quarta-feira, 25 de setembro de 2019














F i d e l i d a d e      M i n i s t e r i a l

































Horst R. Kuchenbecker

São Leopoldo, Pentecostes 2008




UM MINISTÉRIO FIEL – O BISPO DEVE SER IRREPRENSÍVEL


Introdução
      Oração: Senhor Jesus, concede-nos um ministério fiel, pastores apegados à tua Palavra, que vivam diante de ti em diário arrependimento, fé e vida santificada; dedicados de todo o coração à pregação de tua Palavra, chamando destemidamente ao arrependimento, consolando os pecadores penitentes com a graça de Cristo, encorajando-os para a vida santificada, por Cristo, o Senhor da Igreja. Amém.

     Assim oravam e oram ainda muitos pastores e leigos cristãos. Esta oração sempre foi necessária, muito mais em nossos dias, nos quais cresce a indiferença para com a Palavra de Deus, dias nos quais os bons costumes e a moral estão sendo subvertidos.
    Para fazer frente a isso, se requer sobre tudo um ministério fiel. Pastores que vivam em íntima comunhão com seu Deus, dedicados ao estudo da Palavra e à oração, que sejam templos do Espírito Santo, lutem por vida santificada, sendo irrepreensíveis e modelos para o rebanho. Para tal, o apóstolo Paulo recomenda: Fiel é a Palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de que não caia no opróbrio e no laço do diabo (1 Tm 3.1-7[1]). Por isso é preciso reafirmar:  

I - O pastor deve ser irrepreensível e modelo para o rebanho.
1 Tm 3.1-7; Tt 1.6; 1 Pe 5.1-4.

1.1. A eficácia da Palavra de Deus. Precisamos afirmar logo de início que a eficácia da Palavra de Deus e dos sacramentos não depende, na verdade, do grau de santificação do pastor, como alguns têm afirmado. O famoso pregador batista Charles H. Spurgeon (1824-1892) afirmou: “O sucesso do ministério depende do grau de graça (santificação) do pastor.” Lutero o expôs corretamente ao afirmar em sua exposição do Salmo 139.9: “Mesmo sendo a palavra anunciada e os sacramentos administrados por um hipócrita e grande pecador, eles não perdem sua eficácia[2].” A eficácia da Palavra de Deus não depende da fé nem do grau de santificação da pessoa que anuncia a Palavra ou administra os sacramentos, pois por estes meios o Espírito Santo atua poderosamente (Is 55.11; Hb 4.12; Rm 1.16).

1.2. Esta verdade é muito consoladora. A doutrina da eficácia da palavra de Deus e dos sacramentos, independente da fé daquele que os administra, é doutrina consoladora tanto para os pregadores como para os ouvintes; mas não deve servir de pretexto para a malícia (1 Pe 2.16). Não deve levar ministros a serem levianos em sua vida santificada; nem as congregações a admitirem ou aturarem no ministério pessoas que sejam repreensíveis.

1.3. O Santo Ministério, um dom de Deus para sua Igreja na terra.
     O apóstolo inicia sua admoestação dizendo: Fiel é a palavra (v.1). Com este “fiel” o apóstolo indica que esta palavra vale para todos os tempos, até o fim dos séculos.
     Quem aspira  ao episcopado (v.1). A entrada no santo ministério começa normalmente com o aspirar, o desejar. O jovem, ou pessoa adulta, sensibilizado pela palavra de Deus, pelos sermões e estudos bíblicos, pela palavra dos pais e amigos começa a refletir e desejar, como fruto de sua fé, torna-se pastor. Com este desejo começa também uma luta interna cheia de dúvidas e anseios, tais como: Você não tem aptidões para isso. Vai ser muito difícil. É uma vida que requer muito sacrifício. Também as opiniões de fora: O que, você pastor? Mas isto não dá dinheiro. Você tem capacidade para algo muito melhor. Esse desejo, essa luta pelo ministério precisa ser amparada por pais, pastores e muita oração para ser concretizado.
     Excelente obra almeja. (v.1) Em que consiste esta excelência? É o privilégio de servir mais diretamente a Deus, de lutar pela salvação de almas. Exige também sacrifício e abnegação, como o mostram os adjetivos que seguem.  
    Episcopado (v.1). O que é um bispo? A palavra bispo só aparece três vezes no Novo Testamento. Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue (Atos 20.28). Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos (Filipenses 1.1), Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma (1 Pedro 2.25). Nesta última passagem o apóstolo Pedro chama a Jesus de Bispo. Para entendermos melhor o que o Novo Testamento compreende sob a palavra bispo, precisamos considerar mais algumas passagens. De Mileto o apóstolo Paulo mandou chamar os presbíteros da igreja (At 20.17) e a estes chamou também de bispos (v.28) para pastorearem a igreja de Deus. Assim, bispos e presbíteros são pastores. A isto temos que somar ainda as palavras de Paulo aos efésios e coríntios: E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres (Efésios 4.11). A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas[3] (1 Coríntios 12.28). Aqui o apóstolo menciona apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Ora, apóstolo eram somente os doze. Não há outros. Evangelistas eram auxiliares dos apóstolos. Profetas, com o dom especial, também não os temos mais neste sentido. Restam, portanto, (evangelistas, englobados nos pastores) pastores e mestres, os que se esmeram no ensino da palavra de Deus. A esta classe pertencem também os presbíteros e bispos. Portanto, os que no Novo Testamento “presidem as igrejas, chamam-se pastores, presbíteros ou bispos[4].” Mas o aspirar e preparar-se para tal, digamos a “vocação interna”, bem como a formação de bacharel em teologia, ainda não faz da pessoa um pastor. Ele precisa ter o chamado de uma congregação (ou Igreja). Lemos na Confissão de Augsburgo, art. V, Do Ofício da Pregação: Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos um Deus gracioso, se o cremos. Este artigo fala dos deveres do ofício, mas não de quem deve exercê-lo. Isto é dito no artigo XIV, Da Ordem Eclesiástica. Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular ninguém deve publicamente ensinar ou pregar ou administrar os sacramentos na igreja. Aqui precisamos detalhar algumas perguntas. Quem tem o direito de exercer o ofício pastoral? O fato de alguém ser cristão e pertencer à raça eleita, ao sacerdócio real, à nação santa (1 Pe 2.9), com direito de ler e testemunhar da palavra de Deus, orar, admoestar e consolar, ainda assim não lhe dá o direito de fazê-lo publicamente, numa congregação, onde todos são seus iguais. Por isso o apóstolo admoesta: E como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! (Romanos 10.15). Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão (Hebreus 5.4). Essas passagens mostram que somente aqueles que são chamados regularmente ao ofício pastoral, têm o direito de exercê-lo.[5]
     Temos dois tipos de chamados: o direto e o indireto ou mediato. Os profetas e apóstolos foram chamados diretamente por Deus. Hoje não temos mais esse tipo de chamado, o direto. Ele também não é mais necessário. Deus chama, hoje, pela congregação ou igreja. 
     Num chamado distinguimos quatro itens. Os primeiro dois são fundamentais, os outros dois são praxe. 1) A eleição pela respectiva Comunidade deve ser unânime. 2) A notificação do chamado pode ser oral, mas recomenda-se dá-la por escrito. 3) Exame do candidato a ser chamado quanto à doutrina, habilidade e comportamento.  Normalmente isto é avaliado pelos responsáveis, Conselheiro e Presidente da Igreja. Mas quando há dúvidas sobre a seriedade dessa avaliação, especialmente em tempos de desleixo e liberalismo, a comunidade pode fazer esse exame. 4) A ordenação. A ordenação não é um sacramento, nem ordenado por Deus, mas uma boa praxe da igreja para comunicar à Comunidade, à igreja e à sociedade de que a pessoa aceitou o chamado e assume seu compromisso conforme a confissão doutrinária da Comunidade, a Comunidade por sua vez o recebe e intercede por ele.    
     A ele é confiado o poder de ministrar publicamente a Palavra de Deus e os Sacramentos, bem como o Ofício das Chaves, para disciplinar e absolver. Dr. Walther, em suas teses sobre o Santo Ministério, afirma: “O Santo Ministério ou Ofício da Pregação é um ofício distinto do sacerdócio espiritual de todos os crentes” (Tese 1). “O Ofício da Pregação tem o poder de pregar o Evangelho, administrar os santos sacramentos e o poder de julgar coisas espirituais” (Tese 5). “O Ministério da Pregação é o ofício supremo na Igreja, do qual decorrem todos os demais ofícios” (Tese 8).[6] O apóstolo Paulo acrescenta ainda: Para aperfeiçoamento dos santos (Ef 4.12). A palavra santos usada para os membros é importante, isto é, conforme o uso e significado no Antigo Testamento: separados de. Israel foi separado dos demais povos para ser povo para Deus. Um povo a quem Deus deu sua lei, os Dez Mandamentos. Lutero os expõe corretamente ao começar a exposição de cada mandamento com as palavras: Devemos temer e amar a Deus, e, portanto,... Isso é o terceiro uso da lei. Esta lei e não a cultura local molda o estilo de vida, a vida ética, desse povo, diferenciando-o das demais nações. Eles têm valores e convicções diferentes. O apóstolo Pedro lembra aos fiéis a palavra de Moisés: Sede santos, porque eu sou santo (1 Pe 1.16; Lv 11.44; 19.2). O que significa isso para a vida pastoral? Deus diz ao profeta Jeremias: Eu te consagrei (Jr 1.5), isto é, coloquei-te à parte para servires de forma especial ao propósito de Deus, o que inclui a santificação. Isto tem a ver com o estilo de vida. Quem vai governar no meu coração: o Espírito Santo ou o meu “eu”, minha natureza carnal? Nesta luta, importa afogar diariamente o velho homem com todas suas paixões e concupiscências. Jesus afirmou: Ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24). E o apóstolo Paulo diz: Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores, herdarão o reino de Deus (1 Co 6.9,10). No ofício pastoral não há lugar para pessoas que são dominadas por esses pecados. Por isso nós pastores oramos diariamente:

Me chamaste para andar na tua presença em santidade e amor. Concede-me o Espírito Santo, o Espírito de sabedoria e entendimento, de graça e de súplica, de conselho e fortaleza, de coragem e alegria, de santificação e de temor de Deus. Reveste-me da sabedoria do alto. Amém.[7]

Sem esta oração, não subsistiremos na luta, nem teremos forças para um ministério fiel.
     Confira também o chamado de apóstolo Paulo, Gl 1.15. A igreja deve escolher seus ministros conforme a ordem e as qualificações ordenadas por Deus em Mt 16.15-18; 18.15-20; Jo 20.19-23; 1 Tm 3.15; 1 Co 3.21-23. Aquilo que a Igreja possui como um bem comum, ela o confere a pessoas que ela escolhe, chama e ordena conforme a ordem e promessa de Cristo (Jr 1.8,9; At 18.9). E os que ocupam o cargo, são constituídos pelo Espírito de Deus como embaixadores de Cristo (2 Co 5.19). Deles se requer um elevado padrão de santificação na vida pública, privada e individual, pois devem ser exemplo como mostram as qualificações mencionados pelo apóstolo.  

1.4. Qualificações especiais. As pessoas escolhidas para serem ministros devem ter qualificações especiais (At 6.3; 1 Tm 1.3; Tt 1.6). Uma excelente obra, requer excelentes pessoas. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível (1 Tm 1.3; Tt 1.6). A palavra “é necessário” aparece quatro vezes, mostrando a importância dessa recomendação (1 Tm 3.2,7,8,11). O apóstolo não coloca aqui um ideal ou máximas a serem alcançados, porém critérios mínimos requeridos para que uma pessoa possa ocupar o cargo e/ou permanecer nele. O verbo “seja”, não trata de virtudes, mas de carismas, de qualificações indispensáveis. A Igreja não deve chamar pessoas ao ministério, nem permitir que atuem no ministério, que não tenham esses carismas. Vamos analisar os diferentes itens.

1.5. Devem saber cuidar de si e da doutrina (At 20.28: 1 Tm 4.16). A esse respeito o Dr. Walther escreve: “De acordo com a Palavra de Deus, um pregador íntegro não deve ter cuidado somente do rebanho que lhe foi confiado e da doutrina, mas também de si mesmo (At 20.28; 1 Tm 4.16). Ele deve ser irrepreensível em sua vida particular e pública (1 Tm 3.2; Tt 1.7), ser exemplo em tudo para o seu rebanho (1 Pe 5.1-4). Não deve, em coisa alguma, ser “motivo de escândalo para que o ministério não seja censurado[8]” (2 Co 6.3). E não somente ele, mas também todos os membros no seu lar, esposa, filhos e dependentes, devem manter o padrão de uma família cristã. Isto inclui aparência, vestimenta, comportamento, lugares que frequenta na sociedade, etc. (1 Tm 3.4; 1 Sm 2; Sl 101). 
     O pastor deve conhecer bem a doutrina e saber ensiná-la. Isto requer permanente estudo. Refiro-me a um plano progressivo de estudo, além dos seus afazeres e estudos no preparo de sermões e estudos bíblicos. Que se proponha ler num ano, digamos: A Dogmática, no outro ano uma Pastorale, depois o livro: Lei e Evangelho, etc. para não ficar estacionado. Há a necessidade de equilibrar o uso do seu tempo para crescimento pessoal e atividades profissionais[9]. Além de participar, conforme recomendação da Igreja, de estudos de aperfeiçoamento. Deve também saber “cuidar de si,” isto é, ele pessoalmente deve viver em diário arrependimento, confiar no Evangelho que lhe anuncia o perdão de Deus, pela graça de Cristo. Desta fé brota o verdadeiro amor à Deus e ao próximo, que se manifesta pela luta contra o pecado e, pelo apego à lei de Deus, pelo afogar seu velho homem e pelo evangelho fazer ressurgir o novo homem, que tem prazer na lei de Deus, para viver em justiça e pureza diante de Deus eternamente.

1.6. Devem ser modelo para o rebanho 1 Pe 5.3). Doutrina e vida devem concordar. Nossos pais afirmaram: Confessionis sinceritas (confissão sincera), docendi dextenitas (capacidade de ensinar), morum intergritas (costumes puros). Ninguém causa maior dano à Igreja do que aquele que ocupa um cargo na Igreja e não vive conforme a palavra de Deus.
       Os Dez Mandamentos valem para todos os cristãos, dos ministros, no entanto, se requer um grau maior de santificação (2 Co 6.3). Eles devem adornar a doutrina com sua vida (Tt 2.10). Não que exista para eles uma nova moral, mas por estarem em destaque, devem destacar-se também na vida santificada. Pois eles têm o privilégio de dedicar mais tempo ao estudo da Palavra de Deus, à oração e à comunhão com Deus. Assim como não devem ser neófitos e precisam ser aptos para ensinar, assim devem ser modelos para o rebanho. Eles devem ornar sua vida com maior cuidado. E não só evitar pecados, como evitar também a aparência de pecado, por causa do mundo e dos irmãos fracos na fé. Por esta razão, eles desistem muitas vezes de fazer uso de sua liberdade cristã (1 Co 8.9-13). O povo de Deus tem o direito de esperar estas qualificações de seus pastores. Mas cuidado, não banque o santo. Não enfeite sua ira, como sendo ira santa e seu egoísmo como sendo luta pela causa do reino. Não enfeite seus erros, mas confesse seus erros. A Comunidade pode e deve saber que somos pecadores como eles, nos apegamos ao perdão e lutamos. Isto evitará também que nossas pregações sejam duras e sem amor.

1.7. Remir o tempo (Ef 5.16). Usar bem o tempo requer que planejamos bem o uso de nosso tempo. Em primeiro lugar tempo para o estudo da palavra de Deus e a oração (At 6.4). Oração detalhada família por família. Se o pastor não tiver tempo para ouvir a Jesus e falar com ele, quem o terá? O pastor que não ora por seu rebanho não é um bom pastor. A intercessão é requerida pelo ofício e pelo amor ao próximo. Em segundo lugar devemos lembrar que nosso tempo (dias) (Sl 31.15) está nas mãos de Deus. Não devemos ser escravos de nossa agenda e não ter tempo quando formos solicitados pela necessidade do próximo, a exemplo do fariseu e levita na história do bom samaritano. (Lc 10.31) Duas coisas aos quais todos os outros trabalhos devem ceder lugar: A devoção e a necessidade dos irmãos (Johann Eberlin (1525).

1.8. Reavives o dom que há em ti (2 Tm 1.6). O apóstolo Paulo anima seu discípulo Timóteo. Ele estava num trabalho difícil e sofreu afrontas. Nestes momentos é fácil desanimar. Quem de nós não conhece momentos assim. O apóstolo lhe lembra o momento de sua ordenação e instalação (1 Tm 4.14). O ministério foi lhe dado pela imposição das mãos e com isso o Espírito Santo que concede as aptidões para o ofício.   Evangelicamente isto lhe lembra que neste momento não lhe foi dado o espírito de covardia, mas de poder e moderação. O Espírito concede forças para a luta, amor às pessoas e domínio próprio. Para fortalecer esta afirmação, Deus lhe lembra sua graciosa ação, de que ele salvou a humanidade e a chama pelo evangelho (v.9,10), e conclui: guarda o que tens.
     Nós todos precisamos, de tempos em tempos, reler as cartas pastorais para reavivar o dom que nos foi dado.

1.9. Pregar a Palavra (2 Tm 4.2). O principal trabalho e objetivo do ministério, do trabalho do pastor é pregar a palavra de Deus em sua pureza e clareza. O que significa isso.
a) Não nos pregamos a nós mesmos (2 Co 4.5), isto é, nossas experiências. Pelo profeta Jeremias Deus adverte: Até quando sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?  Os quais cuidam em fazer que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu companheiro, assim como seus pais se esqueceram do meu nome, por causa de Baal. O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? - diz o SENHOR. Não é a minha palavra fogo, diz o SENHOR, e martelo que esmiúça a penha?  Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro.  Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse.  Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e os contam, e com as suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o SENHOR (Jeremias 23.23-32). À luz destas palavras precisamos examinar nossos sermões, nossas historinhas contadas para ilustrar, mas que na verdade perturbam a palavra de Deus, e nossos sermonetes, que ensinam um pouco de moral, da teologia atual do Faça-o você mesmo, da Auto-estima, do Positivismo.
b) Queremos pregar fielmente a palavra de Deus. Isto requer estudo, meditação e oração. 
c) Cuidado com as traduções. Ao ler um trecho bíblico, eu preciso ter certeza para poder dizer: Assim diz o Senhor! Não há tradução perfeita. Há melhores e não tão boas, mesmo que seus objetivos sejam bons. Por exemplo, a NTLH esvazia algumas profecias, muda o gênero em algumas passagens, segue alguns modismos. Vejamos alguns exemplos da NTLH: Gn 3.15; Sl 116.13; Is 7.14; Ef 1.7; Gl 2.19; At 3.21. Poderíamos citar muito mais. Algumas destas traduções são gramaticalmente possíveis, mas não conforme a analogia da fé. Outras são fracas. Por exemplo: Mt 28.20, guardar por obedecer. O Novo Testamento Interlinear (Grego/Português) nos e um excelente auxiliar para o Novo Testamento.
d) Importância das visitas. Um pastor que não é visto durante a semana, não será compreendido no domingo. Isto evitará que o pastor levante e responda perguntas que os membros não fazem, enquanto que as perguntas que afligem os membros não são nem ouvidas, muito menos respondidas. 
e) Apresentação. Foi uma lição que meu pai me deu. Apresentei um sermão no qual eu estava muito preso ao texto escrito. Meu pai me disse: O púlpito não é uma cátedra. No púlpito você precisa abrir o teu coração e derramar aquilo de que o coração está cheio. Estuda o texto com a pergunta e oração: Meu Pai celestial, eu devo falar em teu nome e lugar. Fala ao meu coração, para que eu possa falar de coração que teu povo. Se você ler a tua mensagem duas ou três vezes e não consegues retê-la, o que farão teus ouvintes que vão ouvi-la uma vez só. Dali para adiante só levei um rascunho, especialmente início dos parágrafos e dos textos bíblicos a serem lidos.
     A pregação, o ensino é feito em todos os momentos, na família, na sociedade, no trabalho, na recreação. Somos o bom perfume de Cristo (2 Co 2.15).  

