F i d e l i d a d e M i n i s t e r i a l
Horst R. Kuchenbecker
São Leopoldo,
Pentecostes 2008
UM MINISTÉRIO FIEL – O BISPO DEVE SER
IRREPRENSÍVEL
Introdução
Oração: Senhor
Jesus, concede-nos um ministério fiel, pastores apegados à tua Palavra, que
vivam diante de ti em diário arrependimento, fé e vida santificada; dedicados
de todo o coração à pregação de tua Palavra, chamando destemidamente ao
arrependimento, consolando os pecadores penitentes com a graça de Cristo,
encorajando-os para a vida santificada, por Cristo, o Senhor da Igreja. Amém.
Assim oravam e
oram ainda muitos pastores e leigos cristãos. Esta oração sempre foi
necessária, muito mais em nossos dias, nos quais cresce a indiferença para com
a Palavra de Deus, dias nos quais os bons costumes e a moral estão sendo
subvertidos.
Para fazer frente
a isso, se requer sobre tudo um ministério fiel. Pastores que vivam em íntima
comunhão com seu Deus, dedicados ao estudo da Palavra e à oração, que sejam
templos do Espírito Santo, lutem por vida santificada, sendo irrepreensíveis e
modelos para o rebanho. Para tal, o apóstolo Paulo recomenda: Fiel é a Palavra: Se alguém aspira ao
episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja
irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto,
hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato,
inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a sua própria casa,
criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois se alguém não sabe
governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito,
para não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condenação do diabo. Pelo
contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de que
não caia no opróbrio e no laço do diabo (1 Tm 3.1-7[1]). Por
isso é preciso reafirmar:
I - O pastor deve ser irrepreensível e
modelo para o rebanho.
1 Tm 3.1-7; Tt 1.6; 1
Pe 5.1-4.
1.1. A eficácia da
Palavra de Deus. Precisamos afirmar logo de início que a eficácia da
Palavra de Deus e dos sacramentos não depende, na verdade, do grau de
santificação do pastor, como alguns têm afirmado. O famoso pregador batista
Charles H. Spurgeon (1824-1892) afirmou: “O sucesso do ministério depende do
grau de graça (santificação) do pastor.” Lutero o expôs corretamente ao afirmar
em sua exposição do Salmo 139.9: “Mesmo sendo a palavra anunciada e os
sacramentos administrados por um hipócrita e grande pecador, eles não perdem
sua eficácia[2].” A eficácia
da Palavra de Deus não depende da fé nem do grau de santificação da pessoa que anuncia
a Palavra ou administra os sacramentos, pois por estes meios o Espírito Santo
atua poderosamente (Is 55.11; Hb 4.12; Rm 1.16).
1.2. Esta verdade é
muito consoladora. A doutrina da eficácia da palavra de Deus e dos
sacramentos, independente da fé daquele que os administra, é doutrina
consoladora tanto para os pregadores como para os ouvintes; mas não deve servir de pretexto para a
malícia (1 Pe 2.16). Não deve levar ministros a serem levianos em sua vida
santificada; nem as congregações a admitirem ou aturarem no ministério pessoas
que sejam repreensíveis.
1.3. O Santo
Ministério, um dom de Deus para sua Igreja na terra.
O apóstolo inicia
sua admoestação dizendo: Fiel é a palavra
(v.1). Com este “fiel” o apóstolo indica que esta palavra vale para todos
os tempos, até o fim dos séculos.
Quem aspira ao episcopado (v.1). A entrada no santo
ministério começa normalmente com o aspirar, o desejar. O jovem, ou pessoa
adulta, sensibilizado pela palavra de Deus, pelos sermões e estudos bíblicos,
pela palavra dos pais e amigos começa a refletir e desejar, como fruto de sua fé,
torna-se pastor. Com este desejo começa também uma luta interna cheia de
dúvidas e anseios, tais como: Você não tem aptidões para isso. Vai ser muito
difícil. É uma vida que requer muito sacrifício. Também as opiniões de fora: O
que, você pastor? Mas isto não dá dinheiro. Você tem capacidade para algo muito
melhor. Esse desejo, essa luta pelo ministério precisa ser amparada por pais,
pastores e muita oração para ser concretizado.
Excelente obra almeja. (v.1) Em que
consiste esta excelência? É o privilégio de servir mais diretamente a Deus, de
lutar pela salvação de almas. Exige também sacrifício e abnegação, como o mostram
os adjetivos que seguem.
Episcopado (v.1). O que é um bispo? A
palavra bispo só aparece três vezes no Novo Testamento. Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o
seu próprio sangue (Atos 20.28). Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a
todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em
Filipos (Filipenses 1.1), Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora,
porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma (1 Pedro 2.25).
Nesta última passagem o apóstolo Pedro chama a Jesus de Bispo. Para entendermos
melhor o que o Novo Testamento compreende sob a palavra bispo, precisamos
considerar mais algumas passagens. De Mileto o apóstolo Paulo mandou chamar os presbíteros da igreja (At 20.17) e a
estes chamou também de bispos (v.28) para
pastorearem a igreja de Deus. Assim, bispos e presbíteros são pastores. A
isto temos que somar ainda as palavras de Paulo aos efésios e coríntios: E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres
(Efésios 4.11). A uns estabeleceu
Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em
terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar,
socorros, governos, variedades de línguas[3] (1
Coríntios 12.28). Aqui o apóstolo menciona apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres. Ora, apóstolo eram somente os doze. Não há
outros. Evangelistas eram auxiliares dos apóstolos. Profetas, com o dom
especial, também não os temos mais neste sentido. Restam, portanto,
(evangelistas, englobados nos pastores) pastores e mestres, os que se esmeram
no ensino da palavra de Deus. A esta classe pertencem também os presbíteros e
bispos. Portanto, os que no Novo Testamento “presidem as igrejas, chamam-se
pastores, presbíteros ou bispos[4].” Mas
o aspirar e preparar-se para tal, digamos a “vocação interna”, bem como a
formação de bacharel em teologia, ainda não faz da pessoa um pastor. Ele
precisa ter o chamado de uma congregação (ou Igreja). Lemos na Confissão de
Augsburgo, art. V, Do Ofício da Pregação:
Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando nos o
evangelho e os sacramentos, pelos quais como por meios, dá o Espírito Santo,
que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual
ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos um Deus gracioso,
se o cremos. Este artigo fala dos deveres do ofício, mas não de quem deve
exercê-lo. Isto é dito no artigo XIV, Da
Ordem Eclesiástica. Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular
ninguém deve publicamente ensinar ou pregar ou administrar os sacramentos na
igreja. Aqui precisamos detalhar algumas perguntas. Quem tem o direito de
exercer o ofício pastoral? O fato de alguém ser cristão e pertencer à raça
eleita, ao sacerdócio real, à nação santa (1 Pe 2.9), com direito de ler e
testemunhar da palavra de Deus, orar, admoestar e consolar, ainda assim não lhe
dá o direito de fazê-lo publicamente, numa congregação, onde todos são seus
iguais. Por isso o apóstolo admoesta: E
como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os
pés dos que anunciam coisas boas! (Romanos 10.15). Ninguém, pois, toma esta
honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão
(Hebreus 5.4). Essas passagens mostram que somente aqueles que são chamados
regularmente ao ofício pastoral, têm o direito de exercê-lo.[5]
Temos dois tipos
de chamados: o direto e o indireto ou mediato. Os profetas e apóstolos foram
chamados diretamente por Deus. Hoje não temos mais esse tipo de chamado, o
direto. Ele também não é mais necessário. Deus chama, hoje, pela congregação ou
igreja.
Num chamado
distinguimos quatro itens. Os primeiro dois são fundamentais, os outros dois
são praxe. 1) A eleição pela respectiva Comunidade deve ser unânime. 2) A
notificação do chamado pode ser oral, mas recomenda-se dá-la por escrito. 3) Exame
do candidato a ser chamado quanto à doutrina, habilidade e comportamento. Normalmente isto é avaliado pelos
responsáveis, Conselheiro e Presidente da Igreja. Mas quando há dúvidas sobre a
seriedade dessa avaliação, especialmente em tempos de desleixo e liberalismo, a
comunidade pode fazer esse exame. 4) A ordenação. A ordenação não é um
sacramento, nem ordenado por Deus, mas uma boa praxe da igreja para comunicar à
Comunidade, à igreja e à sociedade de que a pessoa aceitou o chamado e assume
seu compromisso conforme a confissão doutrinária da Comunidade, a Comunidade
por sua vez o recebe e intercede por ele.
A ele é confiado
o poder de ministrar publicamente a Palavra de Deus e os Sacramentos, bem como
o Ofício das Chaves, para disciplinar e absolver. Dr. Walther, em suas teses
sobre o Santo Ministério, afirma: “O Santo Ministério ou Ofício da Pregação é
um ofício distinto do sacerdócio espiritual de todos os crentes” (Tese 1). “O
Ofício da Pregação tem o poder de pregar o Evangelho, administrar os santos
sacramentos e o poder de julgar coisas espirituais” (Tese 5). “O Ministério da
Pregação é o ofício supremo na Igreja, do qual decorrem todos os demais ofícios”
(Tese 8).[6] O
apóstolo Paulo acrescenta ainda: Para
aperfeiçoamento dos santos (Ef 4.12). A palavra santos usada para os membros é importante, isto é, conforme o uso e
significado no Antigo Testamento: separados
de. Israel foi separado dos demais povos para ser povo para Deus. Um povo a
quem Deus deu sua lei, os Dez Mandamentos. Lutero os expõe corretamente ao
começar a exposição de cada mandamento com as palavras: Devemos temer e amar a Deus, e, portanto,... Isso é o terceiro uso
da lei. Esta lei e não a cultura local molda o estilo de vida, a vida ética, desse
povo, diferenciando-o das demais nações. Eles têm valores e convicções
diferentes. O apóstolo Pedro lembra aos fiéis a palavra de Moisés: Sede santos, porque eu sou santo (1 Pe 1.16;
Lv 11.44; 19.2). O que significa isso para a vida pastoral? Deus diz ao profeta
Jeremias: Eu te consagrei (Jr 1.5), isto
é, coloquei-te à parte para servires de forma especial ao propósito de Deus, o
que inclui a santificação. Isto tem a ver com o estilo de vida. Quem vai
governar no meu coração: o Espírito Santo ou o meu “eu”, minha natureza carnal?
Nesta luta, importa afogar diariamente o velho homem com todas suas paixões e
concupiscências. Jesus afirmou: Ninguém
pode servir a dois senhores (Mt 6.24). E o apóstolo Paulo diz: Não sabeis que os injustos não herdarão o reino
de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem
efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores, herdarão o reino de Deus (1 Co 6.9,10). No
ofício pastoral não há lugar para pessoas que são dominadas por esses pecados. Por
isso nós pastores oramos diariamente:
Me chamaste para andar na tua presença
em santidade e amor. Concede-me o Espírito Santo, o Espírito de sabedoria e
entendimento, de graça e de súplica, de conselho e fortaleza, de coragem e
alegria, de santificação e de temor de Deus. Reveste-me da sabedoria do alto.
Amém.[7]
Sem esta oração, não subsistiremos na luta, nem teremos
forças para um ministério fiel.
Confira também o
chamado de apóstolo Paulo, Gl 1.15. A igreja deve escolher seus ministros
conforme a ordem e as qualificações ordenadas por Deus em Mt 16.15-18;
18.15-20; Jo 20.19-23; 1 Tm 3.15; 1 Co 3.21-23. Aquilo que a Igreja possui como
um bem comum, ela o confere a pessoas que ela escolhe, chama e ordena conforme
a ordem e promessa de Cristo (Jr 1.8,9; At 18.9). E os que ocupam o cargo, são
constituídos pelo Espírito de Deus como embaixadores
de Cristo (2 Co 5.19). Deles se requer um elevado padrão de santificação na
vida pública, privada e individual, pois devem ser exemplo como mostram as
qualificações mencionados pelo apóstolo.
1.4. Qualificações
especiais. As pessoas escolhidas para serem ministros devem ter
qualificações especiais (At 6.3; 1 Tm 1.3; Tt 1.6). Uma excelente obra, requer
excelentes pessoas. É necessário,
portanto, que o bispo seja irrepreensível (1 Tm 1.3; Tt 1.6). A palavra “é
necessário” aparece quatro vezes, mostrando a importância dessa recomendação (1
Tm 3.2,7,8,11). O apóstolo não coloca aqui um ideal ou máximas a serem alcançados,
porém critérios mínimos requeridos para que uma pessoa possa ocupar o cargo
e/ou permanecer nele. O verbo “seja”, não trata de virtudes, mas de carismas,
de qualificações indispensáveis. A Igreja não deve chamar pessoas ao
ministério, nem permitir que atuem no ministério, que não tenham esses
carismas. Vamos analisar os diferentes itens.
1.5. Devem saber
cuidar de si e da doutrina (At 20.28: 1 Tm 4.16). A esse respeito o Dr. Walther
escreve: “De acordo com a Palavra de Deus, um pregador íntegro não deve ter
cuidado somente do rebanho que lhe foi confiado e da doutrina, mas também de si
mesmo (At 20.28; 1 Tm 4.16). Ele deve ser irrepreensível em sua vida particular
e pública (1 Tm 3.2; Tt 1.7), ser exemplo em tudo para o seu rebanho (1 Pe
5.1-4). Não deve, em coisa alguma, ser “motivo de escândalo para que o
ministério não seja censurado[8]” (2
Co 6.3). E não somente ele, mas também todos os membros no seu lar, esposa,
filhos e dependentes, devem manter o padrão de uma família cristã. Isto inclui
aparência, vestimenta, comportamento, lugares que frequenta na sociedade, etc. (1
Tm 3.4; 1 Sm 2; Sl 101).
O pastor deve
conhecer bem a doutrina e saber ensiná-la. Isto requer permanente estudo.
Refiro-me a um plano progressivo de estudo, além dos seus afazeres e estudos no
preparo de sermões e estudos bíblicos. Que se proponha ler num ano, digamos: A
Dogmática, no outro ano uma Pastorale, depois o livro: Lei e Evangelho, etc.
para não ficar estacionado. Há a necessidade de equilibrar o uso do seu tempo para
crescimento pessoal e atividades profissionais[9].
Além de participar, conforme recomendação da Igreja, de estudos de
aperfeiçoamento. Deve também saber “cuidar de si,” isto é, ele pessoalmente
deve viver em diário arrependimento, confiar no Evangelho que lhe anuncia o
perdão de Deus, pela graça de Cristo. Desta fé brota o verdadeiro amor à Deus e
ao próximo, que se manifesta pela luta contra o pecado e, pelo apego à lei de
Deus, pelo afogar seu velho homem e pelo
evangelho fazer ressurgir o novo homem,
que tem prazer na lei de Deus, para viver em justiça e pureza diante de Deus
eternamente.
1.6. Devem ser modelo
para o rebanho 1 Pe 5.3). Doutrina e vida devem concordar. Nossos pais
afirmaram: Confessionis sinceritas
(confissão sincera), docendi dextenitas
(capacidade de ensinar), morum
intergritas (costumes puros). Ninguém causa maior dano à Igreja do que
aquele que ocupa um cargo na Igreja e não vive conforme a palavra de Deus.
Os Dez
Mandamentos valem para todos os cristãos, dos ministros, no entanto, se requer
um grau maior de santificação (2 Co 6.3). Eles devem adornar a doutrina com sua
vida (Tt 2.10). Não que exista para eles uma nova moral, mas por estarem em
destaque, devem destacar-se também na vida santificada. Pois eles têm o
privilégio de dedicar mais tempo ao estudo da Palavra de Deus, à oração e à
comunhão com Deus. Assim como não devem ser neófitos e precisam ser aptos para
ensinar, assim devem ser modelos para o rebanho. Eles devem ornar sua vida com
maior cuidado. E não só evitar pecados, como evitar também a aparência de
pecado, por causa do mundo e dos irmãos fracos na fé. Por esta razão, eles
desistem muitas vezes de fazer uso de sua liberdade cristã (1 Co 8.9-13). O
povo de Deus tem o direito de esperar estas qualificações de seus pastores. Mas
cuidado, não banque o santo. Não enfeite sua ira, como sendo ira santa e seu
egoísmo como sendo luta pela causa do reino. Não enfeite seus erros, mas
confesse seus erros. A Comunidade pode e deve saber que somos pecadores como
eles, nos apegamos ao perdão e lutamos. Isto evitará também que nossas
pregações sejam duras e sem amor.
1.7. Remir o tempo
(Ef 5.16). Usar bem o tempo requer que planejamos bem o uso de nosso tempo.
Em primeiro lugar tempo para o estudo da palavra de Deus e a oração (At 6.4).
Oração detalhada família por família. Se o pastor não tiver tempo para ouvir a
Jesus e falar com ele, quem o terá? O pastor que não ora por seu rebanho não é
um bom pastor. A intercessão é requerida pelo ofício e pelo amor ao próximo. Em
segundo lugar devemos lembrar que nosso tempo (dias) (Sl 31.15) está nas mãos
de Deus. Não devemos ser escravos de nossa agenda e não ter tempo quando formos
solicitados pela necessidade do próximo, a exemplo do fariseu e levita na
história do bom samaritano. (Lc 10.31) Duas
coisas aos quais todos os outros trabalhos devem ceder lugar: A devoção e a
necessidade dos irmãos (Johann Eberlin (1525).
1.8. Reavives o dom
que há em ti (2 Tm 1.6). O apóstolo Paulo anima seu discípulo Timóteo. Ele
estava num trabalho difícil e sofreu afrontas. Nestes momentos é fácil
desanimar. Quem de nós não conhece momentos assim. O apóstolo lhe lembra o
momento de sua ordenação e instalação (1 Tm 4.14). O ministério foi lhe dado
pela imposição das mãos e com isso o Espírito Santo que concede as aptidões
para o ofício. Evangelicamente isto lhe
lembra que neste momento não lhe foi dado o espírito
de covardia, mas de poder e moderação. O Espírito concede forças para a
luta, amor às pessoas e domínio próprio. Para fortalecer esta afirmação, Deus
lhe lembra sua graciosa ação, de que ele salvou a humanidade e a chama pelo
evangelho (v.9,10), e conclui: guarda o que tens.
Nós todos
precisamos, de tempos em tempos, reler as cartas pastorais para reavivar o dom
que nos foi dado.
1.9. Pregar a Palavra
(2 Tm 4.2). O principal trabalho e objetivo do ministério, do trabalho do
pastor é pregar a palavra de Deus em sua pureza e clareza. O que significa
isso.
a) Não
nos pregamos a nós mesmos (2 Co 4.5), isto é, nossas experiências. Pelo
profeta Jeremias Deus adverte: Até quando sucederá isso no coração dos profetas que
proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração? Os quais cuidam em fazer que o meu povo se
esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu companheiro,
assim como seus pais se esqueceram do meu nome, por causa de Baal. O profeta
que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha
palavra fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? - diz o
SENHOR. Não é a minha palavra fogo, diz o SENHOR, e martelo que esmiúça a
penha? Portanto, eis que eu sou contra
esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu
companheiro. Eis que eu sou contra esses
profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele
disse. Eis que eu sou contra os que
profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e os contam, e com as suas mentiras
e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei
ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o SENHOR (Jeremias
23.23-32). À luz destas palavras precisamos examinar nossos sermões, nossas
historinhas contadas para ilustrar, mas que na verdade perturbam a palavra de
Deus, e nossos sermonetes, que ensinam um pouco de moral, da teologia atual do Faça-o você mesmo, da Auto-estima, do
Positivismo.
b) Queremos pregar
fielmente a palavra de Deus. Isto requer
estudo, meditação e oração.
c) Cuidado com as traduções. Ao ler um trecho bíblico, eu preciso ter certeza para
poder dizer: Assim diz o Senhor! Não há tradução perfeita. Há melhores e
não tão boas, mesmo que seus objetivos sejam bons. Por exemplo, a NTLH esvazia
algumas profecias, muda o gênero em algumas passagens, segue alguns modismos.
Vejamos alguns exemplos da NTLH: Gn 3.15; Sl 116.13; Is 7.14; Ef 1.7; Gl 2.19;
At 3.21. Poderíamos citar muito mais. Algumas destas traduções são
gramaticalmente possíveis, mas não conforme a analogia da fé. Outras são
fracas. Por exemplo: Mt 28.20, guardar por obedecer. O Novo Testamento Interlinear
(Grego/Português) nos e um excelente auxiliar para o Novo Testamento.
d)
Importância das visitas. Um pastor que não é visto durante a semana, não será
compreendido no domingo. Isto evitará que o pastor
levante e responda perguntas que os membros não fazem, enquanto que as
perguntas que afligem os membros não são nem ouvidas, muito menos
respondidas.
e) Apresentação.
Foi uma lição que meu pai me deu. Apresentei um sermão no qual eu estava muito
preso ao texto escrito. Meu pai me disse: O
púlpito não é uma cátedra. No púlpito você precisa abrir o teu coração e
derramar aquilo de que o coração está cheio. Estuda o texto com a pergunta
e oração: Meu Pai celestial, eu devo falar em teu nome e lugar. Fala ao meu
coração, para que eu possa falar de coração que teu povo. Se você ler a tua mensagem
duas ou três vezes e não consegues retê-la, o que farão teus ouvintes que vão
ouvi-la uma vez só. Dali para adiante só levei um rascunho, especialmente
início dos parágrafos e dos textos bíblicos a serem lidos.
A pregação, o ensino é feito em todos os
momentos, na família, na sociedade, no trabalho, na recreação. Somos o bom
perfume de Cristo (2 Co 2.15).
II - Qualificações para o ministério
2.1. Irrepreensível.
A palavra irrepreensível vem explicada por uma série de adjetivos. No profano,
o vocábulo significa um lutador que protege seus flancos para que o inimigo não
encontre uma brecha para atingi-lo e o ferir. Estamos, portanto, diante do quadro
de um lutador. Alguém que é agredido, que luta contra o inimigo, evitando que
este o atinja. Ele está ciente de sua vulnerabilidade, mas se arma com a
armadura de Deus (Ef 6.10-18). A luta é árdua. Falhar em notar as ciladas de
Satanás, contra as quais a Escritura alerta, cair e ser ferido, poderá resultar
em ser forçados a deixar o ministério. Assim, o pastor luta por sua vida
santificada, para não dar ao diabo ocasião para prostrá-lo em pecados graves
contra a honra. Estes são os pecados especialmente contra a segunda tábua da
lei de Deus. Pois se houver contra ele acusações graves de ofensa contra a
moral, isto prejudicará seu ministério, e em lugar de reunir o rebanho, ele torna-se
um dispersador do mesmo. Daí a seriedade da admoestação. Isto é indicado
especialmente pelas palavras finais: Ele
deve ter bom testemunho dos de fora. Voltaremos a este versículo mais
tarde. Moisés e Samuel andaram de forma irrepreensível diante do povo. O pastor
deve ser uma pessoa honesta e honrada, acima de qualquer repreensão, sem vícios
que possam incriminá-lo, e que tenha domínio de si próprio.
