quinta-feira, 12 de setembro de 2019


J U S T I F I C A Ç Ã O     P E L A     
Georg Stöckhardt  - Pastor da LCMS (1842 – 1913). Ele escreveu este estudo para leigos. Escreveu como fala, por isso é bastante repetitivo, e aborda detalhes.  
     O que é a fé cristã? Tenho muita fé! A fé é tudo. Tenho certeza de que Deus me dará o que peço, porque tenho fé! – O que é fé cristã? Qual a base desta fé. Vejamos.
     Vamos falar da Justificação pela fé.
Indice
1.       O artigo da justificação do pecador pela graça de Cristo é o centro da Bíblia e das Confissões Luteranas.
2.       Em que consiste este tão alto valor deste artigo?
3.       Como e através de que somos justificados diante de Deus?
4.       Como esta doutrina é apresentada hoje muitas vezes?
5.       Será que a fé é uma boa obra?
6.       Qual é então a correta compreensão da justificação pela fé?
7.       Em que sentido a fé justifica?
8.       Justificação significa perdão dos pecados?
9.       A fé se apega à graça de Deus!
10.   Por graça pela fé?
11.   A fé se apega à Palavra de Deus.
12.   A graça da justificação nos é oferecida e aplicada pela Palavra de Deus.
13.   Assim também é ensinado nas Confissões luteranas.
14.   O grande consolo desta doutrina.
15.   A correta compreensão da fé.

Abreviações:
1.       Livro e Concórdia, edição 1980 = LC
2.       Fórmula de Concórdia = FC
3.       Fórmula de Concórdia Declaratio Sólida = FC DS
4.       Fórmula de Concórdia Epítome = FC Ep.
5.       Confissão de Augsburgo = CA
6.       Apologia = Ap.
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I – O artigo da justificação do pecador pela graça de Cristo é o centro da Bíblia, por conseguinte, também das Confissões Luteranas.
1.       A doutrina da justificação do pecador pela graça de Cristo é o centro e a estrela das
Confissões luteranas. Lemos na Fórmula de Concórdia (FC), no Livro de Concórdia (LC), página (p.) 579.6:

Esse artigo da justificação pela fé é ( como diz a Apologia (Ap.) “o principal de toda a doutrina cristã”, sem o qual nenhuma pobre consciência pode ter qualquer consolo firme ou reconhecer devidamente a riqueza da graça de Cristo, como também escreveu o Dr. Lutero (WA XXX1,255): “Se este arrigo permanece puro na arena, também a cristandade continua pura, belamente concorde e sem qualquer seitas. Todavia, onde não permanece puro, é impossível resistir a qualquer erro ou espírito fanático” (Ap. IV,2,3; LC  Ap, p. 110).

2.       O artigo da justificação é o mais importante e principal da doutrina cristã.
Sua luz recai sobre todos os outros artigos. Onde este artigo não permanecer puro, a porta está aberta para todo o tipo de heresias. Por isso, este artigo é tão importante porque todo o consolo do cristão depende dele. O cristão, que entender bem este artigo, tem um coração e consciência alegre e mantém bom ânimo na vida e na morte.

3.       Daí a importância de voltarmos sempre a este artigo ao fazermos estudos bíblicos
sobre alguma doutrina cristã da Escritura, na pregação e na instrução. Tudo dependerá da clareza e pureza deste artigo. Por isso é importante voltar sempre a considerar este artigo. O consolo que nos brota desse ensino é inesgotável. Quem deseja este consolo, nunca se cansará                                                                                               de considerar este artigo. Por isso os leitores vão gostar deste, porque lhes servirá para edificação e consolo, mesmo quando esta antiga verdade lhe é colocadas novamente diante dos olhos.  

II – Em que consiste o alto valor deste artigo?