 
  
 
II - Qualificações para o ministério

2.1. Irrepreensível. A palavra irrepreensível vem explicada por uma série de adjetivos. No profano, o vocábulo significa um lutador que protege seus flancos para que o inimigo não encontre uma brecha para atingi-lo e o ferir. Estamos, portanto, diante do quadro de um lutador. Alguém que é agredido, que luta contra o inimigo, evitando que este o atinja. Ele está ciente de sua vulnerabilidade, mas se arma com a armadura de Deus (Ef 6.10-18). A luta é árdua. Falhar em notar as ciladas de Satanás, contra as quais a Escritura alerta, cair e ser ferido, poderá resultar em ser forçados a deixar o ministério. Assim, o pastor luta por sua vida santificada, para não dar ao diabo ocasião para prostrá-lo em pecados graves contra a honra. Estes são os pecados especialmente contra a segunda tábua da lei de Deus. Pois se houver contra ele acusações graves de ofensa contra a moral, isto prejudicará seu ministério, e em lugar de reunir o rebanho, ele torna-se um dispersador do mesmo. Daí a seriedade da admoestação. Isto é indicado especialmente pelas palavras finais: Ele deve ter bom testemunho dos de fora. Voltaremos a este versículo mais tarde. Moisés e Samuel andaram de forma irrepreensível diante do povo. O pastor deve ser uma pessoa honesta e honrada, acima de qualquer repreensão, sem vícios que possam incriminá-lo, e que tenha domínio de si próprio.
     Johann Andreas Quenstedt (1617-1685) escreve: “Irrepreensível é uma pessoa a quem ninguém pode acusar de transgressões graves, a quem ninguém possa castigar com a lei.” Esta palavra caracteriza, portanto, alguém que não pode ser incriminado em juízo. “Irrepreensível” (anepílempton, 1 Tm 3.2) é uma pessoa à qual ninguém pode acusar de um crime grave. “Irrepreensível” (anégkletos, Tt 1.6) é uma palavra usada nos tribunais, que descreve uma pessoa que não cometeu crime passível de condenação. O apóstolo Paulo não diz que o pastor deve ser (anamártetos), sem pecado. Diante de Deus somos todos repreensíveis, mas diante dos homens devemos ser irrepreensíveis, como o apóstolo Paulo dá testemunho de si, dizendo: Porque de nada me argüi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor (1 Co 4.4).
       O apóstolo não está afirmando que o bispo deva ser uma pessoa sem pecado. Neste caso Deus teria de chamar anjos como ministros (1 Jo 1.8). Em outras palavras, ele não está falando de pecados de fraqueza, mas de pecados propositais e grosseiros. O ministro não deve andar em pecados propositais, mas levar uma vida honrada, conforme os padrões enumerados pelo apóstolo em sua carta pastoral a Timóteo. Ele deve ter bom testemunho dos de fora[10].
     O apóstolo Paulo diz: Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus. Não vos enganeis, nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus (1 Co 6.9-10). A palavra “injusto” está relacionada à palavra “irrepreensível”. Injusto é alguém que se desvia da lei de Deus e anda propositadamente fora da lei. Como tal pessoa poderia ocupar o santo ministério?
    Transgressões nesta área expõem o pastor a outras tentações. Ele tentará encobrir seus erros com mentiras, com isso perde seu poder de admoestar, pois sua própria consciência o acusa, isto o leva a descuidar da doutrina e da praxe, procurando simplesmente agradar às pessoas. Neste caminho, no jogo de esconde, esconde, poderá desesperar. Se alguém caiu em graves pecados contra a honra e isto se tornou público, mesmo ao se arrepender sinceramente é aconselhável que deponha seu chamado neste lugar e exerça o ministério em outro lugar.
     Paulo Gerhard (1607-1676), após mostrar que um bispo deve ser “irrepreensível”, levanta a pergunta: Será que aqueles que caíram em pecados graves, após se arrependerem, podem ser conduzidos de volta ao seu ofício (pastoral)? Ele responde: Um exame cuidadoso da situação dará a resposta. Casos de estrema necessidade devem ser diferenciados da regra normal. Se pudermos ter outros pregadores, devemos preferi-los. Johann K. Dannhauer (1603-1666), professor em Strassburgo, autor de vários livros como Teologia Doutrinal e Ética Cristã, responde: “Em casos normais, não”[11].
     Resumindo, nos cumpre dizer o seguinte: Todo ministro é um pecador. Ele não peca somente por uma e outra fraqueza. Ele peca também, e não poucas vezes, propositadamente. Também nele há a tensão entre o novo e o velho homem. Ele precisa lutar para afogar seu velho homem em diário arrependimento e fazer ressurgir o novo homem. Há nele também, muitas vezes cegueira espiritual, na qual em seu egoísmo, defende certas coisas, impõe sua opinião, gera atritos e perturba. Mas ali onde ele vive em meditação na Palavra e oração, o Espírito Santo o levará a reconhecer seus erros, lamentá-los, e onde necessário pedir perdão. Seus membros vêem sua luta, fé e sinceridade. Ele pede a Deus com insistência: Não me deixes cair em tentação, mas livre me do mal. Quando, no entanto, relaxa sua meditação e sua oração, o perigo cresce. O diabo poderá precipitá-lo em pecados maiores, contra os quais o apóstolo Paulo adverte, os quais podem por em perigo o seu ministério.[12] 
     Vejamos agora a que o apóstolo se refere ao dizer: Seja irrepreensível. Paulo cita especificamente diversas áreas. 

2.2. Esposo de uma só mulher (1 Tm 3.2). - O que significam essas palavras? Desde os primeiros séculos, essas palavras sofreram muito na mão de exegetas. Muitos interpretes seguiram Tertuliano (AD 150-240) e Originis (AD 185-254) que, devido seu ensino errôneo sobre a falsa piedade, ensinavam que o pastor poderia casar uma só vez. Crisóstomo (AD 345-407), Teodoret (AD 386-457), Jerônimo (AD 331-386),  Theophylact (AD 1107 ) interpretaram este texto corretamente.
     O acento está no adjetivo numeral. Como vamos interpretá-lo? De forma sucessiva? Vejamos em primeiro lugar o que isto não significa. Isto não significa que o pastor precisa estar casado. O próprio apóstolo Paulo não o era (1 Co 7.7). Também não significa que se um pastor enviuvou, não possa casar de novo (1 Co 7.8,9). O apóstolo Paulo recomenda aos viúvos que casem. No versículo 15, o apóstolo fala do divórcio. Onde o divórcio aconteceu por causa de adultério (ou abandono malicioso), clausula prevista por Jesus (Mt 19.9), a pessoa inocente, que sofreu o divórcio, pode casar de boa consciência novamente. Se for aconselhável que o pastor, que sofreu o divórcio, continue no ministério, abordaremos mais tarde.
      Neste texto poderia se pensar também na poligamia. Em algumas missões, onde a poligamia existe ainda hoje, como na África, os missionários precisam ter muito cuidado e paciência no trato desse assunto. Recomenda-se que se um homem, com duas ou mais mulheres, vier à instrução de adultos para ser recebido como membro da igreja, que seja instruído e recebido sem precisar desfazer-se de nenhuma de suas esposas. Mas seus filhos não devem seguir o exemplo dos pais. E pais, com mais de uma esposa, não são recomendados ao ministério.
   A passagem em foco, no entanto, não trata da poligamia, visto que isto não era mais costume entre os judeus, nem no império romano. O que apóstolo Paulo indica aqui quanto ao bispo, é o que vale para todos os cristãos, que ele não deve ter relações ilícitas, nem antes e nem fora do matrimônio. O apóstolo Paulo está condenando a fornicação e o adultério, o pecado contra o sexto mandamento, com todas suas impurezas. Este assunto foi abordado no primeiro Concílio da Igreja (At 15.20-29). Pecados muito comuns na época, como também hoje com toda a pornografia e licenciosidade. Daí a ordem de que ninguém seja ordenado pastor (bispo) que vive em concubinato, que tenha relações sexuais fora do seu casamento, alguém que vive em adultério. Tal pessoa não deve ser ordenada, nem tolerada no cargo (1 Co 7.2; Tt 1.6; 2 Tm 3.2,12; 1 Tm 5.9). Portanto, o adjetivo numérico “de uma só esposa” tem o sentido da ordem da criação (Gn 2.18. Mt 19.10; 1 Co 8,9; 1 Tm 5.14). Quem for culpado de adultério, quem foi infiel a sua esposa, não deve entrar nem ser tolerado no ministério. Nem aquele que se divorciou por questões injustificáveis, por motivos fúteis, pois neste caso, está vivendo com a segunda mulher em adultério[13] (Mt 19.9).    
     Aqui precisamos lembrar a lei dada aos levitas, visto haver uma similaridade entre levitas e pastores, ambos servem ao Senhor no templo. Deus ordenou aos levitas: Não tomarão mulher prostituta, ou desonrada, nem tomarão mulher repudiada (divorciada) de seu marido, pois o sacerdote é santo a seu Deus[14] (Lv 21.7). Por essas e outras razões, a história da igreja mostra que nossos Seminários não admitiam estudantes divorciados.
     Homens públicos estão, especialmente, expostos a esses pecados. E a história mostra como vários pastores, com excelentes dons e projeção no ministério, que ocuparam cargos de liderança, foram vítimas dessas tentações. O pastor tem sua natureza carnal. É fácil ser atraído por uma mulher e/ou que uma mulher coloque seus olhos no pastor e lhe seja um laço, uma tentação. A advertência do apóstolo: Fugi da impureza (1 Co 6.18), vale a todos os cristãos e, principalmente, aos pastores. José no Egito nos deu um exemplo de como fugir (Gn 39). Jó nos dá um exemplo ao dizer: Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela (Jó 31.1)? Isto nos vale ainda hoje, também em relação à internet. Certo pastor satisfazia a cobiça de seus olhos vendo e lendo assuntos sobre a corrupção sexual no mundo com a desculpa: “Eu preciso estar atualizado para poder ensinar”. Isto, no entanto, lhe foi um laço para a queda. Por isso a advertência: Fugi! Não preciso entrar na pocilga de porcos, para conhecer os porcos.  Por o pastor ser homem público, ele é, por vezes, abraçado efusivamente por mulheres, além dos limites – o que pode provocar ciúmes na esposa e trazer desavenças. É importante que o pastor mantenha certa reserva que seu cargo requer.
   O assunto divórcio é hoje um problema crescente no mundo ocidental e também entre pastores. Este assunto, porém, deve ser tratado com cuidado pelos responsáveis. Quando o assunto é adultério comprovado, parece ser mais fácil, tomar as providências, mesmo assim, as aparências podem enganar. Quando o assunto é “abandono malicioso” a situação precisa igualmente de muito cuidado. Muitas injustiças já foram cometidas por julgamentos precipitados. Por vezes, o pastor pode parecer inocente, mas no fundo ser o culpado, que talvez, por seu desleixo para com a esposa, empurrou a mesma para tentações ou a busca do divórcio. Voltaremos ao assunto no capítulo 6.
      Sem dúvida, há perdão também para esses pecados. Mas não podemos confundir perdão com aptidão para o ministério. Um pastor que se tornou infiel à sua esposa, não é mais apto para o ministério, mesmo após o arrependimento. Servir no ministério é um privilégio e não um direito.  A reintegração de um pastor divorciado no ofício público, raras vezes pode ser justificada. O argumento de que o pastor é a parte inocente no seu divórcio, não resolve o problema em si. Mesmo aceitando o pastor divorciado chamado para uma Comunidade distante, dificilmente poderá ocultar seu estado de divorciado, especialmente se tiver filhos. E não é possível explicar a todos, dizendo: O caso dele é diferente. Ele sofreu o divórcio, etc. Desempenhar seu ministério de forma efetiva, após tal trauma, será difícil, mesmo sendo ele a parte menos responsável pelo seu divórcio, ou o tenha realmente sofrido[15]. Trataremos do assunto nos próximos capítulos 5 e 6.
      O teólogo professor Th. Harnack (1817-1889) escreveu: “Toda a eficácia do pastor permanece ou cai com sua vida, em sua casa. A casa pastoral deve ser a luz na vila, para a qual todos possam olhar e ver a clara luz que ela erradia”[16].

2.3. A esposa do pastor - A Escritura define as qualificações do pastor para o ministério e afirma que ele deve ser esposo de uma só mulher. Mas a Escritura não requer qualificações especiais da esposa do pastor. Isto indica que ela é, essencialmente, esposa do pastor e não diretamente chamada ao ministério público do seu marido. Por essa razão, mesmo não tendo a igreja nada contra o estudo, a formação e graduação da esposa do pastor, as igrejas luteranas em geral não instituíram um curso especial para esposas de pastores ou prospectos de futuras esposas, para não dar a impressão de que elas são incumbidas de uma parte especial desse ofício. Cabe ao marido transmitir a sua esposa os devidos conhecimentos. A idéia de que ela, pela virtude do casamento, tenha uma posição especial, privilegiada de liderança entre as irmãs na Comunidade deve ser evitada. A esposa tem a vocação de esposa, mãe e irmã na fé cristã no lar e na Comunidade. Nisto ela deve dar bom exemplo. Por isso, cada estudante, futuro pastor, deve ter todo o cuidado na escolha de sua esposa, e fazê-lo com muita oração. Dr. Walther dá sete sugestões quanto às qualificações de uma esposa de pastor. Ela deve ser:

1) uma cristã sincera. 2) Uma luterana convicta, (conservativa e confessional). 3) Disposta a ser esposa de pastor. 4) Procedente de uma boa família cristã, pois no casamento entra toda a família. 5) Boa dona de casa e administradora do lar. 6) Bem educada, não necessariamente erudita. 7) Não proveniente da comunidade na qual o seu marido é ou será o pastor, pois isto poderá trazer problemas.

Entenda-se que isto são recomendações, não leis, pois há abençoadas exceções.
    Ela deve estar disposta a assumir seu papel de esposa de pastor conforme a palavra de Deus (Ef 5.22-24,33; 1Pe 3.1-6). Por outro, o pastor não deve ir ao extremo em sua liderança sobre sua esposa. Há áreas domésticas, nas quais ela tem mais sabedoria e competência do que ele, onde o pastor, como marido nem deve interferir.
     Ela precisa ter noção do que significa ser esposa de pastor. Enquanto outros homens estão em casa com a família, o pastor talvez estará em serviço, especialmente, nos fins de semana. Esposas de médicos, de advogados e de outras profissões não conhecem os clientes de seus maridos, a esposa do pastor conhece o rebanho e precisa ter um relacionamento cordial e amigável com os paroquianos. Tudo o que o pastor faz, ele o faz sob a supervisão de sua esposa. Ela ouve seus sermões, seus estudos bíblicos, conhece suas atividades nos departamentos e suas visitas. Só as coisas confidenciais permanecem com o pastor. Ela é, por isso, também a única pessoa que está em condições de criticar, num bom sentido, o trabalho do seu marido, seus sermões quanto à clareza, a lógica ou o vocabulário. É ela também que conhece mais do que qualquer outra pessoa, se o pastor vive seus sermões ou é uma pessoa no púlpito e outra no lar. E, como disse Lutero de sua esposa, em casa ela é a pregadora, em condições tanto no repreendê-lo como no consolar e animar. Ela ouve também as queixas ou reclamações dos membros quanto ao trabalho do seu esposo e pode ajudar muito. Ela precisa ter também tato nas questões sociais.
     Há uma discussão, hoje, sobre se a esposa do pastor deve ou não trabalhar fora, num trabalho digno como por exemplo: enfermeira, professora, secretária, etc. Sem dúvida isto ajudará no orçamento doméstico, especialmente em pontos de missão e, tendo os filhos crescidos, ela terá uma ocupação. Mas, há também argumentos contra. O lugar primordial da mulher é no lar. Por isso há várias razões porque ela é requerida no lar, especialmente na família pastoral. Por o pastor estar muito fora, cabe a ela muitas vezes atender o telefone, ajudar na organização, nos grupos, departamento, música, crianças, ação social, etc. Pois nem todas as comunidades podem dispor de uma secretária. Espera-se da esposa do pastor que participe na Comunidade. Tudo isso requer sua presença no lar. Quando há crianças pequenas em casa será um prejuízo para a educação delas, deixá-las a mercê de empregadas, ou numa creche.                                                                                                                                                                                      

2.4. Temperante – Ser temperante requer uma luta constante para desenvolver forças espirituais a fim de dominar as emoções, desejos, apetites, impulsos sexuais e tentações. Fugir da impureza (2 Tm 2.22). Portanto, isso não se refere somente ao exagero na bebida e comida, mas requer sobriedade no uso de qualquer prazer, seja alimento ou divertimento. É ser cuidadoso e manter bom senso, bom comportamento. Isto requer também um coração firme contra as pressões do mundo, para não abandonar a sã doutrina e seguir a onda da moda no pensar, agir, vestir, etc. Requer-se do ministro que seu coração permaneça enraizado firmemente na palavra de Deus, seja cordial com todas as pessoas, como embaixador de Cristo. Seja temperante e tenha cuidado de si. Ele pode desfrutar as alegrias sadias da vida, sem permitir que elas o captem e desviem de seus deveres, de sua vida espiritual e profissional.

2.5. Sóbrio – É quase sinônimo de temperante. A palavra grega significa “firmeza de caráter”. É um equilíbrio no julgar. Que consiga dominar suas emoções e impulsos. É o oposto do fanatismo, do entusiasmo exagerado, momentos nos quais a pessoa age sem pensar. Cabe-nos lembrar aqui, o exagero no fanatismo esportivo. Já encontrei um pastor com a camiseta do seu clube de futebol debaixo do talar. Um outro que suspendeu o culto de Sexta-feira Santa por causa de um jogo, alegando: Ninguém veria mesmo. Houve, no entanto, pessoas que se escandalizaram. Que ele tenha domínio próprio, decoro, esteja livre de extravagâncias, de desânimos, ódios e desejo de vingança. Não seja melancólico, triste, repugnante, nem severo demais.

2.6. Modesto – É a honra para fora. A palavra grega se refere ao ser refinado e cortês, bem educado, compostura no falar, vestir e comportar-se em público. Alguém que mantém bons costumes, disciplinado, que se dirige pelo bom senso, ser gentil, um gentleman. Não relaxado e descuidado no asseio pessoal, maneiras e aparência. Conheça a etiqueta social dos diversos lugares que freqüenta. Fino no trato com as pessoas, visando o bem estar de todos. Os membros gostam de ver no seu pastor uma pessoa bem vestida, mesmo que seja simples, bem arrumado e humorado. Para citar um pequeno exemplo negativo: Receber os membros na porta da igreja ou inscrição da Santa Ceia, mastigando chiclete.

2.7. Hospitaleiro – Ser hospitaleiro é requerido de todos os cristãos (Rm 12.13; 1 Pe 4.9; Hb 13.2). Esta virtude, no entanto, deve ser cultivada e caracterizar especialmente os pastores. A palavra grega significa ter amor ao estranho. No tempo dos primeiros anos do cristianismo - em muitos lugares no oriente ainda hoje - uma pessoa digamos, islâmica ou um judeu, ao abraçar a fé cristã (Mt 25.15) foi rejeitada por seus familiares e parentes, deserdada e até jurada de morte; encontrou, então, amparo em sua nova família, na Comunidade cristã, nos irmãos e irmãs na fé. Além disso, havia muitos cristãos que em diversas localidades sofriam perseguições e tinham que fugir e buscar amparo e refúgio em outros lugares junto a irmãos na fé. Além disso, quando cristãos viajavam, só encontravam pousada segura na casa de um irmão na fé.
   Ainda hoje a hospitalidade é necessária. Em cidades, quando pessoas vêm do interior para os hospitais, eles precisam do amparo enquanto cuidam de seus doentes. A hospitalidade também no amparar pobres e necessitados. Foram os cristãos que criaram lares para órfãos, para idosos e hospitais. Mesmo que isto, passou, hoje para o serviço estadual, a maioria dessas instituições não subsiste com os parcos recursos do Estado e precisam de constante amparo da sociedade. Estas instituições precisam também de pessoas voluntárias (ou bem ou mal remuneradas) para os diversos trabalhos. Cabe ao pastor incentivar sua Comunidade e seus membros para este trabalho social e dar bom exemplo.
     Esta ajuda, porém, requer cautela. Por vezes há pessoas do interior, que vêm à cidade para compras e outros afazeres e fazem da casa pastoral seu paradeiro, para descansar, tomar chimarrão, conversar e jogar conversa fora. Então cabe o presidente da Comunidade dizer uma palavra aos paroquianos para evitar que roubem o precioso tempo do pastor. Por outro, já no tempo dos apóstolos não faltavam preguiçosos e vagabundos que tentavam tirar proveito da hospitalidade. Daí a advertência apostólica: Se alguém não quer trabalhar, também não coma – e: trabalhe com suas próprias mãos (2 Ts 3.10; 1 Ts 4.11).

2.8. Apto para ensinar – Este é um dom, sem o qual a pessoa não é apta para exercer o ministério. Nisto deve se esmerar. É um dom que já se manifesta no aspirar ao episcopado. É a vontade e capacidade ao estudo, o ser zeloso e esforçado nisso. Não é só uma capacidade retórica para captar os ouvintes, mas uma aptidão natural, um gosto para o ensino. Isto requer formação. Visto, no entanto, tratar-se de ensinar a palavra de Deus, que consiste em distinguir entre lei e evangelho e aplicá-lo corretamente, isto é um dom que só o Espírito Santo pode dar. Há a necessidade de suplicá-lo constantemente a Deus. Pois o temor do Senhor é o princípio de todo o saber (Pv 1.7). Isto inclui também a simplicidade no ensino, para que as pessoas mais simples o compreendam, então os letrados também terão seu proveito. Este dom, o pastor precisa pedir diariamente a Deus (1 Co 12.31ss.), e ele se desenvolve no coração cheio de amor ao próximo, às pessoas, quer pequenos quer grandes.

2.9. Não dado ao vinho - isto é, não dominado pelo vinho, (1 Co 6.10; Gl 5.21; 1 Pe 4.3). A palavra grega “dado” é alguém que gosta de sentar-se junto ao vinho, tem o hábito de beber. Um que bebe regular e diariamente e sem o seu copo não se sente bem. Alguém que de uma e de outra forma é escravo do vinho, da bebida alcoólica. Mesmo assim, esta passagem não é uma proibição, que requer abstinência total, mas contra os que adquiriram o hábito de beber regularmente, o que já é o início do vício. Bebendo além da medida, a pessoa fica eufórica, perde o pudor na conversa, não consegue controlar seus pensamentos e suas palavras. Infelizmente é um campo, como mostra a história, no qual muitos pastores perderam sua honra ministerial e causaram muitos problemas ao rebanho.

2.10. Não violento, porém cordato, inimigo de contendas – Há pessoas, que por natureza, por seu caráter, são muito egoístas e, consequentemente, violentas e explosivas. Não suportam serem contraditadas. Irritam-se facilmente. Gostam de impor suas ideias e arrasam argumentos contrários com violenta agressividade verbal. São jactanciosas e arrogantes (2 Tm 3.2). Mesmo que o pastor tenha o direito de esperar obediência quando ensina a palavra de Deus corretamente, isto não significa que ele precisa ser obedecido em tudo, por parte dos membros. Ele deve ser obedecido no correto ensino da palavra de Deus, e mesmo nisso se requer paciência com os tardos de coração e com os que o contradizem. Quando os samaritanos não quiseram receber a Jesus, os discípulos disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse? Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las (Lc 9.54-56). Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus (Tg 1.20). Quando se trata de coisas materiais, a opinião do pastor é uma entre muitas. Por vezes, em encontros de pastores, ouvimos alguém se gabar de suas respostas violentas: - “Mas eu respondi e fiz a pessoa se calar.” Pode até ter tido razão, mas respostas agressivas, sem amor, fazem com que as pessoas calem e se retraem da Comunidade.
    Por isso o apóstolo acrescentou: Porém cordato, (Fp 4.5; Tt 3.2; 1 Pe 2.18; Tg 3.17). Cordato é ser cordial, humilde, ponderado, que busca a paz, mesmo sem ceder em nada da verdade bíblica. Por isso segue: inimigo de contendas. Ele busca a paz. É apaziguador. Trata as pessoas com amor, buscando reconciliação com os que o agridem, sendo cordial mesmo com os inimigos ou opositores, procurando ganhar a pessoa e não espantá-la. Numa comunidade sempre haverá pessoas que por uma ou outra razão não gostam do pastor, se opõe a ele e mostram sua agressividade, cabe ao pastor mostrar consideração, amor, reconciliação, como recomenda o apóstolo: disciplinando com mansidão os que se opõe, na expectativa de que Deus lhes conceda não só arrependimento, para conhecerem plenamente verdade, mas também o retorno à sensatez (2 Tm 2.25,26). Jesus recomenda: Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração (Mt 11.29). Não se deveria ouvir do pastor expressões como: Não vou com aquela pessoa, não suporto mais, gostaria de vê-la longe, etc. Ao pastor cabe suportar as aflições (2 Tm 4.5). De Moisés lemos que foi varão mui manso (Nm 12.3). Que Deus em sua graça conceda esse dom em grande abundância a todos os pastores, como mensageiros da paz.
     Aqui se faz necessário dizer uma palavra sobre a liderança do pastor. A palavra líder e liderança são palavras em voga. Há cursos de liderança ou para a formação de líderes.  Mas Jesus afirmou: Um só é o vosso Guia, Cristo (Mt 23.10). O pastor é servo da Palavra. É importante que ele se consagre à oração e ao ministério da palavra (At 6.4). Como este trabalho muitas vezes não aparece ou não se tem muito a apresentar, pastores se lançam como líderes e querem ter a última palavra em tudo, mostrando indisposição com os que têm opiniões divergentes. Com isto espantam a liderança da Comunidade e no final ficam sozinhos. O pastor, como servo, atua distribuindo responsabilidades e sabe envolver outros no servir. Em vez de cursos de liderança, a igreja deve oferecer estudos bíblicos e de como servir melhor, isto requer o negar-se a si mesmo (Mt 16.24).