Johann Andreas Quenstedt
(1617-1685) escreve: “Irrepreensível é uma pessoa a quem ninguém pode acusar de
transgressões graves, a quem ninguém possa castigar com a lei.” Esta palavra
caracteriza, portanto, alguém que não pode ser incriminado em juízo. “Irrepreensível”
(anepílempton, 1 Tm 3.2) é uma pessoa à qual ninguém pode acusar de um
crime grave. “Irrepreensível” (anégkletos, Tt 1.6) é uma palavra usada
nos tribunais, que descreve uma pessoa que não cometeu crime passível de condenação.
O apóstolo Paulo não diz que o pastor deve ser (anamártetos), sem pecado.
Diante de Deus somos todos repreensíveis, mas diante dos homens devemos ser
irrepreensíveis, como o apóstolo Paulo dá testemunho de si, dizendo: Porque de nada me argüi a consciência;
contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor (1
Co 4.4).
O apóstolo não está afirmando que o bispo
deva ser uma pessoa sem pecado. Neste caso Deus teria de chamar anjos como
ministros (1 Jo 1.8). Em outras palavras, ele não está falando de pecados de
fraqueza, mas de pecados propositais e grosseiros. O ministro não deve andar em
pecados propositais, mas levar uma vida honrada, conforme os padrões enumerados
pelo apóstolo em sua carta pastoral a Timóteo. Ele deve ter bom testemunho dos
de fora[10].
O apóstolo Paulo
diz: Não sabeis que os injustos não
herdarão o reino de Deus. Não vos enganeis, nem impuros, nem idólatras, nem
adúlteros, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de
Deus (1 Co 6.9-10). A palavra “injusto” está relacionada à palavra
“irrepreensível”. Injusto é alguém que se desvia da lei de Deus e anda
propositadamente fora da lei. Como tal pessoa poderia ocupar o santo
ministério?
Transgressões
nesta área expõem o pastor a outras tentações. Ele tentará encobrir seus erros
com mentiras, com isso perde seu poder de admoestar, pois sua própria
consciência o acusa, isto o leva a descuidar da doutrina e da praxe, procurando
simplesmente agradar às pessoas. Neste caminho, no jogo de esconde, esconde,
poderá desesperar. Se alguém caiu em graves pecados contra a honra e isto se
tornou público, mesmo ao se arrepender sinceramente é aconselhável que deponha seu
chamado neste lugar e exerça o ministério em outro lugar.
Paulo Gerhard (1607-1676),
após mostrar que um bispo deve ser “irrepreensível”, levanta a pergunta: Será
que aqueles que caíram em pecados graves, após se arrependerem, podem ser
conduzidos de volta ao seu ofício (pastoral)? Ele responde: Um exame cuidadoso
da situação dará a resposta. Casos de estrema necessidade devem ser diferenciados
da regra normal. Se pudermos ter outros pregadores, devemos preferi-los. Johann
K. Dannhauer (1603-1666), professor em Strassburgo, autor de vários livros como
Teologia Doutrinal e Ética Cristã, responde: “Em casos normais, não”[11].
Resumindo, nos
cumpre dizer o seguinte: Todo ministro é um pecador. Ele não peca somente por
uma e outra fraqueza. Ele peca também, e não poucas vezes, propositadamente. Também
nele há a tensão entre o novo e o velho homem. Ele precisa lutar para
afogar seu velho homem em diário
arrependimento e fazer ressurgir o novo
homem. Há nele também, muitas vezes cegueira espiritual, na qual em seu
egoísmo, defende certas coisas, impõe sua opinião, gera atritos e perturba. Mas
ali onde ele vive em meditação na Palavra e oração, o Espírito Santo o levará a
reconhecer seus erros, lamentá-los, e onde necessário pedir perdão. Seus
membros vêem sua luta, fé e sinceridade. Ele pede a Deus com insistência: Não me deixes cair em tentação, mas livre me
do mal. Quando, no entanto, relaxa sua meditação e sua oração, o perigo
cresce. O diabo poderá precipitá-lo em pecados maiores, contra os quais o
apóstolo Paulo adverte, os quais podem por em perigo o seu ministério.[12]
Vejamos
agora a que o apóstolo se refere ao dizer: Seja
irrepreensível. Paulo cita especificamente diversas áreas.
2.2. Esposo de uma só
mulher (1 Tm 3.2). - O que significam essas palavras? Desde os primeiros
séculos, essas palavras sofreram muito na mão de exegetas. Muitos interpretes
seguiram Tertuliano (AD 150-240) e Originis (AD 185-254) que, devido seu ensino
errôneo sobre a falsa piedade, ensinavam que o pastor poderia casar uma só vez.
Crisóstomo (AD 345-407),
Teodoret (AD 386-457), Jerônimo (AD 331-386),
Theophylact (AD 1107 ) interpretaram este texto corretamente.
O acento está no adjetivo numeral. Como
vamos interpretá-lo? De forma sucessiva? Vejamos em primeiro lugar o que isto
não significa. Isto não significa que o pastor precisa estar casado. O próprio
apóstolo Paulo não o era (1 Co 7.7). Também não significa que se um pastor
enviuvou, não possa casar de novo (1 Co 7.8,9). O apóstolo Paulo recomenda aos
viúvos que casem. No versículo 15, o apóstolo fala do divórcio. Onde o divórcio
aconteceu por causa de adultério (ou abandono malicioso), clausula prevista por
Jesus (Mt 19.9), a pessoa inocente, que sofreu o divórcio, pode casar de boa
consciência novamente. Se for aconselhável que o pastor, que sofreu o divórcio,
continue no ministério, abordaremos mais tarde.
Neste texto poderia se pensar também na
poligamia. Em algumas missões, onde a poligamia existe ainda hoje, como na
África, os missionários precisam ter muito cuidado e paciência no trato desse
assunto. Recomenda-se que se um homem, com duas ou mais mulheres, vier à
instrução de adultos para ser recebido como membro da igreja, que seja
instruído e recebido sem precisar desfazer-se de nenhuma de suas esposas. Mas
seus filhos não devem seguir o exemplo dos pais. E pais, com mais de uma esposa,
não são recomendados ao ministério.
A passagem em foco,
no entanto, não trata da poligamia, visto que isto não era mais costume entre
os judeus, nem no império romano. O que apóstolo Paulo indica aqui quanto ao
bispo, é o que vale para todos os cristãos, que ele não deve ter relações
ilícitas, nem antes e nem fora do matrimônio. O apóstolo Paulo está condenando
a fornicação e o adultério, o pecado contra o sexto mandamento, com todas suas
impurezas. Este assunto foi abordado no primeiro Concílio da Igreja (At
15.20-29). Pecados muito comuns na época, como também hoje com toda a
pornografia e licenciosidade. Daí a ordem de que ninguém seja ordenado pastor
(bispo) que vive em concubinato, que tenha relações sexuais fora do seu
casamento, alguém que vive em adultério. Tal pessoa não deve ser ordenada, nem
tolerada no cargo (1 Co 7.2; Tt 1.6; 2 Tm 3.2,12; 1 Tm 5.9). Portanto, o
adjetivo numérico “de uma só esposa” tem o sentido da ordem da criação (Gn
2.18. Mt 19.10; 1 Co 8,9; 1 Tm 5.14). Quem for culpado de adultério, quem foi
infiel a sua esposa, não deve entrar nem ser tolerado no ministério. Nem aquele
que se divorciou por questões injustificáveis, por motivos fúteis, pois neste
caso, está vivendo com a segunda mulher em adultério[13]
(Mt 19.9).
Aqui precisamos
lembrar a lei dada aos levitas, visto haver uma similaridade entre levitas e
pastores, ambos servem ao Senhor no templo. Deus ordenou aos levitas: Não tomarão mulher prostituta, ou
desonrada, nem tomarão mulher repudiada (divorciada) de seu marido, pois o sacerdote
é santo a seu Deus[14] (Lv
21.7). Por essas e outras razões, a história da igreja mostra que nossos
Seminários não admitiam estudantes divorciados.
Homens públicos
estão, especialmente, expostos a esses pecados. E a história mostra como vários
pastores, com excelentes dons e projeção no ministério, que ocuparam cargos de
liderança, foram vítimas dessas tentações. O pastor tem sua natureza carnal. É
fácil ser atraído por uma mulher e/ou que uma mulher coloque seus olhos no
pastor e lhe seja um laço, uma tentação. A advertência do apóstolo: Fugi da impureza (1 Co 6.18), vale a
todos os cristãos e, principalmente, aos pastores. José no Egito nos deu um
exemplo de como fugir (Gn 39). Jó nos dá um exemplo ao dizer: Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os
fixaria eu numa donzela (Jó 31.1)? Isto nos vale ainda hoje, também em
relação à internet. Certo pastor
satisfazia a cobiça de seus olhos vendo e lendo assuntos sobre a corrupção
sexual no mundo com a desculpa: “Eu preciso estar atualizado para poder ensinar”.
Isto, no entanto, lhe foi um laço para a queda. Por isso a advertência: Fugi! Não
preciso entrar na pocilga de porcos, para conhecer os porcos. Por o pastor ser homem público, ele é, por
vezes, abraçado efusivamente por mulheres, além dos limites – o que pode
provocar ciúmes na esposa e trazer desavenças. É importante que o pastor
mantenha certa reserva que seu cargo requer.
O assunto divórcio é hoje um problema
crescente no mundo ocidental e também entre pastores. Este assunto, porém, deve
ser tratado com cuidado pelos responsáveis. Quando o assunto é adultério
comprovado, parece ser mais fácil, tomar as providências, mesmo assim, as
aparências podem enganar. Quando o assunto é “abandono malicioso” a situação precisa
igualmente de muito cuidado. Muitas injustiças já foram cometidas por
julgamentos precipitados. Por vezes, o pastor pode parecer inocente, mas no
fundo ser o culpado, que talvez, por seu desleixo para com a esposa, empurrou a
mesma para tentações ou a busca do divórcio. Voltaremos ao assunto no capítulo
6.
Sem dúvida, há
perdão também para esses pecados. Mas não podemos confundir perdão com aptidão
para o ministério. Um pastor que se tornou infiel à sua esposa, não é mais apto
para o ministério, mesmo após o arrependimento. Servir no ministério é um
privilégio e não um direito. A
reintegração de um pastor divorciado no ofício público, raras vezes pode ser
justificada. O argumento de que o pastor é a parte inocente no seu divórcio,
não resolve o problema em si. Mesmo aceitando o pastor divorciado chamado para
uma Comunidade distante, dificilmente poderá ocultar seu estado de divorciado,
especialmente se tiver filhos. E não é possível explicar a todos, dizendo: O caso dele é diferente. Ele sofreu o divórcio,
etc. Desempenhar seu ministério de forma efetiva, após tal trauma, será
difícil, mesmo sendo ele a parte menos responsável pelo seu divórcio, ou o
tenha realmente sofrido[15].
Trataremos do assunto nos próximos capítulos 5 e 6.
O teólogo professor
Th. Harnack (1817-1889) escreveu: “Toda a eficácia do pastor permanece ou cai
com sua vida, em sua casa. A casa pastoral deve ser a luz na vila, para a qual
todos possam olhar e ver a clara luz que ela erradia”[16].
2.3. A esposa do pastor - A Escritura define
as qualificações do pastor para o ministério e afirma que ele deve ser esposo de uma só mulher. Mas a Escritura
não requer qualificações especiais da esposa do pastor. Isto indica que ela é,
essencialmente, esposa do pastor e não diretamente chamada ao ministério
público do seu marido. Por essa razão, mesmo não tendo a igreja nada contra o
estudo, a formação e graduação da esposa do pastor, as igrejas luteranas em
geral não instituíram um curso especial para esposas de pastores ou prospectos
de futuras esposas, para não dar a impressão de que elas são incumbidas de uma
parte especial desse ofício. Cabe ao marido transmitir a sua esposa os devidos
conhecimentos. A idéia de que ela, pela virtude do casamento, tenha uma posição
especial, privilegiada de liderança entre as irmãs na Comunidade deve ser
evitada. A esposa tem a vocação de esposa, mãe e irmã na fé cristã no lar e na
Comunidade. Nisto ela deve dar bom exemplo. Por isso, cada estudante, futuro
pastor, deve ter todo o cuidado na escolha de sua esposa, e fazê-lo com muita
oração. Dr. Walther dá sete sugestões quanto às qualificações de uma esposa de
pastor. Ela deve ser:
1) uma cristã sincera. 2) Uma
luterana convicta, (conservativa e confessional). 3) Disposta a ser esposa de
pastor. 4) Procedente de uma boa família cristã, pois no casamento entra toda a
família. 5) Boa dona de casa e administradora do lar. 6) Bem educada, não
necessariamente erudita. 7) Não proveniente da comunidade na qual o seu marido
é ou será o pastor, pois isto poderá trazer problemas.
Entenda-se que isto são recomendações, não leis, pois há
abençoadas exceções.
Ela deve estar
disposta a assumir seu papel de esposa de pastor conforme a palavra de Deus (Ef
5.22-24,33; 1Pe 3.1-6). Por outro, o pastor não deve ir ao extremo em sua
liderança sobre sua esposa. Há áreas domésticas, nas quais ela tem mais
sabedoria e competência do que ele, onde o pastor, como marido nem deve
interferir.
Ela precisa ter
noção do que significa ser esposa de pastor. Enquanto outros homens estão em
casa com a família, o pastor talvez estará em serviço, especialmente, nos fins
de semana. Esposas de médicos, de advogados e de outras profissões não conhecem
os clientes de seus maridos, a esposa do pastor conhece o rebanho e precisa ter
um relacionamento cordial e amigável com os paroquianos. Tudo o que o pastor faz,
ele o faz sob a supervisão de sua esposa. Ela ouve seus sermões, seus estudos
bíblicos, conhece suas atividades nos departamentos e suas visitas. Só as
coisas confidenciais permanecem com o pastor. Ela é, por isso, também a única
pessoa que está em condições de criticar, num bom sentido, o trabalho do seu
marido, seus sermões quanto à clareza, a lógica ou o vocabulário. É ela também
que conhece mais do que qualquer outra pessoa, se o pastor vive seus sermões ou
é uma pessoa no púlpito e outra no lar. E, como disse Lutero de sua esposa, em
casa ela é a pregadora, em condições tanto no repreendê-lo como no consolar e
animar. Ela ouve também as queixas ou reclamações dos membros quanto ao
trabalho do seu esposo e pode ajudar muito. Ela precisa ter também tato nas
questões sociais.
Há uma discussão,
hoje, sobre se a esposa do pastor deve ou não trabalhar fora, num trabalho
digno como por exemplo: enfermeira, professora, secretária, etc. Sem dúvida
isto ajudará no orçamento doméstico, especialmente em pontos de missão e, tendo
os filhos crescidos, ela terá uma ocupação. Mas, há também argumentos contra. O
lugar primordial da mulher é no lar. Por isso há várias razões porque ela é
requerida no lar, especialmente na família pastoral. Por o pastor estar muito
fora, cabe a ela muitas vezes atender o telefone, ajudar na organização, nos
grupos, departamento, música, crianças, ação social, etc. Pois nem todas as
comunidades podem dispor de uma secretária. Espera-se da esposa do pastor que
participe na Comunidade. Tudo isso requer sua presença no lar. Quando há
crianças pequenas em casa será um prejuízo para a educação delas, deixá-las a
mercê de empregadas, ou numa creche.
2.4. Temperante –
Ser temperante requer uma luta constante para desenvolver forças espirituais a fim
de dominar as emoções, desejos, apetites, impulsos sexuais e tentações. Fugir
da impureza (2 Tm 2.22). Portanto, isso não se refere somente ao exagero na
bebida e comida, mas requer sobriedade no uso de qualquer prazer, seja alimento
ou divertimento. É ser cuidadoso e manter bom senso, bom comportamento. Isto requer
também um coração firme contra as pressões do mundo, para não abandonar a sã
doutrina e seguir a onda da moda no pensar, agir, vestir, etc. Requer-se do
ministro que seu coração permaneça enraizado firmemente na palavra de Deus, seja
cordial com todas as pessoas, como embaixador de Cristo. Seja temperante e
tenha cuidado de si. Ele pode desfrutar as alegrias sadias da vida, sem
permitir que elas o captem e desviem de seus deveres, de sua vida espiritual e
profissional.
2.5. Sóbrio – É
quase sinônimo de temperante. A palavra grega significa “firmeza de caráter”. É
um equilíbrio no julgar. Que consiga dominar suas emoções e impulsos. É o
oposto do fanatismo, do entusiasmo exagerado, momentos nos quais a pessoa age
sem pensar. Cabe-nos lembrar aqui, o exagero no fanatismo esportivo. Já
encontrei um pastor com a camiseta do seu clube de futebol debaixo do talar. Um
outro que suspendeu o culto de Sexta-feira Santa por causa de um jogo, alegando:
Ninguém veria mesmo. Houve, no entanto,
pessoas que se escandalizaram. Que ele tenha domínio próprio, decoro, esteja livre
de extravagâncias, de desânimos, ódios e desejo de vingança. Não seja
melancólico, triste, repugnante, nem severo demais.
2.6. Modesto – É
a honra para fora. A palavra grega se refere ao ser refinado e cortês, bem
educado, compostura no falar, vestir e comportar-se em público. Alguém que
mantém bons costumes, disciplinado, que se dirige pelo bom senso, ser gentil,
um gentleman. Não relaxado e
descuidado no asseio pessoal, maneiras e aparência. Conheça a etiqueta social
dos diversos lugares que freqüenta. Fino no trato com as pessoas, visando o bem
estar de todos. Os membros gostam de ver no seu pastor uma pessoa bem vestida,
mesmo que seja simples, bem arrumado e humorado. Para citar um pequeno exemplo
negativo: Receber os membros na porta da igreja ou inscrição da Santa Ceia,
mastigando chiclete.
2.7. Hospitaleiro
– Ser hospitaleiro é requerido de todos os cristãos (Rm 12.13; 1 Pe 4.9; Hb
13.2). Esta virtude, no entanto, deve ser cultivada e caracterizar especialmente
os pastores. A palavra grega significa ter amor ao estranho. No tempo dos
primeiros anos do cristianismo - em muitos lugares no oriente ainda hoje - uma pessoa
digamos, islâmica ou um judeu, ao abraçar a fé cristã (Mt 25.15) foi rejeitada
por seus familiares e parentes, deserdada e até jurada de morte; encontrou, então,
amparo em sua nova família, na Comunidade cristã, nos irmãos e irmãs na fé.
Além disso, havia muitos cristãos que em diversas localidades sofriam perseguições
e tinham que fugir e buscar amparo e refúgio em outros lugares junto a irmãos
na fé. Além disso, quando cristãos viajavam, só encontravam pousada segura na
casa de um irmão na fé.
Ainda hoje a hospitalidade
é necessária. Em cidades, quando pessoas vêm do interior para os hospitais, eles
precisam do amparo enquanto cuidam de seus doentes. A hospitalidade também no
amparar pobres e necessitados. Foram os cristãos que criaram lares para órfãos,
para idosos e hospitais. Mesmo que isto, passou, hoje para o serviço estadual,
a maioria dessas instituições não subsiste com os parcos recursos do Estado e
precisam de constante amparo da sociedade. Estas instituições precisam também
de pessoas voluntárias (ou bem ou mal remuneradas) para os diversos trabalhos.
Cabe ao pastor incentivar sua Comunidade e seus membros para este trabalho
social e dar bom exemplo.
Esta ajuda,
porém, requer cautela. Por vezes há pessoas do interior, que vêm à cidade para
compras e outros afazeres e fazem da casa pastoral seu paradeiro, para
descansar, tomar chimarrão, conversar e jogar conversa fora. Então cabe o
presidente da Comunidade dizer uma palavra aos paroquianos para evitar que roubem
o precioso tempo do pastor. Por outro, já no tempo dos apóstolos não faltavam preguiçosos
e vagabundos que tentavam tirar proveito da hospitalidade. Daí a advertência
apostólica: Se alguém não quer trabalhar,
também não coma – e: trabalhe com suas próprias mãos (2 Ts 3.10; 1 Ts 4.11).
2.8. Apto para
ensinar – Este é um dom, sem o qual a pessoa não é apta para exercer o ministério.
Nisto deve se esmerar. É um dom que já se manifesta no aspirar ao episcopado. É
a vontade e capacidade ao estudo, o ser zeloso e esforçado nisso. Não é só uma
capacidade retórica para captar os ouvintes, mas uma aptidão natural, um gosto
para o ensino. Isto requer formação. Visto, no entanto, tratar-se de ensinar a
palavra de Deus, que consiste em distinguir entre lei e evangelho e aplicá-lo
corretamente, isto é um dom que só o Espírito Santo pode dar. Há a necessidade
de suplicá-lo constantemente a Deus. Pois
o temor do Senhor é o princípio de todo o saber (Pv 1.7). Isto inclui
também a simplicidade no ensino, para que as pessoas mais simples o
compreendam, então os letrados também terão seu proveito. Este dom, o pastor
precisa pedir diariamente a Deus (1 Co 12.31ss.), e ele se desenvolve no
coração cheio de amor ao próximo, às pessoas, quer pequenos quer grandes.
2.9. Não dado ao
vinho - isto é, não dominado pelo vinho, (1 Co 6.10; Gl 5.21; 1 Pe 4.3). A
palavra grega “dado” é alguém que gosta de sentar-se junto ao vinho, tem o
hábito de beber. Um que bebe regular e diariamente e sem o seu copo não se
sente bem. Alguém que de uma e de outra forma é escravo do vinho, da bebida
alcoólica. Mesmo assim, esta passagem não é uma proibição, que requer abstinência
total, mas contra os que adquiriram o hábito de beber regularmente, o que já é
o início do vício. Bebendo além da medida, a pessoa fica eufórica, perde o
pudor na conversa, não consegue controlar seus pensamentos e suas palavras.
Infelizmente é um campo, como mostra a história, no qual muitos pastores
perderam sua honra ministerial e causaram muitos problemas ao rebanho.
2.10. Não violento,
porém cordato, inimigo de contendas – Há pessoas, que por natureza, por seu
caráter, são muito egoístas e, consequentemente, violentas e explosivas. Não
suportam serem contraditadas. Irritam-se facilmente. Gostam de impor suas ideias
e arrasam argumentos contrários com violenta agressividade verbal. São
jactanciosas e arrogantes (2 Tm 3.2). Mesmo que o pastor tenha o direito de
esperar obediência quando ensina a palavra de Deus corretamente, isto não
significa que ele precisa ser obedecido em tudo, por parte dos membros. Ele deve
ser obedecido no correto ensino da palavra de Deus, e mesmo nisso se requer
paciência com os tardos de coração e com os que o contradizem. Quando os
samaritanos não quiseram receber a Jesus, os discípulos disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do
céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse? Vós não
sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir as
almas dos homens, mas para salvá-las (Lc 9.54-56). Porque a ira do homem não
produz a justiça de Deus (Tg 1.20). Quando se trata de coisas materiais, a
opinião do pastor é uma entre muitas. Por vezes, em encontros de pastores,
ouvimos alguém se gabar de suas respostas violentas: - “Mas eu respondi e fiz a
pessoa se calar.” Pode até ter tido razão, mas respostas agressivas, sem amor, fazem
com que as pessoas calem e se retraem da Comunidade.
