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CREIO NA RESSURREIÇÃO DA CARNE
Introdução
A maioria das igrejas cristãs confessa em
seus cultos o Credo Apostólico, no qual afirmam: “Creio na ressurreição da carne.”
A doutrina da ressurreição da carne é
doutrina fundamental da fé cristã. O apóstolo Paulo afirma: “Se
Cristo não ressuscitou (fato
histórico) é vã a nossa pregação e vã a
nossa fé, e somos tidos por falsas testemunhas” (1 Co 15.14,15). Sim, “se a
nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes
de todos os homens” (1 Co 15.19).
A doutrina da ressurreição da carne é
central na fé cristã. Ela dá sentido à vida, força na luta contra o pecado,
consolo nas aflições e enche a alma de alegria e esperança.
A base desta doutrina é a palavra de Deus.
Somente a palavra de Deus. Importa ouvir e estudá-la. Queremos humilhar-nos à
poderosa palavra de Deus, porque a doutrina da ressurreição da carne não pode
ser comprovada pela ciência, nossa razão não pode entendê-la, não posso
experimentar ou senti-la. Ela excede ao nosso entendimento. Somente a palavra
de Deus pode nos orientar, consolar e encher de esperança com respeito à
doutrina da ressurreição da carne.
Infelizmente, mesmo muitos cristãos,
apesar de confessarem: “Creio na ressurreição da carne ...”, já não entendem
mais o que significam estas palavras. Daí a importância de focalizarmos, de
tempos em tempos, esta importante doutrina. Isto nos leva às pergunta: O que é
a morte? Há vida após a morte? O que é e em que consiste a ressurreição da
carne.
Todas as pessoas sabem, por sua própria
consciência, que a vida não termina com a morte. Mas, o que vem após a morte,
que tipo de vida, isto as pessoas não sabem nem podem desvendar. Surgem então
as muitas especulações. O resultado disto são as mais diferentes teorias nas
diversas religiões.
Vamos ocupar-nos, portanto, com o tema e
focalizar os seguintes itens: 1) Principais teorias errôneas; 2) Única fonte da
verdade; 3) Afirmações da Escritura sobre a ressurreição da carne; 4) A
ressurreição da carne propriamente dita; 5) Consolo desta doutrina.
I - TEORIAS ERRÔNEAS
As teorias sobre se há ou não vida após a
morte são inúmeras. De tempos em tempos estas teorias mudam de roupagem, mas a
raiz é sempre a mesma: o desconhecimento da palavra de Deus e a incredulidade;
sim, a inimizade contra Deus.
As teorias que rejeitam a palavra de Deus
podem ser dividas em dois blocos: materialistas e espiritualistas.
1.1 - Materialistas - Os materialistas afirmam que tudo é matéria
e/ou energia. Tudo é passageiro. Com a morte tudo acaba. O importante é viver a
vida aqui e aproveitá-la. Esta teoria busca provas na ciência. Só aceitam o que
a ciência pode comprovar. Daí sua filosofia de vida: “Comamos e bebamos, porque amanhã
morreremos” (1 Co 15.32; At 17,18). Sem dúvida, a ciência tem sua razão
de ser. Deus ordenou aos homens: “Sujeitai a terra”(Gn 1.28). Mas,
ciência sem o temor de Deus é um desastre. “Pois, o temor do Senhor é o princípio do
saber” (Pv 1.7). A ciência deve estar sujeita às verdades divinas,
expressas na Bíblia.
1.2 - Espiritualistas - Os espiritualistas, ao contrário dos
materialistas, afirmam que a personalidade ou o espírito da pessoa é eterno; a
matéria é passageira.
Nesta linha encontramos os espíritas,
algumas filosofias orientais, certos ramos do cristianismo e da Nova Era.
a)
Espíritas - Os espíritas, mesmo que divididos em muitos ramos com teorias
diferentes, valorizam o espírito sobre a matéria. Dizem que a matéria é a
vestimenta que aprisiona o espírito. A morte é benfeitora, pois ela liberta o
espírito da matéria. Falam em diversas reencarnações. No oriente, Índia por
exemplo, ensinam a reencarnação em animais; no ocidente falam em reencarnações
só em pessoas. Dizem que pelas reencarnações o espírito é purificado até
alcançar a perfeição e poder achegar-se ao espírito superior. Inferno não
existe. Procuram explicar as diferenças sociais (saúde e doença, riqueza e
pobreza) pela teoria: “Aqui se faz, aqui se paga.” Se alguém passa por
privações nesta vida, é porque fez coisas ruins nesta vida ou em vidas
anteriores. Todo o sofrimento é pagamento por males cometidos. O sofrimento
purifica. Conforme a doutrina da reencarnação, a pessoa sempre tem mais uma oportunidade
para corrigir erros do passado e se purificar. Além disto, ensinam que os
espíritos que vagueiam pelo espaço, participam da vida presente. Os médiuns e
pessoas sensitivas podem servir de intermediários. Podem comunicar-se com os
espíritos e solicitar o auxílio deles para resolver problemas. - A Bíblia
ensina que há uma só vida e após, o juízo; que a salvação não é por méritos,
mas pela graça de Cristo. Deus também proibiu consultar os mortos. “Não
se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem
adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador,
nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que
faz tal cousa é abominação ao Senhor, e por estas abominações o Senhor teu Deus
os lança de diante de ti”(os castiga) (Dt 18.10-12). Pois, “aos
homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo, assim também
Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos,
aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hb
9.27; Ap 22).
b) Distorções cristãs - Os Adventistas do Sétimo Dia ensinam que na
morte corpo e alma vão para a sepultura e dormem até o dia do juízo final.
