 3.21-26; 4.5.

Teses 21 a 31
     Nestas teses Lutero mostra o quando a igreja se afastou dos ensinos da Bíblia. A igreja estava realmente pregando “futilidades humanas” (27).

Teses 32 a 37
     Lutero afirma: “Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência”. Ele continua: “Todo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência” (36).
Cat. Católico: Através das mudanças por que passaram a disciplina e a celebração deste sacramento ao longo dos séculos, podemos discernir sua própria estrutura fundamental que consta de dois elementos igualmente essenciais de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação, de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cisto, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação, ora pelo pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão eclesial. (§ 1448; p. 345)
    A isto Lutero responde: “Cada verdadeiro cristão quer na vida, quer na morte, tem parte em todos os bens de Cristo e da Igreja, que Deus lhe dá mesmo sem indulgências” (37).
Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Efésios 2.8-10).

Teses 38 a 45
     Estas teses falam do verdadeiro arrependimento, do pesar e do gratuito perdão dos pecados.Como é difícil exaltar “o verdadeiro arrependimento e pesar” (39).  “O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo” (40). Como vamos compreendê-lo?  Verdadeira contrição, isto é, reconhecimento do seu pecado, tristeza por ter ofendido a Deus, confiar na graça de Deus, certeza do perdão, leva a amar a Deus, a humilhar-se à poderosa mão de Deus, e a suportar com humildade os juízos punitivos de Deus, nos quais há bênçãos. Pois “todas as coisas cooperam para o bem dos que temem e amam a Deus”. (Rm 8.26-39) O verdadeiro amor a Deus, leva ao amor ao próximo. Neste caso é mais bem-aventurado o “que empresta ao necessitado do que os que compram indulgências” (43). Lutero continua: “Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disso gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgência do Papa, mas desafia a ira de Deus”. (45) A isto o Concílio de Trento respondeu com mais força: “Se alguém disse que os homens são justificados ou só pela imputação da justiça de Cristo, ou só pela remissão dos pecados, excluídas a graça e a caridade que o Espírito Santo infunde em seus corações... seja excomungado” (Sessão II, Canon, 11).
Teses 47 – 61
     “Deve-se ensinar aos cristãos... ”. Diversos ensinos sobre a vida cristã. ‘São inimigos de Cristo e do Papa quantos por causa da prédica de indulgência proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas” (53). “Inimigos de Cristo e do Papa”.  Naquela oportunidade, Lutero ainda achava que o Papa era um servo fiel de Deus que desconhecia as aberrações de Tetzel. Não demorou em saber que tudo isso acontecia com o aval do santo Padre. Lutero ficou chocado. O Dr. Eck nos debates provocou levar Lutero a dizer que o Papa e os Concílios podem errar. Lutero o afirmou, à base do que Tetzel exigiu que Lutero fosse excomungado como herege.

  Teses 62 - 66
     “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho...”. Com esta firmação, Lutero expõe qual o verdadeiro tesouro da Igreja.  Positivo: “Por essa razão os tesouros evangélicos foram outrora as redes com que se apanhavam os ricos abastados“ (65). Negativo: “Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens” (66).

Tese 67 - 91
     Diversos erros das indulgências e seus apregoadores. “Por que o Papa não livra duma só vez todas as almas do purgatório movido pela santíssima caridade? ” (82) “Por que o Papa, cuja fortuna é maior do que a de qualquer creso (rico), não prefere construir a basílica de São Pedro de seu próprio bolso? ” (86) “Fora, pois, com todos estes pregadores que dizem à Igreja de Cristo: Paz! Paz! Sem que haja paz” (92). Abençoados, porém, sejam todos os pregadores que dizem à Igreja de Cristo: Cruz! Cruz! Sem que haja cruz” (93), isto é: Preguem o Evangelho. Somente pela graça! Somente pela fé! E os fiéis possam seguir a recomendação de Cristo: “Se alguém vem após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34).