     Do que trata a justificação? O que significa “justificação”? Justificação, para falar com nossas Confissões luteranas, da Fórmula de Concórdia é:

Que o pobre pecador é justificado diante de Deus, isto é, absolvido e declarado livre e isento de todos os seus pecados e da sentença da bem merecida condenação, e é recebido para a adoção de filho e a herdeiro da vida eterna, sem qualquer “mérito ou dignidade” de nossa parte, também sem quaisquer obras antecedentes, presentes ou subsequente, tão-só por graça, exclusivamente por causa do só mérito, da obediência integral, do amargo sofrimento, da morte e da ressurreição de Cristo nosso Senhor, cuja obediência nos é atribuída como justiça” (Livro de Concórdia, Fórmula de Concórdia Declaração Sólida, III.9; LC p. 580 (LC FC DS).

O importante aqui é como ganhamos um Deus gracioso, como subsistiremos na vida e na morte diante de Deus? Como Deus nos torna justos? Como Deus nos justifica? Deus está inclinado a, por amor a Cristo, aceitar, os que confiam na graça de Cristo, como justos Deus, como seus queridos filhos e não tem mais nada contra. Pela fé em Cristo, somos justos diante de Deus, isto significa: Nós somos limpos diante dos olhos de Deus, piedosos e justos, íntegros e completos. Nós temos Deus e seu julgamento a nosso favor. Estamos na graça de Deus. A bem-aventurança de Deus repousa sobre nós. Neste sentido, o apóstolo Paulo fala da justificação em todas suas cartas.

III – Como e através de que somos justificados diante de Deus?

     Somos justificados diante de Deus somente pela fé. Chamamos isto simplesmente de “justificação pela fé”. Lemos na Confissão de Augsburgo (CA), Artigo IV: Da Justificação:

Ensina-se também que não podemos alcançar remissão do pecado e justiça diante de Deus por mérito, obra e satisfação nossa, porém que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e que por sua causa os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna. Pois Deus quer considerar e atribuir a essa fé como justiça diante de si, conforme diz São Paulo em Romanos 3.21-26 e 4.5. (FC p. 30).

E a Apologia da Confissão de Augsburgo (Ap. IV,2,3; LC p. 110), na defesa deste artigo acrescenta mais detalhes e comprova com versículos bíblicos “de que o ser humano é justificado diante de Deus pela fé”. Pois, assim ensina a Escritura: “Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela fé, independentemente das obras a lei”(Rm 3.28). A Escritura diz: “Abraão creu, e isso lhe foi atribuído para justiça” (Rm 4.3). “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justifica os gentios pela fé, preanunciou o evangelho a Abraão” (Gl 3.8). O apóstolo Paulo fala claramente da justificação pela fé, por exemplo: “A justiça que procede da fé” (Rm 10.6). O que, no entanto, significa isto que somos justificados pela fé?

IV - Como esta doutrina é apresentada hoje muitas vezes?

I - Reconhecidos professores do cristianismo luterano, teólogos alemães, especialmente aquele que querem  ser reconhecidos como teólogos luteranos, também muitos pregadores, quando falam da justificação da fé, usam uma linguagem, mais ou menos da seguinte forma: Pela fé, os seres humanos, pobres pecadores, são justificados diante de Deus, sim, somente pela fé, não por obras. Então acrescentam: Não por obras externas. Pois obras e comportamento são, mesmo na melhor vida, fracos e imperfeitos e não bastam ao santo e perfeito Deus. Por isso, Deus olha o coração, para a atitude do coração, do qual procede ação do ser humano, e dá a isto o seu verdadeiro valor. Assim, Deus olha para a fé, a correta atitude que agrada a Deus. Esta atitude é a que justifica a pessoa diante de Deus. Deus toma esta atitude, a vontade pela ação. Deus já vê nesta semente, que germina no coração, o fruto, como se já todos os bons frutos estão presentes ali, que devem brotar da fé. Deus olha para a fé como um germinar em si. A fé é a correta atitude que Deus requer, antes de tudo, de uma pessoa. Quem crê, este coração está bem diante de Deus e honra a Deus. A fé é o começo, a primeira e mais nobre parte do cumprimento da lei. Deus toma este começo, esta premissa, pela lei toda. Visto que a pessoa ao crer em Deus, confia em Deus e o confiar em Deus é o cumprimento do primeiro mandamento que perpassa todos os outros mandamentos, sim toda a lei, e cumpre toda a justiça. Dessa forma, Deus atribui a justiça, à fé.
     Resumindo, Deus julga a pessoa por aquilo que lhe dá valor, conforme a vontade ou a atitude que é dirigida a Deus, conforme a fé. Ao falar assim, toma-se a fé não somente de forma geral, mas como um confiar em Cristo, o Salvador. Exatamente a fé em Cristo vale como a verdadeira atitude requerida pelo evangelho, o bom comportamento da pessoa. Em outras palavras, a salvação é pela atitude da pessoa, a saber, por obras. Isso é um erro crasso.   