Então Deus levantará a alma da morte. Há, também, ramos evangélicos, que negam
a imortalidade da alma, ou afirmam a superioridade do espírito sobre a matéria,
dizendo que na morte o espírito sobrevive e Deus o reveste logo após a morte. A
matéria volta ao pó de onde não retorna, e que os incrédulos serão totalmente
extintos. A isto soma-se também os que defendem o arrebatamente. Afirmam que
por ocasião da volta da primeira volta de Cristo, haverá também a primeira
ressurreição dos fiéis, que reinarão com Cristo aqui na terra, por mil anos.
Todas estas teorias são distorções da palavra de Deus. A Bíblia ensina que
Cristo voltará em glória no dia do juízo final para julgar vivos e mortos.
Naquele dia, todos ressuscitarão. Isto é, todos os corpos serão levantados. A
terra, o mar e o ar devolverão seus mortos. Uns ressuscitarão para a vida
eterna, outros para a eterna condenação (Mt 25.46).
c) Nova Era - O sonho da Nova Era é estabelecer um império único,
mundial de paz, no qual não existam mais fronteiras, sendo todos irmãos e tendo
todos a mesma religião. Neste reino se destacará a superioridade da razão
humana (gnose). O homem é seu próprio deus ou parte dele. Esta teoria é uma
imitação satânica do reino de Deus. A Nova Era busca este objetivo no campo
político e religioso. No religioso afirmam: Ninguém é dono da verdade. Há um só
ser superior ou energia superior. Todas as religiões são boas e têm seu lado
positivo e bom. Não existe verdade absoluta. O importante é o amor, não a
doutrina. O homem é parte de Deus, é Deus.
d) Gnose - Conhecimento. O movimento gnóstico é o movimento da
razão humana. Napoleão Bonaparte afirmou: “ O que o homem pode conceber, isto
poderá realizar.” Usamos só pouca porcentagem de nossa capacidade mental. Vamos
aprender a usá-la melhor, experimentar, sentir, migrar com nosso espírito para
fora do corpo. O movimento gnóstico enfatiza: a ciência, a filosofia, a arte e
a mística. O espírito deve buscar contactos extra corpóreas com outros
espíritos. São os movimentos da Ciência Cristã, movimentos do pensamento
positivo, o Método Silva de Controle Mental (Silva Mind Control), etc.
Conclusão - De pouco nos aproveita detalhar as raízes destas vãs
filosofias. Jesus afirmou: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o
poder de Deus (Mt 22.29). Por isso, vamos à fonte, pois o que importa é
conhecer a palavra de Deus.
II - A FONTE DA VERDADE
Posso ter certeza sobre a vida após a
morte? Onde posso encontrar a verdade? Os espíritas afirmam: Não há livro
sagrado. A vida é um mistério. Temos revelações parciais de espíritos, médiuns
e profetas. A Bíblia só contém parte da verdade. Afirmam que João Batista foi a
reencarnação de Elias, etc. Por não terem compromisso com a palavra de Deus,
eles extraem da Bíblia as doutrinas que querem.
A segunda linha são os evangélicos que
afirmam: A Bíblia contém a palavra de Deus. Com isto abrem a porta a inúmeras
teorias. Interpretam a Bíblia com sua razão. Eles jogam afirmações de um
apóstolo contra outro apóstolo, ou afirmações do Antigo contra o Novo
Testamento.
Ao lado deles temos os católicos que
aceitam a Bíblia, mas não como a única palavra de Deus. Eles colocam a autoridade do Papa e dos Concílios ao lado
da Bíblia. Ensinam, como os mórmons, que na eternidade ainda há a possibilidade
de alguém remir-se de seus pecados (Purgatório). Lutero constatou: “Está
provado que papas e concílios erram.” Com os católicos estão os pentecostais
que colocam ao lado da Bíblia revelações especiais (subjetivismo), que
frequentemente desinterpretam e até contradizem as afirmações da Bíblia.
Qual a posição bíblica? A Bíblia é palavra
por palavra a única, inspirada, infalível, inerrante, clara e pura palavra de
Deus. A Bíblia se interpreta a si mesma. Ela é a única autoridade em matéria de
fé e de vida. Quem não a aceitar como tal e não a respeitar, não pode ter
certeza de nada. Ao mesmo tempo é preciso lembrar que, quem não tiver esta
convicção, com esta pessoa não podemos discutir religião. Pois quando
argumentamos com a palavra de Deus, a pessoa, não tendo compromisso com a
palavra de Deus, não aceitará os argumentos da palavra de Deus e contra
argumentará com a razão ou a opinião de pessoas, da maioria ou com outras
revelações, etc. A uma pessoa que não aceita a autoridade da palavra inspirada
da Bíblia, só podemos proclamar a palavra de Deus para testemunho, na esperança
de que ela dê lugar à palavra e ao Espírito Santo, “se converta de seu mau caminho e
viva” (At 21.17).