Teses 92 e 95
     Seguir a Cristo pela teologia da cruz, este é o caminho ao céu, não a teologia da glória. “Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir a Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno” (94); “e desta maneira mais esperem entrar no Reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessas de paz infundadas” (95).
    Sem dúvida, poderia se disser muito mais na análise das 95 Teses, mas o espaço não o permite.

Conclusão
     Tendo analisado as teses, surge a pergunta: Que valor as 95 Teses de Lutero têm para nós hoje? Vejamos.
    Ouve-se, hoje, a afirmação de que a pergunta de Lutero: “Como posso conseguir um Deus misericordioso”, não é mais a pergunta do homem moderno.  Hoje se questiona até a existência de Deus. De fato, a ciência em seu domínio sobre forças da natureza, fez o ser humano perder o temor de Deus. Mesmo assim, quem realmente pergunta por Deus se defronte imediatamente com a pergunta sobre a misericórdia de Deus, que é o próprio ser de Deus. Todas as perguntas por Deus, que não perguntam por sua graça, são perguntas da vã filosofia. A pessoa que não pergunta pela graça de Deus, ainda não se defrontou, na realidade, com o verdadeiro e santo Deus.  Pois as necessidades do homem moderno não são outras do que as de antigamente. Culpa e perdão, com o desejo de fazer um novo começo.  (H. Sasse)
      O pano de fundo das 95 Teses são exatamente essas preocupações: pecado, graça, libertação, paz com Deus.