Por isso o apóstolo
acrescentou: Porém cordato, (Fp 4.5; Tt
3.2; 1 Pe 2.18; Tg 3.17). Cordato é ser cordial, humilde, ponderado, que
busca a paz, mesmo sem ceder em nada da verdade bíblica. Por isso segue: inimigo de contendas. Ele busca a paz. É
apaziguador. Trata as pessoas com amor, buscando reconciliação com os que o
agridem, sendo cordial mesmo com os inimigos ou opositores, procurando ganhar a
pessoa e não espantá-la. Numa comunidade sempre haverá pessoas que por uma ou
outra razão não gostam do pastor, se opõe a ele e mostram sua agressividade,
cabe ao pastor mostrar consideração, amor, reconciliação, como recomenda o
apóstolo: disciplinando com mansidão os
que se opõe, na expectativa de que Deus lhes conceda não só arrependimento,
para conhecerem plenamente verdade, mas também o retorno à sensatez (2 Tm
2.25,26). Jesus recomenda: Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração
(Mt 11.29). Não se deveria ouvir do pastor expressões como: Não vou com
aquela pessoa, não suporto mais, gostaria de vê-la longe, etc. Ao pastor cabe suportar as aflições (2 Tm 4.5). De
Moisés lemos que foi varão mui manso (Nm 12.3). Que Deus em sua graça conceda
esse dom em grande abundância a todos os pastores, como mensageiros da paz.
Aqui se faz
necessário dizer uma palavra sobre a liderança
do pastor. A palavra líder e liderança
são palavras em voga. Há cursos de liderança
ou para a formação de líderes. Mas
Jesus afirmou: Um só é o vosso Guia, Cristo
(Mt 23.10). O pastor é servo da Palavra. É importante que ele se consagre à oração e ao ministério da palavra
(At 6.4). Como este trabalho muitas vezes não aparece ou não se tem muito a
apresentar, pastores se lançam como líderes e querem ter a última palavra em
tudo, mostrando indisposição com os que têm opiniões divergentes. Com isto
espantam a liderança da Comunidade e no final ficam sozinhos. O pastor, como
servo, atua distribuindo responsabilidades e sabe envolver outros no servir. Em
vez de cursos de liderança, a igreja deve oferecer estudos bíblicos e de como
servir melhor, isto requer o negar-se a
si mesmo (Mt 16.24).
2.11. Não avarento
– A avareza, o desejo de ganhar, de ter, de possuir, o estar apegado aos bens
materiais é muito comum também entre pastores. É uma tentação constante e forte.
Lembramos os filhos do profeta Eli (1 Sm 3), como também os filhos do profeta
Samuel (1 Sm 8) e o moço do profeta Eliseu (2 Rs 5), bem como a Ananias e
Safira.(At 5). A avareza se expressa, também pela constante queixa do pastore quanto
ao seu salário. Isto não significa que o pastor precisa ser um pobre na
Comunidade. Boa economia, heranças, presentes e boa administração dos bens,
podem lhe prover certa fortuna, o que não é pecado.
O lidar com o
dinheiro requer ainda outros cuidados. Quando o pastor precisa trazer e
depositar o dinheiro das filiais, cobrar assinatura das revistas, ele precisa
cuidar bem dos recibos para evitar erros e desconfianças.
Todos sabem que o
pastor precisa ser remunerado e até com dobrada honra (1 Tm 5.17), o que se
refere à remuneração, para poder alimentar e vestir sua família. Mas os membros
também devem perceber que o pastor não é avarento, pelo contrário, está
disposto a, com sua família, se sacrificar pela causa de Cristo. Quanto as suas
necessidades financeiras exporá seus problemas a Jesus, seu Salvador, que é o seu
verdadeiro empregador. Ele cuidará disso. Seu espírito de contentamento e
gratidão deve brilhar diante dos membros. Mais cedo ou tarde, Deus o
recompensará. Infelizmente não são poucos os pastores que devido à avareza se
indispõe com suas Comunidades e terminam largando o ministério, pensando que na
vida civil será mais fácil ganhar dinheiro e nisto muitos se enganam.
Trabalhar
simplesmente pelo dinheiro não satisfaz. Como pastores, nós temos um objetivo:
a missão de Cristo. Para isso estamos dispostos a nos sacrificar. Se o dinheiro
passa a ser nossa preocupação principal é importante lembrar a admoestação de
Jesus: Ninguém pode servir a dois
senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro, ou se devotará a
um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas (Mt 6.24).
2.12. Que governe bem
a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina com todo respeito (pois se
alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus)?
O governar bem a
sua casa, inclui boa, modesta e cuidadosa administração dos bens materiais. Não
contraindo dívidas que depois não possa pagar, passando por caloteiro. O que o
desqualifica do ministério.[17]
Aqui, no entanto, o apóstolo se refere e destaca especialmente a educação do
lar, centralizado na palavra de Deus para o fortalecimento da fé, para que
resplandeçam os frutos da fé. Com respeito à casa pastoral não deve valer o
ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau.” Ou o antigo ditado alemão: „Pastors Kinder und Müllers Küh, geraten selten
oder nie.“ (Filhos de pastores e vacas do moleiro, raramente resultam
bem). Ele deve saber dirigir bem a sua própria casa. Ele deve saber conduzir o lar
não só nos dias de sol, mas também nos dias de tempestade e chuva. Também o
casal ministerial terá momentos de desentendimentos, até de brigas, mas a fé
vence neles sempre de novo e saberão se perdoar e suportar. O marido crescerá
no amor a sua esposa, como também Cristo amou a igreja; e a esposa crescerá na
submissão, como ao Senhor (Ef 5.22-32). Ele saberá transmitir a palavra de Deus
e viver conforme a sabedoria e dignidade de Deus. Pela administração de sua
casa, que é visível, os membros poderão reconhecer se ele realmente é digno de
ocupar o cargo de ministro, de pastor, de bispo. Se ele como esposo e pai,
chefe de família dedicado ao ministério, não sabe se comportar com dignidade e
suas palavras e atitudes na família forem contrários à palavra de Deus e vida
cristã, ele desonra a Deus e não é digno de ocupar o cargo de bispo. Na forma
de dirigir seu lar, de acordo com a vontade de Deus, ele deve comprovar sua
aptidão para o ministério. Esta capacidade não se mostra em nenhum outro lugar
melhor do que no lar, no convívio com a esposa e na educação dos filhos no
temor do Senhor. Isto requer apego e correta aplicação da palavra de Deus a si mesmo
e a toda a família para repreensão, consolo e orientação. Deve demonstrar e
comprovar assim sua responsabilidade e autoridade que Deus lhe deu na família.
O apóstolo não
toca aqui na possibilidade de, apesar de todo o esmero de pais na educação
cristã dos filhos, alguém dos filhos rejeitar o ensino e a fé cristã, voltando-se
para o mundo ou outra crença, desviando-se da verdade e vindo a se perder.
Também neste caso deve ser visível a ação do pai em relação ao filho, no
sentido de que todos notem que o pai reprova abertamente a atitude do filho que
se desvia. O apóstolo deixa claro: Se
alguém não governar bem a sua casa, como cuidará da igreja de Deus? Se por
exemplo, um pastor procede como o sacerdote Eli, que viu seus filhos errarem e
até os repreendeu, mas com palavras mui brandas, sem afastá-los de suas funções
no templo. Isso desagradou a Deus, que os castigou (1 Sm 2.22-26,29-34).
Infelizmente, no fim da vida de Samuel, também seus filhos não seguirem restritamente
o caminho do pai, mas todos notaram que Samuel cumpriu com sua responsabilidade,
repreendendo seus filhos com palavras duras (1 Sm 8.1-5). Se na família, o
pastor não consegue fazer valer sua autoridade, onde por natureza todos lhe são
subordinados, que dirá na Comunidade, onde ele é embaixador de Deus. Ele deve
presidir (1 Tm 5.17) e os membros devem acatar à palavra de Deus que ele anuncia (Hb 13.17), mesmo assim ele não
deve ser dominador (1 Pe 5.3). Assim como a esposa é submissa ao marido, não de
forma absoluta, mas com bom senso, assim a Comunidade obedece a seus pastores,
quando expõe corretamente a palavra de Deus. Mas o pastor não deve dominar
sobre a Comunidade e pensar que, por ser ministro de Deus, a Comunidade lhe
deve obediência em tudo, querendo ter sempre a última palavra na diretoria e na
assembléia da Comunidade. E assim exercer um domínio sobre a Comunidade. Seu
ofício é o de cura d´almas. No servir ele procura seguir os passos de Jesus.
Muitos pastores são infelizmente dominadores. Eles impõem sua vontade e tiram
do caminho quem não concordar com eles. Isto é lamentável e não edifica a Comunidade.
2.13. Não neófito
– Um recém convertido. A palavra grega denota plantas novas. Assim membros
novos, com vida espiritual nova, (Mt 15.13; 1 Co 3.6-8). Neste contexto trata-se
de “um recém convertido”, que há pouco tempo foi recebido na Comunidade. Ele
ainda não tem maior conhecimento da palavra de Deus, nem experiência na vida
cristã. E o perigo está em que esta pessoa, ao receber tão cedo a honra de ser
pastor e a responsabilidade de apascentar uma Comunidade, possa ser presa fácil
de Satanás. Isso pode lhe subir à cabeça, torná-lo orgulhoso e vaidoso, e assim
“incorrerá na condenação do diabo.” A expressão é interpretada de várias
formas. A mais correta talvez seja: O pecado, dos anjos que caíram, foi elevarem-se
sobre Deus, por isso foram condenados e expulsos do céu. Se o ofício do
ministro for entregue a um neófito, ele corre o perigo de ser tentado ao
orgulho e cair sob a condenação que Satanás recebeu. Vindo o neófito a cair da
fé e ser condenado, (Mt 4.9; Tg 4.4). Para ser pastor, a pessoa precisa ter
conhecimento da Palavra, ser experimentado na vida cristã, ser provado (2 Tm 2.5).
A aplicação para
hoje é, ordenar como ministro uma pessoa imatura, inexperiente que ainda não
comprovou sua aptidão é desaconselhável. Não é sem razão que algumas Igrejas[18]
requerem do pastor formado, que seja pelo menos um ou dois anos pastor
auxiliar, para então prestar seu último exame, após o que será considerado apto
para assumir sozinho uma Comunidade[19].
2.14. Que tenham bom
testemunho dos de fora (1 Tm 3.7).
Nos versículos 2
a 6, o apóstolo falou das qualificações internas dos candidatos que querem
exercer ou exercem o santo ministério. Agora acrescenta mais um item, e este
é positivo. Eles precisam ter o “bom testemunho
dos de fora”. Com isto o apóstolo
encerra sua descrição sobre as qualificações não só requeridas, mas necessárias
para que uma pessoa possa ser chamada e exercer o ofício de ser supervisor
(bispo, pastor) e pastorear o rebanho de Deus.
O que é o bom testemunho
dos de fora? O apóstolo menciona isto também em sua carta aos tessalonicenses: De modo que vos porteis com dignidade para
com os de fora (1 Ts 4.12), não dando aos de fora nenhum motivo para
falatórios desprezíveis contra a fé e ética cristã.
Os de fora, o testemunho da sociedade em
geral, quer sejam gentios (incrédulos) ou pessoas de outras igrejas cristãs, ou
outras religiões. Como? Desde quando incrédulos e heterodoxos são nossos
juízes? Sim, eles têm o senso da lei natural inscrita em seus corações e podem
julgar. Mesmo vivendo nós hoje, no Ocidente, numa cultura em degeneração, chamada
de pós-cristã, na qual brota o velho inço pagão: divórcios, abortos
legalizados, eutanásia, crimes e muita corrupção, etc. permanece nas pessoas a
lei natural implantada nos corações. Conforme esta lei, as pessoas sabem que
mentir, roubar, adulterar, ser ganancioso, viciado em álcool e/ou drogas, ser infiel
em seus compromissos e juramentos, divorciar, etc., que tudo isso é pecado.
Aqui entram, especialmente, os pecados contra o quinto, sexto e sétimo mandamento,
cuja transgressão torna as pessoas infames também no mundo. O mundo julga tais
pessoas como pessoas sem caráter. O apóstolo Paulo afirma que por conhecerem
esta lei e julgarem os outros, eles próprios são indesculpáveis (Rm 1.20). O testemunho dos de fora adquiriu em nossa
era das comunicações enfoque especial. Jornalistas vasculham a vida dos
políticos, dos homens de liderança e dos líderes de igrejas para descobrirem
escândalos, tornando-os públicos, espalhando-os aos quatro vento. Logo, o bom testemunho dos de fora é referente
ao bom testemunho do seu caráter, conforme a lei moral. Não simplesmente o
testemunho quanto à ética e moral cristã, mas sobre tudo, da fé cristã e do poder
desta fé que atua pelo amor a Deus e ao próximo. Firmeza de convicções cristãs
e de seu amor ao Salvador. Este testemunho despertou em todos os tempos e
desperta ainda hoje, o interesse pela religião cristã. Pois o grande poder que
atua pela fé, é o poder do amor que é visível.
Isto não
significa que o pastor deve agradar a todos em detrimento da verdade. Ele deve
ser reconhecido como uma pessoa de bons princípios, firme em suas convicções
religiosas, respeitador das leis e que tem amor ao próximo. Mas se ele for
conhecido como alguém que transgride a lei inscrita no coração, à qual o
apóstolo se refere em Rm 1.18-27, se ele for conhecido na sociedade como
mentiroso, desonesto, viciado, mulherengo, não poderá exercer o ministério, nem
ser tolerado no mesmo.
Lutero louva, com
muita razão, o fato de Deus ter escolhido pessoas como instrumentos abençoados
e pregadores do Evangelho que andarem diante do mundo de forma irrepreensível,
mesmo que em sua juventude, antes de sua conversão, viviam sem Deus ou em religiões
erradas, chegando ao conhecimento da verdade e sendo convertidas só mais tarde.
Deus fez isto assim, escreve Lutero, escolhendo pobres pecadores como a Paulo e
a nós, para prevenir contra o orgulho e a jactância[20]. Esta
palavra de Lutero deve ser bem entendida. Deus não chamou adúlteros e bandidos
para o ministério. Paulo prendeu e matou cristãos, pensando estar prestando
culto a Deus. Uma exceção temos em St. Agostinho, que na juventude levou vida
devassa, mas após sua conversão, tornou-se monge.
Por isso, alguns
exegetas interpretam o bom testemunho dos
de fora como referindo-se também a vida antes da conversão; outros o
interpretam de forma mais evangélica, afirmando que o bom testemunho dos de fora refere-se a vida após a conversão, na
qual, por abandonarem todos os vícios e pecados (1 Co 6.9-11), mostram a força e
o poder do evangelho em suas vidas, confirmando o que o apóstolo afirma: E assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas (1 Co 5.17).
Preferimos a primeira interpretação, seguindo Lutero.
O versículo tem ainda uma clausula negativa,
que tem causado certa dificuldade aos exegetas. A fim de não cair no opróbrio (fique desmoralizado) e no laço do diabo.
Isto não pertence mais aos requisitos, ao “é necessário”, mas é uma séria
advertência, uma conclusão, com respeito ao
bom testemunho dos de fora.
Cair no laço do diabo. A figura se
interpreta a si mesma. Confira: Rm 11.9; Sl 69.22: 2 Tm 2.26; Pv 7.23. Esta
última passagem, a figura da rede na qual cai o passarinho, é muito usada. Vejamos.
O apóstolo citou 16 virtudes, carismas necessários para alguém poder ocupar o
cargo de pastor numa comunidade e termina com a recomendação de que tenham o bom testemunho dos de fora.
Se uma pessoa não tiver o bom testemunho dos de fora, isto poderá
vir a tornar-se um laço do diabo. Em
que sentido? O diabo tenta e arma ciladas aos cristãos em todos os momentos,
especialmente aos pastores e líderes na igreja. Alguns exegetas são de opinião
que o apóstolo Paulo se refere a pessoas que, antes da conversão levavam uma
vida devassa. O diabo poderá aproveitar isso para difamá-los, causando-lhes conflitos
de consciência. Um outro caso seria de uma pessoa que, mesmo tendo sido membro
da congregação por vários anos, carece de um bom testemunho dos de fora. Ou de
alguém que após sua conversão, ou mesmo já no ministério, tenha caído em
pecados graves que se tornaram públicos, arruinando assim o bom testemunho dos de fora.
Em que sentido
isso poderá vir a tornar-se um laço do
diabo? Se uma pessoa que ocupa um cargo tão elevado como o de pastor e bispo
numa congregação cristã, for difamada, por erros contra a ética, tais como:
bebedeiras, infidelidade conjugal, desonestidade, vícios, quer praticados antes
de sua conversão ou no ministério, ela poderá cair sob o poder de Satanás, isto
é, pessoas poderão acusá-lo dos erros do passado ou do presente. Satanás
procurará levar tal pessoa ao desespero e a duvidar da graça de Deus. Ela
poderá cair da fé. Isto vale também para pessoas que já estão no ministério e
devido a seus pecados perderam o bom testemunho dos de fora, caindo no laço do diabo, isto é, serem
desmoralizadas, desesperarem, vindo perder a fé, sendo condenadas. Vemos isto
em Saul e Judas.
2.15. Resumindo.
Todo o cristão deve lutar com todas suas forças por vida santificada (1 Ts 4.3;
Rm 12.1ss.; 1 Pe 1.2; 13-17; 2.11ss.; Rm 6.19-20), mas do pastor se requer como
qualificação para o ministério “sine qua non,” um grau maior de santificação. Ele
deve ser exemplo para o rebanho. A Escritura afirma: Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem
efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. (1 Co 6.9,10), se
permanecerem nestes pecados. Como alguém, com tais manchas, poderia estar no
ministério? O Dr. Augusto H. Cremer (1834-1903) extraiu da Ética Pastoral de Johann
A. Quenstedt (1617-1685) as seguintes recomendações para pastores[21]:
1. O pregador deve ter vida
cristã comprovada e adornada com dons.
2. Exercitar-se na piedade, temor
e amor a Deus.
3. Empenhar-se por justiça.
4. Viver de forma sóbria.
5. Ter vida casta e honesta.
6. Manter distância da avareza.
7. Ser benfeitor e caridoso para com
os pobres.
8. Fugir do orgulho, da vaidade,
dos elogios e ser humilde.
9. Cultivar bons costumes e
modos.
10. Não se irritar facilmente.
11. Evitar intrigas, bem como
confrontos com colegas.
12. Ser benigno e bondoso para com
todos.
13. Suportar de bom grado as injustiças.
14. Ser bom exemplo para os de
sua casa e saber educar seus filhos no temor do
Senhor.
15. Ser honesto e de coração
aberto.
16. Saber agir sabiamente em seu
ofício e ser moderado em seus afetos.
17. Lembrar a nobreza de seu ofício
e manter a honra.
18. Ser criterioso no desfrutar
as diversões que o mundo oferece.
19. Não se meter na política nem
em negócios que não são a sua área.
20. Ter a capacidade de ensinar.
21. Ser hábil orador e fugir de
fofocas.
22. Não se estribar em sua
capacidade, raciocínio e arte, mas buscar a orientação
do Espírito Santo.
23. Ser fiel no seu ministério.
24. Ser vigilante quanto à
doutrina e praxe.
25. Não ser ditador sobre as
almas.
26. Amar seus ouvintes como um
pai e irmão.
Lembremos,
porém, que admoestações não têm sua força na lei. A lei exige, ameaça e condena.
Admoestações têm sua força no evangelho, são lei como norma, na qual os filhos
de Deus têm prazer e seguem com alegria.
2.16. A difícil
tarefa de disciplinar pastores. Precisamos dizer ainda uma palavra sobre
disciplinar pastores. É uma tarefa difícil que exige muito cuidado e requer paciência
na averiguação.
a) Desconfiança, calúnias e falatórios[22]. Homens públicos - o pastor e sua
família pertencem a esse grupo - estão sujeitos a calúnias. Isso faz parte de
uma das principais armas de Satanás para tentar impedir o progresso do Evangelho.
Por isso pastores precisam ter o máximo de cuidado para não darem motivo para
tanto. O velho adágio tem muito a dizer: “Não se abaixe numa macieira em terra
alheia,” para não dar a impressão de que esteja colhendo maçãs.
Por outro, a
diretoria da Comunidade e o Conselheiro Distrital (Diretoria Distrital) devem
ter todo o cuidado para não acolherem acusações levianas contra pastores. Diz o
apóstolo: “Não aceites denúncia contra
presbíteros, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas”
(1 Tm 5.19).
Por vezes uma Comunidade está
insatisfeita com o seu pastor, não tanto por causa de erros ou problemas, mas
porque querem um pastor mais liberal. Eles não concordam com a forma, fiel,
bíblica e confessional com a qual o pastor exerce seu ministério. Há membros
que se sentem atingidos pelas pregações e por isso se distanciam ou até
procuram outras congregações. A diretoria se queixa ao distrito e pede que o
pastor seja removido. Alegam que a Comunidade não está crescendo, mas diminuindo.
Nesse caso o pastor precisa do apoio da diretoria distrital. Pode até ser que
haja, por parte do pastor, certo desânimo e pessimismo. Ele precisa ser
reanimado para que encare o trabalho com novo ânimo e entusiasmo.
Se o pastor, no
entanto, deu motivos para falatórios e desconfianças, especialmente no que se
refere ao seu comportamento moral, a ponto de o diálogo entre pastor e diretoria
ser difícil, surgindo partidos na Comunidade, o Conselheiro Distrital deve ser
convidado para averiguar o caso. Muitas vezes o Conselheiro, examinando a
situação, não encontra reais motivos para incriminar o pastor, mas o
relacionamento entre pastor e Comunidade (Diretorias) está abalado. O que
fazer? Eis algumas sugestões:
a) O pastor se licenciará[23]
por no máximo três meses, nos quais a Comunidade continuará pagando-lhe o
salário. Nestes três meses, o assunto deverá ser examinado para se chegar a uma
conclusão, e ver se o pastor é inocente ou culpado. Sendo culpado, deverá depor
seu ministério na Comunidade. Após regularizar a situação, isto é, reconhecer o
erro, pedir perdão e ser perdoado, conforme o caso, ele poderá colocar seu nome
à disposição para novo chamado. No caso de ser inocentado, mas sendo difícil
reconquistar a confiança, é importante que sua inocência seja declarada e
publicada, e o Conselheiro, com a concordância do pastor, o recomendará ao
Presidente da Igreja para outro chamado.
b) Não havendo clareza, mas o bom nome do pastor e de sua
família foi abalado, recomenda-se o pastor para outro chamado.
2.17. Quem é apto
para tanto? Ao analisarmos as qualificações requeridas, surge a pergunta:
Mas quem é apto para tanto? Sem dúvida ninguém. Por isso não estranhamos que,
quando Deus chamou profetas como Moisés, (Ex 3 e 4) Jeremias (Jr 1) e outros,
eles se julgaram incapazes e pediram para que Deus escolhesse outro. Mas Deus
prometeu estar com eles.