Uma vez clarificada a fonte em que
baseamos a certeza da doutrina da
ressurreição, podemos contemplar esta tão consoladora doutrina.
III - AFIRMAÇÕES DA ESCRITURA SOBRE A RESSURREIÇÃO
Ao nos aproximarmos da doutrina da
ressurreição, queremos fazê-lo com “temor e tremor” (Is 6.2), e a
súplica: Senhor Jesus, leva nossa razão cativa à tua palavra, pois o mistério
da ressurreição da carne excede à nossa compreensão.
Contemplando a história da ressurreição de
Jesus, ficamos impressionados com a incredulidade dos próprios discípulos de
Jesus e a rápida aceitação do fato pelos inimigos de Cristo. Os inimigos de
Cristo logo se lembraram das palavras de Cristo sobre sua ressurreição e
temeram a possibilidade. Eles procuraram impedir a ressurreição, colocando
guardas no sepulcro (Mt 27.62-66). E quando os soldados lhes trouxeram a
notícia da ressurreição de Jesus, os fariseus não duvidaram, nem correram para
a sepultura a fim de se certificarem do fato. Eles estavam tão certos do fato
que, em sua inimizade contra Cristo, planejaram combater a verdade, semeando a
mentira. Pagaram alto preço aos soldados para que mentissem ao povo. Enquanto
isso, os discípulos, mesmo tendo ouvido de Jesus várias vezes a afirmação de
que ele haveria de ressuscitar no terceiro dia, conforme profetizado no Antigo
Testamento, não creram (Mt 16.21; 17.9; Sl 16.10; Mt 12.40; Jo 20.9).
Custou-lhes acreditar. Foi necessário que o próprio Senhor Jesus lhes
aparecesse várias vezes e lhes abrisse o entendimento para crerem (Mt 28.17).
De fato, ninguém pode crer por “própria razão ou força” em Cristo e na doutrina
da ressurreição. Esta doutrina é totalmente contrária à razão. É preciso que o próprio Jesus e o
Espírito Santo nos convençam, abram nossa mente, gerem a fé e nos mantenham
nesta fé. E Deus quer fazê-lo por sua palavra e seus sacramentos. Esta graciosa
ação de Deus Espírito Santo de nos abrir os olhos e nos levar à fé, a Bíblia
chama de renascimento e de a primeira ressurreição (Ap 20.5). A fé cristã é a
nova vida, a vida espiritual. Mas, antes de falarmos da doutrina da
ressurreição, é preciso clarificar o que é o ser humano, o que é a morte, como
a morte foi vencida e então detalhar a pergunta: Em que consiste a ressurreição
da carne?
3.1 - Que é o homem? - Deus formou o homem do pó da terra. Por isso
ele se chama Adão (terra). Disse Deus: “Façamos (nós, a Trindade) o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). “Deus (Jesus, Jo 1.2) formou o homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da
vida, e o homem passou a ser alma vivente”(Gn 2.7). Olhando, no
entanto, com a razão para o curso da vida de uma pessoa e de um animal, não
vemos diferença, exceto o fato de o homem ser um animal racional, e ambos
voltam ao pó da terra. Por isso diz Salomão: “O que sucede aos filhos dos
homens, sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim vemos o
outro” (Ec 3.19-121). Mas, olhando para o que Deus diz sobre a criação,
vemos que Deus deu ao homem algo mais do que só um corpo material. O homem
recebeu o fôlego da vida diretamente de Deus. O homem foi criado alma vivente.
Deus lhe deu uma alma, ou espírito (Cf.: Ex 12.7; Lc 23.43; Lc 16.22,23; Fp
1.23; 2 Co 5.8; Mt 10.28; Lc 23.46; At 7.58; Ec 3.1-3). O que é a alma ou o
espírito do homem? Ninguém o pode explicar. Deus é Espírito (Jo 4.24). Anjos
são espíritos (Hb 1.14). Nós, seres racionais, só podemos analisar o que vemos
e sentimos. O invisível foge à nossa compreensão. Cabe-nos aceitar e confiar
naquilo que Deus nos diz em sua palavra. Por isso cremos que somos corpo e
alma. E o que é a alma? É a sede dos sentimentos, do ânimo. A alma está
intimamente ligada ao corpo, que é sua casa (2 Co 5.1). A alma atua pelo corpo
e pelos sentidos (1 Co 13.11). A alma age pelo corpo e pelos órgãos do corpo. E
Deus se comunica conosco pelos sentidos da razão. “A fé vem pelo ouvir e o ouvir
da palavra de Deus” (Rm 10.17). “Abriu-lhes o entendimento para compreenderem
as Escrituras” (Lc 24.17). Por natureza, devido ao pecado original,
somos em coisas espirituais cegos, mortos e inimigos de Deus (Rm 1.28; Ef 4.17;
Ef 2.5; 1 Tm 6.5; 2 Tm 3.8; Tt 1.15). A alma está tão ligada ao corpo e toda sua
percepção depende do corpo. O apóstolo Paulo afirma: “ Como crerão naquele de quem
nada ouviram” (Rm 10.14). Mesmo que Deus nos tenha amarrado à sua
palavra, ele, na verdade, está livre para agir quando, como e onde quer. O
apóstolo Paulo fala disto em 2 Co 12.2-4. O Espírito Santo atuou em João
Batista, quando ele ainda estava no ventre materno (Lc 1.44). Satanás também
procura agir nas pessoas. Ele domina nos que lhe pertencem e tenta os cristãos
constantemente, tendo em nossa carne um forte aliado (1 Pe 5.8; 1 Co 6.18; Gl
5.16-26). Se alguém sede às tentações, Satanás volta a fazer habitação naquela
pessoa (Lc 11.25; Ef 6.12).