3.5  - As lutas após a publicação das teses

     Como já dissemos, as Teses desencadearam muitas discussões, debates, lutas e condenações; revolucionaram cidades e Ducados. O Papa em Roma ficou furioso e instigou príncipes e reis para que fizessem calar esse monge Lutero. Vejamos alguns dos principais debates.
1. O Dr. Hieronymus Schurf repreendeu Lutero severamente e lhe disse: “Tu queres escrever contra o Papa! O que pretendes alcançar com isso? Eles não o suportarão”. Lutero lhe respondeu: Mas eles terão de suportá-lo.
2. O arcebispo Albrecht acusou Lutero de herege e entregou o assunto ao Papa. O papa Leão X encaminhou o assunto ao superior de Lutero, Staupitz, para que fizesse Lutero se retratar.
3. O assunto foi encaminhado à Assembléia dos Agostinhanos, à qual Lutero pertencia. Estava prevista uma Assembléia dessa Ordem nos dias 18/04/1518, em Heidelberg, para a qual Lutero foi convocado. Lutero foi a pé e chegou lá no dia 25 de abril. Na Ordem do Dia constava: Examinar a atitude do frade rebelde. Para este encontro Lutero preparou 40 Paradoxos, baseados em São Paulo e Sto. Agostinho. Defendeu a Teologia da Cruz contra a Teologia da Glória. As últimas doze destronaram a filosofia de Aristóteles. Encontravam-se ali três jovens que vieram a ser, mais tarde, amigos de Lutero e precursores da Reforma em suas regiões: Martim Bucer, João Brenz e Ehrard Schepf. Bucer escreveu ao Dr. Beato Rhenanus: “Lutero presidiu uma convenção dos seus irmãos da ordem em que houve debates. Ele sustentou teses que não só ultrapassam toda a expectativa, mas também pareciam quase todas heréticas. Ele possui uma maneira maravilhosa e agradável de responder e grande paciência para ouvir.[11] Na pulverização das objeções, reconhece-se nele a perspicácia de Paulo. Todos ficaram admirados”. O papa Leão X havia encarregado o Procurador Marius de Perussis para fazer o exame de suspeita de heresia e Hieronimus de Glunuci, bispo de Adkoli, deveria conduzir o processo. Mas em lugar de examinar as teses, ele passou a acusar grosseiramente a Lutero.
    Lutero respondeu: “Eu esperava que o Papa iria me proteger, pois minhas teses estão repletas de citações bíblicas e decretos papais. Eu estava certo de que o Papa condenaria Tetzel e me abençoaria. Mas em lugar de bênção, recebi dele raios e trovoadas e fui tratado como ovelha que sujou a água do lobo. Tetzel saiu livre eu preciso deixar que me estraçalhem”.
4. Outra luta. No dia 7 de agosto de 1518, o Papa convidou Lutero para que se apresentasse dentro de 60 dias em Roma, pois pesava contra ele a acusação de ser herege. Mas o Eleitor da Saxônia, Frederico o Sábio, não estava interessado em perder a maior luz de sua Universidade e pediu que Lutero fosse julgado na Alemanha. Como a escolha de um novo rei estava às portas e o voto do Eleitor Frederico era valioso ao Papa e ao rei, fizeram sua vontade.
     O Cardeal Thomas Vio de Gaeta ou Caieta, conhecido como Cajetano, foi o legado papal na dieta de Augsburgo. Dele procedeu no Concílio de Latrão (1512 – 1517), a proposta de considerar o Papa infalível, acima dos Concílios e da igreja, sua serva. Convocado a Augsburgo, Lutero foi a pé. Seus amigos temeram por sua vida e insistiram para que não fosse. Pouco antes de Augsburgo Lutero adoeceu. Levaram-no então de carroça até Augsburgo. Ali muitos queriam ver este monge corajoso. O Dr. Peutinger o convidou à mesa. Cajetano se hospedou no palácio do banqueiro Jacob Fugger. 
     No dia 11 de outubro de 1518, Lutero entrou no palácio para a audiência com Cajetano. Ao entrar, Lutero se ajoelhou com o rosto em terra. Cajetano, gentilmente, ordenou que se levantasse e pediu cordialmente que Lutero se retratasse. Ele não queria se humilhar e discutir com um simples monge. Lutero insistiu que veio para discutir temas bíblicos. Após algumas horas de discussões, Cajetano consentiu que Lutero respondesse as questões por escrito. Lutero preparou as respostas. 
     No dia 14/11 Lutero compareceu com Staupitz, Feilitsch, Link e outros amigos novamente para a audiência com Cajetano. Os italianos, curiosos de ver o monge, lotaram o recinto. Cajetano olhou rapidamente as folhas que continham a resposta de Lutero e simplesmente pediu que Lutero se retratasse.
    Sobre esta reunião Lutero escreveu: “Dez vezes eu pedi a palavra, mas fui impedido de falar. Finalmente levantei minha voz e disse: Eu me retrataria se o Papa Clemente VII (1523 – 1534) de fato tivesse dito que a indulgência é o mérito de Cristo”. Cajetano buscou um livro e leu triunfalmente: “Cristo conquistou por sua vida a indulgência”. Ao que Lutero respondeu: “Um momento, venerado Pai. Se Cristo conquistou por seu sofrer e morrer este tesouro, então seu mérito não pode ser a indulgência”. O delegado ficou perplexo. Ele tentou esconder seu espanto, mas Lutero não cedeu. Vocês acham que nós alemães não entendemos de gramática. Uma coisa é “ser um tesouro” outra é “conquistar um tesouro”.