Por essa razão,
como pastores confessamos e oramos diariamente:
Ó Senhor Jesus Cristo, Pastor e
único Cabeça de tua igreja, assiste-me a ministrar a este rebanho, ao qual tu
me chamaste como pastor. Sei que sou homem de lábios impuros e indigno de
proclamar a tua palavra. Suplico-te envies sobre mim o teu Santo Espírito, a
fim de purificar os meus lábios, para que tenha ousadia para pregar a tua Palavra
em sua plenitude, quer seja oportuno, quer não, pronto a ofertar a ti as
orações e as súplicas de teu povo, e seja disposto para servir como ministro e
fiel despenseiro dos meios da graça[24].
Na mesma Agenda, página 44: Oração
Diária do Pastor:
Onipotente Deus, misericordioso
Pai, eu, pobre pecador, te confesso todos os meus pecados e iniqüidades que
tenho cometido. Em especial, reconheço minha negligência na oração, o
menosprezo da Palavra e a procura por dias aprazíveis. Deploro de todo o
coração estas minhas culpas e arrependo-me sinceramente. Suplico-te, mediante a
tua profunda misericórdia e a santa, inocente e amarga paixão e morte de teu
bem amado Filho Jesus Cristo, que me perdoes todos os pecados e sejas gracioso
e misericordioso para comigo. Purifica-me pelo teu Espírito, através do sangue
de Jesus Cristo, e concede sempre mais força e disposição no empenho pela
santidade, pois me chamaste para andar na tua presença em santidade e amor
(p.44).
Temos nossa
natureza carnal. Somos por natureza indignos deste ministério. Deus, porém, que
nos chamou, prometeu nos amparar. Assim sabemos que nossa suficiência vem de
Deus. A ele clamamos diariamente por misericórdia, para que nos fortaleça,
ampare e guie por seu Espírito.
III - O santo matrimônio à luz da
Palavra de Deus. [25]
Os problemas na
convivência matrimonial se acentuam de ano a ano. A taxa de divórcios aumenta.
Metade dos clérigos evangélicos nos Estados Unidos da América estão divorciados
uma ou mais vezes. Por isso, quando casais evangélicos se defrontam com
problemas em sua união matrimonial, não recorrem mais a seus pastores, mas a
psicólogos, conselheiros matrimoniais, sociólogos, etc.
A interpretação
dos textos bíblicos difere de pastor para pastor, de igreja para igreja. O
número de livros sobre o assunto é enorme. A confusão é grande. Qual é a
posição da Igreja Evangélica Luterana diante do tema: Matrimônio e seus
problemas? Vejamos as principais afirmações e normas bíblicas a respeito do
matrimônio cristão.
1. O matrimônio não é
uma evolução social ou uma herança de um passado, no qual imperava um
machismo brutal. Não. O matrimônio é uma instituição divina (Gn 2.18-24). O sexo
é um dom de Deus: Homem e mulher os criou
(Gn 1.27). O casamento e a vida familiar são santos, por isso falamos no Santo
Estado Matrimonial. Mesmo que, após a queda do homem em pecado (Gn 3). este
estado foi e é poluído pela perversão humana, ele deve ser honrado por todas as
pessoas como uma bênção dada por Deus. Por isso o matrimônio é honrado também
entre os gentios.
2. O matrimônio é um
estado abençoado por Deus e traz múltiplos benefícios, tanto para o casal
como para uma nação em geral. Por isso, a fidelidade matrimonial é um dos
principais requisitos para a verdadeira felicidade, que contribui para o
progresso do indivíduo e o bem-estar da nação. A força da nação está na
estabilidade de suas famílias. - Infelizmente, este estado matrimonial, foi
agredido pela resolução do deputados, permitindo o chamado matrimônio hetero
sexual, e anda pior, possibilitando que tais tipo de casais possam adotar
crianças.
- Dois corações que batem como um só…”. Segundo o
dicionário casamento significa:
união solene entre duas pessoas.
... Casamento vai
muito mais além que uma união… Casamento é começar a vida, é
dividir sonhos, é enfrentar tudo
e todos, é estar junto na fraqueza e na força, é estar
unidos pelo casamento.
- O que é o Casamento:
Mas, já no âmbito religioso, o casamento é
um
ato exclusivamente destinado aos casais
heterossexuais (um homem e
uma mulher), sendo esta condição descrita
na bíblia sagrada cristã. Para
o cristianismo, o casamento é
interpretado como a união de um homem
e uma mulher sob a presença de Deus.19 de fev. de 2017
- Casamento é a união voluntária entre duas pessoas
que desejam constituir uma
família,
formando um vínculo conjugal que está baseado nas condições dispostas pelo
direito
civil. O chamado "casamento civil" é o ato de união de duas pessoas
sob o Direito
Civil.
Neste caso, em alguns países, como o Brasil, por exemplo, a união civil pode
ser
constituída por pessoas de ambos os sexos.
3. O matrimônio, o
estar casado é, em última análise, o estado normal para o ser humano.
Exaltar o celibato, a abstenção do matrimônio, o tornar-se monge ou freira,
como um estado mais santo e agradável a Deus do que o matrimônio, é aberração e
contra a Palavra de Deus.
4. O matrimônio cristão
é monógamo, isto é, a união de um homem e uma mulher, como esponsais legítimos,
para uma só carne. A saber, o homem e a mulher renegam todas outras possibilidades
e se apegam um ao outro para uma união vitalícia. Uniões de ambos os sexos são
aberrações e condenadas por Deus (Rm 1.18-27).
5. O matrimônio
cristão é estabelecido por um consenso mútuo, não constrangido. Filhos não
devem ser forçados contra sua vontade ao matrimônio. Mesmo assim, os jovens, no
respeito que devem a seus pais, os consultarão e respeitarão seus conselhos.
6. A união
matrimonial é vitalícia. Quebrar a união matrimonial, exceto em caso de
morte de um dos cônjuges, sempre envolve transgressão da vontade divina, que
afirmou: O que Deus ajuntou não o separe
o homem (Mt 19.6). O divórcio só é permitido no caso de infidelidade
matrimonial (Mt 19.9).
7. Na escolha de um
companheiro ou companheira para a vida, o fator decisivo não deveria ser
riqueza, atração física, inteligência, posição social, mas devoção comum ao
único Senhor e Salvador, harmonia e unidade de fé. Por outro, com exceção dos
graus de parentesco, com os quais o cristão não deve casar, não há restrições
na escolha do futuro esposo ou da esposa. A compatibilidade de idade e cultura
é, normalmente, essencial para mútua compreensão e cooperação.
8. No lar cristão, o
marido é o cabeça representativa diante de Deus e dos homens (Ef 5.22-33);
a mulher é companheira e auxiliar. Sua principal esfera de atividade é o lar.
9. Um propósito
importante no matrimônio cristão é a procriação de filhos. Onde este
primeiro mandamento: Sede fecundos e
multiplicai-vos (Gn 1.28) é desconsiderado e, sem maiores razões, filhos
não são desejados, ali a bênção plena sobre o matrimônio é sacrificada e a
maior felicidade não é concretizada.
10. O matrimônio
cristão tem como fundamento a Palavra de Deus, a Bíblia. Por esta palavra o
Espírito Santo consola e firma a fé na graça de Cristo. Desta fé brota o amor
de um para com o outro. Pela palavra, o Espírito Santo concede verdadeira
sabedoria de vida. Por isso o altar
familiar é cultivado no lar cristão.
11. No matrimônio cristão
o verdadeiro amor é cultivado como uma planta preciosa (Ef 5.25). Isto significa,
em primeiro lugar, o aceitar a outra pessoa, como ela é e amá-la. Todas as
tentações como frígida indiferença, amor às coisas do mundo e as tentações de
fora são duramente combatidas, pois ofendem a Deus.
12. Jovens cristãos
se preparam para esta bênção, pedindo a ajuda de Deus, a fim de levarem uma
vida descente e pura, fugindo das tentações do mundo. O jovem cristão procura
seu futuro cônjuge sob oração e no aconselhamento com seus pais. Tendo-a
encontrado, firma o compromisso pelo noivado e se prepara para o casamento.
Oportunidade em que sela publicamente seu compromisso (Casamento Civil) e busca
a bênção de Deus em sua Comunidade. (Cerimônia religiosa).
Estas normas
bíblicas são fundamentais na busca de um matrimônio feliz e abençoado. Jovens cristãos
se comprometem com cada um desses princípios.
No mundo, estes
princípios são ridicularizados, ou minimizados e desprezados. Desviar-se deles,
sem dúvida trará prejuízo para o matrimônio. Estas normas bíblicas têm
mostrado, ao longo da história da humanidade, sua força e seu poder, tanto nos
momentos felizes, como nos momentos difíceis da vida matrimonial.
Esta é a
contribuição construtiva que a cristandade pode dar para a felicidade
matrimonial e contra as influências contraditórias. Elas foram escritas a
partir da convicção de que a montanha de materiais quer livros, vídeos, etc. de
nossos dias não podem oferecer soluções efetivas; estas só são encontradas nos
ensinamentos de Cristo.
Por isso não
podemos dar outro conselho a nossos jovens do que este: Saibam que “o santo
matrimônio é a união vitalícia, instituída por Deus e contraída mediante
esponsais legítimos, entre um homem e uma mulher para uma só carne.” Quando
jovens considerarem o matrimônio um estado santo, e o vivem à luz da palavra de
Deus, fugindo das tentações e aberrações do mundo, suplicando que o Espírito
Santo os guie em toda a compreensão e amor no matrimônio, experimentarão sua
bênção e felicidade, e saberão amar-se com fidelidade em dias bons e maus.
IV – Matrimônio, crises e divórcio nas
famílias pastorais
O matrimônio e a família são preciosas
instituições divinas, uma herança dos céus. Mesmo crescendo os problemas nessa
área, não podemos agradecer o bastante a Deus, por preservar o matrimônio e a
família no mundo. Pois também incrédulos, conforme a lei inscrita nos seus
corações, conhecem seus deveres matrimoniais e familiares, para viverem vida
fiel e feliz. Ao mesmo tempo é preciso dizer que a vida matrimonial e familiar é
o lugar no qual se desenrola a grande tensão e luta da fé cristã. Pois ali há
uma comunhão não de dois santos, mas de dois pecadores[26]
que, pela fé em Cristo, lutam contra sua natureza carnal e se ajudam mutuamente
repreendendo, consolando, amparando como o recomenda o apóstolo Paulo: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus,
santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos
mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o
Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja
o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos
corações, à qual, também, fostes chamados em um só corpo: e sede agradecidos.
De onde, no entanto, nos virá a força para tanto? O apóstolo continua e mostra
a fonte: Habite ricamente em vós a
palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhei-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos
corações. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome
do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai (Cl 3.12-17).
Sustentar o amor
na vida matrimonial e manter bom relacionamento na família, especialmente em
nossos dias com tantas tentações e o desmoronamento de todos os bons costumes,
sendo o lar invadido pelos meios de comunicação: jornais, revistas, televisão,
internet, não é fácil. Mas ali onde a família se firma na Palavra de Deus, educando-se
mutuamente mediante boa disciplina externa, vencerão pela graça de Deus. Por
isso o apóstolo admoesta: “Andai no
Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl 5.16). “Portanto,
tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau” (Ef 6.13).
Nos últimos
tempos, no entanto, os problemas nesta área estão se multiplicando. O número de
divórcio nas famílias cristãs, por incrível que pareça, é maior do que entre os
gentios. E o que é mais triste, cresce o número de divórcios nas famílias pastorais.
A luta é grande. É preciso que nos apoiemos uns aos outros nessa luta.
A família pastoral
enfrenta, além disso, problemas bem específicos. O pastor é homem público. Isto
requer cuidadosa administração do seu tempo entre trabalho e família, para que
a família não fique em segundo plano. Há também senhoras que se apegam ao
pastor e o elogiam, o que pode provocar ciúmes na esposa. Isto requer cuidado
de ambos. Devido aos parcos recursos, querendo dar boa educação aos filhos, a
esposa muitas vezes trabalha fora, o que aumenta o problema. A esposa do
pastor, preferencialmente, não deveria trabalhar fora, o que nas atuais
situações financeiras não é fácil.
Entre todas as
agremiações que zelam pela família, a Igreja Cristã deve ser, sem dúvida, a que
mais se empenha pela preservação do matrimônio e da família. E isto não só por
seus ensinos, mas também por seu exemplo. E os pastores devem ser exemplo e
modelo irrepreensível.
4.1. O matrimônio é
uma união vitalícia. O matrimônio, instituído por Deus, é uma união
vitalícia. Esta união é firmada pelo consentimento dos pais e por parte dos
noivos com juramento mútuo de fidelidade em dias bons e maus. Esta união está
sob a proteção de Deus. Jesus sublinha: O
que Deus ajuntou não o separe o homem (Mt 19.6). O escritor da carta aos Hebreus
escreve: Digno de honra entre todos seja
o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e
adúlteros (Hb 13.4). O profeta Malaquias, após uma severa advertência
contra a infidelidade conjugal, termina dizendo: Porque o Senhor Deus de Israel diz que odeia o repúdio (divórcio) (Ml
2.10-16). A instituição do matrimônio não prevê a separação de cônjuges. O
matrimônio só é dissolvido pela morte de um dos cônjuges. Esta indissolubilidade
não é garantida pela lei, mas deve ser entendida a partir do evangelho, do
espírito renovador de Cristo, que oferece as condições básicas para tanto, pois
da fé brota o verdadeiro amor. A exceção
mencionada por Jesus em Mateus, o adultério (5.32; 19.9), é um problema a
parte. Neste caso, um dos dois, que se uniu com outro corpo (1 Co 6.16),
quebrou a união. O abandono malicioso, o não cumprimento dos deveres matrimoniais
de cama e mesa, é, na verdade, somente o outro lado da moeda do adultério. Hoje,
no entanto, quer-se usar este argumento como um segundo motivo, enquadrando
aqui a chamada incompatibilidade de
gênios. Sob este pretexto, qualquer desentendimento serve de motivo para a
separação. Afirma-se: é melhor separar numa boa do que viver brigando. Quando
os fariseus perguntaram a Jesus: Por que mandou
então Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Jesus respondeu: Por causa da dureza do vosso coração (Mt
19.7,8). Que dureza é essa e contra quem? Dureza contra Deus e sua Palavra.
A pessoa deixa de dar ouvidos a Deus, endurece seu coração contra Deus, que orienta
a vida matrimonial. Ora, endurecer o coração contra Deus é cair da fé. Assim
fica claro que para cristãos não existe a possibilidade do divórcio. Em nome de
Deus, o apóstolo Paulo recomenda aos cristãos, e isto vale especialmente também
para o matrimônio: Revesti-vos, pois,
como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de
bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos
outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra
outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de
tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição (Cl 3.12-14).
Vamos examinar as
passagens bíblicas relacionadas ao divórcio..
4.2. Exposição exegética
de Mt 19.7,8 e 1Co 7.10-15.
- Mt 19.7,8. Moisés era legislador do
povo de Israel. Mas nem todos no povo eram tementes a Deus. Entre eles havia
hipócritas e incrédulos, mesmo sendo as leis rigorosas com punição até por
apedrejamento, isto é, pena de morte a infratores da lei (Lv 20.10), muitos
entre o povo não deram ouvidos à lei de Deus. A fim de pôr certa ordem neste
assunto, Moisés criou, como estadista, a carta de divórcio[27]
(Dt 24.1-4). O homem, que despedia sua esposa por qualquer motivo, tinha que dar
à esposa repudiada uma carta de divórcio. Esta lei governamental, em tempos de
decadência, foi interpretada da forma mais liberal possível. Um homem tinha o
direito de mandar sua esposa embora por qualquer motivo. Jesus expõe isto a
seus ouvintes e diz que não era assim desde o princípio. Quando Deus instituiu
o matrimônio, ele não criou uma opção ou um espaço para o divórcio. Por isso
Jesus sublinha: Portanto, o que Deus
ajuntou não o separe o homem. Em outras palavras, não existe razão para que
filhos de Deus, um casal temente a Deus, possa vir a se separar. O divórcio não
é o caminho para se resolver problemas matrimoniais. Se o matrimônio de uma família
cristã entrar em crise, o amor e o relacionamento mútuo esfriarem, o problema
está na fé cristã, que está morrendo. Os dois estão deixando de ouvir a Deus.
Tal casal precisa voltar a ouvir a Deus e suplicar à Deus por ajuda. Deixar
guiar-se por Deus ao arrependimento e à fé, da qual brotará o amor de um para com
o outro, para a restauração e renovação de sua vida matrimonial.
Por isso Jesus
afirma: Por causa da dureza do vosso
coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres. Esta dureza do
coração não é outra coisa do que incredulidade. Um dos dois ou os dois caíram
da fé.[28]
Portanto, não existe “um divórcio numa boa.” Divórcio não é um pecado de
fraqueza, no qual a fé continua a existir. Isto está expresso também nas
palavras de Jesus no sermão do monte: Também
foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém,
vos digo. Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de adultério, a
expõe a tornar-se adúltera, e aquele que casar com a repudiada comete adultério
(Mt 5.31,32). Ora, nenhum adúltero herdará o reino dos céus (1 Co 6.9). Jesus não admite o divórcio para filhos
de Deus, exceto em caso de sofrerem o divórcio, quando um dos cônjuges quebra a
união pelo adultério. Ora, adultério não é um pecado de fraqueza. É um pecado
proposital, que no Antigo Testamento deveria ser castigado por apedrejamento
(Dt 22.20-26). Não temos, no entanto, nenhum exemplo de que esta lei tenha sido
executada. O apóstolo Paulo reflete o mesmo espírito ao escrever: Não sabeis que os vossos corpos são membros
de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de
meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à
prostituta, forma um só corpo com ela? Porque, como se diz: serão os dois uma
só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza!
(1 Co 6.15-18). Pois, nenhum adultero
herdará o reino dos céus (1 Co 6.9). Isto é se ele não se arrepender
verdadeiramente.
Jesus ainda vai
mais longe. Ele levanta a pergunta sobre um novo casamento do desquitado (pressuposto
que são dois cristãos que não têm o direito de se separarem) e responde: Não!
Pois, quem casar com a repudiada, comete adultério. Ele passa a viver com
alguém, com quem ele não tem o direito de conviver. Pois a separação indevida
deve ser tratada pastoralmente para ser curada. Tal separação é, portanto, uma
separação temporária, na qual ainda se visa a reconciliação, e quem casar nesta
situação com a repudiada, comete adultério.
- 1 Co 7.10-15. Para
completar o quadro, precisamos analisar ainda o que o apóstolo Paulo escreve aos
coríntios em 1 Co 7.10-15. O apóstolo faz duas admoestações. Na primeira
admoestação (1 Co 7.10,11), ele fala a um casal, no qual marido e mulher são
cristãos; na segunda admoestação (1 Co 7.12-15), ele fala um casal misto, no
qual um é cristão o outro não. Vejamos.
Ora aos casados, ordeno, não eu mas o Senhor,
que a mulher não se separe do marido se,
porém, ela vier a separar-se, que não se casa, ou que se reconcilie com seu
marido; e que o marido não se aparte de sua mulher (1 Co 7.10,11). Temos
aqui duas ordens: não se separe, não se
aparte. Esta é a vontade e ordem de Deus baseada na instituição do
matrimônio: o que Deus ajuntou não o
separe o homem. Uma ordem que vale para todos os tempos. Portanto, para
cristãos, enquanto na fé, não existe a possibilidade do divórcio. Se um deles
vier a separar ou apartar-se, por motivos não justificados, (exceto em caso de adultério),
não se case. Este não se case tem um objetivo, dar um tempo para acalmar os
ânimos, para voltarem a pensar corretamente, para que a fé possa voltar a
triunfar neles e eles voltem a se reconciliar. Pois a separação é contrária à
vontade de Deus, é a quebra do juramento. Se a mulher que se separou ou o
marido que se apartou casar, comete adultério, pois ele ou ela não tem ainda o direito
a um novo casamento. E quem casar com um deles, também comete adultério, pois
está casando com alguém que está comprometido.
Isto dá o que
pensar a nós pastores em nossos dias, nos quais somos simplesmente informados:
Pastor, mude, por favor, o meu nome no fichário. Eu me separei e voltei a usar
o nome de solteira. Ou quando eles vêm simplesmente com os papéis do divórcio e
pedem a bênção para o novo casamento, sem que houvesse alguma tratativa
pastoral com respeito ao matrimônio anterior. Dizem simplesmente: Fizemos um
divórcio amigável. O fato de membros, que se debatem com crises matrimoniais, não
terem procurado a orientação de Deus junto ao seu pastor, já é um fato para repreensão.
Muitos alegam: Fomos a um psicólogo (cristão?) e ele nos aconselhou separar.
Precisamos acentuar com muita clareza e força o que Jesus diz: O que Deus ajuntou, não o separe o homem.
É preciso deixar isso bem claro ao casal cristão: Vocês não têm direito à
separação, vocês precisam se entender.
- 1 Co 7.12-14. A
segunda admoestação do apóstolo se dirige a um casal misto. Aos mais digo eu, não o Senhor: Se algum
irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e
a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ele, não deixe
o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convício da esposa e a
esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os
vossos filhos seriam impuros, porém, agora são santos (1 Co 7.12-14). O
apóstolo fala a respeito de casamentos mistos. Não de casamentos mistos de
hoje, mas de um casal de gentios, do qual um dos dois se converteu ao
cristianismo. E agora? O apóstolo diz: Digo
eu, não o Senhor. É que Jesus não falou diretamente sobre tal situação, por
isso o apóstolo não tem nenhuma palavra expressa de Jesus em que pudesse se
basear, mas ele o faz por sua autoridade apostólica. E nesse sentido, ele fala
inspirado por Deus. Pois a pessoa convertida – naquele tempo normalmente um
prosélito, procedente de judeus - se perguntava: Meu casamento é puro? Deus vai
me abençoar nele? Pode haver comunhão
entre um cristão e um incrédulo? Visto que no Antigo Testamento, casamentos
mistos eram proibidos (Dt 7.3). Além disso, temos exemplos em que judeus que haviam
casado com mulheres dos gentios, deveriam mandá-las embora (Ed 10.2,19). O
apóstolo Paulo quer acalmar as consciências perturbadas por tais perguntas e recomenda
que, se a parte incrédula, homem ou mulher, consentir em permanecerem unidos,
que o cristão, então, cumpra fielmente seus deveres no matrimônio. Paulo procura
remover qualquer dúvida no cristão sobre a pergunta: Será que Deus vai estar em
nosso lar e nos abençoar? O apóstolo afirma: Sim, Deus vai estar com vocês. Ele
escreveu: Porque o marido incrédulo é
santificado no convício com a esposa e a esposa incrédula é santificada no
convício do marido incrédulo. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros,
porém, agora, são santos. Vejamos bem o que o apóstolo diz: o marido incrédulo é santificado, a esposa
incrédula é santificada. Paulo não está falando da justificação do pecador,
no sentido de perdão dos pecados e de paz com Deus; ele está falando de
incrédulos no matrimônio cristão. Ele se refere à santificação do matrimônio. O
matrimônio, esta união vitalícia, é válida diante de Deus e Deus dará sua
bênção a esta união. E, por amor ao cristão, seus filhos ou suas filhas, nesta
união serão abençoados. Isto significa: o casamento é correto. E por haver ali
um cristão, repousará sobre este matrimônio e lar a bênção de Deus. Os filhos ali
não são bastardos, como que gerados em adultério, mas gerados num matrimônio
legítimo. Evidente que a parte cristã buscará levá-los ao batismo e educá-los
de forma cristã. É uma grande bênção para um incrédulo estar num lar cristão.