Assim a grande diferença entre homens e
animais está nisto que o homem recebeu uma alma, conforme a imagem divina (Gn
1.27), e tem uma relação única com Deus. Ele é servo e administrador de Deus em
relação às outras criaturas (Sl 8.5-8).
3.2 - A morte - Deus colocou os homens no jardim do Édem. Ali
estava a árvore do conhecimento do bem e do mal. Não era uma árvore especial,
mas uma árvore determinada por Deus. “Do conhecimento do bem e do mal,”
no sentido de revelar se o homem seria fiel a Deus ou não. Deus disse a Adão e
Eva: “No
dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gn 2.17). Isto não era
uma ameaça, mas uma séria indicação sobre o que acontecerá se desobedecerem.
Deus não estava coagindo à obediência. O homem era bom. Ele tinha o
bem-aventurado conhecimento de Deus e possuía o livre arbítrio. Se
desobedecesse, perderia o estado de graça e bem-aventurança e seria eternamente
separado de Deus. Infelizmente, Adão e Eva, tentados por Satanás, de livre e
espontânea vontade desobedeceram a Deus. O apóstolo Paulo afirma: “Por
um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12). O
pecado fez e faz separação entre Deus e os homens (Is 53.60). Deus não criou o
homem para a morte e sim para a vida. Após um tempo, se o homem não tivesse
desobedecido, comeria da “árvore da vida” (Gn 3.22) e
passaria para a vida eterna (Pv 3.18; Ap 2.7). Também esta árvore não era uma
árvore especial, mas designada por Deus para dar a vida eterna, como hoje o
batismo e a santa ceia, os sacramentos que dão a vida eterna como o apóstolo
afirma: “O batismo agora vos salva” (1 Pe 3.21; Tt 3.5). O homem foi
criado para a vida eterna. A morte não é algo natural, mas uma intrometida. Ela
veio por causa do pecado. Ela separa corpo e alma. Ela rebenta o laço mais
íntimo na pessoa, o laço entre corpo e alma. O corpo volta ao pó da terra do
qual foi tomado e a alma comparece diante do trono de Deus para julgamento,
como o afirma a Escritura: “ E, assim como aos homens está ordenado
morrerem uma só vez e depois disto, o juízo” (Hb 9.27). E Jesus disse
ao malfeitor na cruz: “ Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc
23.43).
3.3 - Como a morte foi vencida? - O
pecado separou os homens de Deus. O santo e justo Deus cumpriu sua lei: “Por
que no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17; Rm 5.18; Is
66.24; Mc 16.16). “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as cousas
escritas no livro da lei, para praticá-la”(Gl 3.10). Pelo pecado, o
homem tornou-se escravo de Satanás. “Aquele que pratica o pecado procede do
diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio” (1 Jo 3.8). O
pecado tornou o homem réu de morte. “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). O
homem por si, por seus esforços, sua penitência, seus sacrifícios não pode
salvar-se. “Nenhum irmão pode salvar outro irmão, seus recursos se esgotariam
antes” (Sl 49.7,8).
Mas Cristo, o eterno Filho de Deus se
dispôs salvar a humanidade. Para isto Jesus, o eterno filho de Deus, gerado do
Pai desde a eternidade, adotou nossa natureza humana, e veio a nascer da virgem
Maria. Como nosso irmão na carne, tomou o nosso lugar. E como substituto de
toda a humanidade, ele cumpriu a lei de Deus, pagou pelos pecados de toda a
humanidade, venceu o pecado, a morte e Satanás e trouxe o perdão e a vida. A
Bíblia afirma: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). “Deus
estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as
suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que
somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso
intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos deixeis reconciliar com
Deus” (2 Co 5.19,20). “Porque, como pela desobediência de um só
homem muitos (os muitos, todos) se tornaram pecadores, assim também por meio
da obediência de um só muitos se tornaram justos” (Rm 5.19). Deus mandou proclamar a salvação à toda
humanidade (Mt 2.19-20). Toda a pessoa que der ouvidos à palavra de Deus, se
arrepender de seus pecados e confiar na graça de Cristo, tem o que Deus lhe
oferece, dá e sela em sua palavra, a saber, perdão, vida e eterna salvação.