II – Esta é a doutrina da justificação pela fé, como ela é ensinada hoje e propagada por escritos e pregações no protestantismo cristão. Também outros que não foram contaminados por esta nova sabedoria, têm conceitos semelhantes a essa doutrina errada.  Tais pensamentos surgem, constantemente também de nosso próprio coração. Muitos luteranos, se pedíssemos sua opinião e  perguntássemos: Como você espera ser justificado por Deus e alcançar a bem-aventurança? Responderiam: Pela fé. Se continuássemos a perguntar: O que você entende por fé? Ouviríamos talvez a seguinte resposta: Creio em Jesus Cristo, meu Salvador. E sou sincero nisto. Sei que algumas pessoas não me tem como tal, mas Deus sabe qual a posição do meu coração com respeito a ele. Pessoas que conhecem minha vida, talvez tenham alguma críticas, mas Deus conhece minhas intensões e atitudes. Procura comprovar minha fé por minhas ações. Ainda tenho fraquezas, quem não as tem. Por tomar meu cristianismo a sério, Deus me será gracioso. Amo a Deus, meu Salvador, assim Deus também me amará e não desviará de mim o seu rosto. E muitos de nossos pregadores, após exporem a graça, terminam o sermão com as seguintes palavras; Você ouviram a respeito o amor a Deus. Agora importa crer, mas não só crer, é preciso praticar a fé, a fé precisa ser viva. Bem, a gente pode interpretar isso da melhor maneira. Mas, sem dúvida isso será entendido pelos ouvires da seguinte maneira, eu preciso crer, mas se não viver a fé, praticar obras, a fé por si não tem valor.


III – É claro que desta forma fazemos da fé uma obra, uma virtude, uma realização nossa, portanto um mérito nosso. Mesmo se nós nos esforçamos em manter longe de nós, da justificação pela fé, qualquer pensamento de mérito, de justificação própria, de realização própria ou justiça própria no manter a fé, quando se dá toda a honra e glória a Deus e a Cristo, mas a gente encara a fé como se só ela concretiza a justificação, como se a fé da pessoa determina e motiva a Deus a justificar o pecador. O pecador crê que Jesus cumpriu toda a lei e pagou toda a nossa culpa, mas isto só vale para o pecador se ele chegou ao ponto de crer, só então Deus pode realmente perdoar e declarar o pecador justificado. Assim muitos pensam a respeito da doutrina da “justificação pela fé. Assim falam desta doutrina. Assim falam da ação de Deus e da ação e do comportamento do ser humano, e constroem a justificação sobre a fé da pessoa, como se a fé fosse causativa da salvação.  

IV – Esta exposição sobre a fé e justificação está errada e é nociva. Onde essas opiniões   ganham espaço, ali o importante artigo da justificação não permanece mais puro. Ali se perde também o consolo desta doutrina. Este erro, que é um erro de nossos dias, que rouba o consolo dos cristãos, queremos expor cuidadosa e profundamente agora.. Por que sete erro se infiltra fácil e sorrateiramente de mais para dentro do coração dos verdadeiros cristãos. Não é nosso propósito  expor, neste artigo da justificação e abordar todos os ângulos da mesma, tão somente esse um ponto: O que realmente significa “justificação pela fé”, de que somos salvos pela fé.

V – O paradoxo entre fé e boas obras.

1.       Pela fé, nós nos tornamos piedosos e justos diante de Deus. Se quisermos ter a correta
compreensão desta fé e manter longe de nós todas a falsa concepções a respeito da fé, precisamos dar atenção ao contrário. Onde a Escritura trata da justificação, ali o paradoxo entre fé e obras é destacado. 