Mesmo que tal união não seja fácil e requer muita paciência e amor.
Este consolo é post factum, isto é, quando dois casaram
como gentios e então um se converteu ao cristianismo. Este versículo não
endossa, nem justifica que cristãos se lancem levianamente para dentro de casamentos
mistos. Casamentos mistos sempre devem ser desaconselhados. Se um(a) cristão(ã)
está namorando um ou uma pessoa não cristã, então fale com a pessoa e procure primeiro
trazê-la à fé, aos cultos, à instrução. Se conseguir trazê-lo, então dê os outros
passos, noivado e casamento. Caso contrário deveria pensar bem se vale a pena
continuar. Pois um lar sem um fundamento comum, no mínimo será um matrimônio
mais difícil. Isto se espelha muitas vezes sobre os filhos. Se a mãe vai à
igreja e o pai não, os filhos provavelmente optarão em não irem para a
igreja.
Pode, no entanto,
acontecer também o contrário, que a parte incrédula não queira viver em tal
união. Então Paulo diz: Mas, se o
descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à
servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos têm chamado à paz (v.15).
Incrédulo é alguém que não está na fé em Cristo, consequentemente, não aceita a
palavra de Deus e não se orienta por ela. Ele simplesmente abandona
maliciosamente o seu cônjuge (malitiosa desertio). E agora, o que fará o irmão
ou a irmã cristã abandonado? Estará livre? Poderá contrair novo matrimônio? Ou
terá de correr atrás do seu cônjuge e esperar por sua volta? O que significam
as palavras: não fica sujeito à
servidão... Deus vos têm chamado à paz? Será que servidão se refere à
servidão no matrimônio? Sim. Uma vez que foi abandonado, que sofreu a
separação, ele ou ela não são obrigados, sujeitos ao cônjuge, correr atrás dele,
esperar para ver se um dia ele volte. Não há possibilidade de se aguardar ou
procurar uma reconciliação, como no primeiro caso. Deus vos têm chamado à paz, o que é o contrário da servidão. Isto
significa que poderá casar novamente? Na verdade o apóstolo não levanta aqui esta
pergunta diretamente, mas a palavra livre
sem dúvida se refere à sujeição matrimonial, da qual ele ou ela agora está
livre. Isto possibilita um novo casamento.
Infelizmente este
texto foi e ainda está sendo interpretado fora do seu contexto cultural
original do tempo do apóstolo Paulo e é interpretado à luz da cultura
ocidental. Fala-se assim em incompatibilidade
de gênios, abrindo a porta ao divórcio por qualquer motivo. Por isso há
teólogos que afirmam existirem dois motivos para o divórcio: adultério e
incompatibilidade de gênios. Isto não confere com a Bíblia. Conforme a
Escritura há somente um motivo para a separação: o adultério. Quando Jesus
falou sobre o assunto, ele lidou com a pergunta sobre a razão para o divórcio e
respondeu: Não existe nenhum motivo, exceto em caso de adultério. O apóstolo Paulo
ao falar sobre o assunto, responde uma outra pergunta: O que fazer quando um
cristão é abandonado pelo cônjuge incrédulo, isto é, que sofreu o abandono?
A Igreja Católica
não admite nenhum motivo para uma separação, por isso não admite o desquite nem
o divórcio, mas esta não é a posição bíblica[29].
4.3. Observações. Nossos teólogos levantaram
aqui, com muita razão, uma série de perguntas: Este abandono se restringe somente
quando praticado por gentios
declarados ou também por falsos cristãos e hipócritas? O apartar-se se refere somente ao sair de casa ou também a um
comportamento devasso em casa, a um abandono dentro do lar pelo não cumprimento
dos deveres matrimoniais de cama e mesa? (1 Co 7.4,5).
Os exegetas são
claros, a palavra gentio se refere também
a um falso cristão, a um hipócrita, a alguém que se diz cristão, mas seu
comportamento mostra que ele não o é.
Quanto ao
abandono malicioso, os exegetas mostram que isto não é o caso quando um dos
cônjuges, por obrigações profissionais, precisa ausentar-se por um tempo, que é
o caso especialmente de soldados, que ficam fora meses ou até anos, mas mantêm
a comunicação e expressam sua saudade, etc. Também não é o caso de pessoas doentes
que ficam meses hospitalizados ou até em casos de demência. Nem é o caso quando
num momento de raiva, um deles explode e sai de casa, mas no outro dia (ou após
alguns dias), retorna arrependido e suplica perdão. Nem é o caso se uma mulher
for violentada, estuprada, para o marido então lhe dizer: Não te aceito mais.
Nem se o marido for preso ou é expatriado, especialmente por motivos políticos.
A não ser que, se na prisão ou no exílio, ele enveredar por uma conduta
sexualmente devassa.
Mas é o caso
quando alguém não cumpre seus deveres matrimoniais de cama e mesa, quer devido
a seu comportamento leviano ou por sua malícia, isto é, desentendimento,
repúdio ao cônjuge, falta de reconciliação, mostrando pelas obras da carne sua
falta de fé. Lutero escreve: “Um abandono malicioso pode ser por ódio à
religião, leviandade, vida desregrada ou outros motivos. Quando um se furta ao
outro, não cumprindo seu dever matrimonial, nem deseja estar com seu cônjuge,
isto também é rebentar a união matrimonial. Quando todo o conselho e toda a
admoestação é rejeitada e a pessoa se revela como gentio, não havendo mais
esperanças de melhoras”[30]. Paulo Gerhard afirma: “Quando a obstinação e a
absoluta falta de boa vontade para a reconciliação tomam conta, então o casal
precisa ser admoestado por parentes ou pelo pastor para que cada qual cumpra o
seu dever. Mas quando um dos dois revela obstinação isto também é uma maneira
de abandono.” Salomo Deyling (1677-1755) professor luterano em Leipzig,
conhecido por sua obra: Prudentiae Pastoralis, observa: “Esta negação
permanente precisa ser expressa”[31],
isto é, ser provada e expressada à pessoa que lida com o casal.
Uma outra pergunta
que se levanta é: Quanto tempo é necessário para se comprovar que é deserção maliciosa? A lei civil de cada
país provê respostas para isso. O pastor e conselheiros respeitarão essas leis,
mesmo assim não é uma lei absoluta. Eles julgarão caso a caso.
4.4. Disciplina. A parte culpada, que
adulterou ou abandonou o cônjuge maliciosamente, que assim caiu da fé, que
divorciou, precisa ser disciplinada pela Comunidade. Caso não se arrepender,
deve ser desligada da Comunidade. Muitas vezes a pessoa sai da Comunidade antes
de lhe ser aplicada a disciplina.
Mas pode acontecer também, e isto é o
desejado, que a pessoa dê atenção à disciplina – quer seja ao ser disciplinado
ou mesmo meses ou anos depois – e se arrependa, volte à fé em Cristo e peça sua
readmissão na Comunidade, qual o procedimento? A Comunidade sem dúvida se
alegrará com sua volta e o receberá com alegria. Poderá ele contrair novo
matrimônio? Sim. Ele deverá manifestar seu arrependimento ao ex-cônjuge e lhe
pedir perdão. Estando o caminho para refazer o primeiro matrimônio impedido ou
porque seu primeiro cônjuge não o aceita mais ou porque já está em vias de ou
já concretizou novo matrimônio, então ele, arrependido de seus erros passados,
buscado o perdão de Cristo, poderá contrair novo matrimônio.[32]
4.5. Pedidos para
efetuar cerimônias de casamento. Uma das situações com as quais nós
pastores luteranos nos defrontamos, é quando pessoas católicas (ou de outras
igrejas, cristãos só de nome), vêm a nós e solicitam a bênção matrimonial,
porque é bonito casar na igreja. Toca o telefone ou após o culto alguém pergunta:
“Vocês casam desquitados?” Normalmente são católicos que perguntam, porque a
Igreja Católica não realiza casamento de desquitados ou divorciados. O que
fazer? Nossa resposta é: A cerimônia de casamento é um privilégio só para membros
da comunidade. Imediatamente somos perguntados: E o que é preciso fazer para
ser membro da Comunidade? Vir aos cultos e à instrução de adultos. Com o que os
interessados, normalmente, concordam logo. Segue a instrução. Devo dizer que
tive bons momentos e diálogos profundos com tais pessoas. Podia-se notar que eles
tinham pouca noção do que é ser cristão e mostravam verdadeiro interesse nos
estudos da Bíblia. Aborda-se então o casamento e também as razões ou não razões
para um divórcio. Na opinião das pessoas na instrução, é evidente, eram sempre inocentes
e a culpa estava do outro lado. Como é um fato consumado e não temos condições
de julgar o assunto, pedia que agora como cristãos, expressassem à outra parte
seu pedido de desculpas. Em alguns casos, quando havia filhos e relativa
comunicação com o (a) ex-cônjuge, isto foi feito. Em outros casos, de separação
litigiosa, isto era impraticável. Confesso, no entanto, que por mais participativo
que tenham sido na instrução de adulto, vindo durante este tampo aos cultos, depois
do casamento, muitos, infelizmente, se afastaram novamente, por falta de uma
vivência e integração maior com a Comunidade.
4.6. Conclusões.
Diante do que vimos, precisamos manter os seguintes princípios bíblicos:
a) Causas – A taxa
de divórcios entre casais cristãos está crescendo, também entre casais luteranos.
Quais são as causas?
- Imaturidade. Muitos
jovens saem cedo de casa. Eles próprios, por seus pais estarem trabalhando
fora, não tiveram uma boa vida familiar, para conhecerem mais de perto os
problemas que envolvem o matrimônio e como resolvê-los. A vida que vêem na
televisão não é a vida real. Será que compreenderam o que significa viverem em
comunhão a dois? Que Deus une duas pessoas com qualidades opostas – se um é rápido
nas decisões o outro é mais devagar, se um é mais romântico, o outro provavelmente
será mais prático, se um é calmo o outro mais explosivo, etc. – para buscarem
sempre um equilíbrio pelo bom senso. Isto requer colocar os seus interesses em
segundo plano e buscar o interesse do outro. Infelizmente se fala pouco da arte
de viver em comunhão, e se acentua a felicidade individual: Faça o que você
gosta. Seja você mesmo. Imponha sua vontade. E se não conseguires, mude de vida,
divorcie.
- Eram cristãos?
Será que realmente, apesar de serem batizados, confirmados e membros de uma
comunidade cristã, eram realmente cristãos? Ou cristãos fracos na fé? Será que eles
viviam seu batismo no dia a dia, afogando o velho homem, por contrição e
arrependimento diário, fazendo o morrer com todos os pecados e maus desejos, e,
por sua vez, fazer sair e ressurgir diariamente novo homem, que vive em justiça
e pureza diante de Deus eternamente? (Cat. Menor, 4ª do Batismo)
- Vida espiritual. Tinham
o hábito da devoção no lar? Participavam dos cultos? Havia estudos bíblicos sistemáticos
e progressivos na Comunidade para o desenvolvimento espiritual? Há na
Comunidade uma biblioteca com livros para a edificação cristã à disposição dos
membros?
- Influências de
fora. Que influências de fora agiram sobre o casal em crise, levando-os ao
divórcio? Novelas, conselhos de amigos e amigas, de psicólogos, instigações e
tentações, mesmo que nada disso os inocenta de sua responsabilidade individual. Certa vez, um congregado pediu um
conselho a seu pastor e disse: Minha esposa está de mau humor para comigo, já
há mais de um mês. Tenho uma secretária que é o esteio da minha firma. Ela é
muito cordial e carinhosa para comigo e eu comecei a sentir-me atraída por ela.
O que devo fazer? O pastor foi categórico: “Se queres salvar a ti, a tua família
e a tua firma, mande-a, imediatamente, embora. Ela é um laço passarinheiro para
ti. Seja cordial para sua esposa e conquiste-a de volta.”
Por tudo isso a
pergunta pela culpa num matrimônio naufragado é algo extremamente difícil e
complexo. Há fatores pessoais e externos. Há falhas na estrutura da Comunidade
por não oferecer alimento, estudos bíblicos e cursos temáticos, para um
crescimento espiritual. Por isso muito cuidado no trato desse assunto, matrimônios
em crise a caminho do divórcio, ou divorciados.
b) Cristãos, enquanto
na fé em Cristo, não cogitam na possibilidade de divórcio para solucionar seus problemas
matrimoniais. Eles foram unidos por Deus e juraram fidelidade um ao outro.
c) Divórcio de cristãos. Em caso de um
casal cristão se divorciar, isto sempre implica no fato de um ou os dois terem fraquejado
ou caído da fé, quer seja por causa de adultério ou um apartar-se
maliciosamente. Neste caso a parte inocente permanece membro da comunidade, a
parte culpada (ou os dois) precisa ser disciplinada. Diga-se de passagem, que
julgar esses casos não é algo fácil. Precisamos ter muito cuidado para não
cometer injustiças.
d) Soluções. Quando
a união matrimonial foi quebrada por adultério de uma das partes ou por
abandono malicioso, as soluções podem ser:
1) No caso de adultério, a parte culpada cai em si, se
arrepende e pede perdão. A parte inocente pode perdoar e aceitar o cônjuge de
volta, o que é recomendado. Isso, no entanto, dependerá da boa vontade da parte
inocente. Por se tratar de uma relação tão íntima, ela poderá perdoar e
aceitá-lo de volta, ou perdoar e de sã consciência não aceitá-lo de volta,
solicitando o divórcio, conforme a afirmação de Jesus. (Mt 19.9)
2) Em caso de abandono malicioso, espera-se por um tempo (talvez
um ano, depende das leis do país), na esperança de uma possível reconciliação.
Não havendo reconciliação, a parte que repudiou deve ser declarada incrédula,
pois endureceu seu coração contra a palavra de Deus. E o cônjuge que sofreu o
abandono estará livre para um novo casamento.
e) Arrependimento. Quando,
após um tempo, a parte culpada, cai em si e reconhece seu erro, se arrepende e
volta à fé em Cisto, o que fazer? Importa que manifeste seu arrependimento à Comunidade
e à pessoa a qual abandonou, pedindo perdão. Estando o caminho para refazer o matrimônio
fechado, isto é, a pessoa não aceita o faltoso de volta, ou porque a pessoa
inocente já está em vias ou contraiu novo casamento, a parte culpada,
arrependida, poderá contrair novo casamento.
Aplicação.
O que dizem essas palavras, hoje, a nós pastores?
a) Cabe-nos instruir bem nossos jovens e nossa Comunidade
sobre esse assunto. A propósito, quando foi a última vez que a Comunidade ouviu
um sermão (ou um estudo) sobre a vida matrimonial? Quando foi a última vez que
a Comunidade ouviu um sermão sobre como cultivar o amor entre o casal e na
família, ou um estudo sobre Cl 3.12-17? Será que eles sabem o que fazer quando
um casal enfrenta crises matrimoniais, de que devem procurar seus pastores e
não correr simplesmente a psicólogo?[33] Pois
mesmo que estes se dizem cristãos, normalmente predominam neles as teorias
psicológicas. Precisamos de estudos bíblicos à disposição para que nossos
membros possam, pela leitura, conhecer o que a Bíblia diz sobre o assunto. E mostrar
o que Deus uniu não o separe o homem,
pois a união matrimonial é uma união vitalícia. Não é em vão que, ao Jesus
dizer isto, até os discípulos estranharam e disseram: Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém
casar (Mt 19.10).
b) É preciso estar atento aos problemas e ter muito cuidado no
trato e no aconselhamento a casais em crise e diante do divórcio, fazendo tudo
para evitá-lo. E dizer à parte que causa o divórcio que realmente caiu da fé, e
quem casar com a repudiada, comete adultério. c) Instruir com mais profundidade
pessoas divorciadas que vêm à Comunidade em busca da cerimônia religiosa.
Confira ainda o
Apêndice II: Afirmações sobre Divórcio e Novo Testamento.
V – Famílias pastorais em crise
Famílias pastorais estão sujeitas às
mesmas tentações e lutas como qualquer outro casal cristão. O casal, ele e ela,
têm sua natureza carnal. Assim eles precisam lutar e afogar diariamente sua
natureza pecaminosa para não permitir que o egoísmo, ciúmes, vaidades, cresçam,
esfriando o amor entre o casal, interrompendo a comunicação. Além disto, o
casal pastoral enfrenta tentações específicas ao ofício.
Uma dessas
tentações é de o pastor lançar-se de tal forma ao trabalho, a ponto de descuidar
de sua família. Isto pode ter sua origem numa consciência mal orientada. Quando
se diz: Em primeiro lugar o reino de
Deus... (Mt 6.33). Isto é verdade
em relação a muitas coisas materiais, mas no relacionamento com nossa família,
dependendo do caso, não. Nestes termos houve no passado pastores que
foram ao seu trabalho, deixando sua esposa grávida por ganhar nenê sozinha em
casa aos cuidados de Deus; ou agir assim por egoísmo e vaidade profissional.
Não é fácil para
homens públicos planejarem e dividirem bem o seu tempo entre trabalho
ministerial e família, e governarem bem a sua casa. Muitas vezes, esposas e
filhos se queixam da falta de atenção e dedicação do pai, que prega dedicação e
amor, mas em casa isso falta. Facilmente o stress, ciúmes e outras tentações encontram
terreno fértil no seio da família pastoral. Por isso o apóstolo Paulo admoesta
os pastores: Ora, se alguém não tem
cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é
pior do que o descrente (1 Tm 5.8). Mas há também o outro estremo que deve
ser evitado. Há comunidades que se queixam de que o pastor só vive para sua
família e não tem tempo para os membros da Comunidade.
No
trato de tais casos, todo o cuidado é pouco. O pastor e professor Albert B.
Wingfield relata no seu livro[34]
sobre um pastor muito dedicado à sua Comunidade. O casal pastoral era estimado
por todos que os consideravam um casal exemplar em tudo. Qual não foi a
surpresa, quando souberam que a esposa saiu de casa, acusada de infidelidade,
pois começou a se interessar e namorar abertamente outro homem. Ela pediu
divórcio e foi para a casa de seus pais, que também ficaram chocados. O que
houve? Um pastor mais experiente foi falar com os dois e conseguiu reverter o
quadro. Deste fato podemos tirar várias lições.
Quando um casal
pastoral entra em crise, eles vão buscar conselho junto a quem? O fato de serem
casal pastoral, já os inibe a buscarem auxílio. Por outro, vão recorrer a quem?
A seus colegas, ao Conselheiro Distrital? Este, em muitos casos, foi seu
próprio colega de classe ou até de classes inferiores, do mesmo time de
futebol, etc., por isso sente certa vergonha para falar com ele. Isto faz com
que muitas vezes eles ocultem o problema até que a corda rebenta por um lado.
Ou, então, buscam conselho junto a uma pessoa estranha, e a situação pode fica
ainda pior, ou se encaminhará mais rapidamente ao divórcio.
No caso citado acima,
o pastor dedicou-se integralmente a sua Comunidade e se descuidou da esposa, da
família. Qualquer coisa que a esposa lhe dizia, ele respondia: Estou
trabalhando para o reino de Deus. Você não vê que tenho muito trabalho? A
esposa não suportou mais e procurou uma saída. Não querendo prejudicar o ministério
de seu esposo, resolveu buscar um motivo para provocar a separação. Começou a
namorar abertamente uma outra pessoa. Ela foi vista e acusada. Ela assumiu e
pediu divórcio. Dizendo consigo mesma: Assim ele não precisará deixar seu
ministério, pois, para todos os efeitos, eu sou a culpada. Imaginam.
O pastor mais
idoso, que conhecia o casal, foi falar com eles e tratou do caso. Ele descobriu,
que o verdadeiro culpado dessa separação era o próprio pastor. Sim, as aparências
enganam. Com muita paciência e diálogo com ambos, ele conseguiu esclarecer as
coisas. O pastor reconheceu seu erro e a esposa o seu. O casal se reencontrou e
continuaram trabalhando com bênção em sua Comunidade.
Vejam, quanto
cuidado é preciso para lidar com casais em crise, para não fazermos um julgamento
errado e o casal desembocar no divórcio. O pastor, que precisa tratar desses
assuntos, deve ter muito cuidado no aconselhamento. Ele não deve julgar nem
tomar partido, mesmo que muitos esperam isso dele. Pois ao julgar e tomar
partido, terá logo uma das partes contra si. Ele procurará fortalecer ambos na
fé, mostrar-lhes a vontade de Deus, visando a reconciliação. Em caso de uma das
partes não atender a palavra de Deus, tomará duas ou mais pessoas da Comunidade,
no caso de pastores, dois colegas, para testemunharem a obstinação, o desrespeito
à Palavra e a incredulidade, para então proferirem o veredicto.
Há matrimônios
harmoniosos e há matrimônios belicosos, quer ela ou ele ou ambos, com
temperamentos exaltados que passam a vida discutindo e gritando um com o outro,
mas se amam e não pensam em separação.
Certa ocasião,
uma classe de pastores, após 10 anos de formados, promoveu um encontro da
classe com suas famílias. Em determinada altura, os homens ficaram a sós numa
roda e a conversa girou em torno das esposas. Cada um falou um pouco de sua
família. Houve os mais diversos comentários. Eis alguns: - Minha esposa é um
foguete. Já bateu três vezes o carro. – Minha é uma lesma. Atrasa em tudo.
Preciso estar sempre empurrando. – A minha, graças a Deus, é muito calma e
ponderada. – Que sorte a tua, disse um dos pastores. A minha é um navio de
guerra, etc. Tudo isso existe nas famílias pastorais e cada um precisa aprender
a viver em sua situação. Conheci um pastor, já falecido, que tinha uma esposa muito
mandona. Ela entrava nas reuniões da diretoria e mesmo nas Assembléias dos
membros Votantes e dizia o que pensava. Isto naquele tempo em que homens e
mulheres ainda sentavam separados na igreja, e as mulheres não poderiam
participar da Assembleias dos membros votantes. Certa vez, a esposa deste pastor entrou na Assembleia
e falou um bom bocado. O pastor não disse uma só palavra. O presidente da
Comunidade a deixou falar. Depois que ela tinha dito o que queria dizer, ela foi
para fora. Então o pastor levantou calmamente e disse: “Vocês conhecem minha
esposa. Desculpem. Vamos continuar o nosso assunto.” A Comunidade amava o seu
pastor. Mas ele não tinha fácil com sua esposa. Há matrimônios mais harmoniosos
e há os mais difíceis. Mas no passado, ninguém pensava em abandonar tudo e sair
correndo. Cada qual carregava sua cruz. Hoje se fala muito em felicidade e, se
esta não for alcançada como sonhada, ensina-se a divorciar, pouco se fala em
ter paciência e suportar um ao outro (Cl 3.13).