2.11. Não avarento – A avareza, o desejo de ganhar, de ter, de possuir, o estar apegado aos bens materiais é muito comum também entre pastores. É uma tentação constante e forte. Lembramos os filhos do profeta Eli (1 Sm 3), como também os filhos do profeta Samuel (1 Sm 8) e o moço do profeta Eliseu (2 Rs 5), bem como a Ananias e Safira.(At 5). A avareza se expressa, também pela constante queixa do pastore quanto ao seu salário. Isto não significa que o pastor precisa ser um pobre na Comunidade. Boa economia, heranças, presentes e boa administração dos bens, podem lhe prover certa fortuna, o que não é pecado.  
     O lidar com o dinheiro requer ainda outros cuidados. Quando o pastor precisa trazer e depositar o dinheiro das filiais, cobrar assinatura das revistas, ele precisa cuidar bem dos recibos para evitar erros e desconfianças.
     Todos sabem que o pastor precisa ser remunerado e até com dobrada honra (1 Tm 5.17), o que se refere à remuneração, para poder alimentar e vestir sua família. Mas os membros também devem perceber que o pastor não é avarento, pelo contrário, está disposto a, com sua família, se sacrificar pela causa de Cristo. Quanto as suas necessidades financeiras exporá seus problemas a Jesus, seu Salvador, que é o seu verdadeiro empregador. Ele cuidará disso. Seu espírito de contentamento e gratidão deve brilhar diante dos membros. Mais cedo ou tarde, Deus o recompensará. Infelizmente não são poucos os pastores que devido à avareza se indispõe com suas Comunidades e terminam largando o ministério, pensando que na vida civil será mais fácil ganhar dinheiro e nisto muitos se enganam.
    Trabalhar simplesmente pelo dinheiro não satisfaz. Como pastores, nós temos um objetivo: a missão de Cristo. Para isso estamos dispostos a nos sacrificar. Se o dinheiro passa a ser nossa preocupação principal é importante lembrar a admoestação de Jesus: Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas (Mt 6.24).

2.12. Que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina com todo respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus)?
     O governar bem a sua casa, inclui boa, modesta e cuidadosa administração dos bens materiais. Não contraindo dívidas que depois não possa pagar, passando por caloteiro. O que o desqualifica do ministério.[17] Aqui, no entanto, o apóstolo se refere e destaca especialmente a educação do lar, centralizado na palavra de Deus para o fortalecimento da fé, para que resplandeçam os frutos da fé. Com respeito à casa pastoral não deve valer o ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau.” Ou o antigo ditado alemão: „Pastors Kinder und Müllers Küh, geraten selten oder nie.“ (Filhos de pastores e vacas do moleiro, raramente resultam bem). Ele deve saber dirigir bem a sua própria casa. Ele deve saber conduzir o lar não só nos dias de sol, mas também nos dias de tempestade e chuva. Também o casal ministerial terá momentos de desentendimentos, até de brigas, mas a fé vence neles sempre de novo e saberão se perdoar e suportar. O marido crescerá no amor a sua esposa, como também Cristo amou a igreja; e a esposa crescerá na submissão, como ao Senhor (Ef 5.22-32). Ele saberá transmitir a palavra de Deus e viver conforme a sabedoria e dignidade de Deus. Pela administração de sua casa, que é visível, os membros poderão reconhecer se ele realmente é digno de ocupar o cargo de ministro, de pastor, de bispo. Se ele como esposo e pai, chefe de família dedicado ao ministério, não sabe se comportar com dignidade e suas palavras e atitudes na família forem contrários à palavra de Deus e vida cristã, ele desonra a Deus e não é digno de ocupar o cargo de bispo. Na forma de dirigir seu lar, de acordo com a vontade de Deus, ele deve comprovar sua aptidão para o ministério. Esta capacidade não se mostra em nenhum outro lugar melhor do que no lar, no convívio com a esposa e na educação dos filhos no temor do Senhor. Isto requer apego e correta aplicação da palavra de Deus a si mesmo e a toda a família para repreensão, consolo e orientação. Deve demonstrar e comprovar assim sua responsabilidade e autoridade que Deus lhe deu na família.
     O apóstolo não toca aqui na possibilidade de, apesar de todo o esmero de pais na educação cristã dos filhos, alguém dos filhos rejeitar o ensino e a fé cristã, voltando-se para o mundo ou outra crença, desviando-se da verdade e vindo a se perder. Também neste caso deve ser visível a ação do pai em relação ao filho, no sentido de que todos notem que o pai reprova abertamente a atitude do filho que se desvia. O apóstolo deixa claro: Se alguém não governar bem a sua casa, como cuidará da igreja de Deus? Se por exemplo, um pastor procede como o sacerdote Eli, que viu seus filhos errarem e até os repreendeu, mas com palavras mui brandas, sem afastá-los de suas funções no templo. Isso desagradou a Deus, que os castigou (1 Sm 2.22-26,29-34). Infelizmente, no fim da vida de Samuel, também seus filhos não seguirem restritamente o caminho do pai, mas todos notaram que Samuel cumpriu com sua responsabilidade, repreendendo seus filhos com palavras duras (1 Sm 8.1-5). Se na família, o pastor não consegue fazer valer sua autoridade, onde por natureza todos lhe são subordinados, que dirá na Comunidade, onde ele é embaixador de Deus. Ele deve presidir (1 Tm 5.17) e os membros devem acatar à palavra de Deus que ele anuncia (Hb 13.17), mesmo assim ele não deve ser dominador (1 Pe 5.3). Assim como a esposa é submissa ao marido, não de forma absoluta, mas com bom senso, assim a Comunidade obedece a seus pastores, quando expõe corretamente a palavra de Deus. Mas o pastor não deve dominar sobre a Comunidade e pensar que, por ser ministro de Deus, a Comunidade lhe deve obediência em tudo, querendo ter sempre a última palavra na diretoria e na assembléia da Comunidade. E assim exercer um domínio sobre a Comunidade. Seu ofício é o de cura d´almas. No servir ele procura seguir os passos de Jesus. Muitos pastores são infelizmente dominadores. Eles impõem sua vontade e tiram do caminho quem não concordar com eles. Isto é lamentável e não edifica a Comunidade.

2.13. Não neófito – Um recém convertido. A palavra grega denota plantas novas. Assim membros novos, com vida espiritual nova, (Mt 15.13; 1 Co 3.6-8). Neste contexto trata-se de “um recém convertido”, que há pouco tempo foi recebido na Comunidade. Ele ainda não tem maior conhecimento da palavra de Deus, nem experiência na vida cristã. E o perigo está em que esta pessoa, ao receber tão cedo a honra de ser pastor e a responsabilidade de apascentar uma Comunidade, possa ser presa fácil de Satanás. Isso pode lhe subir à cabeça, torná-lo orgulhoso e vaidoso, e assim “incorrerá na condenação do diabo.” A expressão é interpretada de várias formas. A mais correta talvez seja: O pecado, dos anjos que caíram, foi elevarem-se sobre Deus, por isso foram condenados e expulsos do céu. Se o ofício do ministro for entregue a um neófito, ele corre o perigo de ser tentado ao orgulho e cair sob a condenação que Satanás recebeu. Vindo o neófito a cair da fé e ser condenado, (Mt 4.9; Tg 4.4). Para ser pastor, a pessoa precisa ter conhecimento da Palavra, ser experimentado na vida cristã, ser provado (2 Tm 2.5).
    A aplicação para hoje é, ordenar como ministro uma pessoa imatura, inexperiente que ainda não comprovou sua aptidão é desaconselhável. Não é sem razão que algumas Igrejas[18] requerem do pastor formado, que seja pelo menos um ou dois anos pastor auxiliar, para então prestar seu último exame, após o que será considerado apto para  assumir sozinho uma Comunidade[19].  

2.14. Que tenham bom testemunho dos de fora (1 Tm 3.7).
     Nos versículos 2 a 6, o apóstolo falou das qualificações internas dos candidatos que querem exercer ou exercem o santo ministério. Agora acrescenta mais um item, e este é  positivo. Eles precisam ter o “bom testemunho dos de fora”.  Com isto o apóstolo encerra sua descrição sobre as qualificações não só requeridas, mas necessárias para que uma pessoa possa ser chamada e exercer o ofício de ser supervisor (bispo, pastor) e pastorear o rebanho de Deus.
     O que é o bom testemunho dos de fora? O apóstolo menciona isto também em sua carta aos tessalonicenses: De modo que vos porteis com dignidade para com os de fora (1 Ts 4.12), não dando aos de fora nenhum motivo para falatórios desprezíveis contra a fé e ética cristã.
     Os de fora, o testemunho da sociedade em geral, quer sejam gentios (incrédulos) ou pessoas de outras igrejas cristãs, ou outras religiões. Como? Desde quando incrédulos e heterodoxos são nossos juízes? Sim, eles têm o senso da lei natural inscrita em seus corações e podem julgar. Mesmo vivendo nós hoje, no Ocidente, numa cultura em degeneração, chamada de pós-cristã, na qual brota o velho inço pagão: divórcios, abortos legalizados, eutanásia, crimes e muita corrupção, etc. permanece nas pessoas a lei natural implantada nos corações. Conforme esta lei, as pessoas sabem que mentir, roubar, adulterar, ser ganancioso, viciado em álcool e/ou drogas, ser infiel em seus compromissos e juramentos, divorciar, etc., que tudo isso é pecado. Aqui entram, especialmente, os pecados contra o quinto, sexto e sétimo mandamento, cuja transgressão torna as pessoas infames também no mundo. O mundo julga tais pessoas como pessoas sem caráter. O apóstolo Paulo afirma que por conhecerem esta lei e julgarem os outros, eles próprios são indesculpáveis (Rm 1.20). O testemunho dos de fora adquiriu em nossa era das comunicações enfoque especial. Jornalistas vasculham a vida dos políticos, dos homens de liderança e dos líderes de igrejas para descobrirem escândalos, tornando-os públicos, espalhando-os aos quatro vento. Logo, o bom testemunho dos de fora é referente ao bom testemunho do seu caráter, conforme a lei moral. Não simplesmente o testemunho quanto à ética e moral cristã, mas sobre tudo, da fé cristã e do poder desta fé que atua pelo amor a Deus e ao próximo. Firmeza de convicções cristãs e de seu amor ao Salvador. Este testemunho despertou em todos os tempos e desperta ainda hoje, o interesse pela religião cristã. Pois o grande poder que atua pela fé, é o poder do amor que é visível.
     Isto não significa que o pastor deve agradar a todos em detrimento da verdade. Ele deve ser reconhecido como uma pessoa de bons princípios, firme em suas convicções religiosas, respeitador das leis e que tem amor ao próximo. Mas se ele for conhecido como alguém que transgride a lei inscrita no coração, à qual o apóstolo se refere em Rm 1.18-27, se ele for conhecido na sociedade como mentiroso, desonesto, viciado, mulherengo, não poderá exercer o ministério, nem ser tolerado no mesmo.
     Lutero louva, com muita razão, o fato de Deus ter escolhido pessoas como instrumentos abençoados e pregadores do Evangelho que andarem diante do mundo de forma irrepreensível, mesmo que em sua juventude, antes de sua conversão, viviam sem Deus ou em religiões erradas, chegando ao conhecimento da verdade e sendo convertidas só mais tarde. Deus fez isto assim, escreve Lutero, escolhendo pobres pecadores como a Paulo e a nós, para prevenir contra o orgulho e a jactância[20]. Esta palavra de Lutero deve ser bem entendida. Deus não chamou adúlteros e bandidos para o ministério. Paulo prendeu e matou cristãos, pensando estar prestando culto a Deus. Uma exceção temos em St. Agostinho, que na juventude levou vida devassa, mas após sua conversão, tornou-se monge.
      Por isso, alguns exegetas interpretam o bom testemunho dos de fora como referindo-se também a vida antes da conversão; outros o interpretam de forma mais evangélica, afirmando que o bom testemunho dos de fora refere-se a vida após a conversão, na qual, por abandonarem todos os vícios e pecados (1 Co 6.9-11), mostram a força e o poder do evangelho em suas vidas, confirmando o que o apóstolo afirma: E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas (1 Co 5.17). Preferimos a primeira interpretação, seguindo Lutero.
     O versículo tem ainda uma clausula negativa, que tem causado certa dificuldade aos exegetas. A fim de não cair no opróbrio (fique desmoralizado) e no laço do diabo. Isto não pertence mais aos requisitos, ao “é necessário”, mas é uma séria advertência, uma conclusão, com respeito ao bom testemunho dos de fora.
     Cair no laço do diabo. A figura se interpreta a si mesma. Confira: Rm 11.9; Sl 69.22: 2 Tm 2.26; Pv 7.23. Esta última passagem, a figura da rede na qual cai o passarinho, é muito usada. Vejamos. O apóstolo citou 16 virtudes, carismas necessários para alguém poder ocupar o cargo de pastor numa comunidade e termina com a recomendação de que tenham o bom testemunho dos de fora.
     Se uma pessoa não tiver o bom testemunho dos de fora, isto poderá vir a tornar-se um laço do diabo. Em que sentido? O diabo tenta e arma ciladas aos cristãos em todos os momentos, especialmente aos pastores e líderes na igreja. Alguns exegetas são de opinião que o apóstolo Paulo se refere a pessoas que, antes da conversão levavam uma vida devassa. O diabo poderá aproveitar isso para difamá-los, causando-lhes conflitos de consciência. Um outro caso seria de uma pessoa que, mesmo tendo sido membro da congregação por vários anos, carece de um bom testemunho dos de fora. Ou de alguém que após sua conversão, ou mesmo já no ministério, tenha caído em pecados graves que se tornaram públicos, arruinando assim o bom testemunho dos de fora.
     Em que sentido isso poderá vir a tornar-se um laço do diabo? Se uma pessoa que ocupa um cargo tão elevado como o de pastor e bispo numa congregação cristã, for difamada, por erros contra a ética, tais como: bebedeiras, infidelidade conjugal, desonestidade, vícios, quer praticados antes de sua conversão ou no ministério, ela poderá cair sob o poder de Satanás, isto é, pessoas poderão acusá-lo dos erros do passado ou do presente. Satanás procurará levar tal pessoa ao desespero e a duvidar da graça de Deus. Ela poderá cair da fé. Isto vale também para pessoas que já estão no ministério e devido a seus pecados perderam o bom testemunho dos de fora, caindo no laço do diabo, isto é, serem desmoralizadas, desesperarem, vindo perder a fé, sendo condenadas. Vemos isto em Saul e Judas.

2.15. Resumindo. Todo o cristão deve lutar com todas suas forças por vida santificada (1 Ts 4.3; Rm 12.1ss.; 1 Pe 1.2; 13-17; 2.11ss.; Rm 6.19-20), mas do pastor se requer como qualificação para o ministério “sine qua non,” um grau maior de santificação. Ele deve ser exemplo para o rebanho. A Escritura afirma: Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. (1 Co 6.9,10), se permanecerem nestes pecados. Como alguém, com tais manchas, poderia estar no ministério? O Dr. Augusto H. Cremer (1834-1903) extraiu da Ética Pastoral de Johann A. Quenstedt (1617-1685) as seguintes recomendações para pastores[21]:
1. O pregador deve ter vida cristã comprovada e adornada com dons.
2. Exercitar-se na piedade, temor e amor a Deus.
3. Empenhar-se por justiça.
4. Viver de forma sóbria.
5. Ter vida casta e honesta.
6. Manter distância da avareza.
7. Ser benfeitor e caridoso para com os pobres.
8. Fugir do orgulho, da vaidade, dos elogios e ser humilde.
9. Cultivar bons costumes e modos.
10. Não se irritar facilmente.
11. Evitar intrigas, bem como confrontos com colegas.
12. Ser benigno e bondoso para com todos.
13. Suportar de bom grado as injustiças.
14. Ser bom exemplo para os de sua casa e saber educar seus filhos no temor do 
      Senhor.
15. Ser honesto e de coração aberto.
16. Saber agir sabiamente em seu ofício e ser moderado em seus afetos.
17. Lembrar a nobreza de seu ofício e manter a honra.
18. Ser criterioso no desfrutar as diversões que o mundo oferece.
19. Não se meter na política nem em negócios que não são a sua área.
20. Ter a capacidade de ensinar.
21. Ser hábil orador e fugir de fofocas.
22. Não se estribar em sua capacidade, raciocínio e arte, mas buscar a orientação
      do Espírito Santo.
23. Ser fiel no seu ministério.
24. Ser vigilante quanto à doutrina e praxe.
25. Não ser ditador sobre as almas.
26. Amar seus ouvintes como um pai e irmão.
      Lembremos, porém, que admoestações não têm sua força na lei. A lei exige, ameaça e condena. Admoestações têm sua força no evangelho, são lei como norma, na qual os filhos de Deus têm prazer e seguem com alegria.  

2.16. A difícil tarefa de disciplinar pastores. Precisamos dizer ainda uma palavra sobre disciplinar pastores. É uma tarefa difícil que exige muito cuidado e requer paciência na averiguação.
 a) Desconfiança, calúnias e falatórios[22]. Homens públicos - o pastor e sua família pertencem a esse grupo - estão sujeitos a calúnias. Isso faz parte de uma das principais armas de Satanás para tentar impedir o progresso do Evangelho. Por isso pastores precisam ter o máximo de cuidado para não darem motivo para tanto. O velho adágio tem muito a dizer: “Não se abaixe numa macieira em terra alheia,” para não dar a impressão de que esteja colhendo maçãs.
      Por outro, a diretoria da Comunidade e o Conselheiro Distrital (Diretoria Distrital) devem ter todo o cuidado para não acolherem acusações levianas contra pastores. Diz o apóstolo: “Não aceites denúncia contra presbíteros, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (1 Tm 5.19).
     Por vezes uma Comunidade está insatisfeita com o seu pastor, não tanto por causa de erros ou problemas, mas porque querem um pastor mais liberal. Eles não concordam com a forma, fiel, bíblica e confessional com a qual o pastor exerce seu ministério. Há membros que se sentem atingidos pelas pregações e por isso se distanciam ou até procuram outras congregações. A diretoria se queixa ao distrito e pede que o pastor seja removido. Alegam que a Comunidade não está crescendo, mas diminuindo. Nesse caso o pastor precisa do apoio da diretoria distrital. Pode até ser que haja, por parte do pastor, certo desânimo e pessimismo. Ele precisa ser reanimado para que encare o trabalho com novo ânimo e entusiasmo.
    Se o pastor, no entanto, deu motivos para falatórios e desconfianças, especialmente no que se refere ao seu comportamento moral, a ponto de o diálogo entre pastor e diretoria ser difícil, surgindo partidos na Comunidade, o Conselheiro Distrital deve ser convidado para averiguar o caso. Muitas vezes o Conselheiro, examinando a situação, não encontra reais motivos para incriminar o pastor, mas o relacionamento entre pastor e Comunidade (Diretorias) está abalado. O que fazer? Eis algumas sugestões:
a) O pastor se licenciará[23] por no máximo três meses, nos quais a Comunidade continuará pagando-lhe o salário. Nestes três meses, o assunto deverá ser examinado para se chegar a uma conclusão, e ver se o pastor é inocente ou culpado. Sendo culpado, deverá depor seu ministério na Comunidade. Após regularizar a situação, isto é, reconhecer o erro, pedir perdão e ser perdoado, conforme o caso, ele poderá colocar seu nome à disposição para novo chamado. No caso de ser inocentado, mas sendo difícil reconquistar a confiança, é importante que sua inocência seja declarada e publicada, e o Conselheiro, com a concordância do pastor, o recomendará ao Presidente da Igreja para outro chamado.
b) Não havendo clareza, mas o bom nome do pastor e de sua família foi abalado, recomenda-se o pastor para outro chamado.

2.17. Quem é apto para tanto? Ao analisarmos as qualificações requeridas, surge a pergunta: Mas quem é apto para tanto? Sem dúvida ninguém. Por isso não estranhamos que, quando Deus chamou profetas como Moisés, (Ex 3 e 4) Jeremias (Jr 1) e outros, eles se julgaram incapazes e pediram para que Deus escolhesse outro. Mas Deus prometeu estar com eles.

    Por essa razão, como pastores confessamos e oramos diariamente:

Ó Senhor Jesus Cristo, Pastor e único Cabeça de tua igreja, assiste-me a ministrar a este rebanho, ao qual tu me chamaste como pastor. Sei que sou homem de lábios impuros e indigno de proclamar a tua palavra. Suplico-te envies sobre mim o teu Santo Espírito, a fim de purificar os meus lábios, para que tenha ousadia para pregar a tua Palavra em sua plenitude, quer seja oportuno, quer não, pronto a ofertar a ti as orações e as súplicas de teu povo, e seja disposto para servir como ministro e fiel despenseiro dos meios da graça[24].