2.       O apóstolo Paulo afirma: Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela f[é,
independentemente das obras da lei (Rm 3.28). Ele mostra, antão, que já no Antigo Testamento a fé era o único caminho para ser justificado por Deus. Ele mostra isto pelo exemplo de Abraão. Abraão creu em Deus e conclui disto que ele não confiou em obras. Porque, se Abraão foi justificado por obras, ele teria de que se orgulhar, porém, não diante de Deus. Pois o que diz a Escritura? Ela diz: Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça. Ora, para quem trabalha, o salário não é considerado como favor, mas como dívida. Mas para quem não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4.2-5). Quem crê, não lida com obras. Se a fé é atribuída à pessoa para justificação, então as obras, dívidas, conquistas, salários, honra são excluídas. Esta é a opinião do apóstolo Paulo em sua carta ao Gálatas: Sabendo, contudo que o homem não é justificado por obra da lei, e sim mediante a fé em Jesus Cristo, também temos crido em Jesus Cristo, para que fossemos justificados pela fé em Cristo e não por obas da lei, pois por obas da lei ninguém será justificado (Gl 2.16). Fé e obras da lei são incompatíveis entre si. Quem quer ser justificado pela fé, deixa as obras de lado. Lemos ainda em Gálatas: E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé (Gl 3.11). Se o justo alcança a avida pela fé, é manifesto e segue, que ninguém é justificado pela lei. Fé e lei, obras da lei e fé na graça de Cristo são fortemente opostos entre si. Se quisermos compreender bem o que é a “justificação pela fé” e em que sentido e porque a fé justifica a pessoa e a torna piedosa e justa, então precisamos, antes de tudo, renunciar a todos os pensamentos da lei e das obras da lei e excluir as mesmas de nossa mente.

3.       O que o apóstolo quer dizer sob a expressão “obras da lei”? Os papisas dizem: “Aqui o
Apóstolo Paulo está  pensando apenas nas leis cerimoniais judaicas. Ele quer dizer que esta obras dos judeus, como a circuncisão, a santificação do sábado, os sacrifícios não ajudam na justificação e bem-aventurança. Com tal interpretação, eles falsificam a Escritura. Eles querem como os judeus, estabelecer sua própria justiça diante de Deus. Eles não querem renunciar ao mérito e glória de suas obras. Eles ensinam que a pessoa é salva e justificada pela fé e as obras, Por isso torcem a Escritura. Quando o apóstolo diz em poucas palavras que a pessoa não é justificada pela obras da lei, mas é justificada sem as obras da lei, somente pela fé, é evidente que todas as obras que a lei requer, são excluídas da justificação e não somente as obras cerimoniais dos judeus. Lutero afirma: “O apóstolo Paulo não rejeita somente as obras cerimoniais, mas as obras da lei”, a saber, também as mais excelentes, nobres e elevadas obras da lei. Temos que abrir mão de toda e qualquer obra se quisermos captar o correto conceito de fé do apóstolo.

4.       Dizem que a opinião do apóstolo, por exemplo, é que a obra exterior sozinha, o
simples cumprimento  exterior da lei não justifica é preciso que algo mais precisa ser acrescentado, a saber, a obediência de coração, para  que a pessoa possa agradar a Deus. Muitos professores e pastores luteranos ensinam isso hoje. Eles dizem, a obra em si, sozinha, por exemplo não matar, não adulterar, não roubar, mas fazer um bem ao próximo, viver honradamente não justifica a pessoa diante de Deus, nem a torna piedosa; quando, no entanto, estas obras brotam da verdadeira atitude do coração, da fé, a saber, do amor a Deus e ao próximo, isto é agradável a Deus e torna a pessoa aceitável a Deus. Ou em palavras que hoje se diz: A fé precisa ser verdadeira, isto é, precisa ser praticada, e aqui se pensa em obras.