Todo o casal enfrenta crises, que normalmente são
resolvidas entre o casal. A devoção no lar, a oração, os estudos bíblicos, os
cultos - nisso a família pastoral é privilegiada - levam à harmonização. Por
vezes um, por vezes outro cede e toma a iniciativa para a reconciliação. Mas
quando uma crise perdura é preciso auxílio. Este auxílio pode ser prestado por
parte dos pais, irmãos e irmãs, tios ou tias ou de colegas nos quais o casal
têm mais confiança. Uma separação temporária – uma visita da esposa a seus pais
- pode curar muitas coisas, esfriar os ânimos e colocar a cabeça de ambos no
lugar. Mas quando isto não ajuda, é preciso recorrer ao Conselheiro ou
Presidente da Igreja. O tratamento seguirá as normas que vimos no capítulo
anterior, sobre: Matrimônio, Crises e Divórcio nas famílias pastorais.
Larry Lean, no seu livro Nem uma hora cita o seguinte episódio:
Certa vez um jovem evangelista estava enfrentando sérios problemas com sua
esposa. Em vez de procurar resolvê-los, preocupava-se mais com sua reputação e
com a campanha evangelística que estava realizando, do que no reconciliar-se com
sua esposa e restabelecer o bom relacionamento entre ambos. Certo dia, quando
se ajoelhou para orar sobre o grande ministério que estava exercendo, o Senhor
lhe dirigiu[35] uma
pergunta muito inquietante: “Como posso te confiar a minha noiva (igreja), se
não sabes nem cuidar de tua esposa?” Por vezes, o pastor, nas melhores das
intenções, dedica-se com empenho para cuidar da Noiva de Cristo e esquece de
cuidar da própria esposa, do seu casamento e da sua própria família.
Um outro fator é a
fuga. Quando as coisas não vão bem em casa, procuramos fugir dos problemas,
mergulhando nos trabalhos profissionais. Isto é perigoso, pois então abrimos
uma brecha e sermos pressa fácil de Satanás.
5.1. O pastor sofre o
divórcio. Infelizmente há casos em que, apesar de todo o cuidado e esforços
do pastor, a esposa o abandona. As razões alegadas podem ser as mais diversas:
Casei muito jovem e imatura. Temos incompatibilidade de gênios. (Isto traduzido
significa: Somos dois cabeçudos). Não imaginei que a vida pastoral fosse assim.
Eu não sirvo como esposa de pastor. Eu quero outra vida, etc.
No rompimento de
um matrimônio, não importa quais sejam os argumentos, no fundo é um problema de
fé, de dureza de coração, também na separação de uma família pastoral. Se
houvesse a devida compreensão da Palavra de Deus e bom aconselhamento, muitos
matrimônios, sem dúvida, poderiam ser salvos.
No caso em que o
pastor sofre a separação, quer seja porque a esposa adulterou ou o abandonou maliciosamente,
ele está livre e poderá contrair novo casamento (1 Co 7.15). Teoricamente, ele
poderá permanecer no ministério, pois em si, não há culpa nele. Mas, se isto é
ou não aconselhável, discutiremos no próximo capítulo.
5.2. O pastor é culpado.
Pode ser que o pastor caiu em
adultério. Isto é algo muito grave. Não é pecado de fraqueza. Realmente tal
pastor caiu da fé, mesmo que ainda pregue com fervor admirável. Há vários
exemplos disso na Igreja. Lembremos o caso do pastor Martin Steffan que liderou
a migração dos saxões para os Estados Unidos da América, grupo do qual brotou a
Lutheran Church Missouri Synodo[36]. No caso em que o pastor caiu em adultério, Satanás
encheu seu coração. Nenhum adúltero herdará o reino de Deus (Gl 5.19-21). O adultério,
por mais secreto, cedo ou tarde vem à tona. Quando isto acontece, as pessoas
que tomam conhecimento do fato precisam agir com cuidado e oração. Lutarão em
primeiro lugar pela alma do irmão caído, seguindo os passos de Mateus 18. Se o
pastor se arrepender e a esposa o perdoar, aceitando-o de volta, e o assunto
for do conhecimento somente de um pequeno grupo, o assunto não precisa ser levado
a público e poderá ser encerrado ali. Se o pastor pode permanecer ou não no
ministério, deverá ser decidido pelos responsáveis: o próprio pastor, o Conselheiro
Distrital (líder Distrital) e o Presidente da Igreja. A Pastorale de Walther
recomenda que se examine o assunto cuidadosamente. Seja julgado conforme o
Evangelho. Em alguns casos talvez poderá retornar e servir em outro lugar onde
o escândalo não é conhecido[37].
Mas a esposa
poderá agir também diferente, a saber, perdoá-lo, e não recebê-lo de volta como
esposo, requerendo o divórcio. Neste caso o pastor precisa solicitar sua
demissão da Comunidade e do ministério.
VI - Pastores divorciados no ministério
Pode um pastor divorciado permanecer no
ministério e continuar atuando como pastor? Um pastor que fracassou no
matrimônio, tendo ele culpa parcial ou total da separação, ou mesmo aquele que
sofreu o divórcio, pode tal pessoa permanecer no ministério? Pode um pastor que
adulterou, ao se arrepender de seus erros, quer permaneça solteiro ou contraia
novo matrimônio, retornar ao ministério? Pode uma pessoa que divorciou antes de
chegar à fé, e ao se converter ao cristianismo, abraçar o ministério? Nossos
pais foram de opinião que não se tolerasse no ministério nenhum pastor
divorciado, quer seja ele culpado ou tenha sofrido o divórcio, exceto em casos
de extrema necessidade, na falta de pastores. Pastores que sofreram o divórcio
não perdiam seu direito de ordenação, mas não deveriam atuar diante do altar e no
púlpito, mas em trabalhos da retaguarda. Esta recomendação valeu em todas as
igrejas luteranas, mais ou menos até os anos 1960.
A revolução sexual
dos anos 60, com o aumento da taxa de divórcios, colocou o assunto em discussão
nas igrejas cristãs. O primeiro passo foi admitir ao ministério, sem muito
rodeio, pastores inocentados, que sofreram o divórcio. Depois, por falta de
pastores, também pastores culpados do divórcio que se arrependeram, foram, após
a suspensão de alguns anos, readmitidos no ministério. Não tenho de momento uma
estatística geral sobre o comportamento, neste sentido, de nossas Igrejas
Luteranas irmãs no mundo. A Lutheran Church Missouri Synod (LCMS), nos Estados
Unidos da América, por causa da grande falta de pastores, está admitindo o
retorno de pastores divorciados ao ministério, com a recomendação de não
assumirem postos de liderança como Conselheiros Distritais, presidentes Regionais,
a Presidência ou vice-presidência da Igreja[38].
Muitas Comunidades, no entanto, não concordam com isso e não aceitam pastores
divorciados. Nos últimos anos, nossa Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB),
também está admitindo pastores divorciados no ministério. A Selbständige
Evangelische Lutherische Kirche (SELK), na Alemanha, tem tido problemas neste
respeito. Na maioria dos casos, o pastor é suspenso por alguns anos, após o
que, se deseja retornar ao ministério, poderá solicitá-lo. Alguns poucos têm
sido reconduzidos e foram aceitos pelas comunidades na SELK.
Sem dúvida há
perdão também para este pecado. Mas ser perdoado não significa automaticamente ser
apto ao ministério. Um pastor que se tornou infiel à sua esposa, não é mais
apto para o ministério, mesmo após seu arrependimento. Mesmo sendo o pastor
vítima do divórcio, portanto a parte inocente, isto em si, não resolve o
problema.
O argumento para
tal rigor é o seguinte: O pastor deve ser irrepreensível. O divórcio, exceto em
caso de adultério e abandono malicioso, é uma violação clara e pública da
vontade de Deus, mas não somente isso, ela envolve também e se constitui um
permanente testemunho incoerente para o mundo. Pois o divórcio não é uma
situação passageira, mas um estado permanente. Um divorciado permanece um divorciado
pelo resto de sua vida, especialmente no caso em que tiver filhos. Os de fora vêem
somente o fato e não conhecem os motivos e as razões que motivaram o divórcio,
se culpado ou inocente (2 Co 6.3). Neste sentido, o divórcio difere de um
escândalo, que pode cair no esquecimento, ou ser ignorado em outro lugar. Por
isso importa que esse assunto seja tratado conforme os princípios bíblicos e
não simplesmente por princípios humanitários.
É preciso, no
entanto, examinar caso a caso.
6.1. Perdão e ministério.
Diante
de Deus, todos os pecados são iguais. Todo o pecado quer seja a nossos olhos
pequeno ou grande, em pensamentos ou ações, separa de Deus.
Quando um pecador
se arrepende e confia na graça de Cristo, seus pecados são perdoados e apagados
por Deus, (Mq 7.19; Jo 3.16; 2 Co 5.19,20; 1 Jo 1.7). A pessoa volta ao
concerto batismal e é aceita por Deus na família de Deus. O Espírito Santo
volta ao seu coração. Ela é nova criatura, sacerdote real (2 Co 5.17; 1 Pe 2.9).
Poderia, portanto, voltar a exercer o santo ministério.
Mas, é preciso
considerar outros fatores nesta questão. Mesmo sendo todos os pecados iguais diante
de Deus, há pecados que, devido às suas conseqüências terrenas e o envolvimento
de outras pessoas, o próprio Deus trata, na relação horizontal, não vertical de
Deus para com a pessoa e a pessoa para com Deus, mas de pessoa a pessoa de
forma diferente. Por exemplo:
- Mesmo Deus perdoando o pecado de adultério, ele ordenou,
no Antigo Testamento, que os adúlteros fossem apedrejados (Lc 20.10). Assim,
mesmo perdoado, as conseqüências do pecado precisam ser carregadas e
suportadas.
- Outro exemplo. Um assassino condenado a 30 anos de prisão,
ao se converter a Cristo, é perdoado e aceito por Deus (linha vertical), mas
ele precisará cumprir sua pena aqui na terra (linha horizontal). Ou se alguém,
como tesoureiro de uma firma foi desoneste e roubou, mesmo arrependendo-se de
seu pecado, não será readmitido como tesoureiro, isso seria colocá-lo novamente
em tentação.
- Assim há muitos que, por seus pecados arruinaram sua saúde,
seu emprego e precisam carregar as conseqüências desses seus pecados. Pela fé
em Cristo, eles o farão na consolação e força do Espírito Santo. Nestes termos
Deus ordenou no Antigo Testamento (Lv 21.7), que nenhum adúltero ou divorciado
deveria ocupar o cargo de sacerdote. No Novo Testamento, Deus requer que o
ministro seja irrepreensível.
6.2. Opiniões em defesa da permanência do pastor
divorciado no ministério.
Há muitos, no entanto, que defendem a
permanência de pastores divorciados no ministério atuante e afirmam:
- Todos os pecados são iguais, por que ressaltar o sexto mandamento?
- Pastores que passaram pela angústia do divórcio, quer
sejam mais ou menos culpados, ou tenham sofrido o divórcio, ao se arrependerem,
são, sem dúvida, enriquecidos pela experiência[40].
Eles poderão, agora, compreender e aconselhar muito melhor as pessoas que estão
vivendo em tais conflitos, porque passaram por esta experiência.
- Em nossos dias, o divórcio na sociedade não é mais visto como
um escândalo, por isso não macula mais a honra do pastor junto aos de fora.
- O rei Davi cometeu adultério e não foi deposto do seu cargo.
Tais argumentos,
por mais lógicos e humanos que sejam e pareçam, não têm apoio bíblico. No santo
ministério não se requer simplesmente experiência, mas conduta. Os atuais
métodos psicológicos de aconselhamento não são parâmetros para se medir o
aconselhamento pastoral. O ministério é um carisma e não somente uma aptidão. Quanto
ao rei Davi, cumpre lembrar que ele foi rei e não sacerdote. Mesmo assim, vale
a pena analisar as conseqüências desse seu ato. Esta queda tirou ao rei Davi o
poder da admoestação. Vejamos: a) Davi falhou em disciplinar seu filho, Amnon, 2
Sm 13; b) falhou em confrontar Absalão, 2 Sm 14.24; c) Absalão, o próprio filho
o desrespeitou, 2 Sm 15; d) seu principal chefe do exército, Joabe, não lhe obedeceu,
2 Sm 20.10-11; e) trouxe divisão ao reino, 2 Sm 19.9-10. Estas foram as conseqüências
do pecado de Davi. Ele perdeu a força para a admoestação.
6.3. Opiniões sobre pastores divorciados.
Vejamos a opinião de alguns pastores e pais da Igreja.
- Norbert H. Mueller e George Kraus: O divórcio veio a ser algo muito
freqüente na América, também entre pastores. Qualquer homem que se tornou infiel
à sua esposa e causou o divórcio pode ser perdoado, mas não é mais apto para o
ofício pastoral. Servir no ministério pastoral é um privilégio, não um direito.
Raras vezes, a reintegração de um pastor divorciado no ofício público pode ser
justificada. Declarar que o pastor é a parte inocente, não resolve o problema.
Será que há realmente uma parte totalmente inocente num divórcio? Mesmo se o
pastor divorciado aceitar o chamado de outra Comunidade distante, pode o seu divórcio
ser mantido em segredo? É impossível a um pastor divorciado desempenhar seu
ministério de forma efetiva após tal trauma, mesmo que seja a parte menos
responsável pelo divórcio[41].
- Dr. Gerhard Krodel, (28/08/2005) deão acadêmico e professor do
Novo Testamento no Seminário de Gettysburg, Pe. Wisconsin, afirma: A graça é
maior do que nosso pecado. Mas o perdão não significa, necessariamente, a recondução
à atividade ministerial. A ordenação não é um direito, mas um privilégio. E,
apontando para várias passagens do Novo Testamento, afirma: Um bispo ou um presbítero
divorciado é, de certa forma, uma contradição. Quando o divórcio envolve
escândalo, a demissão do pastor é clara; em casos ambíguos ou quando a culpa da
separação é da outra parte, quando o pastor sofre a separação, então demitir um
pastor é algo mais difícil.
O bispo E. Harold Jansen, da Evangelical Lutheran Church in America (ELCA),
Eastern District, USA, pergunta: “Será que o Evangelho não pode operar por
um pastor divorciado? Se um casal não se entende, o divórcio é muitas vezes a
melhor solução, pois isto não significa que caíram da fé.” Mas há uma tensão
entre a natureza pública do pastor ordenado e o perdão dos pecados, mesmo que
em nossa geração haja uma mudança de opinião. Não faz muito tempo em que um
pastor que se divorciou, resignava imediatamente ao seu ministério ou era
removido. Hoje a compreensão sobre este assunto parece ser outra.
- Dr. John McArthur, LCMS: Certos pecados destroem a honra de uma
pessoa de forma irreparável e a desqualificam para sempre do santo ministério.
A lista das qualificações do apóstolo Paulo para o ministério é esta: Ele deve ser irrepreensível (1 Tm 3.2; Tt
1.7), isto é, um exemplo para os fiéis na vida, no amor, na fé e na pureza.
Paulo esmurrava seu corpo, exatamente para dominá-lo, para ser apto e controlar
seu corpo para ser santo e honrado (1 Co 9.27). Ele lutou para ter uma boa
reputação dos de fora. Requer-se do pastor que governe bem a sua família e seja
esposo de uma só mulher. Um pastor que se divorciou e é parte culpada, não pode
permanecer no santo ofício pastoral. Mesmo no caso no qual ele é inocente e
sofreu o divórcio, ele deve lembrar que seu divórcio não somente pode
contribuir para que outros se divorciem ou tenham dificuldade em buscar
conselho junto a ele. O pastor terá que fazer também a seguinte pergunta a si
mesmo: Será que meu pecado de omissão contribuiu para o pecado de comissão de
minha esposa? Um pastor pode ser perdoado, quando se arrepende, mas isto não
significa que poderá continuar no ministério, pois perdão não pode ser
confundido com a qualificação para o ministério[42].
- Dr. Martim H. Scharlemann, LCMS, foi professor no Seminário da
LCMS em St. Louis. O divórcio de
pastores cristãos precisa ser tratado com máxima seriedade. Não é fácil para a
Igreja manter a integridade de seu testemunho – especialmente numa época em que
tantos se divorciam – se a igreja permite que pastores, que se divorciaram por
razões não previstas nas Escrituras, continuem exercendo o ofício do ministério
público, devemos lembrar: Como regra geral, um pastor que se divorciou por uma
razão que não seja a infidelidade ou o abandono por parte da mulher dele, não
deveria ficar no exercício do ministério nem ser reconduzido ao mesmo. No
entanto, é possível que, em circunstâncias altamente excepcionais, um ex-pastor
possa, pela graça de Deus, voltar a estar outra vez em condições de ser
considerado uma pessoa qualificada, para lhe serem confiados os poderes do
ofício pastoral[43].
Confiram para isso também o artigo do Apêndice 1.
6.4. Recomendações. A tese básica é: Um pastor divorciado,
independentemente de ser culpado ou inocente, não deveria atuar no altar e
ocupar o púlpito. Muitos julgam que isto é um rigor demasiado, para o qual não
há pleno embasamento bíblico.
Esta regra não é absoluta. É preciso julgar caso a caso. Haverá também
exceções, não tanto para o pastor, mas devido a necessidade de pastores.
Em nosso meio ouvimos muitas
vezes a afirmação de que a congregação é a autoridade final, quando se trata de
julgar as qualificações de um pastor para o ministério, pois o Sínodo, não é
uma autoridade superior, mas a agremiação de congregações para um trabalho em
conjunto. É preciso lembrar, no entanto, que quando uma comunidade se filia à
IELB, ela assume compromissos. Eis alguns: Ser fiel à Bíblia e às Confissões (Estatutos
da IELB, Artigo 3), chamar somente pastores fiéis da IELB ( Artigo 7), que
tenham a recomendação da IELB. E a IELB tem a responsabilidade não somente na
formação de pastores, mas também na supervisão dos pastores no campo quanto à
sua fidelidade no ensino e na vida, e disciplinar os faltosos. Cabe às
congregações aceitar esta disciplina da IELB. Em caso de discordar, a IELB tem
as instâncias às quais uma congregação ou o pastor poderá recorrer se não
concordar com o julgamento do Presidente ou das Comissões. Importante que as
Congregações sejam instruídas a respeito e aconselhadas para serem muito
cuidadosas quando, na lista para chamados, constarem pastores divorciados[44].
Quando uma família pastoral se encaminhar
para o divórcio[45], é recomendável
que o pastor deponha imediatamente seu chamado na Comunidade. É importante que
o pastor o faça por amor a seu Salvador e à sua Igreja, a fim de não causar
escândalo e constrangimentos, independente de ser ou não culpado do divórcio.
Após o que seu caso será devidamente examinado, seguido das devidas
recomendações.
O fato de rejeitar essa recomendação da
Igreja e não depor seu chamado, já é, em si, uma demonstração de obstinação e falta
de amor a Cristo.
Pois, proferir um julgamento sobre crises
matrimoniais requer tempo. Não é aconselhável fazê-lo em curto espaço de tempo,
isto possibilita incorrermos em erros e cometermos injustiças. Por isso é
recomendável que o pastor deponha seu chamado e se licencie. Podendo seu caso,
então, ser examinado e julgado com isenção, sem a pressão das circunstâncias.
Caberia neste caso, não à Comunidade, mas à Igreja prover, pelo menos nos
primeiros meses, o subsídio ao pastor.
Poucos são os casos, mas eles existem, em que a Igreja precisou
disciplinar o pastor faltoso, por não acatar as recomendações da Igreja e não
depor o seu chamado. O caso mais conhecido seja talvez o caso do pastor Martim
Seffan, da LCMS, já citado. Ele era um pastor fiel na doutrina e pregador carismático.
Ele congregou e liderou a imigração dos saxões para os Estados Unidos da América.
Mas tornou-se orgulhoso. Já na viagem para a América caiu em adultério, com
isso da fé. O caso veio à tona somente meses depois quando já estavam em suas
terras, em Perry Countri, MO. Quando alguns membros o perceberam e começaram a
tratar do assunto, ninguém quis acreditar que este tão fiel e carismático
pastor estivesse vivendo em adultério. Provado o caso, os pastores foram falar
com ele. Ele não se arrependeu. Foi expulso da colonização.
Quero citar um outro caso, que conheci na
Alemanha. Um pastor luterano, com grande dom de oratória, que em 4 anos
triplicou o número de membros de sua Comunidade e era muito querido por todos,
foi desmascarado como adúltero e caloteiro. Algumas pessoas souberam do caso e foram
falar com ele. Ele negou tudo. As pessoas apresentaram o assunto à diretoria da
Comunidade, que o examinou cuidadosamente. Reunidas as provas, falaram com o
pastor. Ele negou tudo. O assunto foi para a assembléia da Comunidade. Mas a
oratório do pastor e sua capacidade de argumentar fez com que a Assembléia, em
sua grande maioria, se posicionasse a favor do pastor, acusando a diretoria e
os membros, que apoiaram a diretoria, de caluniadores. Estes não tiveram outra
alternativa do que sair da Comunidade. Este pequeno grupo saiu da comunidade e
fundou uma nova Comunidade no outro lado da cidade. Passados alguns anos, Deus
interveio. A verdade veio à tona. O pastor impenitente adoeceu e veio a
falecer. Hoje ainda existem, nesta cidade, as duas comunidades.
6.5. Servindo como leigos ou em funções
secundárias. Pastores divorciados, por causa de adultério ou abandono
malicioso, quer permaneçam solteiros ou casem novamente, após terem reconhecido
e corrigido seu erro e voltado à comunhão com Cristo pela fé, em humildade e
por amor ao seu Salvador, a fim de não mancharem o bom nome do santo
ministério, servirão á sua igreja como leigos, conforme o sacerdócio universal
de todos os crentes.
Pastores que
sofreram o divórcio, não perderão seu status de pastor, mas recomenda-se que
não atuem no púlpito, mas sirvam à igreja como ministros nos mais diferentes
trabalhos na retaguarda, seja como capelães ou auxiliares nos diversos
trabalhos nas congregações, mas não diante do altar.
Estas recomendações
não são leis rígidas, mas recomendações. E dependendo da situação pode haver
exceções. A iniciativa para tal deve partir muito mais da parte do pastor
envolvido, que mostrará nisso seu verdadeiro amor à causa de Cristo, do que por
imposição da administração da igreja.
Palavra final
Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra
integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o
adversário seja envergonhado não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso
respeito. (Tt 2.7-8)
Na carta a Tito, o apóstolo Paulo fala das
obrigações profissionais do pastor. Neste trabalho falamos disso bastante.
Alias, todos nós gostamos de opinar, com certa satisfação interna, de nossa justiça
própria, sobre como as coisas deveriam ser, como as pessoas deveriam se comportar,
como as coisas deveriam andar na Comunidade e no mundo, e condenamos tudo e
todos que não são assim como julgamos que deveriam ser. Mas temos que cuidar
com que espírito o fazemos. Precisamos fazê-lo, mas não com arrogância e
superioridade, mas no espírito de Cristo.