Pela fé na graça de Cristo a pessoa volta à comunhão com Deus, ao estado de
filho de Deus e herdeiro da vida eterna. Como tal aguarda a ressurreição da
carne, conforme a promessa de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em
mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá
eternamente” (Jo 11.25-26). Cremos no fato histórico de que Jesus
Cristo verdadeiramente ressuscitou da morte. Por isso confessamos no Credo
Apostólico: “Desceu ao inferno (para
mostrar sua vitória, 1 Pe 3.19), no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu
ao céu e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a
julgar os vivos e os mortos.” Esta ressurreição de Cristo é tão importante
e consoladora, porque ela prova incontestavelmente: 1) que Cristo é Filho de
Deus e verdadeira a sua doutrina; 2) que Deus Pai aceitou o sacrifício de seu
Filho para a reconciliação do mundo; 3) que todos os fiéis ressuscitarão para a
vida eterna (Rm 1.4; Jo 2.19; 1 Co 15.17; Rm 4.25; Jo 14.19; Jo 11.25,26).
3.4 - Afirmações sobre a ressurreição - A doutrina da ressurreição
da carne precisa ser entendida desde a primeira promessa feita por Deus a Adão
e Eva. Deus lhes prometeu: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre
a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). O que significaram estas palavras para
Adão e Eva? Eles haviam caído em pecado. Perderam a santidade original. Eram,
agora, réus da eterna condenação. Estavam separados de Deus e tornaram-se
escravos de Satanás. Não tinham como fugir da ira divina, nem como recuperar a
santidade perdida. Então Deus, por compaixão, se colocou ao lado deles e lhes
prometeu salvação. O Salvador os reconciliaria com Deus e derrotaria o pecado,
a morte e Satanás. Derrotado o inimigo, teriam novamente de volta a vida.
Portanto, haverá ressurreição da carne. Adão e Eva e muitos de seus
descendentes apegaram-se a esta promessa. Por isso Jesus afirmou: “Ora,
Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem” (Lc
20.38). Eles creram e falaram
desta bênção e vida. Confira: Gn 5.24; 15.15; 22.18; 49.18; Ex 3.6; Dt 32.39; 1
Sm 2.6; Jó 19.25-27; Sal 16.9-11; 17.15; 49.15,16; 68.11; 102.27-29; Os 13.14;
Is 25.7,8; 26.19; 51.6; Ez 37.1-4; Dn 12.2; Mt 3.13-4.6.
Uma das passagens do Antigo Testamento que
fala da ressurreição com muita clareza está no livro de Jó. Jó afirma: “Porque
eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. Depois,
revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei
por mim mesmo. Os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o
coração dentro de mim” (Jó 19.25-27). As palavras são claras e
dispensam comentários. Jó, em meio à sua grande dor, tendo a morte diante dos
olhos, canta, jubila e proclama sua esperança na ressurreição. Em breve, assim
pensa, serei pó. Mas este não será o meu fim. Sei que Deus me é misericordioso.
Ele me levantará do pó da terra. Jó tem certeza de sua ressurreição e descreve
como ela será: com meus olhos, na minha pele verei a Deus. Maravilhoso.
Infelizmente a incredulidade tem levado muitos exegetas a distorcerem estas
palavras.
A certeza da ressurreição da carne
baseia-se na ressurreição de Cristo. Jesus tomou sobre si os nossos pecados,
foi castigado por Deus em nosso lugar, morreu por nós e conquistou a salvação
para toda a humanidade. Ora, salvação é a restituição da vida. Esta restituição
não seria completa se não houvesse ressurreição da carne. A Escritura confirma
com muitas palavras esta verdade.
- O salário do pecado é a morte,
mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm
6.23).
- É manifestada agora pelo
aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus o qual não só destruiu a morte,
como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho (2 Tm 1.10).
- Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, porque todos pecaram ... Pois assim como por uma só
ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um
só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá
vida (Rm 5.12-18).
O que esta vida é após a morte vem
explicado detalhadamente em 1 Coríntios 15. Nossos pais
compreenderam estas palavras corretamente, incluindo as nos credos ecumênicos e
nas confissão.
IV - A Ressurreição
Vamos, agora, focalizar algumas afirmações
gerais sobre a ressurreição da carne e depois analisar o “como” da
ressurreição.
4.1 - Afirmações gerais - “Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo ressuscitará a Cristo Jesus
dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortos, por meio do seu
Espírito que em vós habita” (Rm 8.11). O que significa esta afirmação: “Vivificará
também os vossos corpos mortais?” O que estava morto será vivificado.
Os corpos, nos quais aqui, enquanto vivo, o Espírito Santo habitava, esses
mesmos corpos serão vivificados. O apóstolo continua no v.23: “E
não somente ela (a criação), mas também nós que temos as primícias do Espírito,
igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção
do nosso corpo.” O apóstolo afirma que estamos aguardando a redenção do
corpo, isto é, que o corpo seja libertado da morte. Portanto, este nosso corpo
mortal deverá ser libertado da morte. Como? A morte terá de devolver o corpo. O
corpo voltará à vida. Isto é a ressurreição.