     Cajetano era bom teólogo e hábil dialético. Ele tinha escrito uma tese sobre indulgências. Mas aqui ele foi refutado. Cajetano perdeu a paciência e expulsou Lutero da sala, dizendo: “Não me apareça aqui, a não ser para se retratar”. Lutero escreveu ao Papa, pedindo outro interlocutor, mais sábio que Cajetano.  Cajetano pediu ao Papa que excomungasse Lutero como herege.
     O Dr. Campeggio que acompanhou Cajetano em nome do Papa, disse mais tarde: “Cajetano estragou tudo, usando de violência”.
     No dia seguinte a este último encontro com Cajetano, os amigos informaram a Lutero que as portas da cidade estavam sendo vigiadas e que Lutero deveria fugir, no que eles o auxiliaram. Ele fugiu à noite, a cavalo, sem espada, nem esporas, sem calças de montaria e foi para Nuernberg. Isto no momento exato, pois no outro dia chegou a ordem de Roma para que Cajetano trouxesse Lutero, esse herege, a Roma.
     Após isso, o Papa, devido interesses políticos, mudou de tática. Tornou-se mais brando. Ele enviou a Karl von Miltitz ao Eleitor Frederico da Saxônia para conseguir o voto do mesmo na eleição do rei e pedir que Lutero se calasse. Lutero concordou se os seus opositores fizerem o mesmo.
     Os adversários de Lutero, no entanto, não guardaram silêncio. Lutero foi desafiado para novo debate com o Dr. Eck. Lutero se preparou cuidadosamente para esse debate. Ele estudou as leis canônicas da igreja do século XII e descobriu que parte dessas leis tinham sido falsificadas. O debate foi realizado em Leipzig. O chanceler pomerano Olswitzer de Roma informou que há a intenção de eliminar Lutero por envenenamento ou uma facada.
     No dia 24 de junho de 1519, Lutero, na companhia de 200 estudantes cingidos com suas espadas, dirigidas pelo Duque Barnim, reitor da Universidade de Wittenberg,  entrou em Leipzig.
     O bispo de Merseburg, por meio de um panfleto quis impedir o debate, visto que Roma já havia condenado Lutero pela Bula de 09/11/1518, mas o Duque Georg mandou que o bispo se calasse. A Universidade de Leipzig não se envolveu nesta disputa histórica. Por isso, no dia 27 de junho, o jurista Simon Pistoris chamou os visitantes bem-vindos. Em procissão todos se dirigiram à igreja São Thomé. Dali eles seguiram em procissão com banners e ao ritmo de tamborins ao castelo Pleissenburg do Duque Georg. O professor Peter Mosellanus, prof. e poeta, saudou a todos com um discurso de duas horas. Após o que todos se ajoelharam e um coral entoou o hino: Komm, Heiliger Geist, Herre Gott (Santo Espírito, ó nosso Deus... (HL 142). Seguiu uma pausa de duas horas para almoço. O debate iniciou à tarde. Dr. Eck defendeu, durante 4 dias, o livre arbítrio do ser humano. Dr. Karlstadt, a livre graça. Discutiram cinco dias sobre o Poder do Papa. Dr. Eck defendeu que o papado foi fundado por Jesus Cristo. Lutero o negou, dizendo ser uma instituição humana.
    No dia 5 de julho, o Dr. Eck disse que a doutrina de Lutero de que a igreja aqui na terra não precisa de uma cabeça e que o Papa não é necessário para a salvação, é a mesma heresia de Hus, que o grande concílio de Constança condenou. A discussão foi árdua. Lutero, realmente, se assustou com a grande brecha que estava se abriu entre ele e a igreja.
     No dia 6 de julho, Lutero afirmou: “Somente a Bíblia é infalível. Concílios podem e têm errado“.
     No dia 7 de julho, Lutero afirmou: “Concílios não têm o direito de decretar novas doutrinas”. O Dr. Eck respondeu: “Se tu crês que Concílios não podem decretar novas doutrinas e que eles têm errado, eu te considero um “gentio e publicano”.
     Lutero condenou a doutrina do purgatório e das indulgências. No dia 14 de julho, no encerramento dos debates, Lutero disse: “Vejo que o Dr. Eck entra tão fundo na Bíblia como uma aranha na água, sim ele a teme, como o diabo, a cruz. Com todo o respeito aos pais da igreja, eu me mantenho à Bíblia”.
     Ao se encerrar os debates, o Reitor da cidade de Leipzig, Johannes Lang, disse: “Lutero é um homem de grande pureza, tanto no falar como no viver que segue o exemplo de Agostinho”.
     O Dr. Eck foi festejado durante nove dias, durante os quais pode desfrutar as regalias do palácio do Duque George. Outros professores e nobres louvaram Lutero.
     As coisas progrediram rapidamente. Após o debate com Tetzel, Lutero apelou aos bispos, após o debate com Cajetano, apelou ao Papa, no dia 25 de novembro de 1518, apelou ao Concílio; no dia 6 de julho de 1519 apelou à Bíblia como única autoridade infalível. Assim estava agora sozinho, tendo o mundo contra si. Este debate teve conseqüências ainda cem anos depois, quando o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, vindo em defesa da causa luterana, perdeu a vida numa batalha na planície de Leipzig. (W. Dallmann. Evg.-Lutherisches Kirchenbladt, nº 12, 15 de junho de 1917, p. 95). 