Na mesma Agenda, página 44: Oração Diária do Pastor:

Onipotente Deus, misericordioso Pai, eu, pobre pecador, te confesso todos os meus pecados e iniqüidades que tenho cometido. Em especial, reconheço minha negligência na oração, o menosprezo da Palavra e a procura por dias aprazíveis. Deploro de todo o coração estas minhas culpas e arrependo-me sinceramente. Suplico-te, mediante a tua profunda misericórdia e a santa, inocente e amarga paixão e morte de teu bem amado Filho Jesus Cristo, que me perdoes todos os pecados e sejas gracioso e misericordioso para comigo. Purifica-me pelo teu Espírito, através do sangue de Jesus Cristo, e concede sempre mais força e disposição no empenho pela santidade, pois me chamaste para andar na tua presença em santidade e amor (p.44).

     Temos nossa natureza carnal. Somos por natureza indignos deste ministério. Deus, porém, que nos chamou, prometeu nos amparar. Assim sabemos que nossa suficiência vem de Deus. A ele clamamos diariamente por misericórdia, para que nos fortaleça, ampare e guie por seu Espírito.


III - O santo matrimônio à luz da Palavra de Deus. [25]

    Os problemas na convivência matrimonial se acentuam de ano a ano. A taxa de divórcios aumenta. Metade dos clérigos evangélicos nos Estados Unidos da América estão divorciados uma ou mais vezes. Por isso, quando casais evangélicos se defrontam com problemas em sua união matrimonial, não recorrem mais a seus pastores, mas a psicólogos, conselheiros matrimoniais, sociólogos, etc.
     A interpretação dos textos bíblicos difere de pastor para pastor, de igreja para igreja. O número de livros sobre o assunto é enorme. A confusão é grande. Qual é a posição da Igreja Evangélica Luterana diante do tema: Matrimônio e seus problemas? Vejamos as principais afirmações e normas bíblicas a respeito do matrimônio cristão.

1. O matrimônio não é uma evolução social ou uma herança de um passado, no qual imperava um machismo brutal. Não. O matrimônio é uma instituição divina (Gn 2.18-24). O sexo é um dom de Deus: Homem e mulher os criou (Gn 1.27). O casamento e a vida familiar são santos, por isso falamos no Santo Estado Matrimonial. Mesmo que, após a queda do homem em pecado (Gn 3). este estado foi e é poluído pela perversão humana, ele deve ser honrado por todas as pessoas como uma bênção dada por Deus. Por isso o matrimônio é honrado também entre os gentios.    

2. O matrimônio é um estado abençoado por Deus e traz múltiplos benefícios, tanto para o casal como para uma nação em geral. Por isso, a fidelidade matrimonial é um dos principais requisitos para a verdadeira felicidade, que contribui para o progresso do indivíduo e o bem-estar da nação. A força da nação está na estabilidade de suas famílias. - Infelizmente, este estado matrimonial, foi agredido pela resolução do deputados, permitindo o chamado matrimônio hetero sexual, e anda pior, possibilitando que tais tipo de casais possam adotar crianças.
            - Dois corações que batem como um só…”. Segundo o
            dicionário casamento significa: união solene entre duas pessoas.
            ... Casamento vai muito mais além que uma união… Casamento é começar a vida, é
           dividir sonhos, é enfrentar tudo e todos, é estar junto na fraqueza e na força, é estar
           unidos pelo casamento.
                - O que é o Casamento: Mas, já no âmbito religioso, o casamento é um
          ato exclusivamente destinado aos casais heterossexuais (um homem e
          uma mulher), sendo esta condição descrita na bíblia sagrada cristã. Para
          o cristianismo, o casamento é interpretado como a união de um homem
          e uma mulher sob a presença de Deus.19 de fev. de 2017

        - Casamento é a união voluntária entre duas pessoas que desejam constituir uma
         família, formando um vínculo conjugal que está baseado nas condições dispostas pelo
        direito civil. O chamado "casamento civil" é o ato de união de duas pessoas sob o Direito
        Civil. Neste caso, em alguns países, como o Brasil, por exemplo, a união civil pode ser
        constituída por pessoas de ambos os sexos.

3. O matrimônio, o estar casado é, em última análise, o estado normal para o ser humano. Exaltar o celibato, a abstenção do matrimônio, o tornar-se monge ou freira, como um estado mais santo e agradável a Deus do que o matrimônio, é aberração e contra a Palavra de Deus.

4. O matrimônio cristão é monógamo, isto é, a união de um homem e uma mulher, como esponsais legítimos, para uma só carne. A saber, o homem e a mulher renegam todas outras possibilidades e se apegam um ao outro para uma união vitalícia. Uniões de ambos os sexos são aberrações e condenadas por Deus (Rm 1.18-27).

5. O matrimônio cristão é estabelecido por um consenso mútuo, não constrangido. Filhos não devem ser forçados contra sua vontade ao matrimônio. Mesmo assim, os jovens, no respeito que devem a seus pais, os consultarão e respeitarão seus conselhos.

6. A união matrimonial é vitalícia. Quebrar a união matrimonial, exceto em caso de morte de um dos cônjuges, sempre envolve transgressão da vontade divina, que afirmou: O que Deus ajuntou não o separe o homem (Mt 19.6). O divórcio só é permitido no caso de infidelidade matrimonial (Mt 19.9).

7. Na escolha de um companheiro ou companheira para a vida, o fator decisivo não deveria ser riqueza, atração física, inteligência, posição social, mas devoção comum ao único Senhor e Salvador, harmonia e unidade de fé. Por outro, com exceção dos graus de parentesco, com os quais o cristão não deve casar, não há restrições na escolha do futuro esposo ou da esposa. A compatibilidade de idade e cultura é, normalmente, essencial para mútua compreensão e cooperação.

8. No lar cristão, o marido é o cabeça representativa diante de Deus e dos homens (Ef 5.22-33); a mulher é companheira e auxiliar. Sua principal esfera de atividade é o lar.

9. Um propósito importante no matrimônio cristão é a procriação de filhos. Onde este primeiro mandamento: Sede fecundos e multiplicai-vos (Gn 1.28) é desconsiderado e, sem maiores razões, filhos não são desejados, ali a bênção plena sobre o matrimônio é sacrificada e a maior felicidade não é concretizada.

10. O matrimônio cristão tem como fundamento a Palavra de Deus, a Bíblia. Por esta palavra o Espírito Santo consola e firma a fé na graça de Cristo. Desta fé brota o amor de um para com o outro. Pela palavra, o Espírito Santo concede verdadeira sabedoria de vida. Por isso o altar familiar é cultivado no lar cristão.

11. No matrimônio cristão o verdadeiro amor é cultivado como uma planta preciosa (Ef 5.25). Isto significa, em primeiro lugar, o aceitar a outra pessoa, como ela é e amá-la. Todas as tentações como frígida indiferença, amor às coisas do mundo e as tentações de fora são duramente combatidas, pois ofendem a Deus.

12. Jovens cristãos se preparam para esta bênção, pedindo a ajuda de Deus, a fim de levarem uma vida descente e pura, fugindo das tentações do mundo. O jovem cristão procura seu futuro cônjuge sob oração e no aconselhamento com seus pais. Tendo-a encontrado, firma o compromisso pelo noivado e se prepara para o casamento. Oportunidade em que sela publicamente seu compromisso (Casamento Civil) e busca a bênção de Deus em sua Comunidade. (Cerimônia religiosa).

    Estas normas bíblicas são fundamentais na busca de um matrimônio feliz e abençoado. Jovens cristãos se comprometem com cada um desses princípios.
    No mundo, estes princípios são ridicularizados, ou minimizados e desprezados. Desviar-se deles, sem dúvida trará prejuízo para o matrimônio. Estas normas bíblicas têm mostrado, ao longo da história da humanidade, sua força e seu poder, tanto nos momentos felizes, como nos momentos difíceis da vida matrimonial.    

     Esta é a contribuição construtiva que a cristandade pode dar para a felicidade matrimonial e contra as influências contraditórias. Elas foram escritas a partir da convicção de que a montanha de materiais quer livros, vídeos, etc. de nossos dias não podem oferecer soluções efetivas; estas só são encontradas nos ensinamentos de Cristo.
     Por isso não podemos dar outro conselho a nossos jovens do que este: Saibam que “o santo matrimônio é a união vitalícia, instituída por Deus e contraída mediante esponsais legítimos, entre um homem e uma mulher para uma só carne.” Quando jovens considerarem o matrimônio um estado santo, e o vivem à luz da palavra de Deus, fugindo das tentações e aberrações do mundo, suplicando que o Espírito Santo os guie em toda a compreensão e amor no matrimônio, experimentarão sua bênção e felicidade, e saberão amar-se com fidelidade em dias bons e maus.  


IV – Matrimônio, crises e divórcio nas famílias pastorais

     O matrimônio e a família são preciosas instituições divinas, uma herança dos céus. Mesmo crescendo os problemas nessa área, não podemos agradecer o bastante a Deus, por preservar o matrimônio e a família no mundo. Pois também incrédulos, conforme a lei inscrita nos seus corações, conhecem seus deveres matrimoniais e familiares, para viverem vida fiel e feliz. Ao mesmo tempo é preciso dizer que a vida matrimonial e familiar é o lugar no qual se desenrola a grande tensão e luta da fé cristã. Pois ali há uma comunhão não de dois santos, mas de dois pecadores[26] que, pela fé em Cristo, lutam contra sua natureza carnal e se ajudam mutuamente repreendendo, consolando, amparando como o recomenda o apóstolo Paulo: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações, à qual, também, fostes chamados em um só corpo: e sede agradecidos. De onde, no entanto, nos virá a força para tanto? O apóstolo continua e mostra a fonte: Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhei-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai (Cl 3.12-17).
     Sustentar o amor na vida matrimonial e manter bom relacionamento na família, especialmente em nossos dias com tantas tentações e o desmoronamento de todos os bons costumes, sendo o lar invadido pelos meios de comunicação: jornais, revistas, televisão, internet, não é fácil. Mas ali onde a família se firma na Palavra de Deus, educando-se mutuamente mediante boa disciplina externa, vencerão pela graça de Deus. Por isso o apóstolo admoesta: “Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl 5.16). “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau” (Ef 6.13).
     Nos últimos tempos, no entanto, os problemas nesta área estão se multiplicando. O número de divórcio nas famílias cristãs, por incrível que pareça, é maior do que entre os gentios. E o que é mais triste, cresce o número de divórcios nas famílias pastorais. A luta é grande. É preciso que nos apoiemos uns aos outros nessa luta.
    A família pastoral enfrenta, além disso, problemas bem específicos. O pastor é homem público. Isto requer cuidadosa administração do seu tempo entre trabalho e família, para que a família não fique em segundo plano. Há também senhoras que se apegam ao pastor e o elogiam, o que pode provocar ciúmes na esposa. Isto requer cuidado de ambos. Devido aos parcos recursos, querendo dar boa educação aos filhos, a esposa muitas vezes trabalha fora, o que aumenta o problema. A esposa do pastor, preferencialmente, não deveria trabalhar fora, o que nas atuais situações financeiras não é fácil.  
     Entre todas as agremiações que zelam pela família, a Igreja Cristã deve ser, sem dúvida, a que mais se empenha pela preservação do matrimônio e da família. E isto não só por seus ensinos, mas também por seu exemplo. E os pastores devem ser exemplo e modelo irrepreensível.

4.1. O matrimônio é uma união vitalícia. O matrimônio, instituído por Deus, é uma união vitalícia. Esta união é firmada pelo consentimento dos pais e por parte dos noivos com juramento mútuo de fidelidade em dias bons e maus. Esta união está sob a proteção de Deus. Jesus sublinha: O que Deus ajuntou não o separe o homem (Mt 19.6). O escritor da carta aos Hebreus escreve: Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros (Hb 13.4). O profeta Malaquias, após uma severa advertência contra a infidelidade conjugal, termina dizendo: Porque o Senhor Deus de Israel diz que odeia o repúdio (divórcio) (Ml 2.10-16). A instituição do matrimônio não prevê a separação de cônjuges. O matrimônio só é dissolvido pela morte de um dos cônjuges. Esta indissolubilidade não é garantida pela lei, mas deve ser entendida a partir do evangelho, do espírito renovador de Cristo, que oferece as condições básicas para tanto, pois da fé brota o verdadeiro amor.  A exceção mencionada por Jesus em Mateus, o adultério (5.32; 19.9), é um problema a parte. Neste caso, um dos dois, que se uniu com outro corpo (1 Co 6.16), quebrou a união. O abandono malicioso, o não cumprimento dos deveres matrimoniais de cama e mesa, é, na verdade, somente o outro lado da moeda do adultério. Hoje, no entanto, quer-se usar este argumento como um segundo motivo, enquadrando aqui a chamada incompatibilidade de gênios. Sob este pretexto, qualquer desentendimento serve de motivo para a separação. Afirma-se: é melhor separar numa boa do que viver brigando. Quando os fariseus perguntaram a Jesus: Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Jesus respondeu: Por causa da dureza do vosso coração (Mt 19.7,8). Que dureza é essa e contra quem? Dureza contra Deus e sua Palavra. A pessoa deixa de dar ouvidos a Deus, endurece seu coração contra Deus, que orienta a vida matrimonial. Ora, endurecer o coração contra Deus é cair da fé. Assim fica claro que para cristãos não existe a possibilidade do divórcio. Em nome de Deus, o apóstolo Paulo recomenda aos cristãos, e isto vale especialmente também para o matrimônio: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição (Cl 3.12-14).
     Vamos examinar as passagens bíblicas relacionadas ao divórcio..

4.2. Exposição exegética de Mt 19.7,8 e 1Co 7.10-15.
-  Mt 19.7,8. Moisés era legislador do povo de Israel. Mas nem todos no povo eram tementes a Deus. Entre eles havia hipócritas e incrédulos, mesmo sendo as leis rigorosas com punição até por apedrejamento, isto é, pena de morte a infratores da lei (Lv 20.10), muitos entre o povo não deram ouvidos à lei de Deus. A fim de pôr certa ordem neste assunto, Moisés criou, como estadista, a carta de divórcio[27] (Dt 24.1-4). O homem, que despedia sua esposa por qualquer motivo, tinha que dar à esposa repudiada uma carta de divórcio. Esta lei governamental, em tempos de decadência, foi interpretada da forma mais liberal possível. Um homem tinha o direito de mandar sua esposa embora por qualquer motivo. Jesus expõe isto a seus ouvintes e diz que não era assim desde o princípio. Quando Deus instituiu o matrimônio, ele não criou uma opção ou um espaço para o divórcio. Por isso Jesus sublinha: Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Em outras palavras, não existe razão para que filhos de Deus, um casal temente a Deus, possa vir a se separar. O divórcio não é o caminho para se resolver problemas matrimoniais. Se o matrimônio de uma família cristã entrar em crise, o amor e o relacionamento mútuo esfriarem, o problema está na fé cristã, que está morrendo. Os dois estão deixando de ouvir a Deus. Tal casal precisa voltar a ouvir a Deus e suplicar à Deus por ajuda. Deixar guiar-se por Deus ao arrependimento e à fé, da qual brotará o amor de um para com o outro, para a restauração e renovação de sua vida matrimonial.
     Por isso Jesus afirma: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres. Esta dureza do coração não é outra coisa do que incredulidade. Um dos dois ou os dois caíram da fé.[28] Portanto, não existe “um divórcio numa boa.” Divórcio não é um pecado de fraqueza, no qual a fé continua a existir. Isto está expresso também nas palavras de Jesus no sermão do monte: Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo. Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de adultério, a expõe a tornar-se adúltera, e aquele que casar com a repudiada comete adultério (Mt 5.31,32). Ora, nenhum adúltero herdará o reino dos céus (1 Co 6.9). Jesus não admite o divórcio para filhos de Deus, exceto em caso de sofrerem o divórcio, quando um dos cônjuges quebra a união pelo adultério. Ora, adultério não é um pecado de fraqueza. É um pecado proposital, que no Antigo Testamento deveria ser castigado por apedrejamento (Dt 22.20-26). Não temos, no entanto, nenhum exemplo de que esta lei tenha sido executada. O apóstolo Paulo reflete o mesmo espírito ao escrever: Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta, forma um só corpo com ela? Porque, como se diz: serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza! (1 Co 6.15-18). Pois, nenhum adultero herdará o reino dos céus (1 Co 6.9). Isto é se ele não se arrepender verdadeiramente.
     Jesus ainda vai mais longe. Ele levanta a pergunta sobre um novo casamento do desquitado (pressuposto que são dois cristãos que não têm o direito de se separarem) e responde: Não! Pois, quem casar com a repudiada, comete adultério. Ele passa a viver com alguém, com quem ele não tem o direito de conviver. Pois a separação indevida deve ser tratada pastoralmente para ser curada. Tal separação é, portanto, uma separação temporária, na qual ainda se visa a reconciliação, e quem casar nesta situação com a repudiada, comete adultério.
- 1 Co 7.10-15. Para completar o quadro, precisamos analisar ainda o que o apóstolo Paulo escreve aos coríntios em 1 Co 7.10-15. O apóstolo faz duas admoestações. Na primeira admoestação (1 Co 7.10,11), ele fala a um casal, no qual marido e mulher são cristãos; na segunda admoestação (1 Co 7.12-15), ele fala um casal misto, no qual um é cristão o outro não. Vejamos.
     Ora aos casados, ordeno, não eu mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido se, porém, ela vier a separar-se, que não se casa, ou que se reconcilie com seu marido; e que o marido não se aparte de sua mulher (1 Co 7.10,11). Temos aqui duas ordens: não se separe, não se aparte. Esta é a vontade e ordem de Deus baseada na instituição do matrimônio: o que Deus ajuntou não o separe o homem. Uma ordem que vale para todos os tempos. Portanto, para cristãos, enquanto na fé, não existe a possibilidade do divórcio. Se um deles vier a separar ou apartar-se, por motivos não justificados, (exceto em caso de adultério), não se case. Este não se case tem um objetivo, dar um tempo para acalmar os ânimos, para voltarem a pensar corretamente, para que a fé possa voltar a triunfar neles e eles voltem a se reconciliar. Pois a separação é contrária à vontade de Deus, é a quebra do juramento. Se a mulher que se separou ou o marido que se apartou casar, comete adultério, pois ele ou ela não tem ainda o direito a um novo casamento. E quem casar com um deles, também comete adultério, pois está casando com alguém que está comprometido.
     Isto dá o que pensar a nós pastores em nossos dias, nos quais somos simplesmente informados: Pastor, mude, por favor, o meu nome no fichário. Eu me separei e voltei a usar o nome de solteira. Ou quando eles vêm simplesmente com os papéis do divórcio e pedem a bênção para o novo casamento, sem que houvesse alguma tratativa pastoral com respeito ao matrimônio anterior. Dizem simplesmente: Fizemos um divórcio amigável. O fato de membros, que se debatem com crises matrimoniais, não terem procurado a orientação de Deus junto ao seu pastor, já é um fato para repreensão. Muitos alegam: Fomos a um psicólogo (cristão?) e ele nos aconselhou separar. Precisamos acentuar com muita clareza e força o que Jesus diz: O que Deus ajuntou, não o separe o homem. É preciso deixar isso bem claro ao casal cristão: Vocês não têm direito à separação, vocês precisam se entender.   
- 1 Co 7.12-14. A segunda admoestação do apóstolo se dirige a um casal misto. Aos mais digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ele, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convício da esposa e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, porém, agora são santos (1 Co 7.12-14). O apóstolo fala a respeito de casamentos mistos. Não de casamentos mistos de hoje, mas de um casal de gentios, do qual um dos dois se converteu ao cristianismo. E agora? O apóstolo diz: Digo eu, não o Senhor. É que Jesus não falou diretamente sobre tal situação, por isso o apóstolo não tem nenhuma palavra expressa de Jesus em que pudesse se basear, mas ele o faz por sua autoridade apostólica. E nesse sentido, ele fala inspirado por Deus. Pois a pessoa convertida – naquele tempo normalmente um prosélito, procedente de judeus - se perguntava: Meu casamento é puro? Deus vai me  abençoar nele? Pode haver comunhão entre um cristão e um incrédulo? Visto que no Antigo Testamento, casamentos mistos eram proibidos (Dt 7.3). Além disso, temos exemplos em que judeus que haviam casado com mulheres dos gentios, deveriam mandá-las embora (Ed 10.2,19). O apóstolo Paulo quer acalmar as consciências perturbadas por tais perguntas e recomenda que, se a parte incrédula, homem ou mulher, consentir em permanecerem unidos, que o cristão, então, cumpra fielmente seus deveres no matrimônio. Paulo procura remover qualquer dúvida no cristão sobre a pergunta: Será que Deus vai estar em nosso lar e nos abençoar? O apóstolo afirma: Sim, Deus vai estar com vocês. Ele escreveu: Porque o marido incrédulo é santificado no convício com a esposa e a esposa incrédula é santificada no convício do marido incrédulo. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, porém, agora, são santos. Vejamos bem o que o apóstolo diz: o marido incrédulo é santificado, a esposa incrédula é santificada. Paulo não está falando da justificação do pecador, no sentido de perdão dos pecados e de paz com Deus; ele está falando de incrédulos no matrimônio cristão. Ele se refere à santificação do matrimônio. O matrimônio, esta união vitalícia, é válida diante de Deus e Deus dará sua bênção a esta união. E, por amor ao cristão, seus filhos ou suas filhas, nesta união serão abençoados. Isto significa: o casamento é correto. E por haver ali um cristão, repousará sobre este matrimônio e lar a bênção de Deus. Os filhos ali não são bastardos, como que gerados em adultério, mas gerados num matrimônio legítimo. Evidente que a parte cristã buscará levá-los ao batismo e educá-los de forma cristã. É uma grande bênção para um incrédulo estar num lar cristão. Mesmo que tal união não seja fácil e requer muita paciência e amor.
     Este consolo é post factum, isto é, quando dois casaram como gentios e então um se converteu ao cristianismo. Este versículo não endossa, nem justifica que cristãos se lancem levianamente para dentro de casamentos mistos. Casamentos mistos sempre devem ser desaconselhados. Se um(a) cristão(ã) está namorando um ou uma pessoa não cristã, então fale com a pessoa e procure primeiro trazê-la à fé, aos cultos, à instrução. Se conseguir trazê-lo, então dê os outros passos, noivado e casamento. Caso contrário deveria pensar bem se vale a pena continuar. Pois um lar sem um fundamento comum, no mínimo será um matrimônio mais difícil. Isto se espelha muitas vezes sobre os filhos. Se a mãe vai à igreja e o pai não, os filhos provavelmente optarão em não irem para a igreja.    
    Pode, no entanto, acontecer também o contrário, que a parte incrédula não queira viver em tal união. Então Paulo diz: Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos têm chamado à paz (v.15). Incrédulo é alguém que não está na fé em Cristo, consequentemente, não aceita a palavra de Deus e não se orienta por ela. Ele simplesmente abandona maliciosamente o seu cônjuge (malitiosa desertio). E agora, o que fará o irmão ou a irmã cristã abandonado? Estará livre? Poderá contrair novo matrimônio? Ou terá de correr atrás do seu cônjuge e esperar por sua volta? O que significam as palavras: não fica sujeito à servidão... Deus vos têm chamado à paz? Será que servidão se refere à servidão no matrimônio? Sim. Uma vez que foi abandonado, que sofreu a separação, ele ou ela não são obrigados, sujeitos ao cônjuge, correr atrás dele, esperar para ver se um dia ele volte. Não há possibilidade de se aguardar ou procurar uma reconciliação, como no primeiro caso. Deus vos têm chamado à paz, o que é o contrário da servidão. Isto significa que poderá casar novamente? Na verdade o apóstolo não levanta aqui esta pergunta diretamente, mas a palavra livre sem dúvida se refere à sujeição matrimonial, da qual ele ou ela agora está livre. Isto possibilita um novo casamento. 
     Infelizmente este texto foi e ainda está sendo interpretado fora do seu contexto cultural original do tempo do apóstolo Paulo e é interpretado à luz da cultura ocidental. Fala-se assim em incompatibilidade de gênios, abrindo a porta ao divórcio por qualquer motivo. Por isso há teólogos que afirmam existirem dois motivos para o divórcio: adultério e incompatibilidade de gênios. Isto não confere com a Bíblia. Conforme a Escritura há somente um motivo para a separação: o adultério. Quando Jesus falou sobre o assunto, ele lidou com a pergunta sobre a razão para o divórcio e respondeu: Não existe nenhum motivo, exceto em caso de adultério. O apóstolo Paulo ao falar sobre o assunto, responde uma outra pergunta: O que fazer quando um cristão é abandonado pelo cônjuge incrédulo, isto é, que sofreu o abandono?
     A Igreja Católica não admite nenhum motivo para uma separação, por isso não admite o desquite nem o divórcio, mas esta não é a posição bíblica[29].