Por isso, por mais importante que seja a Tábua dos Deveres, se não colocarmos
Cristo em primeiro lugar, correremos o risco de errar. Ao falarmos da vida
santificada dos filhos de Deus, congregados e pastores, devemos ter o cuidado
para não colocar nossa própria piedade em primeiro lugar, pois então colocaremos
tudo a perder. Queremos, no entanto, mostrar aos fiéis, com toda a humildade,
que, na luta pela doutrina e a praxe, toda a honra seja dada unicamente a
Cristo e sua graça, que deve brilhar diante de todos. No encontro com as
pessoas neste mundo, elas devem notar que vivemos na esperança da vida de nosso
Senhor Jesus Cristo. Santo Agostinho descreveu a esperança assim:
Toda minha esperança, Senhor, está em tua
grande misericórdia. Dá-me fazer a tua vontade e cumprir a tua ordem, para
fazer o que queres que eu faça. Sou teu servo nesta peregrinação e tenho
saudade de chegar ao alvo, o céu. Amém.
São Leopoldo, 10/04/2008
Horst
R. Kuchenbecker
Bibliografia:
- Luther, Martin. Sämmtliche Schriften. St. Louis, Concordia
Publishing House, 1892.
- D. Martim Luthers Werke. Kritische Gesamtausgabe (Weimar, 1883).
- Walther,
C.F.S. Pastoral Theologie. St. Louis, Concordia Publishing House, 1906.
- Walther,
C.F.W. Pastoral Theology, Lutheran News, Inc. New Haven, Missouri,
1995.
- Porta, M. Conrad. Pastorale Lutheri. Nördlingen. C.H.Beckshen-Buchhandlung,
1842.
- Zorn, Carl M.
Vom Hirtenamt. Zwichau.
Johannes Herrmann, 1921.
- Scott,
Thomas. Divorce. Forest.
Thomas Scott.
- Kretzmann, G.
Die Pastoralbriefe. St.
Louis. Concordia Publishing House.1918.
- Scharlemann,
Martim H. Zur Ethik des Pastoral Amtes. Lutherische Theologie u. -
Kirche, Taunus, Juni 1983, n° 2
- Lehmann,
Detlef. Werdet Vorbilder der Herde. Taunus. Theologie u. Kirche. Taunus.
April, 1986, n° 1.
- Sexualidade em Perspectiva Teológica.
Teologia Hoje. Editora Concórdia, Porto
Alegre, 2003.
- Ultimato, Revista, n° 301, Nov.- Dezembro, 2006.
A p ê n d i c e s
1 – Ofícios na Igreja
Dr. Theol. Diethardt Roth, Bischof i.R.
Tradução: Horst R.
Kuchenbecker – (04/06/2007)
Queridos irmãos!
Meus sinceros
agradecimentos pelo convite para debater com vocês, nesta Conferência Pastoral
em La Petite Pierre, França, dias 26-27
de abril, 2007, o tema: A quem pode ser
conferido um ofício ministerial ou honorário, como um cargo na diretoria na
Congregação ou na Igreja Cristã? O que fazer se tal pessoa cometeu um grave
pecado que se tornou público? Pode tal pessoa continuar a exercer seu cargo ou
ministério? A Igreja cristã, no cumprimento do seu dever e de sua
responsabilidade, tem-se ocupado com esta pergunta desde o princípio.
Quero destacar
aqui dez normas que servem de orientação para toda a pessoa que deseja
trabalhar na Igreja ou numa congregação cristã
1. Quem é batizado.
2. Quem crer no Deus triúno.
3. Quem for membro da respectiva igreja.
4. Quem se mantém fiel a sua
Igreja, sendo ativo na vida de sua Comunidade.
5. Quem aceita a Bíblia como
palavra infalível de Deus.
6. Quem [conhece e] aceita as Confissões luteranas como a correta
exposição da Escritura
Sagrada.
7. Quem tem competência para o cargo.
8. Quem é retamente chamado e instalado.
9. Quem participa com sua oferta proporcional na sua
Comunidade.
10. Quem, por sua vida, é modelo para sua Comunidade.
1. Quem é batizado.
Pelo santo
batismo são acrescidos à Igreja, em sua peregrinação, nenês, crianças e
adultos; e mesmo tendo alguém deles se afastado, ele têm a chance de retornar
pela fé ao concerto batismal.
Todos os que são
batizados e receberam efetivamente a graça do Deus triúno, neles Jesus, o
crucificado e ressuscitado, rompeu os grilhões do pecado Original, com o qual
todos nascem, desde a queda dos primeiros homens em pecado. Isto se torna
especialmente palpável nos adultos que ainda não foram batizados ou nos que redescobrem
o presente que lhes foi outorgado no batismo pelo poder do Espírito Santo e de sua Palavra.
Na instrução, que
antecede ou precede ao Batismo, esta maravilhosa graça de Cristo, que receberam
por ocasião do Batismo, é exposta diante deles. Também no batismo vale o
trinômio: somente por graça, somente Cristo, somente pela fé. Com isto começa
neles uma vida nova.
O apóstolo Paulo descreve esta intervenção
do Deus triúno de forma marcante em sua carta aos coríntios: Ou não sabeis que
os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem
idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem
avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
Tais
fostes alguns de vós.
Mas vós vos lavastes, mas fostes
santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no
Espírito do nosso Deus. (1 Coríntios 6.9-11 RA)
Deste texto
queremos destacar o seguinte:
- Os pecados, que porventura
se manifestam na vida de uma pessoa, não podem ser avaliados de forma
diferenciada. Eles tornam todas as pessoas injustas diante de Deus. Digo
isto de forma tão acentuada, porque na tradição da Igreja cristã
registram-se diversos erros neste sentido, especialmente, em relação à
vida em comum de um homem e uma mulher. Isto não encontra apoio na
Escritura Sagrada, nem aqui nem em qualquer outro lugar. Pecado é pecado –
e há somente um pecado que não é perdoado: o pecado contra o Espírito Santo.
(Mc 3.29[46])
Os pecados que o apóstolo Paulo citou, pertencem aos pecados perdoados no
batismo.
- Nem todos que encontraram
o caminho para dentro da Comunidade cristã provêm de tal contexto. O
apóstolo diz: Tais fostes alguns de
vós. E é precisamente neles que a abundância da graça de Cristo é
manifestada.
- O “antigo” é lavado pelo
santo batismo. Os batizados pertencem, agora, ao lado do Santo e dos
santos. Por isso o apóstolo Paulo pôde escrever na introdução de sua carta
à Comunidade de Corinto, apesar de todos os pecados que ali se manifestaram:
aos santificados em Cristo Jesus,
chamados para ser santos (1 Co 1.2). Eles são santos e justos diante
do justo Deus e tudo isso em nome de Jesus, diante de quem todos devem
dobrar seus joelhos. Tudo isto aconteceu pelo poder do Espírito Santo.
- O apóstolo descreve esta
maravilhosa ação do Deus triúno com verbos no passivo. O ser humano é
somente receptor, presenteado, enchido. O batismo não é obra sua – ele o
aceita pela fé e o compreende em fé.
- Quando hoje pessoas adultas
encontram o caminho para a Comunidade e são batizadas – cumpre-se nelas o
que o apóstolo Paulo descreve – não importa quão graves e numerosos foram
seus pecados antes do batismo. Eles são riscados, perdoados. Isto não
interessa mais. Veja, tudo é novo. Ninguém tem mais o direito de lidar com
aquilo que Deus perdoou, e talvez até usá-lo como “munição” ou questionar
a força do perdão. O que Deus perdoou está de fato e verdadeiramente
perdoado e esquecido para Deus – por amor ao sangue derramado de Cristo. E
a pessoa ou os referidos podem consolar-se com esta graça. E como assim
presenteados aceitar trabalhos na Igreja. (Sic?)
- Isto vale também para
aqueles que se desviaram por certo tempo, mas reencontraram o caminho de volta
a Jesus Cristo. Quando voltam ao concerto batismal, em diária contrição e
arrependimento, então o amor de Cristo volta a valer-lhes. O “velho” neles
está perdoado e esquecido. Eles podem voltar a aceitar cargos na Igreja.
- Aqueles que como adultos
são batizados ou aqueles que como batizados encontram o caminho para a
nossa Comunidade, precisam ser instruídos. Isto acontece pela instrução de
adultos, que pode ser dada de forma individual ou em grupos. Nesta
instrução, é lhes exposto e mostrado, de forma bem pessoal, o grande e
rico presente do batismo, como o evangelho de Deus em sua grande
abundância. Eles aprendem sobre o pecado original e os pecados atuais para
reconhecerem sua necessidade de salvação, e isto sempre do ponto de
partida de que no Batismo estes pecados são lavados – foram lavados.
É preciso sublinhar
sempre de novo esta bênção batismal. Acho que nossas pregações não são
suficientemente pregações batismais, para nos lembrar desta grande bênção no
início de nossa vida cristã e o seu valor para toda a vida. O apóstolo Paulo
faz isto de forma insistente e consoladora em sua carta aos coríntios, capítulo
6 e também em sua carta aos romanos, dizendo que podemos deixar o passado
tranquilamente nas mãos de Deus, pois o sangue de Jesus Cristo é agora nossa
vestimenta de honra.
Espero que tenha ficado suficientemente
claro de que o batismo é um requisito decisivo para alguém poder aceitar um
ofício na Igreja. O Dr. Martinho Lutero pôde escrever: Todos os ofícios na
Igreja estão fundamentados no batismo e dele emanam. Viver dele e viver nele
faz com que o Deus triúno deixa o “velho” ser sempre o passado.
2. Quem crer no
Deus triúno.
Não podemos
auscultar o coração de ninguém. Somente Deus conhece os corações. Mas podemos
ouvir se alguém conhece e confessa o conteúdo da fé cristã, ou se ele expressa
críticas ao mesmo. Neste caso precisamos falar com a pessoa para podermos tirar
conclusões que terão suas conseqüências.
Algo diferente
é quando uma pessoa luta com tentações, com dúvidas quanto às afirmações confessionais.
Pois ao lado da meditação e oração, as tentações também são uma realidade.
Tentações, entretanto, não tornam uma pessoa inapta para o trabalho ou o
continuar no cargo.
3. Quem for
membro da respectiva Igreja na qual quer exercer a função.
Isto é o obvio. Irmãos e irmãs de outras Igrejas podem ser
visitantes e até por um período mais longo, mas, via de regra, não podem, como
hospedes, aceitar cargos. Pode haver exceções, por exemplo, quando se trata de
cargos temporários numa Comunidade.
4. Quem se mantém
fiel a sua Igreja, sendo ativo na vida de sua Comunidade.
Somos uma igreja
participativa, isto é, espera-se de cada membro um alto grau de engajamento.
Quem não está disposto a isto, não pode abraçar um cargo na Igreja. A freqüência
aos cultos é um pressuposto importante, unido a ida à confissão e à santa ceia,
pois estas são as fontes de força para todo o pensar, falar e agir na Igreja. O
mandamento de Deus: Santificarás o dia do
descanso é tão importante como todos os outros mandamentos para a formação
de nossa vida. Podemos afirmar que a não participação aos cultos é um pecado
público.
5. Quem aceita a Bíblia como palavra infalível
de Deus.
Isto é, em
nossa época, na qual a palavra de Deus é muitas vezes questionada, um requisito
importante para todos aqueles que querem prestar serviços na Igreja e serem
ativos na mesma. Estes precisam aceitar e confessar que crêem na infalibilidade
da palavra de Deus. Quem o nega, está pecando.
6. Quem aceita as
Confissões luteranas como a correta exposição das Escrituras.
Sei que isto
talvez só poderá valer para pastores, que em sua formação estudaram
intensivamente as Confissões. Pois quem dos leigos, por exemplo, leu a Fórmula
de Concórdia? Mesmo assim, como Igreja precisamos manter esta reivindicação de
que as Confissões luteranas são um testemunho autêntico das Sagradas
Escrituras. O ensino de uma Igreja precisa ser uniforme. Isto precisa mostrar
aos colaboradores mediante exemplos claros dos diversos livros confessionais e
declarações das Confissões. Pertence à
alta responsabilidade de uma Igreja Confessional, demonstrar isto claramente.
Se não o fizer, ela não está cumprindo com sua responsabilidade e isto é
pecado.
7. Quem tem a
devido competência para o cargo
Penso que isto é o
óbvio. Erros neste sentido prejudicam a Comunidade tanto interna como
externamente. Isto começa com o pastor e se estende aos diáconos (os que ajudam
nos cultos, dirigentes do coro, diretorias). A Igreja tem uma grande
responsabilidade e pode tornar-se culpada, se conferir cargos a uma pessoa, que
está além de sua capacidade.
8. Quem é retamente
chamado e instalado
Pertence à
responsabilidade da Igreja, que aqueles que aceitam cargos na Igreja, sejam
instalados com a imposição das mãos, para que lhes seja conferida o Espírito
Santo. Talvez seja esta uma das razões porque muitas coisas estão mal, por não
suplicarmos o bastante pela assistência do Espírito Santo para o ensino e vida
na Igreja. Na Igreja, na Comunidade e no reino de Deus nada acontece sem o
Espírito Santo.
9. Quem participa com
sua oferta proporcional na sua Comunidade.
Com isto já aponto
também no último ponto, o ser modelo. A Escritura nos admoesta a trazermos
nossa oferta proporcional à Igreja. Isto vale também para nós pastores como
para todos os colaboradores. Quem não o faz, está pecando.
10. Quem, por sua
vida, é modelo para sua Comunidade.
Por mais que o
apóstolo Paulo enaltece e louva a glória do Evangelho e exalta a glória do
batismo, da absolvição e da Santa Ceia, da mesma forma ele precisa destacar a
realidade do pecado e nos lembrar disso. O diabo ainda exerce o seu poder no
mundo e sobre cada um individualmente – que Deus nos seja gracioso – pois o
diabo atua também na Igreja. O Dr. Martinho Lutero escreveu no seu tratado Dos Concílio e das Igrejas: Vendo (o diabo)
que Deus estava construindo uma Santa Igreja, o diabo não perdeu tempo, e
construiu ao lado da igreja, imediatamente, sua própria capela, maior que a
Igreja de Deus, procedendo da seguinte maneira: observou que Deus se valia de meios
exteriores, como o Batismo, a Palavra, o Sacramento, as Chaves, etc.; para com
eles santificar sua Igreja. Visto que desde sempre é o macaco de Deus que
procura imitar tudo o que Deus faz e fazê-lo melhor, também recorreu a meios
exteriores que também santificariam, como faz com os bruxos, feiticeiros,
exorcistas, etc. Também ali manda rezar o Pai-Nosso e ler o Evangelho, para que
pareça um grande meio de salvação... Mas o diabo tem outras intenções.[47] Disto
os batizados e fiéis não estão isentos. A tensão na qual nos cristãos nos encontramos,
quer dentro ou fora do ministério, é bem caracterizada pela expressão: simul iustus et peccator. A realidade do
pecado sempre nos alcança.
Nosso Salvador também estava exposto às tentações
de Satanás. Mateus no-lo relata (4.1-11). O autor da carta aos hebreus o resume
assim: Porque
não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas;
antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hebreus
4.15).
Jesus resistiu
às tentações. Nós não conseguimos isso com perfeição, por não sermos deuses, e
não conseguimos viver uma vida em plena obediência a Deus. A realidade dos
cristãos é que eles, seguidamente, sucumbem nas tentações – nas mais diferentes
formas. A Escritura nos admoesta sempre de novo e na oração do Pai Nosso
pedimos: E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal.
Também neste
respeito, o apóstolo Paulo dá claras diretrizes para a peregrinação do povo de
Deus. Estas diretrizes valem para todos os membros do corpo de Cristo, quer
estejam ou não num serviço especial. Dos que exercem o ministério se espera que
conheçam bem estas diretrizes e vivam de acordo com elas.
Na carta aos
romanos, o apóstolo introduz a terceira parte com as seguintes palavras: Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias
de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12.1-2). Isto vale
para todos os cristãos quer tenham ou não um ofício na Igreja.
Mas alguns devem
ter entendido mal estas e outras palavras semelhantes do apóstolo, o que o
levou a escrever aos coríntios: Já em
carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos
impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste
caso, teríeis de sair do mundo. Mas,
agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for
impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com
esse tal, nem ainda comais. Pois com que
direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai,
pois, de entre vós o malfeitor (1 Coríntios 5.9-13).
À base deste
texto quero destacar algumas diretrizes:
1 – Neste mundo, nós cristãos somos diariamente confrontados
com pessoas que não conhecem os Mandamentos de Deus, não os tomam a sério ou
interpretam mal suas afirmações. Nós vivemos com estas pessoas e temos contato
com elas. O apóstolo nos exorta a não nos conformar, nem nos deixar influenciar
por seu modo de vida. Deus os julgará a seu tempo.
2 – Nós vivemos no mundo e com o mundo, mas não somos do
mundo, nem compartilhamos seu modo de ser. Por nossa vida queremos mostrar já
agora que, pela fé em Jesus Cristo, pertencemos ao reino de Deus. Nele temos
recebido, pelo batismo, a misericórdia de Deus nos acompanha, nos molda e nos
ajuda em tudo nesta vida. Nosso culto racional é um sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus.
Isto significa
não deixar-se dominar pelo esquema pecaminoso deste mundo. Não vos conformeis com este século, não vos torneis seus servos,
não vos deixeis enganar. Isto vale para todos, que desde o batismo andam, pela
fé, em novidade de vida. O catálogo sobre vícios e virtudes no Novo Testamento
nos dá a expressão real a esse respeito (1 Co 6; Cl 3.15-25; 1 Tm 3).
3 – Nosso ser, que foi renovado por Cristo, deve mudar
nossa vida diariamente, pois o “antigo” passou. Tal vida requer que examinemos
nosso comportamento, comparando-o com as diretrizes que o apóstolo chama de “a
vontade de Deus”. Esperaríamos, agora, que o apóstolo continuasse a falar dos
Mandamentos de Deus, mas isto ele faz em outro lugar. Aqui ele continua a fala
da “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” que ele caracteriza como “nosso
culto racional”, mesmo que, em parte, com outro sentido. Sempre de novo temos
que examinar nossa vida cristã, cada um sem exceção. O povo peregrino de Deus
vive em constante tensão entre o “agora... mas ainda não”, como justos e ao
mesmo tempo pecadores, ricamente presenteados, mas que sempre de novo desprezam
este presente. Por isso precisamos, quer com ou sem ministério, diária
renovação pela força do Espírito Santo.
4 – Com muita dramaticidade, o Apóstolo Paulo descreve em
sua 1ª. carta aos coríntios, como, pelo poder do maligno, membros são arrancados
da Comunidade. A Comunidade é, constantemente, ameaçada pelo mundo decaído que
quer invadir a Comunidade e destruí-la. Contra isso a Comunidade precisa lutar.
5 – A Comunidade pode colocar limites internos quando
alguém alega ser cristão e irmão, mas sua vida é o contrário. Estes limites
podem incluir a suspensão da Santa Ceia, visto que a Comunidade não pode e nem
quer ter comunhão com tal pessoa.
6 – Lembrando que estamos falando de membros da Comunidade
que foram lavados pelo Deus triúno no santo batismo, santificados e limpados,
mas que caíram e voltaram para os costumes do mundo. Isto pode acontecer também
com aqueles que exercem um ofício na Comunidade.
As cartas
pastorais mostram isto de forma abrangente, que aqueles que exercem um ofício,
precisam ser admoestados, animados e lembrados de forma bem especial de sua
responsabilidade pública na Igreja, para a qual aceitaram chamado, pois eles
também são observados pelo mundo. Para dentro da Comunidade e para o mundo eles
devem ser modelos em palavras e ações para, por palavras e ações resistirem ao
pecado e mostrar isto tanto para dento da Comunidade como para fora, de que
eles pertencem a Jesus Cristo. Isto não é uma ética especial, para os que estão
no ofício, mas o compromisso de serem modelos.
O apóstolo Paulo escreve
a seu próprio respeito: Não porque não
tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós
mesmos, para nos imitardes (2 Ts 3.9).
A Tito o
apóstolo escreve: Torna-te, pessoalmente,
padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o
adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso
respeito (Tt 2.7-8).
O apóstolo Pedro
escreve aos anciãos: Nem como dominadores
dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho (1 Pedro 5.3).
O apóstolo Paulo
se dirige aos bispos e diáconos com a seguinte admoestação: Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te
em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na
casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade. Evidentemente, grande é o mistério da
piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado
por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória (1
Timóteo 3.14-16).
Mas o que dizer
quando estes, que devem ser modelo no ofício, fracassam por serem pecadores e
santo, e seus pecados se tornarem manifestos?
Como irmãos e irmãs,
eles devem ser particularmente admoestados. E isto com toda a paciência e não
simplesmente com a condenação. Como pastores e também como membros somos por
vezes muito rápidos com a língua, sem procurar conhecer bem a situação
particular de cada um.
Quando eles se arrependem e recebem por amor
ao sangue derramado de Cristo a absolvição, pelo ministério divino, eles voltam
ao concerto batismal. O “antigo” é perdoado e esquecido.
Eles serão
animados à nova fé, amor e esperança no ofício que lhes foi confiado.
Mas, se eles rejeitam
a vontade de Deus e não voltam, não podem continuar no exercício de seu ofício.
E mesmo quando o
perdão foi dado, a Igreja terá, por vezes, a tarefa de, em relação a certas
situações, não voltar a confiar a tais pessoas o ofício, para não induzi-las a
novas tentações. Quem foi infiel no dinheiro, mesmo que o tenha restituído, a
este, mesmo assim, não lhe será conferido o caixa; quem abusou de crianças e
foi castigado por causa disso, não será mais reconduzido a trabalhar com
crianças; quem é uma pessoa muito briguenta e o tem demonstrado diversas vezes
não serás mais eleito, por exemplo, para cargos na diretoria da Comunidade.
Mais difícil é,
quando o perdão foi dado, mas as conseqüências do pecado permanecerem. Como por
exemplo, no caso de separação de casais e do divórcio. Nesses casos, a Igreja
precisa examinar cuidadosamente cada situação. A experiência tem me mostrado
que cada caso tem suas próprias circunstâncias. A palavra de Deus requer a indissolubilidade
do matrimônio, mas mantém, para determinados casos, o divórcio como possível e
com isto também a continuação no ofício. (Sic?)
Na SELK estamos
discutindo esse problema há mais de uma década, especialmente com vistas ao
casamento de pastores e seu caráter de modelos para o rebanho. A discussão
sobre como proceder em tais situações é menor quando se trata de membros, que
exercem funções na Comunidade, quando se separam do seu cônjuge ou, por
exemplo, sofrerem a separação. Estes casos, com membros de diretorias, são,
normalmente, tratados somente em nível de aconselhamento pastoral, sem uma
decisão a nível de congregação ou de Igreja. O caráter do seu cargo na
Comunidade quase não é levado em contra. Mas também nesses casos é preciso que
o pastor examine cuidadosamente as circunstâncias particulares para poder
decidir.