[1] Mt 4.17)
[2] Esta satisfação provém da antiga crença germânica: Aqui se faz, aqui se paga. 
[3] Concílio de Trento, Sessão XXV.989. Cat. Católico, § 1032 e 1471s.
[4] O Eleitor Frederico o Sábio queria montar em Wittenberg o maior Museu de relíquias. Viajou pela Europa em busca de relíquias. Dizia-se que ele tem um espinho da coroa de Cristo, um pano das fraldas que Maria usou no nenê Jesus, um pedaço de madeira da cruz de Cristo, etc. 
[5] Hoje há escritores que contestam o fato, da pregação das Teses na porta do Castelo de Wittenberg. Alguns perguntam: Isto é um fato histórico ou uma lenda? Outros questionam a data e a colocam para o dia 1° de novembro. De fato, nós não temos muitas provas a respeito. Nem Lutero escreve sobre a data. Mas no dia 1º de Novembro de 1527, ele se reuniu com seus amigos e celebrou, com louvor a Deus, os primeiros dez anos da Reforma. Confira: Roland Bainton, Martin LutherVandenhoeck & Ruprecht in Göttingen. 7ª Edição, 1980, p. 58.
[6] GUSTAVO, Just, Deus espertou Lutero. Editora Concórdia, Porto Alegre, 2ª Edição, 2003.
[7] cf.: Hasse p. 50
[8] Lutero nunca o viu. Mas disse que é um homem muito capaz e trabalhador. Quando ele estava doente num mosteiro, Lutero lhe enviou uma carta de consolo. 
[9] LESSA, Vicente Themundo, Lutero. Cada Editora Presbiteriana, São Paulo, 1960, p.86.- HASSE, Rodolfo. Frei Martinho. Casa Publicadora concórdia, Porto Alegre, 2ª edição, 1959, p.50.
[10] Basílica de São Pedro, em construção. Construída no Vaticano, numa área de 2.3 hectares. Em sua praça cabem 60 mil pessoas. A construção foi terminada em 1590.
[11] Martin Bucer (1491 – 1551), monge dominicano, inclinou-se inicialmente para a teologia de Lutero. Mas, depois seguiu o humanismo de Erasmo. Não assinou a Confissão de Augsburgo. Como humanista tentou unir Lutero e Zwínglio. Assinou mais tarde a Confissão Tetrapolitana (Suábia) de 1530, que foi apresentada ao rei Carlos V, em Augsburgo, como uma alternativa à Confissão de Augsburgo. É a Confissão mais antiga da Igreja Reformada. Foi escrita por Martin Bucer e Wolfgang Capito e apresentada em nome das cidades: Estrasburgo, Constança, Memmingen e Lindau.