4.3. Observações. Nossos teólogos levantaram aqui, com muita razão, uma série de perguntas: Este abandono se restringe somente quando praticado por gentios declarados ou também por falsos cristãos e hipócritas? O apartar-se se refere somente ao sair de casa ou também a um comportamento devasso em casa, a um abandono dentro do lar pelo não cumprimento dos deveres matrimoniais de cama e mesa? (1 Co 7.4,5).
     Os exegetas são claros, a palavra gentio se refere também a um falso cristão, a um hipócrita, a alguém que se diz cristão, mas seu comportamento mostra que ele não o é.
      Quanto ao abandono malicioso, os exegetas mostram que isto não é o caso quando um dos cônjuges, por obrigações profissionais, precisa ausentar-se por um tempo, que é o caso especialmente de soldados, que ficam fora meses ou até anos, mas mantêm a comunicação e expressam sua saudade, etc. Também não é o caso de pessoas doentes que ficam meses hospitalizados ou até em casos de demência. Nem é o caso quando num momento de raiva, um deles explode e sai de casa, mas no outro dia (ou após alguns dias), retorna arrependido e suplica perdão. Nem é o caso se uma mulher for violentada, estuprada, para o marido então lhe dizer: Não te aceito mais. Nem se o marido for preso ou é expatriado, especialmente por motivos políticos. A não ser que, se na prisão ou no exílio, ele enveredar por uma conduta sexualmente devassa.   
     Mas é o caso quando alguém não cumpre seus deveres matrimoniais de cama e mesa, quer devido a seu comportamento leviano ou por sua malícia, isto é, desentendimento, repúdio ao cônjuge, falta de reconciliação, mostrando pelas obras da carne sua falta de fé. Lutero escreve: “Um abandono malicioso pode ser por ódio à religião, leviandade, vida desregrada ou outros motivos. Quando um se furta ao outro, não cumprindo seu dever matrimonial, nem deseja estar com seu cônjuge, isto também é rebentar a união matrimonial. Quando todo o conselho e toda a admoestação é rejeitada e a pessoa se revela como gentio, não havendo mais esperanças de melhoras”[30].  Paulo Gerhard afirma: “Quando a obstinação e a absoluta falta de boa vontade para a reconciliação tomam conta, então o casal precisa ser admoestado por parentes ou pelo pastor para que cada qual cumpra o seu dever. Mas quando um dos dois revela obstinação isto também é uma maneira de abandono.” Salomo Deyling (1677-1755) professor luterano em Leipzig, conhecido por sua obra: Prudentiae Pastoralis, observa: “Esta negação permanente precisa ser expressa”[31], isto é, ser provada e expressada à pessoa que lida com o casal.
    Uma outra pergunta que se levanta é: Quanto tempo é necessário para se comprovar que é deserção maliciosa? A lei civil de cada país provê respostas para isso. O pastor e conselheiros respeitarão essas leis, mesmo assim não é uma lei absoluta. Eles julgarão caso a caso.

4.4. Disciplina. A parte culpada, que adulterou ou abandonou o cônjuge maliciosamente, que assim caiu da fé, que divorciou, precisa ser disciplinada pela Comunidade. Caso não se arrepender, deve ser desligada da Comunidade. Muitas vezes a pessoa sai da Comunidade antes de lhe ser aplicada a disciplina.
     Mas pode acontecer também, e isto é o desejado, que a pessoa dê atenção à disciplina – quer seja ao ser disciplinado ou mesmo meses ou anos depois – e se arrependa, volte à fé em Cristo e peça sua readmissão na Comunidade, qual o procedimento? A Comunidade sem dúvida se alegrará com sua volta e o receberá com alegria. Poderá ele contrair novo matrimônio? Sim. Ele deverá manifestar seu arrependimento ao ex-cônjuge e lhe pedir perdão. Estando o caminho para refazer o primeiro matrimônio impedido ou porque seu primeiro cônjuge não o aceita mais ou porque já está em vias de ou já concretizou novo matrimônio, então ele, arrependido de seus erros passados, buscado o perdão de Cristo, poderá contrair novo matrimônio.[32]

4.5. Pedidos para efetuar cerimônias de casamento. Uma das situações com as quais nós pastores luteranos nos defrontamos, é quando pessoas católicas (ou de outras igrejas, cristãos só de nome), vêm a nós e solicitam a bênção matrimonial, porque é bonito casar na igreja. Toca o telefone ou após o culto alguém pergunta: “Vocês casam desquitados?” Normalmente são católicos que perguntam, porque a Igreja Católica não realiza casamento de desquitados ou divorciados. O que fazer? Nossa resposta é: A cerimônia de casamento é um privilégio só para membros da comunidade. Imediatamente somos perguntados: E o que é preciso fazer para ser membro da Comunidade? Vir aos cultos e à instrução de adultos. Com o que os interessados, normalmente, concordam logo. Segue a instrução. Devo dizer que tive bons momentos e diálogos profundos com tais pessoas. Podia-se notar que eles tinham pouca noção do que é ser cristão e mostravam verdadeiro interesse nos estudos da Bíblia. Aborda-se então o casamento e também as razões ou não razões para um divórcio. Na opinião das pessoas na instrução, é evidente, eram sempre inocentes e a culpa estava do outro lado. Como é um fato consumado e não temos condições de julgar o assunto, pedia que agora como cristãos, expressassem à outra parte seu pedido de desculpas. Em alguns casos, quando havia filhos e relativa comunicação com o (a) ex-cônjuge, isto foi feito. Em outros casos, de separação litigiosa, isto era impraticável. Confesso, no entanto, que por mais participativo que tenham sido na instrução de adulto, vindo durante este tampo aos cultos, depois do casamento, muitos, infelizmente, se afastaram novamente, por falta de uma vivência e integração maior com a Comunidade.
    
4.6. Conclusões. Diante do que vimos, precisamos manter os seguintes princípios bíblicos:

a) Causas – A taxa de divórcios entre casais cristãos está crescendo, também entre casais luteranos. Quais são as causas?
- Imaturidade. Muitos jovens saem cedo de casa. Eles próprios, por seus pais estarem trabalhando fora, não tiveram uma boa vida familiar, para conhecerem mais de perto os problemas que envolvem o matrimônio e como resolvê-los. A vida que vêem na televisão não é a vida real. Será que compreenderam o que significa viverem em comunhão a dois? Que Deus une duas pessoas com qualidades opostas – se um é rápido nas decisões o outro é mais devagar, se um é mais romântico, o outro provavelmente será mais prático, se um é calmo o outro mais explosivo, etc. – para buscarem sempre um equilíbrio pelo bom senso. Isto requer colocar os seus interesses em segundo plano e buscar o interesse do outro. Infelizmente se fala pouco da arte de viver em comunhão, e se acentua a felicidade individual: Faça o que você gosta. Seja você mesmo. Imponha sua vontade. E se não conseguires, mude de vida, divorcie.
- Eram cristãos? Será que realmente, apesar de serem batizados, confirmados e membros de uma comunidade cristã, eram realmente cristãos? Ou cristãos fracos na fé? Será que eles viviam seu batismo no dia a dia, afogando o velho homem, por contrição e arrependimento diário, fazendo o morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, fazer sair e ressurgir diariamente novo homem, que vive em justiça e pureza diante de Deus eternamente? (Cat. Menor, 4ª do Batismo) 
- Vida espiritual. Tinham o hábito da devoção no lar? Participavam dos cultos? Havia estudos bíblicos sistemáticos e progressivos na Comunidade para o desenvolvimento espiritual? Há na Comunidade uma biblioteca com livros para a edificação cristã à disposição dos membros?
- Influências de fora. Que influências de fora agiram sobre o casal em crise, levando-os ao divórcio? Novelas, conselhos de amigos e amigas, de psicólogos, instigações e tentações, mesmo que nada disso os inocenta de sua responsabilidade individual. Certa vez, um congregado pediu um conselho a seu pastor e disse: Minha esposa está de mau humor para comigo, já há mais de um mês. Tenho uma secretária que é o esteio da minha firma. Ela é muito cordial e carinhosa para comigo e eu comecei a sentir-me atraída por ela. O que devo fazer? O pastor foi categórico: “Se queres salvar a ti, a tua família e a tua firma, mande-a, imediatamente, embora. Ela é um laço passarinheiro para ti. Seja cordial para sua esposa e conquiste-a de volta.”
     Por tudo isso a pergunta pela culpa num matrimônio naufragado é algo extremamente difícil e complexo. Há fatores pessoais e externos. Há falhas na estrutura da Comunidade por não oferecer alimento, estudos bíblicos e cursos temáticos, para um crescimento espiritual. Por isso muito cuidado no trato desse assunto, matrimônios em crise a caminho do divórcio, ou divorciados.

b) Cristãos, enquanto na fé em Cristo, não cogitam na possibilidade de divórcio para solucionar seus problemas matrimoniais. Eles foram unidos por Deus e juraram fidelidade um ao outro.

c) Divórcio de cristãos. Em caso de um casal cristão se divorciar, isto sempre implica no fato de um ou os dois terem fraquejado ou caído da fé, quer seja por causa de adultério ou um apartar-se maliciosamente. Neste caso a parte inocente permanece membro da comunidade, a parte culpada (ou os dois) precisa ser disciplinada. Diga-se de passagem, que julgar esses casos não é algo fácil. Precisamos ter muito cuidado para não cometer injustiças.

d) Soluções. Quando a união matrimonial foi quebrada por adultério de uma das partes ou por abandono malicioso, as soluções podem ser:
1) No caso de adultério, a parte culpada cai em si, se arrepende e pede perdão. A parte inocente pode perdoar e aceitar o cônjuge de volta, o que é recomendado. Isso, no entanto, dependerá da boa vontade da parte inocente. Por se tratar de uma relação tão íntima, ela poderá perdoar e aceitá-lo de volta, ou perdoar e de sã consciência não aceitá-lo de volta, solicitando o divórcio, conforme a afirmação de Jesus. (Mt 19.9)
2) Em caso de abandono malicioso, espera-se por um tempo (talvez um ano, depende das leis do país), na esperança de uma possível reconciliação. Não havendo reconciliação, a parte que repudiou deve ser declarada incrédula, pois endureceu seu coração contra a palavra de Deus. E o cônjuge que sofreu o abandono estará livre para um novo casamento.

e) Arrependimento. Quando, após um tempo, a parte culpada, cai em si e reconhece seu erro, se arrepende e volta à fé em Cisto, o que fazer? Importa que manifeste seu arrependimento à Comunidade e à pessoa a qual abandonou, pedindo perdão. Estando o caminho para refazer o matrimônio fechado, isto é, a pessoa não aceita o faltoso de volta, ou porque a pessoa inocente já está em vias ou contraiu novo casamento, a parte culpada, arrependida, poderá contrair novo casamento.

      Aplicação. O que dizem essas palavras, hoje, a nós pastores?
a) Cabe-nos instruir bem nossos jovens e nossa Comunidade sobre esse assunto. A propósito, quando foi a última vez que a Comunidade ouviu um sermão (ou um estudo) sobre a vida matrimonial? Quando foi a última vez que a Comunidade ouviu um sermão sobre como cultivar o amor entre o casal e na família, ou um estudo sobre Cl 3.12-17? Será que eles sabem o que fazer quando um casal enfrenta crises matrimoniais, de que devem procurar seus pastores e não correr simplesmente a psicólogo?[33] Pois mesmo que estes se dizem cristãos, normalmente predominam neles as teorias psicológicas. Precisamos de estudos bíblicos à disposição para que nossos membros possam, pela leitura, conhecer o que a Bíblia diz sobre o assunto. E mostrar o que Deus uniu não o separe o homem, pois a união matrimonial é uma união vitalícia. Não é em vão que, ao Jesus dizer isto, até os discípulos estranharam e disseram: Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar (Mt 19.10).
b) É preciso estar atento aos problemas e ter muito cuidado no trato e no aconselhamento a casais em crise e diante do divórcio, fazendo tudo para evitá-lo. E dizer à parte que causa o divórcio que realmente caiu da fé, e quem casar com a repudiada, comete adultério. c) Instruir com mais profundidade pessoas divorciadas que vêm à Comunidade em busca da cerimônia religiosa.
     Confira ainda o Apêndice II: Afirmações sobre Divórcio e Novo Testamento.



V – Famílias pastorais em crise

     Famílias pastorais estão sujeitas às mesmas tentações e lutas como qualquer outro casal cristão. O casal, ele e ela, têm sua natureza carnal. Assim eles precisam lutar e afogar diariamente sua natureza pecaminosa para não permitir que o egoísmo, ciúmes, vaidades, cresçam, esfriando o amor entre o casal, interrompendo a comunicação. Além disto, o casal pastoral enfrenta tentações específicas ao ofício.
      Uma dessas tentações é de o pastor lançar-se de tal forma ao trabalho, a ponto de descuidar de sua família. Isto pode ter sua origem numa consciência mal orientada. Quando se diz: Em primeiro lugar o reino de Deus... (Mt 6.33). Isto é verdade em relação a muitas coisas materiais, mas no relacionamento com nossa família, dependendo do caso, não. Nestes termos houve no passado pastores que foram ao seu trabalho, deixando sua esposa grávida por ganhar nenê sozinha em casa aos cuidados de Deus; ou agir assim por egoísmo e vaidade profissional.
     Não é fácil para homens públicos planejarem e dividirem bem o seu tempo entre trabalho ministerial e família, e governarem bem a sua casa. Muitas vezes, esposas e filhos se queixam da falta de atenção e dedicação do pai, que prega dedicação e amor, mas em casa isso falta. Facilmente o stress, ciúmes e outras tentações encontram terreno fértil no seio da família pastoral. Por isso o apóstolo Paulo admoesta os pastores: Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente (1 Tm 5.8). Mas há também o outro estremo que deve ser evitado. Há comunidades que se queixam de que o pastor só vive para sua família e não tem tempo para os membros da Comunidade.
           No trato de tais casos, todo o cuidado é pouco. O pastor e professor Albert B. Wingfield relata no seu livro[34] sobre um pastor muito dedicado à sua Comunidade. O casal pastoral era estimado por todos que os consideravam um casal exemplar em tudo. Qual não foi a surpresa, quando souberam que a esposa saiu de casa, acusada de infidelidade, pois começou a se interessar e namorar abertamente outro homem. Ela pediu divórcio e foi para a casa de seus pais, que também ficaram chocados. O que houve? Um pastor mais experiente foi falar com os dois e conseguiu reverter o quadro. Deste fato podemos tirar várias lições.
     Quando um casal pastoral entra em crise, eles vão buscar conselho junto a quem? O fato de serem casal pastoral, já os inibe a buscarem auxílio. Por outro, vão recorrer a quem? A seus colegas, ao Conselheiro Distrital? Este, em muitos casos, foi seu próprio colega de classe ou até de classes inferiores, do mesmo time de futebol, etc., por isso sente certa vergonha para falar com ele. Isto faz com que muitas vezes eles ocultem o problema até que a corda rebenta por um lado. Ou, então, buscam conselho junto a uma pessoa estranha, e a situação pode fica ainda pior, ou se encaminhará mais rapidamente ao divórcio.
     No caso citado acima, o pastor dedicou-se integralmente a sua Comunidade e se descuidou da esposa, da família. Qualquer coisa que a esposa lhe dizia, ele respondia: Estou trabalhando para o reino de Deus. Você não vê que tenho muito trabalho? A esposa não suportou mais e procurou uma saída. Não querendo prejudicar o ministério de seu esposo, resolveu buscar um motivo para provocar a separação. Começou a namorar abertamente uma outra pessoa. Ela foi vista e acusada. Ela assumiu e pediu divórcio. Dizendo consigo mesma: Assim ele não precisará deixar seu ministério, pois, para todos os efeitos, eu sou a culpada. Imaginam.
    O pastor mais idoso, que conhecia o casal, foi falar com eles e tratou do caso. Ele descobriu, que o verdadeiro culpado dessa separação era o próprio pastor. Sim, as aparências enganam. Com muita paciência e diálogo com ambos, ele conseguiu esclarecer as coisas. O pastor reconheceu seu erro e a esposa o seu. O casal se reencontrou e continuaram trabalhando com bênção em sua Comunidade.
    Vejam, quanto cuidado é preciso para lidar com casais em crise, para não fazermos um julgamento errado e o casal desembocar no divórcio. O pastor, que precisa tratar desses assuntos, deve ter muito cuidado no aconselhamento. Ele não deve julgar nem tomar partido, mesmo que muitos esperam isso dele. Pois ao julgar e tomar partido, terá logo uma das partes contra si. Ele procurará fortalecer ambos na fé, mostrar-lhes a vontade de Deus, visando a reconciliação. Em caso de uma das partes não atender a palavra de Deus, tomará duas ou mais pessoas da Comunidade, no caso de pastores, dois colegas, para testemunharem a obstinação, o desrespeito à Palavra e a incredulidade, para então proferirem o veredicto.  
     Há matrimônios harmoniosos e há matrimônios belicosos, quer ela ou ele ou ambos, com temperamentos exaltados que passam a vida discutindo e gritando um com o outro, mas se amam e não pensam em separação.
     Certa ocasião, uma classe de pastores, após 10 anos de formados, promoveu um encontro da classe com suas famílias. Em determinada altura, os homens ficaram a sós numa roda e a conversa girou em torno das esposas. Cada um falou um pouco de sua família. Houve os mais diversos comentários. Eis alguns: - Minha esposa é um foguete. Já bateu três vezes o carro. – Minha é uma lesma. Atrasa em tudo. Preciso estar sempre empurrando. – A minha, graças a Deus, é muito calma e ponderada. – Que sorte a tua, disse um dos pastores. A minha é um navio de guerra, etc. Tudo isso existe nas famílias pastorais e cada um precisa aprender a viver em sua situação. Conheci um pastor, já falecido, que tinha uma esposa muito mandona. Ela entrava nas reuniões da diretoria e mesmo nas Assembléias dos membros Votantes e dizia o que pensava. Isto naquele tempo em que homens e mulheres ainda sentavam separados na igreja, e as mulheres não poderiam participar da Assembleias dos membros votantes.  Certa vez, a esposa deste pastor entrou na Assembleia e falou um bom bocado. O pastor não disse uma só palavra. O presidente da Comunidade a deixou falar. Depois que ela tinha dito o que queria dizer, ela foi para fora. Então o pastor levantou calmamente e disse: “Vocês conhecem minha esposa. Desculpem. Vamos continuar o nosso assunto.” A Comunidade amava o seu pastor. Mas ele não tinha fácil com sua esposa. Há matrimônios mais harmoniosos e há os mais difíceis. Mas no passado, ninguém pensava em abandonar tudo e sair correndo. Cada qual carregava sua cruz. Hoje se fala muito em felicidade e, se esta não for alcançada como sonhada, ensina-se a divorciar, pouco se fala em ter paciência e suportar um ao outro (Cl 3.13).
     Todo o casal enfrenta crises, que normalmente são resolvidas entre o casal. A devoção no lar, a oração, os estudos bíblicos, os cultos - nisso a família pastoral é privilegiada - levam à harmonização. Por vezes um, por vezes outro cede e toma a iniciativa para a reconciliação. Mas quando uma crise perdura é preciso auxílio. Este auxílio pode ser prestado por parte dos pais, irmãos e irmãs, tios ou tias ou de colegas nos quais o casal têm mais confiança. Uma separação temporária – uma visita da esposa a seus pais - pode curar muitas coisas, esfriar os ânimos e colocar a cabeça de ambos no lugar. Mas quando isto não ajuda, é preciso recorrer ao Conselheiro ou Presidente da Igreja. O tratamento seguirá as normas que vimos no capítulo anterior, sobre: Matrimônio, Crises e Divórcio nas famílias pastorais.
     Larry Lean, no seu livro Nem uma hora cita o seguinte episódio: Certa vez um jovem evangelista estava enfrentando sérios problemas com sua esposa. Em vez de procurar resolvê-los, preocupava-se mais com sua reputação e com a campanha evangelística que estava realizando, do que no reconciliar-se com sua esposa e restabelecer o bom relacionamento entre ambos. Certo dia, quando se ajoelhou para orar sobre o grande ministério que estava exercendo, o Senhor lhe dirigiu[35] uma pergunta muito inquietante: “Como posso te confiar a minha noiva (igreja), se não sabes nem cuidar de tua esposa?” Por vezes, o pastor, nas melhores das intenções, dedica-se com empenho para cuidar da Noiva de Cristo e esquece de cuidar da própria esposa, do seu casamento e da sua própria família.
    Um outro fator é a fuga. Quando as coisas não vão bem em casa, procuramos fugir dos problemas, mergulhando nos trabalhos profissionais. Isto é perigoso, pois então abrimos uma brecha e sermos pressa fácil de Satanás.