A SELK, ao longo
de sua história teve que lutar sempre de novo com tais perguntas e o faz até
hoje. Estas perguntas, no entanto, sobre a ética interessa a todos os cristãos,
exerçam ou não cargos na Igreja, como peregrinos que são. A SELK produziu nos
anos 80 um documento, que atualmente, está sendo revisado. Além disso, ela
tomou posição por meio de seus Cadernos
de Orientação, diante dos temas: Bio-ética, Auxílios a moribundos, Ética Sexual,
Pobreza no Mundo, e um caderno sobre o tema: Ética Profissional que está em
preparo. São auxílios, baseados nas Escrituras e Confissões, para auxiliar na
tomada de decisões em nossos dias. Trata-se da exposição da Escritura para os
nossos dias. Para algumas perguntas, no entanto, há respostas diversificadas,
por a Escritura não abordar tais temas, nem no seu contexto. Por isso pode
haver diferentes opiniões mesmo entre os que exercem um ofício na Igreja,
também sobre se isto ou aquilo deva ser caracterizado como pecado ou não. Mesmo
assim, a palavra de Deus é infalível e as Confissões são a correta exposição da
mesma que não podem ser questionados.
Muito difícil é
também quando na Igreja há opiniões muito divergentes sobre procedimentos
errados, como por exemplo: A falta de participação nos cultos, a política no
uso da força, o relacionamento sexual sem serem casados, injustiças sociais,
ódio e brigas. Tudo isso e muito mais, acontece nas Comunidades. Isto se torna
ainda mais difícil por o mundo não ter a compreensão para com o agir da Igreja
e considera a ação da Igreja um ato de discriminatória. Por isso lutamos por
uma unidade de opinião, para que todos
os que exercem o ofício tenham, o quanto possível, uma opinião uniforme no agir
e falar.
Todos que na Igreja atuam em cargos de
responsabilidade – e Deus tenha compaixão de nós – exercem suas funções com
imperfeições e são, por isso, culpados diante de Deus. Eles não fazem somente
erros, mas eles pecam sem exceção. A lei lhes mostra isto claramente. Nossas
confissões afirmam: Todos estão plenos de
concupiscência e inclinações más (CA II). Mesmo que na avaliação e
caracterização com respeito a certos pecados tenhamos opiniões diferentes,
Cristo é nossa nova vida, pois dele recebemos graça e perdão e o voltar ao
batismo. Os que carregam as diferentes responsabilidades se animam mutuamente
para andarem em novidade de vida conforme a vontade de Deus. Eles se admoestam
sinceramente e precisam, por vezes, proferir julgamentos e tomar decisões não simpáticas
uns contra outros. Eles oram uns pelos outros e estão juntos no caminho para a
consumação, onde todas nossas indagações serão final e conclusivamente
respondidas.
Apêndice: 2 -
Afirmações sobre Divórcio e Novo
Casamento[48]
Rev. Jerrfey C. Kinery.
De tempos em tempos a Igreja
precisa reafirmar sua posição com relação à doutrina e à praxe sobre matrimônio
e divórcio. Especialmente quando sua posição é questionada. Nestas reafirmações,
a Igreja não se guiará pelas idéias inconstantes das pessoas, nem pelos ditames
da cultura local ou da sociedade em seu derredor, mas única e exclusivamente
pela imutável, inerrante e infalível autoridade da Palavra de Deus.
- O conselho do Senhor
dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as
gerações (Salmo 33.11).
- Para sempre, ó
Senhor, está firmada a tua palavra no céu (Salmo 119.89).
- Deus não é homem,
para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.
Porventura, tendo ele prometido, não o fará?
Ou tendo falado, não o
cumprirá? (Números 28.19).
- A Escritura não pode
falhar (João 10.35).
As teses que
seguem representam a posição da Escritura Sagrada sobre a questão do divórcio e
do novo casamento.
1. O matrimônio, como
instituído por Deus, é uma união vitalícia, contraída por esponsais
legítimos, entre um homem e uma mulher para uma só carne, até que a morte os
separe.
Mateus 19.3-6; Marcos 10.6-9; Romanos
7.1-3; 1 Coríntios 7.5. Cf.: Catecismo. Menor, perg. 56.
2. O divórcio é justificado
(endossado, aprovado, sancionado) aos olhos de Deus somente com base na
Escritura. Sob a base da Escritura, no entanto, na maioria dos casos, o
divórcio não é ordenado, nem encorajado. Divórcio sob outra base do que a
Escritura, por exemplo, o pronunciamento legal da autoridade civil de que o
matrimônio foi quebrado em base não bíblica, tem sido tolerada por Deus por
causa da perversidade e obstinação humana.
Cf.: teses e versículos que seguem.
3. A lei de Moisés no
Antigo Testamento (ele a fez como estadista, para colocar um pouco de
ordem, pois nem todos, no povo de Israel, eram filhos de Deus pela fé) que
permitia o divórcio por “qualquer motivo” de impureza (incluindo qualquer
impropriedade), foi por causa da “dureza do coração” do povo de Israel. A lei
de Moisés também permitia um novo casamento de ambos os cônjuges envolvidos num
divórcio, mas proibia, após o segundo ou mais divórcios, o retorno ao primeiro
cônjuge.
Deuteronômio 24.1-4; Mateus 5.31; 19.7-8;
Marcos 10.2-5.
4. No Novo
Testamento, Jesus mostrou que Deus não aprova o divórcio, exceto se alguém
o sofre por causa da infidelidade, de fornicação e adultério do seu cônjuge, ou
qualquer relacionamento sexual imoral e contrário à lei matrimonial, como por
exemplo: homossexualismo, incesto, prostituição, bestialidade, etc. Nesses
casos o divórcio pode ser requerido pela parte inocente, e um novo casamento é
possível.
Mateus 5.32; 19.9.
5. O apóstolo Paulo,
por inspiração divina, enfoca uma outra pergunta no assunto divórcio, o
abandono malicioso* por parte de um dos cônjuges.
1 Coríntios 7.12-15
* Abandono Malicioso não é,
especificamente, uma causa para o divórcio, mas o próprio ato do divorcio – a
dissolução do laço matrimonial. Deserção maliciosa consiste em que um dos
cônjuges se recusar , persistentemente, a viver como homem ou mulher com seu
cônjuge. Mas precisamos ter certos cuidados, separação temporária por causa de
doença, prisão, trabalho, guerra, deportação, etc. não é deserção maliciosa. Persistente
recusa, no entanto, de dar o direito conjugal ou não dar a devida benevolência
por estúpida resistência não acidental ou por motivos de doença, representam
uma deserção do voto matrimonial. Pois um dos principais propósitos do
matrimônio é o intercurso sexual legítimo, negá-lo persistentemente é deserção
maliciosa (1 Co 7.1-5). Persistente, crueldade, física e violência também
tornam a convivência da coabitação marital impossível e isto constitui deserção
maliciosa.
6. Todos os outros
argumentos e/ou motivos para o divórcio fora da fornicação e do abandono
malicioso não são reconhecidos pela Igreja cristã, tais como: um não suporta
mais o outro, bebedeiras, diferença religiosa (de outra denominação)
vagabundagem, grande negligência, crueldade mental, prisão, insanidade, doença
contagiosa ou repugnante, doença incurável, condenação por crime, perda do
amor, desapontamento das aspirações e esperanças matrimoniais,
incompatibilidades. Tais motivos não são reconhecidos pela igreja cristã como
válidos ou motivos bíblicos para o divórcio.
7. No caso de um dos
cônjuges ter cometido infidelidade sexual (fornicação, adultério) ou
abandono malicioso e persistir nisso sem arrependimento, não buscando perdão
nem reconciliação, o cônjuge inocente pode (não que precisa fazê-lo) buscar
obter o divórcio legal para atestar que o cônjuge infiel dissolveu a união
matrimonial por sua infidelidade.
Mateus 1.19. Cf.: passagens da 6ª tese.
8. Quando pastores
precisam tratar com divorciados, insistem na maioria dos casos no perdão e
na reconciliação, se isto for possível. Pois, na maioria das vezes, ambos as
partes têm culpa em grau maior ou menor, que levaram uma união ao divórcio. É
muito raro uma das partes ser totalmente inocente num divórcio.
1
Coríntios 7.10,11.
9. Se ambos os
cônjuges numa união são culpados de fornicação, eles perdem o direito de
buscarem o divórcio. Se após a descoberta da infidelidade, do adultério, o
casal consente em coabitarem voluntariamente como homem e mulher, o matrimônio
foi com isto novamente unificado e a parte inocente perde o direito de mais
cedo ou tarde buscar obter o divórcio.
1 Coríntios 6.15,16.
10. A Igreja cristã
não proíbe a parte inocente de contrair novo matrimônio, nem ao cônjuge
culpado, que obteve o divórcio por causa de adultério ou deserção maliciosa
contrair novas núpcias.
Deuteronômio, Mateus 5.32; 19.9; 1
Coríntios 7.15,27,28.
11. Se o divórcio ou
separação foi obtido por uma razão não bíblica, nenhum dos cônjuges deve
casar novamente, mas buscar a reconciliação e restauração de sua união matrimonial.
1 Coríntios 7.10-11.
12. Se um dos
cônjuges separados por um motivo não bíblico, casar com outra pessoa, este
ato dissolve a união legítima. E este cônjuge tornou-se culpado do pecado de adultério.*
Quem casar com tal divorciado ou separado por um motivo não bíblico também
comete adultério. A parte inocente, neste caso, está livre.
*Adultério é um pecado grosseiro da carne
e merece a condenação eterna, se a pessoa disso não se arrepender. (Êxodo 20.14,17; Hebreus 13.4; 1 Coríntios
6.9-10; Gálatas 5.19; Efésios 5.5; Apocalipse 21.8; 22.15; 22;15)
13. Se os cônjuges
são membros de uma Congregação cristã, a parte culpada no divórcio deve ser
tratada conforme os princípios evangélicos da disciplina cristã.
Mateus
18.15-18; 1 Coríntios 5; 1 Timóteo 5.20; Gálatas 2.11-14.
14. A parte culpada
num divórcio, se penitente, deve corrigir sua vida pelo pedir perdão ao seu
ex-cônjuge e à Congregação cristã. Se a parte culpada ainda não casou de novo, deve
procurar a reunificação com seu ex-cônjuge. Se este (a parte inocente) ainda
não casou novamente e está disposto a recebê-lo de volta e se reconciliar. Se a
parte inocente da união original morreu, casou ou recusa a reunificação, então
a parte penitente, está livre para cassar novamente sem o estigma de ser um
adúltero.
Se a parte
culpada no divórcio do matrimônio original vier a se arrepender após estar
casado pela segunda vez, não há razão bíblica para rotular a segunda união como
adultério. Ela também não precisa ser dissolvida, visto que a parte culpada,
agora se arrependeu, mesmo estando casado com uma pessoa com a qual não tinha o
direito de casar, pois estava divorciada por uma razão não bíblica. A segunda
união dissolveu, permanentemente, a primeira aos olhos de Deus (Veja tese 12ª).
Por outro, a Bíblia só proíbe, especificamente, após um segundo casamento o
retorno à primeira mulher (Tese 3ª)
Romanos 7.1-3; 1 Coríntios 7.10-11, 27-28;
João 4.16-18; Deuteronômio 24.4.
15. A parte culpada
num divórcio, se sinceramente arrependida, que corrigiu sua vida, deve ser
completamente perdoada e recebida de volta na Congregação cristã com todos os
direitos e privilégios.
João
8.11; 2 Samuel 12.13; 2 Coríntios 2.6-8.
16. O pastor cristão não
oficiará, em cerimônia de casamento, pessoas que evitaram o tratamento
cristão em relação ao casamento, que divorciaram de forma não cristã. A não ser
que sejam penitentes e que seu primeiro cônjuge tenha falecida, cassou ou recusa
permanecer com ele.
1 Timóteo 5.22; Ezequiel 3;17-20; Efésios
5.11.
17. A melhor maneira
de se evitar a tragédia do divórcio é quando cônjuges cristãos tomarem a
sério a admoestação bíblica de que marido e mulher devem amar um ao outro e
reconhecer sua responsabilidade sexual própria dada por Deus na vida e no
matrimônio..
Efésios 5.22-31; Tt 2,3-5; 1 Pedro 3.1-7;
Colossenses 3.12-19.
----------------------------------
I N D I C E
Introdução
I – O pastor deve ser
irrepreensível e modelo para o rebanho
1.1 – A eficácia da palavra de Deus
1.2 – Esta verdade é muito consoladora
1.3 – O santo ministério, um dom de Deus
1.4 – Qualificações especiais
1.5 – Devem saber cuidar de si e da doutrina
1.6 – Devem ser modelo para o rebanho
1.7 – Remir o tempo
1.8 - Reavives o dom que há em ti
II – Qualificações
para o ministério
2.1 – Irrepreensível
2.2 – Esposo de uma só mulher
2.3 – A esposa do pastor
2.4 – Temperante
2.5 – Sóbrio
2.6 – Modesto
2.7 – Hospitaleiro
2.8 – Apto para ensinar
2.9 – Não dado ao vinho
2.10 – Não violento
2.11 – Não avarento
2.12 – Que governe bem a sua própria casa
2.13 – Não neófito
2.14 – Que tenham bom testemunho dos de fora
2.15 – Resumindo
2.16 – A difícil tarefa de disciplinar pastores
2.17 – Quem é apto para tanto?
III – O santo
matrimônio à luz da palavra de Deus
3.1 – O matrimônio não é uma evolução social
3.2 – O matrimônio é um estado abençoado por Deus
3.3 – O matrimônio é um estado normal para o ser humano
3.4 – O matrimônio cristão é monógamo
3.5 – O matrimônio cristão é estabelecido por um consenso
mútuo
3.6 – A união matrimonial é vitalícia
3.7 – Na escolha de um companheiro
3.8 – No lar cristão o marido é o cabeça
3.9 – Um propósito importante no matrimônio, os filhos
3.10 – O matrimônio cristão tem como fundamento a palavra de
Deus
3.11 – No matrimônio cristão o verdadeiro amor é cultivado
3.12 – Jovens cristãos se preparam para esta bênção
IV – Matrimônio,
crises e divórcio
4.1 – O matrimônio é uma união vitalícia
4.2 – Exposição exegética
4.3 – Observações
4.4 – Disciplina
4.5 – Pedidos para efetuar cerimônias de casamento
4.6 – Conclusões
V – Famílias
pastorais em crise
5.1 – O pastor sofre o divórcio
5.2 – O pastor é culpado
VI - Pastores divorciados no ministério
6.1 – Perdão e ministério
6.2 – Opiniões em defesa da permanência do pastor
6.3 – Opiniões sobre pastores divorciados
6.4 – Recomendações
6.5 – Servindo como leigos
Palavra final
Bibliografia
Apêndice
I – Ofícios na Igreja
II – Afirmações sobre Divórcio e novo Casamento
[1]
Tradução: Almeida Revista e Atualizada, Soc. Bíblica do Brasil.
[2] WA
40,III,23ss.
[3] Chamamos
atenção que os vocábulos gregos usados aqui, são todos masculinos. Isso deixa
claro – sem entrarmos em maiores discussões - que o ministério deve ser ocupado
por homens.
[4] Tratado
sobre o poder e o primado do Papa § 61-62; Livro de Concórdia p.315.
[5] Confere
Apêndice 1. Ofícios na Igreja.
[7] Liturgia
Luterana, Casa Publicadora Concórdia, Porto Alegre, 1971, Vol. II, pág. 44-47.
[8] C.F.W. Walther. Americanisch=Lutherische
Pastoraltheologie. St. Louis, MO. Druckerei der Synode von Missouri, Ohio e.a.
Staaten, 1890, pág. 381ss. Ou Pastoral Theology, p. 266.
[9] Para
citar um exemplo: Um técnico de informática gasta hoje provavelmente ¼ do seu
tempo para estudos e ¾ para atividades. E, depende do seu ramo, até 2/4 do seu
tempo no seu pregar.
[10] Armin
S. Schuetze, Armin e Irwin J. Habweck. The Shepherd under Christi, Northwestern Publishing House,
Milwaukee, Wisconsin, 1981, pág. 6.
[11] Pastorale de Walther, pág. 382.
[12] A
situação atual nas igrejas, também em nossa e nas igrejas irmãs não é nada
animador. Até os anos 60, pastores divorciados se licenciavam do ministério, se
eles sofreram o divórcio – quer tendo culpa expressa ou tendo sofrido o
divórcio - atuavam na retaguarda, não diante do altar e no púlpito. Hoje já existem
pastores divorciados no ministério, até ocupando cargos na liderança das igrejas.
Até pouco tempo era praxe que, mesmo sendo um pastor divorciado readmitido a
exercer o pastorado, era recomendação de que ele não fosse eleito para cargos
de Conselheiro, Presidente Regional ou para a Diretoria da igreja. – Das
igrejas luteranas (não de nossa SELK) veio-nos a informação, de que cada quinto
pastor evangélica é divorciado (Idea Spektrum, dia 05/03/2008).
[13]
Comentários de C.M.Zorn, G.Stöckhardt, J.A.Bengel, Scharlemann. Cf.: Synodal Bericht do Distrito de Michigan, 1907,
32.
[14] Os 1.2.
O fato de o profeta Oséias, por ordem de Deus, casar com uma prostituta, não
nos dá direito de fazer exceções. Isto só cabe a Deus, que através disso,
queria mostrar ao povo de Israel, o que ele, o próprio, Deus, estava sofrendo
por seu povo.
[15] Norbert H. Mueller e George Kraus. Pastoral
Theology. Concordia Publishing
House, St. Louis, MO 1990, p.35)
[17]
Infelizmente, pastores recém formados, nos primeiros anos, não planejando bem
seu orçamento familiar, contraem dívidas por prestações além de suas possibilidades,
não conseguindo se recuperar mais. Tentam sair da crise emprestando dinheiro
dos membros da Comunidade. Ficam com a fama de caloteiros a ponto de precisarem
mudar de lugar. E os casos não são poucos.
[18] Nossa
igreja irmã na Alemanha, a Selbständige Evangelische Lutherische Kirche (SELK).
[19] No
nosso caso seria aconselhável que não fossem mandados logo para um campo de
missão, onde estão sozinhos, mas tivessem pelo menos alguns anos numa
Comunidade formada, com diretoria engajados num distrito.
[20] Schuetze, Armin S. e Irwin Habweck,
The Shepherd under Christ, Northwestern
Publishing House, Milwauke, Wisconsin, 1981, pág. 6.
[21] Lehre u. Wehre, ano 1872, n° 8.
[22]
Confira, para maiores detalhes, meu trabalho sobre: Tratativas Pastorais, apresentado na Conferência de Conselheiros e
Líderes Leigos, 27/04/2004.
[23] Este
licenciamento tem a finalidade de impedir que o pastor influencie no exame e
julgamento do assunto. Isto é para o bem dele e da congregação. Por isso,
durante o licenciamento não deveria pregar na paróquia nem fazer visitas aos
membros. Seria aconselhável se pudesse
tirar férias e sair do lugar, o que, na verdade, nem sempre é possível, devido
aos filhos na escola.
[24]
Liturgia Luterana, vol. II. Casa Publicadora Concórdia S.A. Porto Alegre, 1971.
Início: Oração do
Pastor
[25] Walter A. Maier, PH.D. For Better Not for Worse. Concordia Publishing House, St. Louis, Mo. 1935,
p.6-8. Traduzido
e adaptado.
[26] Simul
iustus et peccator totaliter (Simultânea e totalmente justo e pecador).
[27] Esta
lei, portanto, pertence à lei civil do povo judeu.
[28] O
matrimônio é ordenado por Deus. Nele também pagãos podem levar uma visa honrosa
e feliz, conforme o conhecimento da lei inscrita em seus corações. Mas viver
conforme o santo padrão de Deus, isto é possível somente aos cristãos. E onde
Cristo não mora no coração, o maligno reside, mesmo levando as pessoas a uma
vida ética honra diante do mundo.
[29]
Compendio Trindentino, sessão 24, cânon 7;
[30]
Pastoral de Walther, p.246.
[31] Pastoral de Walther, p.250.
[32] Alguém
poderia objetar: Mas é tão fácil assim, basta se arrepender. A proibição de não
casar refere-se a uma situação ainda não resolvida, na qual há possibilidade e
esperança de reconciliação. Uma vez concretizado o divórcio, e se a parte
culpada, ou ambos estão arrependidos e o caminho para restabelecer a primeira
união impedido, a parte culpada poderá contrair novo casamento.
[33] Psicologia.
Ciência estuda o comportamento humano, seu relacionamento na sociedade. Ela não
abrange o relacionamento da pessoa com
Deus. Esta orientação só encontramos na palavra de Deus. Portanto, a psicologia
não edifica a fé cristã, nem a orienta. A vida cristã, a partir da fé, é
orientada pela palavra de Deus.
[34] Albert B. Wingfiel, Marriage is for Life, CTS Family Press,
Fort Wayne, 1989, p. 53.
[35] Esta
pergunta lhe veio repentinamente à mente.
[37] Opus
cita., Pastoraltheologie, Walther.
[38] Já na
última Convenção da LCMS, julho 2007, houve um pastor divorciado que foi
candidato ao cargo de 1º vice-presidente. Ele não foi eleito.
[39] O
trabalho do Bischof Roth, confira no
Apêndice I, que é sem dúvida um excelente trabalho, afirma que o pastor divorciado
pode voltar ao ministério. Neste respeito, da readmissão simples do pastor
divorciado ao ministério, não posso concordar plenamente.
[40] Ultimatum,
2006, n° 59.
[41] Norbert H. Mueller e George Kraus. Pastoral Theology. Concordia Publishing House, St. Louis, MO, 1990, p. 35.
[42] John
McArthur, pastor da Grace Community Church, não denominacional, origem batista,
página na WEB. Autor de vários livros.
[43] Martim H. Scharlemann, The Pastoral office and Divorce, Remarriage,
Moral Devination. Concordia Journal 6 (julho de 1980), pág. 141-150.
[44] The Faithfull Word, vol.33, 1996,
n° 2, p.91.
[45] Sob
“encaminhar para o divórcio” entende-se o seguinte: a) Houve adultério (ou
abandono malicioso). Houve aconselhamento, ainda não final. A esposa saiu de
casa. O assunto se tornou público. b) O casal entrou em crise. Houve
aconselhamento, mas sem resultados. A crise tornou-se pública.
[46] Pecado
contra o Espírito Santo. Peca contra o Espírito Santo aquele em quem o Espírito
Santo trabalhou e/ou trabalha, mas a pessoa resiste ou rejeita obstinada e
persistentemente o Espírito Santo. De repente
Deus diz: Chega! Então terminou para aquela pessoa o tempo de graça, como no caso
de Faraó do Egito. Este momento, no entanto, só Deus conhece. Veja o caso do
rei Manassés (2 Rs 2.1-18; 2 Cr 33.1-20) que resistiu tanto tempo e mesmo
assim, no final, Deus lhe concedeu a graça do arrependimento. Cf.: obras
Selecionadas de Lutero, vol II, p.65. (Nota do tradutor)
[47] Martinho Lutero, Obras Selecionadas, vol.
3. pág. 423ss. Editora Sinodal e Editora
Concórdia, Porto Alegre, 1992.
[48] Christian News Encyclopedia, vol.
II, p. 1291. Rev. Jeffrey C. Kinery, Grace Ev. Luth. Church Brownwood, Texas. Tradução
e adaptação: Horst R. Kuchenbecker
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