IV - Três livretos que abalaram o mundo

      Os diversos debates despertaram em Lutero muitas perguntas, vários assuntos precisavam ser examinados com maior profundidade.
      Especialmente o último debate com o Dr. Eck, que comparou Lutero a Hus, levou Lutero a examinar os sermões de Hus, bem como os documentos de condenação a Hus. Ao lê-los, Lutero exclamou: “Durante cem anos o puro evangelho foi sufocado. O tempo de calar passou, é tempo de falar”. (Ex 3.7) Ele examinou também os documentos sobre a autoridade secular do papa e a doação de Constantino. Qual não foi sua surpresa ao descobrir que os documentos da doação foram falsificados. Estes estudos o levaram a escrever. O fruto desses seus estudos foram os três livretos que foram logo impressos e alvoroçaram o mundo: À Nobreza Cristã da Nação Alemão.[1] Do Cativeiro Babilônico da Igreja Cristã.[2] A Liberdade Cristã.[3] Vejamos, resumidamente, o conteúdo destas três obras.

1.      À Nobreza Cristã da Nação Alemã – O primeiro livreto, à Nobreza Cristã, foi
publicado em abril de 1520. Neste documento Lutero mostra que a Igreja de Roma ergueu em torno de si três muralhas, com as quais ela se defende, “de sorte que ninguém a pôde reformar, razão por que toda a cristandade decaiu terrivelmente”. As muralhas são:
1ª Muralha. “Quando a igreja foi ameaçada pelo poder secular, a igreja determinou e disse que o poder secular não tem direito sobre eles, e sim o contrário: o eclesiástico estaria acima do secular”. – Lutero objetou: Todo o cristão batizado é sacerdote de Deus (1 Co 12.12ss.; 1 Pe 2.9)
2ª Muralha. “Quando se tentou mostrar os erros da igreja pela Sagrada Escritura, eles objetaram dizendo que a ninguém cabe interpretar a Escritura senão ao Papa”. – Lutero objetou: Querem ser mestres exclusivos da Escritura, mas não a conhecem. Todo o cristão deve ler a Escritura e pode compreendê-la. (1 Co 14.30; Jo 6.45; Lc 22.32; Jo 17.20; 1 Co 2.15; 2 Co 4.13)
3ª Muralha. “Quando ameaçados com um concílio, inventaram que ninguém pode convocar um concílio senão o Papa. Assim nos roubaram, às ocultas, as três varas, para poderem ficar impunes e tomaram lugar na segura fortaleza destas três muralhas, para praticar toda sorte de vilanias e maldades que agora vemos”.[4] – Lutero objetou: Esta cai por si. Se o Papa age contra a Escritura, temos o dever de admoestá-lo: Mt 18.15ss.; At 15.6. Não foi Pedro que convocou o Concílio, mas todos os apóstolos.
Na segunda parte do livreto, Lutero expõe a terrível corrupção que reina no pátio em Roma.
Na terceira parte, sugere 26 pontos para melhorar a situação.

2.      Do Cativeiro Babilônico - Dois meses, após o lançamento do primeiro
livrinho, já surge o segundo, em 6 de outubro de 1520, como resposta à Bula de Excomunhão. Esta obra coloca o machado na raiz da doutrina do papado. Lutero conhecia bem a responsabilidade desse seu escrito. Ele encarou a tarefa com coragem e calma. Ele ataca os sete sacramentos do Papa, dizendo que são sete argolas[5] que escravizam os cristãos, do nascimento à sepultura.
a)      Santa Ceia deve ser administrada como instituída por Deus: em ambos os
elementos; não é o sacerdote que transforma o pão em carne; a Santa Ceia não é um sacrifício incruento.
b)      Santo Batismo. Ele é em si uma bênção, mas o Papa o obscureceu com muitos votos, peregrinações e obras.
c)      ato penitencial. Este ato não é um sacramento. Conseguimos consolo na
absolvição, o perdão dos pecados, mas não como conseqüência de nossa contrição. O pecador arrependido deve ser animado para que se console com o perdão de Cristo oferecido, dado e selado pelo evangelho e os sacramentos.
d)      Confirmação. Ela não é um sacramento, mesmo sendo algo bom e louvável
ensinar crianças na palavra de Deus e abençoá-las, isso, porém, não é trabalho exclusivo de um bispo.
e)      Os outros sacramentos romanos foram tratados e contestados da mesma forma.

3.      Da Liberdade Cristã – Neste sublime documento, tão proveitoso para toda
a vida cristã, Lutero afirma:  Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém.  Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos.
     O documento trata da justificação do pecador que recebemos pela fé na graça de Cristo e da vida em comunhão com Deus, da santificação.
     Na primeira tese, Lutero mostra que Cristo, por seu sofrer e morrer pela humanidade na cruz, nos libertou. Este perdão, esta justificação é oferecida pelo evangelho e recebida pela fé. Pela fé nos tornamos filhos de Deus, a noiva de Cristo.
     A segunda tese trata da vida desta “noiva de Cristo”. Ainda estamos na carne e no mundo. Há tentações e lutas. O cristão serve em amor a Deus e ao próximo, não em busca da liberdade, pois esta ele recebeu de presente pela graça de Cristo, e como “noiva de Cristo” torna-se voluntariamente servidor do próximo.
     Este livreto foi impresso em latim e alemão. No mesmo ano de seu lançamento teve 9 reedições.