5.1. O pastor sofre o divórcio. Infelizmente há casos em que, apesar de todo o cuidado e esforços do pastor, a esposa o abandona. As razões alegadas podem ser as mais diversas: Casei muito jovem e imatura. Temos incompatibilidade de gênios. (Isto traduzido significa: Somos dois cabeçudos). Não imaginei que a vida pastoral fosse assim. Eu não sirvo como esposa de pastor. Eu quero outra vida, etc.
     No rompimento de um matrimônio, não importa quais sejam os argumentos, no fundo é um problema de fé, de dureza de coração, também na separação de uma família pastoral. Se houvesse a devida compreensão da Palavra de Deus e bom aconselhamento, muitos matrimônios, sem dúvida, poderiam ser salvos.
    No caso em que o pastor sofre a separação, quer seja porque a esposa adulterou ou o abandonou maliciosamente, ele está livre e poderá contrair novo casamento (1 Co 7.15). Teoricamente, ele poderá permanecer no ministério, pois em si, não há culpa nele. Mas, se isto é ou não aconselhável, discutiremos no próximo capítulo.

5.2. O pastor é culpado.  Pode ser que o pastor caiu em adultério. Isto é algo muito grave. Não é pecado de fraqueza. Realmente tal pastor caiu da fé, mesmo que ainda pregue com fervor admirável. Há vários exemplos disso na Igreja. Lembremos o caso do pastor Martin Steffan que liderou a migração dos saxões para os Estados Unidos da América, grupo do qual brotou a Lutheran Church Missouri Synodo[36].  No caso em que o pastor caiu em adultério, Satanás encheu seu coração. Nenhum adúltero herdará o reino de Deus (Gl 5.19-21). O adultério, por mais secreto, cedo ou tarde vem à tona. Quando isto acontece, as pessoas que tomam conhecimento do fato precisam agir com cuidado e oração. Lutarão em primeiro lugar pela alma do irmão caído, seguindo os passos de Mateus 18. Se o pastor se arrepender e a esposa o perdoar, aceitando-o de volta, e o assunto for do conhecimento somente de um pequeno grupo, o assunto não precisa ser levado a público e poderá ser encerrado ali. Se o pastor pode permanecer ou não no ministério, deverá ser decidido pelos responsáveis: o próprio pastor, o Conselheiro Distrital (líder Distrital) e o Presidente da Igreja. A Pastorale de Walther recomenda que se examine o assunto cuidadosamente. Seja julgado conforme o Evangelho. Em alguns casos talvez poderá retornar e servir em outro lugar onde o escândalo não é conhecido[37].
     Mas a esposa poderá agir também diferente, a saber, perdoá-lo, e não recebê-lo de volta como esposo, requerendo o divórcio. Neste caso o pastor precisa solicitar sua demissão da Comunidade e do ministério.

    
VI - Pastores divorciados no ministério

      Pode um pastor divorciado permanecer no ministério e continuar atuando como pastor? Um pastor que fracassou no matrimônio, tendo ele culpa parcial ou total da separação, ou mesmo aquele que sofreu o divórcio, pode tal pessoa permanecer no ministério? Pode um pastor que adulterou, ao se arrepender de seus erros, quer permaneça solteiro ou contraia novo matrimônio, retornar ao ministério? Pode uma pessoa que divorciou antes de chegar à fé, e ao se converter ao cristianismo, abraçar o ministério? Nossos pais foram de opinião que não se tolerasse no ministério nenhum pastor divorciado, quer seja ele culpado ou tenha sofrido o divórcio, exceto em casos de extrema necessidade, na falta de pastores. Pastores que sofreram o divórcio não perdiam seu direito de ordenação, mas não deveriam atuar diante do altar e no púlpito, mas em trabalhos da retaguarda. Esta recomendação valeu em todas as igrejas luteranas, mais ou menos até os anos 1960.
     A revolução sexual dos anos 60, com o aumento da taxa de divórcios, colocou o assunto em discussão nas igrejas cristãs. O primeiro passo foi admitir ao ministério, sem muito rodeio, pastores inocentados, que sofreram o divórcio. Depois, por falta de pastores, também pastores culpados do divórcio que se arrependeram, foram, após a suspensão de alguns anos, readmitidos no ministério. Não tenho de momento uma estatística geral sobre o comportamento, neste sentido, de nossas Igrejas Luteranas irmãs no mundo. A Lutheran Church Missouri Synod (LCMS), nos Estados Unidos da América, por causa da grande falta de pastores, está admitindo o retorno de pastores divorciados ao ministério, com a recomendação de não assumirem postos de liderança como Conselheiros Distritais, presidentes Regionais, a Presidência ou vice-presidência da Igreja[38]. Muitas Comunidades, no entanto, não concordam com isso e não aceitam pastores divorciados. Nos últimos anos, nossa Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), também está admitindo pastores divorciados no ministério. A Selbständige Evangelische Lutherische Kirche (SELK), na Alemanha, tem tido problemas neste respeito. Na maioria dos casos, o pastor é suspenso por alguns anos, após o que, se deseja retornar ao ministério, poderá solicitá-lo. Alguns poucos têm sido reconduzidos e foram aceitos pelas comunidades na SELK. 
     Sem dúvida há perdão também para este pecado. Mas ser perdoado não significa automaticamente ser apto ao ministério. Um pastor que se tornou infiel à sua esposa, não é mais apto para o ministério, mesmo após seu arrependimento. Mesmo sendo o pastor vítima do divórcio, portanto a parte inocente, isto em si, não resolve o problema.
     Voltemos, porém, ao assunto do rigor em não admitir pastores divorciados[39].  
     O argumento para tal rigor é o seguinte: O pastor deve ser irrepreensível. O divórcio, exceto em caso de adultério e abandono malicioso, é uma violação clara e pública da vontade de Deus, mas não somente isso, ela envolve também e se constitui um permanente testemunho incoerente para o mundo. Pois o divórcio não é uma situação passageira, mas um estado permanente. Um divorciado permanece um divorciado pelo resto de sua vida, especialmente no caso em que tiver filhos. Os de fora vêem somente o fato e não conhecem os motivos e as razões que motivaram o divórcio, se culpado ou inocente (2 Co 6.3). Neste sentido, o divórcio difere de um escândalo, que pode cair no esquecimento, ou ser ignorado em outro lugar. Por isso importa que esse assunto seja tratado conforme os princípios bíblicos e não simplesmente por princípios humanitários.
    É preciso, no entanto, examinar caso a caso.

6.1. Perdão e ministério.
    Diante de Deus, todos os pecados são iguais. Todo o pecado quer seja a nossos olhos pequeno ou grande, em pensamentos ou ações, separa de Deus.
    Quando um pecador se arrepende e confia na graça de Cristo, seus pecados são perdoados e apagados por Deus, (Mq 7.19; Jo 3.16; 2 Co 5.19,20; 1 Jo 1.7). A pessoa volta ao concerto batismal e é aceita por Deus na família de Deus. O Espírito Santo volta ao seu coração. Ela é nova criatura, sacerdote real (2 Co 5.17; 1 Pe 2.9). Poderia, portanto, voltar a exercer o santo ministério.
    Mas, é preciso considerar outros fatores nesta questão. Mesmo sendo todos os pecados iguais diante de Deus, há pecados que, devido às suas conseqüências terrenas e o envolvimento de outras pessoas, o próprio Deus trata, na relação horizontal, não vertical de Deus para com a pessoa e a pessoa para com Deus, mas de pessoa a pessoa de forma diferente. Por exemplo:
- Mesmo Deus perdoando o pecado de adultério, ele ordenou, no Antigo Testamento, que os adúlteros fossem apedrejados (Lc 20.10). Assim, mesmo perdoado, as conseqüências do pecado precisam ser carregadas e suportadas.
- Outro exemplo. Um assassino condenado a 30 anos de prisão, ao se converter a Cristo, é perdoado e aceito por Deus (linha vertical), mas ele precisará cumprir sua pena aqui na terra (linha horizontal). Ou se alguém, como tesoureiro de uma firma foi desoneste e roubou, mesmo arrependendo-se de seu pecado, não será readmitido como tesoureiro, isso seria colocá-lo novamente em tentação. 
- Assim há muitos que, por seus pecados arruinaram sua saúde, seu emprego e precisam carregar as conseqüências desses seus pecados. Pela fé em Cristo, eles o farão na consolação e força do Espírito Santo. Nestes termos Deus ordenou no Antigo Testamento (Lv 21.7), que nenhum adúltero ou divorciado deveria ocupar o cargo de sacerdote. No Novo Testamento, Deus requer que o ministro seja irrepreensível. 

6.2. Opiniões em defesa da permanência do pastor divorciado no ministério.    
       Há muitos, no entanto, que defendem a permanência de pastores divorciados no ministério atuante e afirmam:
- Todos os pecados são iguais, por que ressaltar o sexto mandamento?
- Pastores que passaram pela angústia do divórcio, quer sejam mais ou menos culpados, ou tenham sofrido o divórcio, ao se arrependerem, são, sem dúvida, enriquecidos pela experiência[40]. Eles poderão, agora, compreender e aconselhar muito melhor as pessoas que estão vivendo em tais conflitos, porque passaram por esta experiência.
- Em nossos dias, o divórcio na sociedade não é mais visto como um escândalo, por isso não macula mais a honra do pastor junto aos de fora.
- O rei Davi cometeu adultério e não foi deposto do seu cargo.
     Tais argumentos, por mais lógicos e humanos que sejam e pareçam, não têm apoio bíblico. No santo ministério não se requer simplesmente experiência, mas conduta. Os atuais métodos psicológicos de aconselhamento não são parâmetros para se medir o aconselhamento pastoral. O ministério é um carisma e não somente uma aptidão. Quanto ao rei Davi, cumpre lembrar que ele foi rei e não sacerdote. Mesmo assim, vale a pena analisar as conseqüências desse seu ato. Esta queda tirou ao rei Davi o poder da admoestação. Vejamos: a) Davi falhou em disciplinar seu filho, Amnon, 2 Sm 13; b) falhou em confrontar Absalão, 2 Sm 14.24; c) Absalão, o próprio filho o desrespeitou, 2 Sm 15; d) seu principal chefe do exército, Joabe, não lhe obedeceu, 2 Sm 20.10-11; e) trouxe divisão ao reino, 2 Sm 19.9-10. Estas foram as conseqüências do pecado de Davi. Ele perdeu a força para a admoestação.

6.3. Opiniões sobre pastores divorciados.
   Vejamos a opinião de alguns pastores e pais da Igreja.
- Norbert H. Mueller e George Kraus: O divórcio veio a ser algo muito freqüente na América, também entre pastores. Qualquer homem que se tornou infiel à sua esposa e causou o divórcio pode ser perdoado, mas não é mais apto para o ofício pastoral. Servir no ministério pastoral é um privilégio, não um direito. Raras vezes, a reintegração de um pastor divorciado no ofício público pode ser justificada. Declarar que o pastor é a parte inocente, não resolve o problema. Será que há realmente uma parte totalmente inocente num divórcio? Mesmo se o pastor divorciado aceitar o chamado de outra Comunidade distante, pode o seu divórcio ser mantido em segredo? É impossível a um pastor divorciado desempenhar seu ministério de forma efetiva após tal trauma, mesmo que seja a parte menos responsável pelo divórcio[41].
- Dr. Gerhard Krodel, (28/08/2005) deão acadêmico e professor do Novo Testamento no Seminário de Gettysburg, Pe. Wisconsin, afirma: A graça é maior do que nosso pecado. Mas o perdão não significa, necessariamente, a recondução à atividade ministerial. A ordenação não é um direito, mas um privilégio. E, apontando para várias passagens do Novo Testamento, afirma: Um bispo ou um presbítero divorciado é, de certa forma, uma contradição. Quando o divórcio envolve escândalo, a demissão do pastor é clara; em casos ambíguos ou quando a culpa da separação é da outra parte, quando o pastor sofre a separação, então demitir um pastor é algo mais difícil.
O bispo E. Harold Jansen, da Evangelical Lutheran Church in America (ELCA), Eastern District, USA, pergunta: “Será que o Evangelho não pode operar por um pastor divorciado? Se um casal não se entende, o divórcio é muitas vezes a melhor solução, pois isto não significa que caíram da fé.” Mas há uma tensão entre a natureza pública do pastor ordenado e o perdão dos pecados, mesmo que em nossa geração haja uma mudança de opinião. Não faz muito tempo em que um pastor que se divorciou, resignava imediatamente ao seu ministério ou era removido. Hoje a compreensão sobre este assunto parece ser outra.
- Dr. John McArthur, LCMS: Certos pecados destroem a honra de uma pessoa de forma irreparável e a desqualificam para sempre do santo ministério. A lista das qualificações do apóstolo Paulo para o ministério é esta: Ele deve ser irrepreensível (1 Tm 3.2; Tt 1.7), isto é, um exemplo para os fiéis na vida, no amor, na fé e na pureza. Paulo esmurrava seu corpo, exatamente para dominá-lo, para ser apto e controlar seu corpo para ser santo e honrado (1 Co 9.27). Ele lutou para ter uma boa reputação dos de fora. Requer-se do pastor que governe bem a sua família e seja esposo de uma só mulher. Um pastor que se divorciou e é parte culpada, não pode permanecer no santo ofício pastoral. Mesmo no caso no qual ele é inocente e sofreu o divórcio, ele deve lembrar que seu divórcio não somente pode contribuir para que outros se divorciem ou tenham dificuldade em buscar conselho junto a ele. O pastor terá que fazer também a seguinte pergunta a si mesmo: Será que meu pecado de omissão contribuiu para o pecado de comissão de minha esposa? Um pastor pode ser perdoado, quando se arrepende, mas isto não significa que poderá continuar no ministério, pois perdão não pode ser confundido com a qualificação para o ministério[42].
- Dr. Martim H. Scharlemann, LCMS, foi professor no Seminário da LCMS em St. Louis. O divórcio de pastores cristãos precisa ser tratado com máxima seriedade. Não é fácil para a Igreja manter a integridade de seu testemunho – especialmente numa época em que tantos se divorciam – se a igreja permite que pastores, que se divorciaram por razões não previstas nas Escrituras, continuem exercendo o ofício do ministério público, devemos lembrar: Como regra geral, um pastor que se divorciou por uma razão que não seja a infidelidade ou o abandono por parte da mulher dele, não deveria ficar no exercício do ministério nem ser reconduzido ao mesmo. No entanto, é possível que, em circunstâncias altamente excepcionais, um ex-pastor possa, pela graça de Deus, voltar a estar outra vez em condições de ser considerado uma pessoa qualificada, para lhe serem confiados os poderes do ofício pastoral[43].    
    Confiram para isso também o artigo do Apêndice 1.
6.4. Recomendações. A tese básica é: Um pastor divorciado, independentemente de ser culpado ou inocente, não deveria atuar no altar e ocupar o púlpito. Muitos julgam que isto é um rigor demasiado, para o qual não há pleno embasamento bíblico.
    Esta regra não é absoluta. É preciso julgar caso a caso. Haverá também exceções, não tanto para o pastor, mas devido a necessidade de pastores.
    Em nosso meio ouvimos muitas vezes a afirmação de que a congregação é a autoridade final, quando se trata de julgar as qualificações de um pastor para o ministério, pois o Sínodo, não é uma autoridade superior, mas a agremiação de congregações para um trabalho em conjunto. É preciso lembrar, no entanto, que quando uma comunidade se filia à IELB, ela assume compromissos. Eis alguns: Ser fiel à Bíblia e às Confissões (Estatutos da IELB, Artigo 3), chamar somente pastores fiéis da IELB ( Artigo 7), que tenham a recomendação da IELB. E a IELB tem a responsabilidade não somente na formação de pastores, mas também na supervisão dos pastores no campo quanto à sua fidelidade no ensino e na vida, e disciplinar os faltosos. Cabe às congregações aceitar esta disciplina da IELB. Em caso de discordar, a IELB tem as instâncias às quais uma congregação ou o pastor poderá recorrer se não concordar com o julgamento do Presidente ou das Comissões. Importante que as Congregações sejam instruídas a respeito e aconselhadas para serem muito cuidadosas quando, na lista para chamados, constarem pastores divorciados[44]. 
     Quando uma família pastoral se encaminhar para o divórcio[45], é recomendável que o pastor deponha imediatamente seu chamado na Comunidade. É importante que o pastor o faça por amor a seu Salvador e à sua Igreja, a fim de não causar escândalo e constrangimentos, independente de ser ou não culpado do divórcio. Após o que seu caso será devidamente examinado, seguido das devidas recomendações.
     O fato de rejeitar essa recomendação da Igreja e não depor seu chamado, já é, em si, uma demonstração de obstinação e falta de amor a Cristo.
     Pois, proferir um julgamento sobre crises matrimoniais requer tempo. Não é aconselhável fazê-lo em curto espaço de tempo, isto possibilita incorrermos em erros e cometermos injustiças. Por isso é recomendável que o pastor deponha seu chamado e se licencie. Podendo seu caso, então, ser examinado e julgado com isenção, sem a pressão das circunstâncias. Caberia neste caso, não à Comunidade, mas à Igreja prover, pelo menos nos primeiros meses, o subsídio ao pastor.
    Poucos são os casos, mas eles existem, em que a Igreja precisou disciplinar o pastor faltoso, por não acatar as recomendações da Igreja e não depor o seu chamado. O caso mais conhecido seja talvez o caso do pastor Martim Seffan, da LCMS, já citado. Ele era um pastor fiel na doutrina e pregador carismático. Ele congregou e liderou a imigração dos saxões para os Estados Unidos da América. Mas tornou-se orgulhoso. Já na viagem para a América caiu em adultério, com isso da fé. O caso veio à tona somente meses depois quando já estavam em suas terras, em Perry Countri, MO. Quando alguns membros o perceberam e começaram a tratar do assunto, ninguém quis acreditar que este tão fiel e carismático pastor estivesse vivendo em adultério. Provado o caso, os pastores foram falar com ele. Ele não se arrependeu. Foi expulso da colonização.
     Quero citar um outro caso, que conheci na Alemanha. Um pastor luterano, com grande dom de oratória, que em 4 anos triplicou o número de membros de sua Comunidade e era muito querido por todos, foi desmascarado como adúltero e caloteiro. Algumas pessoas souberam do caso e foram falar com ele. Ele negou tudo. As pessoas apresentaram o assunto à diretoria da Comunidade, que o examinou cuidadosamente. Reunidas as provas, falaram com o pastor. Ele negou tudo. O assunto foi para a assembléia da Comunidade. Mas a oratório do pastor e sua capacidade de argumentar fez com que a Assembléia, em sua grande maioria, se posicionasse a favor do pastor, acusando a diretoria e os membros, que apoiaram a diretoria, de caluniadores. Estes não tiveram outra alternativa do que sair da Comunidade. Este pequeno grupo saiu da comunidade e fundou uma nova Comunidade no outro lado da cidade. Passados alguns anos, Deus interveio. A verdade veio à tona. O pastor impenitente adoeceu e veio a falecer. Hoje ainda existem, nesta cidade, as duas comunidades.

6.5. Servindo como leigos ou em funções secundárias. Pastores divorciados, por causa de adultério ou abandono malicioso, quer permaneçam solteiros ou casem novamente, após terem reconhecido e corrigido seu erro e voltado à comunhão com Cristo pela fé, em humildade e por amor ao seu Salvador, a fim de não mancharem o bom nome do santo ministério, servirão á sua igreja como leigos, conforme o sacerdócio universal de todos os crentes.
    Pastores que sofreram o divórcio, não perderão seu status de pastor, mas recomenda-se que não atuem no púlpito, mas sirvam à igreja como ministros nos mais diferentes trabalhos na retaguarda, seja como capelães ou auxiliares nos diversos trabalhos nas congregações, mas não diante do altar.
     Estas recomendações não são leis rígidas, mas recomendações. E dependendo da situação pode haver exceções. A iniciativa para tal deve partir muito mais da parte do pastor envolvido, que mostrará nisso seu verdadeiro amor à causa de Cristo, do que por imposição da administração da igreja.
  

Palavra final

    Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito. (Tt 2.7-8)
      Na carta a Tito, o apóstolo Paulo fala das obrigações profissionais do pastor. Neste trabalho falamos disso bastante. Alias, todos nós gostamos de opinar, com certa satisfação interna, de nossa justiça própria, sobre como as coisas deveriam ser, como as pessoas deveriam se comportar, como as coisas deveriam andar na Comunidade e no mundo, e condenamos tudo e todos que não são assim como julgamos que deveriam ser. Mas temos que cuidar com que espírito o fazemos. Precisamos fazê-lo, mas não com arrogância e superioridade, mas no espírito de Cristo.
     Por isso, por mais importante que seja a Tábua dos Deveres, se não colocarmos Cristo em primeiro lugar, correremos o risco de errar. Ao falarmos da vida santificada dos filhos de Deus, congregados e pastores, devemos ter o cuidado para não colocar nossa própria piedade em primeiro lugar, pois então colocaremos tudo a perder. Queremos, no entanto, mostrar aos fiéis, com toda a humildade, que, na luta pela doutrina e a praxe, toda a honra seja dada unicamente a Cristo e sua graça, que deve brilhar diante de todos. No encontro com as pessoas neste mundo, elas devem notar que vivemos na esperança da vida de nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Agostinho descreveu a esperança assim:

Toda minha esperança, Senhor, está em tua grande misericórdia. Dá-me fazer a tua vontade e cumprir a tua ordem, para fazer o que queres que eu faça. Sou teu servo nesta peregrinação e tenho saudade de chegar ao alvo, o céu. Amém.    
     