Outra afirmação importante: “O
qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo de sua
glória, segundo a eficácia do poder que tem de até subordinar a si todas as
cousas.” (Fp 3.21). Nosso corpo humilhado pela morte será transformado
e será igual ao corpo de Cristo. O poder de Deus o fará. O apóstolo compara a
nossa ressurreição com a ressurreição de Cristo. Olhemos para Cristo. Não foi o
mesmo corpo que foi crucificado e deitado na sepultura que de lá levantou? E,
por sua especial vontade, manteve, após a ressurreição, as marcas dos cravos,
para dar-nos toda a certeza de que é ele mesmo e o mesmo corpo. Jesus tinha
dito: “Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.
Ninguém a tira de mim, pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho
autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu
Pai! (Jo 10.17,18). O apóstolo
Paulo afirma que Jesus é “a primícia dos que dormem” (1 Co 15.20).
Assim a Escritura afirma que os corpos serão ressuscitados. Teremos o nosso
corpo de volta. O mesmo corpo que temos agora. Lembramos Enoque e Elias que
foram levados com seus corpo ao céu, bem como Moisés que com Elias apareceu
corporalmente a Jesus no monte da transfiguração (Mt 17.1-8).
Temos ainda uma passagem muito interessante
no segundo livro de Macabeus. O livro de Macabeus não conta entre os livros
canônicos. Ele é bom para a leitura, mesmo não sendo um livro inspirado. Não
podemos basear doutrinas nele. Mas há no mesmo um relato interessante. É uma
história cruel. Um jovem judeu está para ser torturado e morto. Antes de lhe
cortarem a língua e as extremidades dos membros do corpo, ele dá o seguinte
testemunho: “Do céu recebi estes membros,
e é por suas leis que os desprezo, pois espero dele recebê-los novamente ( 2
Macabeus 7.11). Confira outras afirmações bíblicas sobre a ressurreição: Jo
5.21; 6.29,40,44,45; At 24.15,21; 26.8; Rm 4.7; 1 Co 6.14; 2 Co 1.9; 4.14; Fp
3.11; 1 Ts 4.16.
Em resumo: A morte terá de devolver os
seus mortos desde Adão e Eva até a ultima pessoa que falecerá antes do juízo
final. O mesmo corpo que voltou ao pó da terra se levantará, será refeito pelo
poder de Deus. Mas, como ressuscitarão os mortos?
4.2 - Como ressuscitarão os mortos e com que corpos? - O apóstolo
Paulo escreve: “Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar
a incorrupção” (1 Co 15.50). O que significam estas palavras? Não há
aqui uma contradição? Afirmamos que na ressurreição se levantará o nosso corpo,
o mesmo corpo. E o apóstolo afirma que “carne e sangue não podem herdar a vida” (1
Co 15.50). Como? Ele explica: “A corrupção não pode herdar a incorrupção.”
A palavra corrupção aparece nos seguintes textos bíblicos: Rm 8.21; 2 Pe 2.12;
l Co 15.42; Cl 2.22; Gl 6.8; 2 Pe 1.4; 2.19) e significa, sem dúvida alguma, o
pecado original. O pecado original é o pecado que herdamos de Adão e Eva.
Também a expressão: “As obras da carne” (Gl 5.19), tem este sentido, como frutos do
pecado original. Por isso Jesus afirma: “Do coração procedem os maus pensamentos”
(Mt 15.19). Portanto, o corpo, assim corrompido pelo pecado, não pode
herdar o céu. Como fiéis em Cristo temos, na verdade, o perdão, mas o pecado
ainda está nós. Somos simultaneamente santos e pecadores. Quando morremos, completa-se em nós a ação do
batismo, nosso “velho homem” é definitivamente afogado e morto.
E, quando ressuscitamos, ressuscitaremos sem o pecado. E tudo o que o pecado
estragou nos fiéis, será afastado. O apóstolo Paulo fala disto em 1 Co 15, 35 a
50. No versículo 35, onde levanta a pergunta: “Como ressuscitarão os mortos? e
com que corpos?” Em primeiro lugar o apóstolo responde a pergunta: Como
é possível? E responde: “Insensatos! o que semeias não nasce, se
primeiro não morrer?” (v.37). Pelo exemplo da semente, o apóstolo
mostra que é preciso morrer primeiro, para então reviver. Se isto acontece com
a semente, seria impossível para Deus fazer isto com nosso corpo? “Para
Deus não haverá impossíveis em todas as suas obras” (Lc 1.37). Ele o
determinou assim. O seu poder o realizará.
Mas, com que corpos ressuscitarão? E
responde: “Quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão”
(v.37). Semeia-se o grão. Este grão germina e dele nasce uma planta que
é a mesma matéria, mas suas qualidades são bem diferentes. Deus deu àquela
planta, àquela matéria um corpo novo, com novas qualidades. Isto é uma
comparação. Algo semelhante acontece na ressurreição. Em resumo: na
ressurreição teremos o nosso próprio e mesmo corpo, o corpo que tivemos aqui em
vida. Agora purificado do pecado original e de todos os pecados, e adornado com
novas qualidades. Você se reconhecerá como sendo você mesmo. Que beleza. Toda
corrupção, todo o pecado, tudo o que o pecado estragou será afastado e seremos
revestidos com glória e esplendor, e novas qualidades para a vida no “novo
céu e nova terra” (Ap 21.1).