V - A Bula de Excomunhão

     De tudo isso não poder-se-ia esperar outra reação de Roma do que a Bula de Excomunhão. No dia 15 de junho de 1520, o papa Leão X, que se encontrava na vila esportiva em Magliano assinou a Bula de Excomunhão, solicitada pelo Dr. Eck, que também foi encarregado de levá-la à Alemanha. Em sua viagem até Wittenberg, o Dr. Eck mandou fixar a Bula nas cidades de Halle, Brandenburg e outras. Cidades nas quais os católicos fizeram fogueiras e queimaram livros e escritos de Lutero. Lutero recebeu a Bula no dia 11 de outubro de 1520. Na Bula Exsurge, Domini... constava o seguinte:

Levanta-te, Senhor, e julga a tua causa, lembra-te dos impropérios ditos contra ti, daqueles com que um povo néscio te injura todos os dias... Levanta-te, Pedro, atenta na causa da tua igreja romana, mãe de todas as igrejas e mestra da fé... Levanta-te, também tu, ó Paulo... Levanta-te toda a assembléia dos santos, santa igreja de Deus...

Somente após alguns dias, após a chegada da Bula em Wittenberg, Lutero reagiu contra ela. No dia 1º de dezembro, Lutero se dirigiu com estudantes e muitos professores da Universidade para fora da cidade e à frente da porta de Elster, onde se costumava incinerar o lixo, ali a Bula papal foi lançada ao fogo com livros canônicos papais, e outras obras medievais, com as palavras: “Porque afligiste o Santo de Deus (Lc 1.35), o fogo eterno te devore”.   
     A Bula dava a Lutero 60 Dias para se retratar. Como ele não se retratou, seguiu-se no dia 3 de janeiro de 1521, a “Bulle Decet romanum Pontificum”, que declarou Lutero anátema bem como a todos seus apoiadores. Mesmo assim, Worms torna-se o novo centro de atenções, pois em 1519 faleceu o rei Maximiliano e foi eleito como rei o jovem Carlos V, que jurou manter a fé, defender a Igreja e prestar submissão ao Papa e à Sé de Roma. Como jovem, ele foi cauteloso. Ele precisava do apoio dos príncipes alemães, resolveu fazer mais uma tentativa para resolver pacificamente o assunto Lutero. Ele convocou sua primeira Dieta (Assembléia) para Worms, convocando Lutero para a mesma. Lutero recebeu a convocação no dia 24 de março. Ele aceitou a mesma e partiu no dia 02 de abril, refutando os temores de seus amigos. O Conselho de Wittenberg lhe ofereceu uma carruagem toldada. Com ele foram os amigos Amsdorf, professor da Universidade, Pezensteiner, seu companheiro de mosteiro, o estudante dinamarquês, Pedro Swaven, e seu amigo Jerônimo Schurff, professor de direito em Wittenberg. Como amante da música, Lutero não esqueceu seu alaúde para esta longa viagem. Em Leipzig, apesar da animosidade durante a disputa com o Dr. Eck, os magistrados e estudantes lhe dispensaram boa acolhida.
    Nesta viagem apoteótica houve diversos problemas. Lutero chegou a Frankfurt no dia 14. Ali residia, Cochloeus, um de seus terríveis inimigos. Este ao ouvir da chegada de Lutero, preparou uma cilada traiçoeira a Lutero. Convenceu um dos amigos de Lutero, o dominicano Bucer, de que a ida de Lutero a Worms seria muito perigoso. Ele deveria ficar em Frankfurt, e ele, Cochloeus, procuraria intermediar do Imperador um interlocutor para tratar o assunto em Frankfurt. Seu plano, na verdade, era atrasar a viagem de Lutero, pois seu salvo conduta, para a ida, expirava dia 16. Lutero não se deixou enganar e respondeu: “Mesmo havendo tantos demônios como telhas em Worms, eu vou para lá”. Alguns amigos ainda o aconselharam entrar sorrateiramente em Worms, pois havia católicos que queriam assassiná-lo. No dia 16 de abril, às 16h, a trombeta da torre da catedral, “anunciou a aproximação de uma comitiva estranha. Na frente cavalgava o arauto, ostentando no peito a água imperial. Numa carruagem aberta, seguia o Dr. Martinho Lutero em seus trajes monásticos, cercado de um grande número de cavaleiros... Uma enorme multidão acorreu e se apertava em torno da carruagem”.[6] Assim o frei Martinho. Lutero entrou em Worms a vista de todos, triunfalmente pelo portão central. No dia seguinte, de manhã cedo, o chanceler do imperador lhe entregou a convocação para comparecer à tarde, às 16h, diante do imperador. 
      Na sala de audiência, o Chanceler lhe apresentou duas perguntas em nome do imperador:Reconheces que estes livros por ti foram escritos? Em segundo lugar, estás pronto a retratar-te do que neles escreveste, ou persistes no teu modo de pensar? Lutero ia responder a primeira pergunta afirmativamente, quando seu amigo Jerônimo Schurff, designado pelo imperador para acompanhar Lutero, pediu que se lessem primeiro os títulos das obras. O que foi feito. Quanto à segunda pergunta, Lutero respondeu em latim e alemão: “Devido a complexidade peço um tempo para reflexão”. O imperador e os membros da assembléia reuniram-se em particular para deliberar, após o que o chanceler comunicou: “Martinho Lutero! Sua majestade imperial, segundo a bondade que o caracteriza, quer te conceder um dia ainda, mas sob a condição de lhe dares a resposta verbalmente e não por escrito”.
     Este dia de espera foi difícil para Lutero. Amigos temiam por ele. Lutero buscou conforte, calma e força na leitura da Palavra de Deus e na oração.
     No dia seguinte, 18 de abril, pelas seis horas da tarde, Lutero compareceu novamente diante do imperador. Já haviam acendido as luzes (tochas). Ele estava pálido. O chanceler do imperador pediu uma resposta curta e clara às perguntas que ontem lhe foram formuladas. Lutero respondeu em alemão com voz tranqüila e majestosa serenidade: Quanto à primeira pergunta, reconheço esses livros como de minha autoria, a não ser que tenham modificado certas passagens neles... e dispôs estes livros em três categorias. Durante esta exposição sobre os livros, o chanceler se impacientou, pedindo resposta clara e definida, se estava disposto a renunciar ou não.
    Então Lutero respondeu com as memoráveis palavras:

A menos que eu seja convencido de erro pelas Escrituras ou por raciocínio claro, pois a minha consciência está presa à Palavra de Deus, não posso nem quero retratar-me, porque agir contra a própria consciência não é, nem verdadeiro, nem honesto. Aqui estou! De outra maneira não posso! Que Deus me ajude! Amém!

      Imediatamente segui-se certo tumulto na assembléia. Amigos e inimigos ficaram impressionados. Frederico o Sábio observou a Spalatim: “O padre Martinho falou bem perante sua majestade imperial a todos os príncipes e classes do reino, em latim e em alemão. Acho-o demasiadamente audaz”. Tendo Lutero chegado a sua hospedaria, ergueu os braços e exclamou: Passei! No dia 25 de abril deixou Worms. Em 21 dias seu salvo-conduto iria expirar. No dia 26 de maio, o imperador assinou um decreto que declarava frei Martinho proscrito. Qualquer pessoa poderia prendê-lo e entregá-lo às autoridades.

Conclusão
     A Assembléia do Santo Império não conseguira calar o frei Martinho Lutero, nem dobrar sua consciência, para que se retratasse. A Palavra de Deus estava sendo, novamente, proclamada de forma clara e compreensível e continua assim até hoje. Não em todos os lugares.  Queira Deus nos ser gracioso e preservá-la a nós.



[1] Obras Selecionadas de Lutero, vol. II, p. 277
[2] Obras Selecionadas de Lutero, vol. II, p.341
[3] Obras Selecionadas de Lutero, vol. II, p. 435
[4] Op.cit. p.281
[5] Como colocadas nos animais, para dominá-los.
[6] Gustav Just, Deus despertou Lutero, Concórdia Editora, P. Alegre, RS, 2ª Edição 2003, p. 76.