                                                                         São Leopoldo, 10/04/2008
                                                                            Horst R. Kuchenbecker

   
Bibliografia:
- Luther, Martin. Sämmtliche Schriften. St. Louis, Concordia Publishing House, 1892.
- D. Martim Luthers Werke. Kritische Gesamtausgabe (Weimar, 1883).
- Walther, C.F.S. Pastoral Theologie. St. Louis, Concordia Publishing House, 1906.
- Walther, C.F.W. Pastoral Theology, Lutheran News, Inc. New Haven, Missouri,
   1995.
- Porta, M. Conrad. Pastorale Lutheri. Nördlingen. C.H.Beckshen-Buchhandlung,  
  1842.
- Zorn, Carl M. Vom Hirtenamt. Zwichau. Johannes Herrmann, 1921.
- Scott, Thomas. Divorce. Forest. Thomas Scott.
- Kretzmann, G. Die Pastoralbriefe. St. Louis. Concordia Publishing House.1918.
- Scharlemann, Martim H. Zur Ethik des Pastoral Amtes. Lutherische Theologie u. - 
   Kirche, Taunus, Juni 1983, n° 2
- Lehmann, Detlef. Werdet Vorbilder der Herde. Taunus. Theologie u. Kirche. Taunus.
  April, 1986, n° 1.
 - Sexualidade em Perspectiva Teológica. Teologia Hoje. Editora Concórdia, Porto
   Alegre, 2003.
- Ultimato, Revista, n° 301, Nov.- Dezembro, 2006.

                                                           
A p ê n d i c e s

1 – Ofícios na Igreja

                Dr. Theol. Diethardt Roth, Bischof i.R.
                      Tradução: Horst R. Kuchenbecker – (04/06/2007)

Queridos irmãos!
     Meus sinceros agradecimentos pelo convite para debater com vocês, nesta Conferência Pastoral em La  Petite Pierre, França, dias 26-27 de abril, 2007, o tema: A quem pode ser conferido um ofício ministerial ou honorário, como um cargo na diretoria na Congregação ou na Igreja Cristã? O que fazer se tal pessoa cometeu um grave pecado que se tornou público? Pode tal pessoa continuar a exercer seu cargo ou ministério? A Igreja cristã, no cumprimento do seu dever e de sua responsabilidade, tem-se ocupado com esta pergunta desde o princípio. 
    Quero destacar aqui dez normas que servem de orientação para toda a pessoa que deseja trabalhar na Igreja ou numa congregação cristã

1. Quem é batizado.
2. Quem crer no Deus triúno.
3. Quem for membro da respectiva igreja.
4. Quem se mantém fiel a sua Igreja, sendo ativo na vida de sua Comunidade. 
5. Quem aceita a Bíblia como palavra infalível de Deus.       
6. Quem [conhece e] aceita as Confissões luteranas como a correta exposição da Escritura
       Sagrada.
7. Quem tem competência para o cargo.
8. Quem é retamente chamado e instalado.
9. Quem participa com sua oferta proporcional na sua Comunidade.
10. Quem, por sua vida, é modelo para sua Comunidade.

1. Quem é batizado.
     Pelo santo batismo são acrescidos à Igreja, em sua peregrinação, nenês, crianças e adultos; e mesmo tendo alguém deles se afastado, ele têm a chance de retornar pela fé ao concerto batismal.
     Todos os que são batizados e receberam efetivamente a graça do Deus triúno, neles Jesus, o crucificado e ressuscitado, rompeu os grilhões do pecado Original, com o qual todos nascem, desde a queda dos primeiros homens em pecado. Isto se torna especialmente palpável nos adultos que ainda não foram batizados ou nos que redescobrem o presente que lhes foi outorgado no batismo pelo poder do Espírito Santo  e de sua Palavra.
     Na instrução, que antecede ou precede ao Batismo, esta maravilhosa graça de Cristo, que receberam por ocasião do Batismo, é exposta diante deles. Também no batismo vale o trinômio: somente por graça, somente Cristo, somente pela fé. Com isto começa neles uma vida nova. 
     O apóstolo Paulo descreve esta intervenção do Deus triúno de forma marcante em sua carta aos coríntios: Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
      Tais fostes alguns de vós.
     Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. (1 Coríntios 6.9-11 RA)
     Deste texto queremos destacar o seguinte:
  1. Os pecados, que porventura se manifestam na vida de uma pessoa, não podem ser avaliados de forma diferenciada. Eles tornam todas as pessoas injustas diante de Deus. Digo isto de forma tão acentuada, porque na tradição da Igreja cristã registram-se diversos erros neste sentido, especialmente, em relação à vida em comum de um homem e uma mulher. Isto não encontra apoio na Escritura Sagrada, nem aqui nem em qualquer outro lugar. Pecado é pecado – e há somente um pecado que não é perdoado: o pecado contra o Espírito Santo. (Mc 3.29[46]) Os pecados que o apóstolo Paulo citou, pertencem aos pecados perdoados no batismo.
  2. Nem todos que encontraram o caminho para dentro da Comunidade cristã provêm de tal contexto. O apóstolo diz: Tais fostes alguns de vós. E é precisamente neles que a abundância da graça de Cristo é manifestada.
  3. O “antigo” é lavado pelo santo batismo. Os batizados pertencem, agora, ao lado do Santo e dos santos. Por isso o apóstolo Paulo pôde escrever na introdução de sua carta à Comunidade de Corinto, apesar de todos os pecados que ali se manifestaram: aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos (1 Co 1.2). Eles são santos e justos diante do justo Deus e tudo isso em nome de Jesus, diante de quem todos devem dobrar seus joelhos. Tudo isto aconteceu pelo poder do Espírito Santo.
  4. O apóstolo descreve esta maravilhosa ação do Deus triúno com verbos no passivo. O ser humano é somente receptor, presenteado, enchido. O batismo não é obra sua – ele o aceita pela fé e o compreende em fé.
  5. Quando hoje pessoas adultas encontram o caminho para a Comunidade e são batizadas – cumpre-se nelas o que o apóstolo Paulo descreve – não importa quão graves e numerosos foram seus pecados antes do batismo. Eles são riscados, perdoados. Isto não interessa mais. Veja, tudo é novo. Ninguém tem mais o direito de lidar com aquilo que Deus perdoou, e talvez até usá-lo como “munição” ou questionar a força do perdão. O que Deus perdoou está de fato e verdadeiramente perdoado e esquecido para Deus – por amor ao sangue derramado de Cristo. E a pessoa ou os referidos podem consolar-se com esta graça. E como assim presenteados aceitar trabalhos na Igreja. (Sic?)
  6. Isto vale também para aqueles que se desviaram por certo tempo, mas reencontraram o caminho de volta a Jesus Cristo. Quando voltam ao concerto batismal, em diária contrição e arrependimento, então o amor de Cristo volta a valer-lhes. O “velho” neles está perdoado e esquecido. Eles podem voltar a aceitar cargos na Igreja.
  7. Aqueles que como adultos são batizados ou aqueles que como batizados encontram o caminho para a nossa Comunidade, precisam ser instruídos. Isto acontece pela instrução de adultos, que pode ser dada de forma individual ou em grupos. Nesta instrução, é lhes exposto e mostrado, de forma bem pessoal, o grande e rico presente do batismo, como o evangelho de Deus em sua grande abundância. Eles aprendem sobre o pecado original e os pecados atuais para reconhecerem sua necessidade de salvação, e isto sempre do ponto de partida de que no Batismo estes pecados são lavados – foram lavados.

     É preciso sublinhar sempre de novo esta bênção batismal. Acho que nossas pregações não são suficientemente pregações batismais, para nos lembrar desta grande bênção no início de nossa vida cristã e o seu valor para toda a vida. O apóstolo Paulo faz isto de forma insistente e consoladora em sua carta aos coríntios, capítulo 6 e também em sua carta aos romanos, dizendo que podemos deixar o passado tranquilamente nas mãos de Deus, pois o sangue de Jesus Cristo é agora nossa vestimenta de honra.
     Espero que tenha ficado suficientemente claro de que o batismo é um requisito decisivo para alguém poder aceitar um ofício na Igreja. O Dr. Martinho Lutero pôde escrever: Todos os ofícios na Igreja estão fundamentados no batismo e dele emanam. Viver dele e viver nele faz com que o Deus triúno deixa o “velho” ser sempre o passado.

2. Quem crer no Deus triúno. 
     Não podemos auscultar o coração de ninguém. Somente Deus conhece os corações. Mas podemos ouvir se alguém conhece e confessa o conteúdo da fé cristã, ou se ele expressa críticas ao mesmo. Neste caso precisamos falar com a pessoa para podermos tirar conclusões que terão suas conseqüências.
      Algo diferente é quando uma pessoa luta com tentações, com dúvidas quanto às afirmações confessionais. Pois ao lado da meditação e oração, as tentações também são uma realidade. Tentações, entretanto, não tornam uma pessoa inapta para o trabalho ou o continuar no cargo.

3. Quem for membro da respectiva Igreja na qual quer exercer a função.
     Isto é o obvio. Irmãos e irmãs de outras Igrejas podem ser visitantes e até por um período mais longo, mas, via de regra, não podem, como hospedes, aceitar cargos. Pode haver exceções, por exemplo, quando se trata de cargos temporários numa Comunidade.

4. Quem se mantém fiel a sua Igreja, sendo ativo na vida de sua Comunidade. 
     Somos uma igreja participativa, isto é, espera-se de cada membro um alto grau de engajamento. Quem não está disposto a isto, não pode abraçar um cargo na Igreja. A freqüência aos cultos é um pressuposto importante, unido a ida à confissão e à santa ceia, pois estas são as fontes de força para todo o pensar, falar e agir na Igreja. O mandamento de Deus: Santificarás o dia do descanso é tão importante como todos os outros mandamentos para a formação de nossa vida. Podemos afirmar que a não participação aos cultos é um pecado público.

 5. Quem aceita a Bíblia como palavra infalível de Deus.
      Isto é, em nossa época, na qual a palavra de Deus é muitas vezes questionada, um requisito importante para todos aqueles que querem prestar serviços na Igreja e serem ativos na mesma. Estes precisam aceitar e confessar que crêem na infalibilidade da palavra de Deus. Quem o nega, está pecando.

6. Quem aceita as Confissões luteranas como a correta exposição das Escrituras.
     Sei que isto talvez só poderá valer para pastores, que em sua formação estudaram intensivamente as Confissões. Pois quem dos leigos, por exemplo, leu a Fórmula de Concórdia? Mesmo assim, como Igreja precisamos manter esta reivindicação de que as Confissões luteranas são um testemunho autêntico das Sagradas Escrituras. O ensino de uma Igreja precisa ser uniforme. Isto precisa mostrar aos colaboradores mediante exemplos claros dos diversos livros confessionais e declarações das Confissões.  Pertence à alta responsabilidade de uma Igreja Confessional, demonstrar isto claramente. Se não o fizer, ela não está cumprindo com sua responsabilidade e isto é pecado.

7. Quem tem a devido competência para o cargo
     Penso que isto é o óbvio. Erros neste sentido prejudicam a Comunidade tanto interna como externamente. Isto começa com o pastor e se estende aos diáconos (os que ajudam nos cultos, dirigentes do coro, diretorias). A Igreja tem uma grande responsabilidade e pode tornar-se culpada, se conferir cargos a uma pessoa, que está além de sua capacidade.

8. Quem é retamente chamado e instalado
     Pertence à responsabilidade da Igreja, que aqueles que aceitam cargos na Igreja, sejam instalados com a imposição das mãos, para que lhes seja conferida o Espírito Santo. Talvez seja esta uma das razões porque muitas coisas estão mal, por não suplicarmos o bastante pela assistência do Espírito Santo para o ensino e vida na Igreja. Na Igreja, na Comunidade e no reino de Deus nada acontece sem o Espírito Santo.

9. Quem participa com sua oferta proporcional na sua Comunidade.
     Com isto já aponto também no último ponto, o ser modelo. A Escritura nos admoesta a trazermos nossa oferta proporcional à Igreja. Isto vale também para nós pastores como para todos os colaboradores. Quem não o faz, está pecando.

10. Quem, por sua vida, é modelo para sua Comunidade.
     Por mais que o apóstolo Paulo enaltece e louva a glória do Evangelho e exalta a glória do batismo, da absolvição e da Santa Ceia, da mesma forma ele precisa destacar a realidade do pecado e nos lembrar disso. O diabo ainda exerce o seu poder no mundo e sobre cada um individualmente – que Deus nos seja gracioso – pois o diabo atua também na Igreja. O Dr. Martinho Lutero escreveu no seu tratado Dos Concílio e das Igrejas: Vendo (o diabo) que Deus estava construindo uma Santa Igreja, o diabo não perdeu tempo, e construiu ao lado da igreja, imediatamente, sua própria capela, maior que a Igreja de Deus, procedendo da seguinte maneira: observou que Deus se valia de meios exteriores, como o Batismo, a Palavra, o Sacramento, as Chaves, etc.; para com eles santificar sua Igreja. Visto que desde sempre é o macaco de Deus que procura imitar tudo o que Deus faz e fazê-lo melhor, também recorreu a meios exteriores que também santificariam, como faz com os bruxos, feiticeiros, exorcistas, etc. Também ali manda rezar o Pai-Nosso e ler o Evangelho, para que pareça um grande meio de salvação... Mas o diabo tem outras intenções.[47] Disto os batizados e fiéis não estão isentos. A tensão na qual nos cristãos nos encontramos, quer dentro ou fora do ministério, é bem caracterizada pela expressão: simul iustus et peccator. A realidade do pecado sempre nos alcança.
     Nosso Salvador também estava exposto às tentações de Satanás. Mateus no-lo relata (4.1-11). O autor da carta aos hebreus o resume assim: Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hebreus 4.15).
     Jesus resistiu às tentações. Nós não conseguimos isso com perfeição, por não sermos deuses, e não conseguimos viver uma vida em plena obediência a Deus. A realidade dos cristãos é que eles, seguidamente, sucumbem nas tentações – nas mais diferentes formas. A Escritura nos admoesta sempre de novo e na oração do Pai Nosso pedimos: E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
     Também neste respeito, o apóstolo Paulo dá claras diretrizes para a peregrinação do povo de Deus. Estas diretrizes valem para todos os membros do corpo de Cristo, quer estejam ou não num serviço especial. Dos que exercem o ministério se espera que conheçam bem estas diretrizes e vivam de acordo com elas.
    Na carta aos romanos, o apóstolo introduz a terceira parte com as seguintes palavras: Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12.1-2). Isto vale para todos os cristãos quer tenham ou não um ofício na Igreja.
     Mas alguns devem ter entendido mal estas e outras palavras semelhantes do apóstolo, o que o levou a escrever aos coríntios: Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros;  refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo.  Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.  Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro?  Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor (1 Coríntios 5.9-13).
   
À base deste texto quero destacar algumas diretrizes:

1 – Neste mundo, nós cristãos somos diariamente confrontados com pessoas que não conhecem os Mandamentos de Deus, não os tomam a sério ou interpretam mal suas afirmações. Nós vivemos com estas pessoas e temos contato com elas. O apóstolo nos exorta a não nos conformar, nem nos deixar influenciar por seu modo de vida. Deus os julgará a seu tempo.
2 – Nós vivemos no mundo e com o mundo, mas não somos do mundo, nem compartilhamos seu modo de ser. Por nossa vida queremos mostrar já agora que, pela fé em Jesus Cristo, pertencemos ao reino de Deus. Nele temos recebido, pelo batismo, a misericórdia de Deus nos acompanha, nos molda e nos ajuda em tudo nesta vida. Nosso culto racional é um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.
     Isto significa não deixar-se dominar pelo esquema pecaminoso deste mundo. Não vos conformeis com este século, não vos torneis seus servos, não vos deixeis enganar. Isto vale para todos, que desde o batismo andam, pela fé, em novidade de vida. O catálogo sobre vícios e virtudes no Novo Testamento nos dá a expressão real a esse respeito (1 Co 6; Cl 3.15-25; 1 Tm 3).
3 – Nosso ser, que foi renovado por Cristo, deve mudar nossa vida diariamente, pois o “antigo” passou. Tal vida requer que examinemos nosso comportamento, comparando-o com as diretrizes que o apóstolo chama de “a vontade de Deus”. Esperaríamos, agora, que o apóstolo continuasse a falar dos Mandamentos de Deus, mas isto ele faz em outro lugar. Aqui ele continua a fala da “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” que ele caracteriza como “nosso culto racional”, mesmo que, em parte, com outro sentido. Sempre de novo temos que examinar nossa vida cristã, cada um sem exceção. O povo peregrino de Deus vive em constante tensão entre o “agora... mas ainda não”, como justos e ao mesmo tempo pecadores, ricamente presenteados, mas que sempre de novo desprezam este presente. Por isso precisamos, quer com ou sem ministério, diária renovação pela força do Espírito Santo.
4 – Com muita dramaticidade, o Apóstolo Paulo descreve em sua 1ª. carta aos coríntios, como, pelo poder do maligno, membros são arrancados da Comunidade. A Comunidade é, constantemente, ameaçada pelo mundo decaído que quer invadir a Comunidade e destruí-la. Contra isso a Comunidade precisa lutar.
5 – A Comunidade pode colocar limites internos quando alguém alega ser cristão e irmão, mas sua vida é o contrário. Estes limites podem incluir a suspensão da Santa Ceia, visto que a Comunidade não pode e nem quer ter comunhão com tal pessoa.
6 – Lembrando que estamos falando de membros da Comunidade que foram lavados pelo Deus triúno no santo batismo, santificados e limpados, mas que caíram e voltaram para os costumes do mundo. Isto pode acontecer também com aqueles que exercem um ofício na Comunidade.
     As cartas pastorais mostram isto de forma abrangente, que aqueles que exercem um ofício, precisam ser admoestados, animados e lembrados de forma bem especial de sua responsabilidade pública na Igreja, para a qual aceitaram chamado, pois eles também são observados pelo mundo. Para dentro da Comunidade e para o mundo eles devem ser modelos em palavras e ações para, por palavras e ações resistirem ao pecado e mostrar isto tanto para dento da Comunidade como para fora, de que eles pertencem a Jesus Cristo. Isto não é uma ética especial, para os que estão no ofício, mas o compromisso de serem modelos.
    O apóstolo Paulo escreve a seu próprio respeito: Não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes (2 Ts 3.9).
     A Tito o apóstolo escreve: Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência,  linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito (Tt 2.7-8).
     O apóstolo Pedro escreve aos anciãos: Nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho (1 Pedro 5.3).
    O apóstolo Paulo se dirige aos bispos e diáconos com a seguinte admoestação: Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.  Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória (1 Timóteo 3.14-16).
     Mas o que dizer quando estes, que devem ser modelo no ofício, fracassam por serem pecadores e santo, e seus pecados se tornarem manifestos?
     Como irmãos e irmãs, eles devem ser particularmente admoestados. E isto com toda a paciência e não simplesmente com a condenação. Como pastores e também como membros somos por vezes muito rápidos com a língua, sem procurar conhecer bem a situação particular de cada um.
    Quando eles se arrependem e recebem por amor ao sangue derramado de Cristo a absolvição, pelo ministério divino, eles voltam ao concerto batismal. O “antigo” é perdoado e esquecido.
    Eles serão animados à nova fé, amor e esperança no ofício que lhes foi confiado.
    Mas, se eles rejeitam a vontade de Deus e não voltam, não podem continuar no exercício de seu ofício.
    E mesmo quando o perdão foi dado, a Igreja terá, por vezes, a tarefa de, em relação a certas situações, não voltar a confiar a tais pessoas o ofício, para não induzi-las a novas tentações. Quem foi infiel no dinheiro, mesmo que o tenha restituído, a este, mesmo assim, não lhe será conferido o caixa; quem abusou de crianças e foi castigado por causa disso, não será mais reconduzido a trabalhar com crianças; quem é uma pessoa muito briguenta e o tem demonstrado diversas vezes não serás mais eleito, por exemplo, para cargos na diretoria da Comunidade.
    Mais difícil é, quando o perdão foi dado, mas as conseqüências do pecado permanecerem. Como por exemplo, no caso de separação de casais e do divórcio. Nesses casos, a Igreja precisa examinar cuidadosamente cada situação. A experiência tem me mostrado que cada caso tem suas próprias circunstâncias. A palavra de Deus requer a indissolubilidade do matrimônio, mas mantém, para determinados casos, o divórcio como possível e com isto também a continuação no ofício. (Sic?)
     Na SELK estamos discutindo esse problema há mais de uma década, especialmente com vistas ao casamento de pastores e seu caráter de modelos para o rebanho. A discussão sobre como proceder em tais situações é menor quando se trata de membros, que exercem funções na Comunidade, quando se separam do seu cônjuge ou, por exemplo, sofrerem a separação. Estes casos, com membros de diretorias, são, normalmente, tratados somente em nível de aconselhamento pastoral, sem uma decisão a nível de congregação ou de Igreja. O caráter do seu cargo na Comunidade quase não é levado em contra. Mas também nesses casos é preciso que o pastor examine cuidadosamente as circunstâncias particulares para poder decidir.
    A SELK, ao longo de sua história teve que lutar sempre de novo com tais perguntas e o faz até hoje. Estas perguntas, no entanto, sobre a ética interessa a todos os cristãos, exerçam ou não cargos na Igreja, como peregrinos que são. A SELK produziu nos anos 80 um documento, que atualmente, está sendo revisado. Além disso, ela tomou posição por meio de seus Cadernos de Orientação, diante dos temas: Bio-ética, Auxílios a moribundos, Ética Sexual, Pobreza no Mundo, e um caderno sobre o tema: Ética Profissional que está em preparo. São auxílios, baseados nas Escrituras e Confissões, para auxiliar na tomada de decisões em nossos dias. Trata-se da exposição da Escritura para os nossos dias. Para algumas perguntas, no entanto, há respostas diversificadas, por a Escritura não abordar tais temas, nem no seu contexto. Por isso pode haver diferentes opiniões mesmo entre os que exercem um ofício na Igreja, também sobre se isto ou aquilo deva ser caracterizado como pecado ou não. Mesmo assim, a palavra de Deus é infalível e as Confissões são a correta exposição da mesma que não podem ser questionados.
     Muito difícil é também quando na Igreja há opiniões muito divergentes sobre procedimentos errados, como por exemplo: A falta de participação nos cultos, a política no uso da força, o relacionamento sexual sem serem casados, injustiças sociais, ódio e brigas. Tudo isso e muito mais, acontece nas Comunidades. Isto se torna ainda mais difícil por o mundo não ter a compreensão para com o agir da Igreja e considera a ação da Igreja um ato de discriminatória. Por isso lutamos por uma unidade de opinião, para  que todos os que exercem o ofício tenham, o quanto possível, uma opinião uniforme no agir e falar.
     Todos que na Igreja atuam em cargos de responsabilidade – e Deus tenha compaixão de nós – exercem suas funções com imperfeições e são, por isso, culpados diante de Deus. Eles não fazem somente erros, mas eles pecam sem exceção. A lei lhes mostra isto claramente. Nossas confissões afirmam: Todos estão plenos de concupiscência e inclinações más (CA II). Mesmo que na avaliação e caracterização com respeito a certos pecados tenhamos opiniões diferentes, Cristo é nossa nova vida, pois dele recebemos graça e perdão e o voltar ao batismo. Os que carregam as diferentes responsabilidades se animam mutuamente para andarem em novidade de vida conforme a vontade de Deus. Eles se admoestam sinceramente e precisam, por vezes, proferir julgamentos e tomar decisões não simpáticas uns contra outros. Eles oram uns pelos outros e estão juntos no caminho para a consumação, onde todas nossas indagações serão final e conclusivamente respondidas.