O apóstolo Paulo entra em maiores
detalhes: “Nem toda carne é a mesma” (v.39). Há exemplo disto na
natureza. A mesma carne, da mesma matéria, mas diferente. Assim será na
ressurreição.
Outro exemplo: “Corpos celestes com glória
diferente” (v.40). Então o apóstolo passa para a aplicação da verdade: “Assim
também é a ressurreição” (v.42). Veja, assim como Deus faz da mesma
matéria criaturas diferentes em sua forma, aparência e glória; assim o fará no
dia da ressurreição com o nosso corpo. Semeia-se. Você será sepultado. O que
vai à terra é o corpo corruptível, corrompido pelo pecado, desonrado. Mas
ressuscitará na incorrupção. Quão diferente será o corpo.
E mais: “Semeia-se corpo natural,
ressuscitará espiritual” (v.44). O apóstolo Paulo fala aqui de dois
corpos, um natural e outro espiritual. O que significa isto? Quando Deus criou
Adão e Eva, deu-lhes uma alma vivente e os colocou no jardim do Édem. Ali
deveriam viver. Multiplicar-se e cultivar o jardim. Estavam sujeitos às leis
terrenas. Tinham um corpo natural. Isto é, uma natureza apropriada para a vida
nesta terra, sujeita às leis desta terra. A queda em pecado corrompeu o homem e
trouxe aflições e morte.
O apóstolo diz também que há corpo
espiritual. Deus não criou o homem somente para a vida aqui na terra, mas para
a vida eterna. Por isso havia no jardim do Édem também a árvore da Vida. Se o
homem não tivesse pecado, após um período de vida, Deus lhes daria ordem para
comer da árvore da Vida, a fim de ser transformado e passar para a vida eterna.
Mas o pecado estragou tudo. Para nos redimir do pecado, Jesus veio ao mundo, o
segundo Adão, o Filho de Deus. Ele nos reconquistou a vida espiritual. Agora
temos corpo natural, depois virá o corpo espiritual. Isto é, Deus dará ao nosso
corpo novas qualidades para vivermos diante da face de Deus que é espírito e
dos anjos que são espíritos, no céu, onde há outras leis de existência. Agora temos
um corpo apto para a vida nesta terra. Na ressurreição, Deus dará ao nosso
corpo qualidades espirituais para a vida no céu junto com ele. Como serão estas
qualidade? Ninguém consegue imaginar nem descrever. O apóstolo afirma: “Amados,
agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque
havemos de vê-lo como ele é” (1 Jo 3.2). Estaremos comendo e bebendo
com Abraão, os apóstolo e Jesus. “Digo-vos que, desta hora em diante, não
beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo,
convosco no reino de meu Pai” (Mt 26.29). Com esta palavra Jesus nos
mostra que o céu será maravilhoso. De nada adiantam especulações se
precisaremos ou não comer e beber no céu.
Concluindo, vimos duas coisas: Nosso corpo
será ressuscitado. Ao ressuscitar, os fiéis estarão livres da corrupção. Em
segundo lugar, os fiéis serão revestidos de novas qualidades, qualidades para
poderem viver no lar celestial, junto com Deus. Serão qualidades celestiais,
espirituais. Confira ainda: Fp 3.20; Lc 24.34-37; Rm 8.23,29; Mt 13.43; 1 Jo
3.2).
Precisamos dizer ainda alguma coisa sobre
aqueles que viverão até o dia do juízo final. Temos duas palavras que abordam o
assunto. “Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos,
os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que
dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do
arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro, depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos
ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.15-17).” Eis que vos digo
um mistério. Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num
momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta” ( 1 Co
15.51-53). O que diz esta palavra de Deus? Ela diz que os vivos estarão
ao lado dos ressuscitados, diante do trono de Jesus. Mas com que corpos? Seus
corpos serão imediatamente transformados e adornados. Assim estarão ao lado dos
ressuscitados na mesma glória. Este é o arrebatamento, que muitos interpretam
erradamente, colocando-o antes do juízo final. O que não concorda com as demais
afirmações da Bíblia.
Mas, o que acontecerá aos que não creram?
As pessoas que morreram sem fé, também serão ressuscitados (ou se colhidos pelo
dia do juízo final sem fé, transformados) pelo poder de Deus, mas para juízo e
condenação. Seus corpo não serão purificados. Serão “um horror para toda a carne” (Is
66.24), “ vergonha e horror eterno” (Dn 12.2). Confira ainda: At
4.11,12; Jo 3.36; Sl 49.15; 1 Jo 3.14; Is 66.24; Mc 16.16; At 24.15; Jo 5.28,29;
Dn 12.2).
O céu
“Hoje estarás comigo
no paraíso! (Lc 23.43)
Um diálogo impressionante na cruz. Um dos
malfeitores, que no início também zombou de Jesus (Mt 27.44), que, ouvindo as
palavras de Jesus na cruz, de repente chega a uma outra conclusão. Reconhece
que merece o castigo, repreende seu companheiro, reconhece Jesus como filho de
Deus e lhe suplica: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reino” (Lc 23.42).