   

Apêndice: 2 - Afirmações sobre Divórcio e Novo Casamento[48]

       Rev. Jerrfey C. Kinery.
             
     De tempos em tempos a Igreja precisa reafirmar sua posição com relação à doutrina e à praxe sobre matrimônio e divórcio. Especialmente quando sua posição é questionada. Nestas reafirmações, a Igreja não se guiará pelas idéias inconstantes das pessoas, nem pelos ditames da cultura local ou da sociedade em seu derredor, mas única e exclusivamente pela imutável, inerrante e infalível autoridade da Palavra de Deus.

- O conselho do Senhor dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as
   gerações (Salmo 33.11).
- Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu (Salmo 119.89).
- Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.
  Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou tendo falado, não o
  cumprirá? (Números 28.19).
- A Escritura não pode falhar (João 10.35).

    As teses que seguem representam a posição da Escritura Sagrada sobre a questão do divórcio e do novo casamento. 

1. O matrimônio, como instituído por Deus, é uma união vitalícia, contraída por esponsais legítimos, entre um homem e uma mulher para uma só carne, até que a morte os separe.
      Mateus 19.3-6; Marcos 10.6-9; Romanos 7.1-3; 1 Coríntios 7.5. Cf.: Catecismo. Menor, perg. 56.

2. O divórcio é justificado (endossado, aprovado, sancionado) aos olhos de Deus somente com base na Escritura. Sob a base da Escritura, no entanto, na maioria dos casos, o divórcio não é ordenado, nem encorajado. Divórcio sob outra base do que a Escritura, por exemplo, o pronunciamento legal da autoridade civil de que o matrimônio foi quebrado em base não bíblica, tem sido tolerada por Deus por causa da perversidade e obstinação humana.
     Cf.: teses e versículos que seguem.

3. A lei de Moisés no Antigo Testamento (ele a fez como estadista, para colocar um pouco de ordem, pois nem todos, no povo de Israel, eram filhos de Deus pela fé) que permitia o divórcio por “qualquer motivo” de impureza (incluindo qualquer impropriedade), foi por causa da “dureza do coração” do povo de Israel. A lei de Moisés também permitia um novo casamento de ambos os cônjuges envolvidos num divórcio, mas proibia, após o segundo ou mais divórcios, o retorno ao primeiro cônjuge.
     Deuteronômio 24.1-4; Mateus 5.31; 19.7-8; Marcos 10.2-5.

4. No Novo Testamento, Jesus mostrou que Deus não aprova o divórcio, exceto se alguém o sofre por causa da infidelidade, de fornicação e adultério do seu cônjuge, ou qualquer relacionamento sexual imoral e contrário à lei matrimonial, como por exemplo: homossexualismo, incesto, prostituição, bestialidade, etc. Nesses casos o divórcio pode ser requerido pela parte inocente, e um novo casamento é possível.
     Mateus 5.32; 19.9.

5. O apóstolo Paulo, por inspiração divina, enfoca uma outra pergunta no assunto divórcio, o abandono malicioso* por parte de um dos cônjuges.
     1 Coríntios 7.12-15
     * Abandono Malicioso não é, especificamente, uma causa para o divórcio, mas o próprio ato do divorcio – a dissolução do laço matrimonial. Deserção maliciosa consiste em que um dos cônjuges se recusar , persistentemente, a viver como homem ou mulher com seu cônjuge. Mas precisamos ter certos cuidados, separação temporária por causa de doença, prisão, trabalho, guerra, deportação, etc. não é deserção maliciosa. Persistente recusa, no entanto, de dar o direito conjugal ou não dar a devida benevolência por estúpida resistência não acidental ou por motivos de doença, representam uma deserção do voto matrimonial. Pois um dos principais propósitos do matrimônio é o intercurso sexual legítimo, negá-lo persistentemente é deserção maliciosa (1 Co 7.1-5). Persistente, crueldade, física e violência também tornam a convivência da coabitação marital impossível e isto constitui deserção maliciosa.

6. Todos os outros argumentos e/ou motivos para o divórcio fora da fornicação e do abandono malicioso não são reconhecidos pela Igreja cristã, tais como: um não suporta mais o outro, bebedeiras, diferença religiosa (de outra denominação) vagabundagem, grande negligência, crueldade mental, prisão, insanidade, doença contagiosa ou repugnante, doença incurável, condenação por crime, perda do amor, desapontamento das aspirações e esperanças matrimoniais, incompatibilidades. Tais motivos não são reconhecidos pela igreja cristã como válidos ou motivos bíblicos para o divórcio.

7. No caso de um dos cônjuges ter cometido infidelidade sexual (fornicação, adultério) ou abandono malicioso e persistir nisso sem arrependimento, não buscando perdão nem reconciliação, o cônjuge inocente pode (não que precisa fazê-lo) buscar obter o divórcio legal para atestar que o cônjuge infiel dissolveu a união matrimonial por sua infidelidade.
    Mateus 1.19. Cf.: passagens da 6ª tese.

8. Quando pastores precisam tratar com divorciados, insistem na maioria dos casos no perdão e na reconciliação, se isto for possível. Pois, na maioria das vezes, ambos as partes têm culpa em grau maior ou menor, que levaram uma união ao divórcio. É muito raro uma das partes ser totalmente inocente num divórcio.
     1 Coríntios 7.10,11.

9. Se ambos os cônjuges numa união são culpados de fornicação, eles perdem o direito de buscarem o divórcio. Se após a descoberta da infidelidade, do adultério, o casal consente em coabitarem voluntariamente como homem e mulher, o matrimônio foi com isto novamente unificado e a parte inocente perde o direito de mais cedo ou tarde buscar obter o divórcio.
     1 Coríntios 6.15,16.

10. A Igreja cristã não proíbe a parte inocente de contrair novo matrimônio, nem ao cônjuge culpado, que obteve o divórcio por causa de adultério ou deserção maliciosa contrair novas núpcias.
     Deuteronômio, Mateus 5.32; 19.9; 1 Coríntios 7.15,27,28.

11. Se o divórcio ou separação foi obtido por uma razão não bíblica, nenhum dos cônjuges deve casar novamente, mas buscar a reconciliação e restauração de sua união matrimonial.
     1 Coríntios 7.10-11.

12. Se um dos cônjuges separados por um motivo não bíblico, casar com outra pessoa, este ato dissolve a união legítima. E este cônjuge tornou-se culpado do pecado de adultério.* Quem casar com tal divorciado ou separado por um motivo não bíblico também comete adultério. A parte inocente, neste caso, está livre.
     *Adultério é um pecado grosseiro da carne e merece a condenação eterna, se a pessoa disso não se arrepender. (Êxodo 20.14,17; Hebreus 13.4; 1 Coríntios 6.9-10; Gálatas 5.19; Efésios 5.5; Apocalipse 21.8; 22.15; 22;15)

13. Se os cônjuges são membros de uma Congregação cristã, a parte culpada no divórcio deve ser tratada conforme os princípios evangélicos da disciplina cristã.
     Mateus 18.15-18; 1 Coríntios 5; 1 Timóteo 5.20; Gálatas 2.11-14.

14. A parte culpada num divórcio, se penitente, deve corrigir sua vida pelo pedir perdão ao seu ex-cônjuge e à Congregação cristã. Se a parte culpada ainda não casou de novo, deve procurar a reunificação com seu ex-cônjuge. Se este (a parte inocente) ainda não casou novamente e está disposto a recebê-lo de volta e se reconciliar. Se a parte inocente da união original morreu, casou ou recusa a reunificação, então a parte penitente, está livre para cassar novamente sem o estigma de ser um adúltero.
     Se a parte culpada no divórcio do matrimônio original vier a se arrepender após estar casado pela segunda vez, não há razão bíblica para rotular a segunda união como adultério. Ela também não precisa ser dissolvida, visto que a parte culpada, agora se arrependeu, mesmo estando casado com uma pessoa com a qual não tinha o direito de casar, pois estava divorciada por uma razão não bíblica. A segunda união dissolveu, permanentemente, a primeira aos olhos de Deus (Veja tese 12ª). Por outro, a Bíblia só proíbe, especificamente, após um segundo casamento o retorno à primeira mulher (Tese 3ª)
     Romanos 7.1-3; 1 Coríntios 7.10-11, 27-28; João 4.16-18; Deuteronômio 24.4.

15. A parte culpada num divórcio, se sinceramente arrependida, que corrigiu sua vida, deve ser completamente perdoada e recebida de volta na Congregação cristã com todos os direitos e privilégios.
     João 8.11; 2 Samuel 12.13; 2 Coríntios 2.6-8.

16. O pastor cristão não oficiará, em cerimônia de casamento, pessoas que evitaram o tratamento cristão em relação ao casamento, que divorciaram de forma não cristã. A não ser que sejam penitentes e que seu primeiro cônjuge tenha falecida, cassou ou recusa permanecer com ele.
     1 Timóteo 5.22; Ezequiel 3;17-20; Efésios 5.11.

17. A melhor maneira de se evitar a tragédia do divórcio é quando cônjuges cristãos tomarem a sério a admoestação bíblica de que marido e mulher devem amar um ao outro e reconhecer sua responsabilidade sexual própria dada por Deus na vida e no matrimônio..
     Efésios 5.22-31; Tt 2,3-5; 1 Pedro 3.1-7; Colossenses 3.12-19.   

----------------------------------









I N D I C E

Introdução
I – O pastor deve ser irrepreensível e modelo para o rebanho
1.1 – A eficácia da palavra de Deus
1.2 – Esta verdade é muito consoladora
1.3 – O santo ministério, um dom de Deus
1.4 – Qualificações especiais
1.5 – Devem saber cuidar de si e da doutrina
1.6 – Devem ser modelo para o rebanho
1.7 – Remir o tempo
1.8 - Reavives o dom que há em ti
II – Qualificações para o ministério
2.1 – Irrepreensível
2.2 – Esposo de uma só mulher
2.3 – A esposa do pastor
2.4 – Temperante
2.5 – Sóbrio
2.6 – Modesto
2.7 – Hospitaleiro
2.8 – Apto para ensinar
2.9 – Não dado ao vinho
2.10 – Não violento
2.11 – Não avarento
2.12 – Que governe bem a sua própria casa
2.13 – Não neófito
2.14 – Que tenham bom testemunho dos de fora
2.15 – Resumindo
2.16 – A difícil tarefa de disciplinar pastores
2.17 – Quem é apto para tanto?

III – O santo matrimônio à luz da palavra de Deus
3.1 – O matrimônio não é uma evolução social
3.2 – O matrimônio é um estado abençoado por Deus
3.3 – O matrimônio é um estado normal para o ser humano
3.4 – O matrimônio cristão é monógamo
3.5 – O matrimônio cristão é estabelecido por um consenso mútuo
3.6 – A união matrimonial é vitalícia
3.7 – Na escolha de um companheiro
3.8 – No lar cristão o marido é o cabeça
3.9 – Um propósito importante no matrimônio, os filhos
3.10 – O matrimônio cristão tem como fundamento a palavra de Deus
3.11 – No matrimônio cristão o verdadeiro amor é cultivado
3.12 – Jovens cristãos se preparam para esta bênção

IV – Matrimônio, crises e divórcio
4.1 – O matrimônio é uma união vitalícia
4.2 – Exposição exegética
4.3 – Observações
4.4 – Disciplina
4.5 – Pedidos para efetuar cerimônias de casamento
4.6 – Conclusões

V – Famílias pastorais em crise
5.1 – O pastor sofre o divórcio
5.2 – O pastor é culpado

VI -  Pastores divorciados no ministério
6.1 – Perdão e ministério
6.2 – Opiniões em defesa da permanência do pastor
6.3 – Opiniões sobre pastores divorciados
6.4 – Recomendações
6.5 – Servindo como leigos
Palavra final

Bibliografia

Apêndice
I – Ofícios na Igreja 
II – Afirmações sobre Divórcio e novo Casamento




[1] Tradução: Almeida Revista e Atualizada, Soc. Bíblica do Brasil.
[2] WA 40,III,23ss.
[3] Chamamos atenção que os vocábulos gregos usados aqui, são todos masculinos. Isso deixa claro – sem entrarmos em maiores discussões - que o ministério deve ser ocupado por homens.
[4] Tratado sobre o poder e o primado do Papa § 61-62; Livro de Concórdia p.315.
[5] Confere Apêndice 1. Ofícios na Igreja.
[6] Walther, C.F.W. Kirche und Amt. Zwickau. Saxônia, 1911.
[7] Liturgia Luterana, Casa Publicadora Concórdia, Porto Alegre, 1971, Vol. II, pág. 44-47.
[8] C.F.W. Walther. Americanisch=Lutherische Pastoraltheologie. St. Louis, MO. Druckerei der Synode von Missouri, Ohio e.a. Staaten, 1890, pág. 381ss. Ou Pastoral Theology, p. 266.
[9] Para citar um exemplo: Um técnico de informática gasta hoje provavelmente ¼ do seu tempo para estudos e ¾ para atividades. E, depende do seu ramo, até 2/4 do seu tempo no seu pregar.
[10] Armin S. Schuetze, Armin  e Irwin J. Habweck. The Shepherd under Christi, Northwestern Publishing House, Milwaukee, Wisconsin, 1981, pág. 6. 
[11] Pastorale de Walther, pág. 382.
[12] A situação atual nas igrejas, também em nossa e nas igrejas irmãs não é nada animador. Até os anos 60, pastores divorciados se licenciavam do ministério, se eles sofreram o divórcio – quer tendo culpa expressa ou tendo sofrido o divórcio - atuavam na retaguarda, não diante do altar e no púlpito. Hoje já existem pastores divorciados no ministério, até ocupando cargos na liderança das igrejas. Até pouco tempo era praxe que, mesmo sendo um pastor divorciado readmitido a exercer o pastorado, era recomendação de que ele não fosse eleito para cargos de Conselheiro, Presidente Regional ou para a Diretoria da igreja. – Das igrejas luteranas (não de nossa SELK) veio-nos a informação, de que cada quinto pastor evangélica é divorciado (Idea Spektrum, dia  05/03/2008). 
[13] Comentários de C.M.Zorn, G.Stöckhardt, J.A.Bengel, Scharlemann. Cf.: Synodal Bericht do Distrito de Michigan, 1907, 32.
[14] Os 1.2. O fato de o profeta Oséias, por ordem de Deus, casar com uma prostituta, não nos dá direito de fazer exceções. Isto só cabe a Deus, que através disso, queria mostrar ao povo de Israel, o que ele, o próprio, Deus, estava sofrendo por seu povo.  
[15] Norbert H. Mueller e George Kraus. Pastoral Theology. Concordia Publishing House, St. Louis, MO 1990, p.35)
[16] Zoeckler, vol IV, p.429.
[17] Infelizmente, pastores recém formados, nos primeiros anos, não planejando bem seu orçamento familiar, contraem dívidas por prestações além de suas possibilidades, não conseguindo se recuperar mais. Tentam sair da crise emprestando dinheiro dos membros da Comunidade. Ficam com a fama de caloteiros a ponto de precisarem mudar de lugar. E os casos não são poucos.   
[18] Nossa igreja irmã na Alemanha, a Selbständige Evangelische Lutherische Kirche (SELK).
[19] No nosso caso seria aconselhável que não fossem mandados logo para um campo de missão, onde estão sozinhos, mas tivessem pelo menos alguns anos numa Comunidade formada, com diretoria engajados num distrito.
[20] Schuetze, Armin S. e Irwin Habweck, The Shepherd under Christ, Northwestern Publishing House, Milwauke, Wisconsin, 1981, pág. 6.
[21] Lehre u. Wehre, ano 1872, n° 8.
[22] Confira, para maiores detalhes, meu trabalho sobre: Tratativas Pastorais, apresentado na Conferência de Conselheiros e Líderes Leigos, 27/04/2004.
[23] Este licenciamento tem a finalidade de impedir que o pastor influencie no exame e julgamento do assunto. Isto é para o bem dele e da congregação. Por isso, durante o licenciamento não deveria pregar na paróquia nem fazer visitas aos membros.  Seria aconselhável se pudesse tirar férias e sair do lugar, o que, na verdade, nem sempre é possível, devido aos filhos na escola.
[24] Liturgia Luterana, vol. II. Casa Publicadora Concórdia S.A. Porto Alegre, 1971. Início: Oração do
     Pastor
[25] Walter A. Maier, PH.D. For Better Not for Worse.  Concordia Publishing House,  St. Louis, Mo. 1935,
     p.6-8.  Traduzido e adaptado.
[26] Simul iustus et peccator totaliter (Simultânea e totalmente justo e pecador).
[27] Esta lei, portanto, pertence à lei civil do povo judeu.
[28] O matrimônio é ordenado por Deus. Nele também pagãos podem levar uma visa honrosa e feliz, conforme o conhecimento da lei inscrita em seus corações. Mas viver conforme o santo padrão de Deus, isto é possível somente aos cristãos. E onde Cristo não mora no coração, o maligno reside, mesmo levando as pessoas a uma vida ética honra diante do mundo.    
[29] Compendio Trindentino, sessão 24, cânon 7;
[30] Pastoral de Walther, p.246.
[31] Pastoral de Walther, p.250.
[32] Alguém poderia objetar: Mas é tão fácil assim, basta se arrepender. A proibição de não casar refere-se a uma situação ainda não resolvida, na qual há possibilidade e esperança de reconciliação. Uma vez concretizado o divórcio, e se a parte culpada, ou ambos estão arrependidos e o caminho para restabelecer a primeira união impedido, a parte culpada poderá contrair novo casamento.
[33] Psicologia. Ciência estuda o comportamento humano, seu relacionamento na sociedade. Ela não abrange o relacionamento  da pessoa com Deus. Esta orientação só encontramos na palavra de Deus. Portanto, a psicologia não edifica a fé cristã, nem a orienta. A vida cristã, a partir da fé, é orientada pela palavra de Deus.
[34] Albert B. Wingfiel, Marriage is for Life, CTS Family Press, Fort Wayne, 1989, p. 53.
[35] Esta pergunta lhe veio repentinamente à mente.
[36] E.A. Wilh. Krauss, Lebensbilder. Concordia Publishing House, St. Louis, 1930.
[37] Opus cita., Pastoraltheologie, Walther.
[38] Já na última Convenção da LCMS, julho 2007, houve um pastor divorciado que foi candidato ao cargo de 1º vice-presidente. Ele não foi eleito.
[39] O trabalho do Bischof  Roth, confira no Apêndice I, que é sem dúvida um excelente trabalho, afirma que o pastor divorciado pode voltar ao ministério. Neste respeito, da readmissão simples do pastor divorciado ao ministério, não posso concordar plenamente.
[40] Ultimatum, 2006, n° 59.
[41] Norbert H. Mueller e George Kraus. Pastoral Theology. Concordia Publishing House, St. Louis, MO, 1990, p. 35.
[42] John McArthur, pastor da Grace Community Church, não denominacional, origem batista, página na WEB. Autor de vários livros.
[43] Martim H. Scharlemann, The Pastoral office and Divorce, Remarriage, Moral Devination. Concordia Journal 6 (julho de 1980), pág. 141-150.
[44] The Faithfull Word, vol.33, 1996, n° 2, p.91.
[45] Sob “encaminhar para o divórcio” entende-se o seguinte: a) Houve adultério (ou abandono malicioso). Houve aconselhamento, ainda não final. A esposa saiu de casa. O assunto se tornou público. b) O casal entrou em crise. Houve aconselhamento, mas sem resultados. A crise tornou-se pública.    
[46] Pecado contra o Espírito Santo. Peca contra o Espírito Santo aquele em quem o Espírito Santo trabalhou e/ou trabalha, mas a pessoa resiste ou rejeita obstinada e persistentemente o Espírito Santo.  De repente Deus diz: Chega! Então terminou para aquela pessoa o tempo de graça, como no caso de Faraó do Egito. Este momento, no entanto, só Deus conhece. Veja o caso do rei Manassés (2 Rs 2.1-18; 2 Cr 33.1-20) que resistiu tanto tempo e mesmo assim, no final, Deus lhe concedeu a graça do arrependimento. Cf.: obras Selecionadas de Lutero, vol II, p.65. (Nota do tradutor) 
[47] Martinho Lutero, Obras Selecionadas, vol. 3. pág. 423ss.  Editora Sinodal e Editora Concórdia, Porto Alegre, 1992.
[48] Christian News Encyclopedia, vol. II, p. 1291. Rev. Jeffrey C. Kinery, Grace Ev. Luth. Church Brownwood, Texas. Tradução e adaptação: Horst R. Kuchenbecker


Nenhum comentário:

Postar um comentário