Que coragem, pedir que seu nome sujo seja lembrado no reino dos céus. Ainda
mais surpreendente é a resposta de Jesus. “Em verdade, te digo que hoje estarás
comigo no paraíso.” O que Jesus está lhe dizendo, ele o afirma sob juramente:
“Em verdade! Eu te digo hoje estarás comigo no paraíso.” Jesus não diz: Eu
acho, talvez, espero. Não. Sua afirmação é categórica: Tu vais estar comigo no
paraíso. Jesus não lhe prometeu alívio dos sofrimentos, mas algo muito maior, o
paraíso, após os sofrimentos. O que é paraíso? Pouco depois Jesus exclama:
“Pai, nas tuas mais entrego o meu espírito.” O paraíso é estar diante e com o
Pai celestial, nas mãos de Deus Pai.
Que mudança. De uma vida de bandido,
condenado, encarcerado, crucificação para a presença de Deus, no paraíso. Esta
promessa Jesus a disse de muitas formas, por exemplo? “Para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). “Eu vivo e vós, vós também
vivereis” (Jo 14.19).
Viver no paraíso. O malfeitor, sua alma,
seu ser, estará no paraíso. Todos seus pecados foram perdoados. Ele foi
revestido do manto branco da justiça de Cristo. A justiça de Cristo o perpassa
completamente. Ele comparece diante de Deus Pai, lavado, purificado, santo. E
verá sempre a face do Pai celestial. Estará em comunhão com o Pai, em
bem-aventurada comunhão. Não haverá mais desejos egoístas, pensamentos maus no
coração, nem inveja, nem ciúmes. Para nós, de momento, algo inimaginável.
Seremos como os anjos (Mt 22.30).
Mas e o seu corpo? Seu corpo aguardará a
ressurreição, o grande dia do Juízo Final. No qual Deus criará o novo céu e a
nova terra, na qual habitará justiça para sempre. Nela não haverá mais dor nem
morte, somente eterna bem-aventurança.
Que tipo de espera pela ressurreição do
corpo é essa? Nós aqui contamos dias, anos e séculos, mas na eternidade não
existe tempo. “Um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe 3.8)
Também isto foge à nossa compreensão.
Na ressurreição, todos receberão de volta
o seu corpo. Os incrédulos para horror eterno (Dn 12.2), os fiéis para a vida
eterna (Dn 12.2; Jo 5.28,29). Morte e pecados são afastados definitivamente
dois fiéis. Seu corpo será revestido de perfeição e glória, conforme vimos de 1
Co 15.
“Aquele que dá testemunho
destas coisas diz: Certamente venho sem demora. Amém. Vem, Senhor Jesus” (Ap
22.20).
Conclusão
Vimos a gloriosa doutrina da ressurreição.
Que proveito temos dela? Vimos que Cristo “morreu pelos nossos pecados e ressuscitou
para nossa justificação” (Rm 4.25). Pelo batismo nos tornamos
participantes da morte e ressurreição de Cristo e, enquanto permanecermos na fé
na graça de Cristo, somos membros do corpo de Cristo, pois fomos enxertados no
corpo de Cristo (1 Co 12.12-31). Ouçamos o que o apóstolo Paulo diz a respeito:
“E
juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em
Cristo Jesus” (Ef 2.6). “Tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo,
no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o
ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12). “Portanto, se fostes ressuscitados
juntamente com Cristo, buscai as cousas lá do alto, onde Cristo vive, assentado
à direita de Deus” (Cl 3.1). Esta fé é alimentada e fortalecida pela
palavra de Deus e a participação do sacramento do altar, que nos dá forças para
proclamar sua morte até que ele venha. No momento de nossa morte, nosso velho
homem, nossa natureza pecaminosa é definitivamente afogada e morta. Na
ressurreição, nosso novo homem será refeito em sua plenitude e teremos o mesmo
corpo, mas adornado com qualidades celestiais, apto para viver diante de Deus
em perfeita justiça e santidade, no novo céu e na nova terra.
Ser cristão, por isso, não significa
simplesmente crer em algumas doutrinas, procurar viver conforme alguns
princípios éticos e dar o melhor de si para o bem estar do próximo. Ser cristão
significa ter participado da 1ª ressurreição, a conversão, o renascimento pela
fé em Cristo e ser enxertado no corpo de Cristo para uma vida com Deus, neste
mundo e na eternidade. E, enquanto aqui na terra, ser engajado na luta contra o
reino das trevas. Em Cristo nossa vida adquire novo propósito de vida. Mesmo em
meio ao sofrimento somos consolados. A esperança da glória perpassa todos os
momentos e nos enche de força, consolo e esperança (Lc 21.16-18). Por isso o
apóstolo Paulo, após ter falado sobre a ressurreição da carne, ordena: “Consolai-vos
uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.13). Sim, estas palavras nos
consolam. Dizemos com o apóstolo Paulo: “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos;
se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do
Senhor” (Rm 14.8,9).
São
Leopoldo, Páscoa 2015
Horst
R. Kuchenbecke
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