5.       Na verdade, a correta intenção do coração dá valor às obras. Quando elas procedem
de um bom propósito do coração, elas agradam a Deus. Mas – e isso é importante - elas não tornam a pessoa, o ser humano, agradável a Deus. O apóstolo Paulo testifica e afirma diversas vezes: “Não pela obras da lei”. “Sem a obas da lei. Sob “Lei”, o apóstolo resume a obas de toda a lei, tudo o que a lei requer da pessoa. Sob “obras da lei” está também a mais nobre exigência da lei de Deus, o 1º Mandamento, “de que devemos temer e amar a Deus e confiar nele acima de toda a coisas.” Sim, a exigência da lei de Deus atinge o coração, os pensamentos e os desejos e requer do coração o cumprimento da lei, a obediência à lei, obras da lei de que o ser humano ame a Deus de todo coração, de toda a alma, com todas suas forças e o próximo como a si mesmo. Isto é o resumo de toda a lei. E o apóstolo Paulo afirma, categoricamente, pela lei, ninguém é justificado. Lei e cumprimento da lei é obra da lei, e são uma e a mesma coisa para ele. Portanto, também as boas correta do amor a Deus, não somente a obras hipócritas dos fariseus, mas todas as obras, também as mais excelentes obras da lei, todas são excluídas aqui pelo apóstolo Paulo. Portanto todas as obras são excluídas, também as melhores obras dos fiéis, pois todas estão manchadas de pecado. O amor dos fiéis ainda é imperfeito, por isso, ninguém é salvo pelas obras do amor a Deus e ao próximo. “Pelas obras da lei ninguém é justificado”.

6.       Portanto, ao falamos da justificação, quando compreendemos o correto significado da
fé, então é preciso esquecer completamente as obras. É preciso afastar de nossos pensamentos de que, se cumprirmos a lei de Deus e temermos a Deus sinceramente de todo o coração e nos esforçarmos em servir a Deus e ao próximo, de que com isso mereceremos algo de Deus. Não. Por que Deus só aceita o cumprimento completo e perfeito da lei.

7.       Nossas Confissões compreenderam isso corretamente. A Apologia afirma: “Razão
porque exclui também o mérito de obras da lei moral. Pois, se a justificação diante de Deus fosse dívida paga por essas obras, a fé não seria atribuída para justiça independentemente de obras” (Apologia, IV, 98-90; LC p.124). Mas, também não há fé verdadeira, salvadora, naqueles que estão sem contrição e pesar e têm o mau propósito de ficar e perseverar em pecado. Verdadeira contrição precede a verdadeira fé, e existe em verdadeiro arrependimento ou com a fé. Também o amor é fruto que certa e necessariamente segue à fé verdadeira. Pois, se alguém não ama, isso é indicação segura de que ele não é justificado, mas ainda está na morte ou perdeu a justiça da fé, como diz o apóstolo João: Nós sabemos que já passamos da morte                                                                                                                             para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte (1 Jo 3.14). O apóstolo Paulo afirma: Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela fé, independentemente das obra da lei (Rm 3.28). Com isto o apóstolo indica que nem as obras precedentes, nem as subsequentes pertencem ao artigo ou assunto da justificação pela fé. (Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida (FC DS) III, 26-27; LC p. 583).

V – Será que a fé é uma boa obra?

1.       A contrição que antecede à fé, o amor que segue a fé e todas as outra boas obras, nos
precisamos excluir da justificação pela fé. Como? Será que a própria fé, independente da contrição e do amor, não é uma boa obra? Será que a fé não é uma boa atitude do coração, agradável a Deu? Não é a fé a fonte do amor e toda as outra boas obra? Exatamente a isto os novos teólogos dão valor no trato da justificação. Com ênfase, ensinando que a fé, não a contrição ou o amor, mas a fé, por já compreender em si o amor e todas as boas obras, é considerada por Deus para a justificação. Enquanto o apóstolo Paulo opõe a fé às obras da lei, eles explicam que a fé em Cristo não pertence à lei de Moisés, que ordena a obras. A fé em Cristo, dizem eles, é muito superior à lei, pois é muito melhor, uma obra mais nobre do que a obras dos Dez Mandamentos, um obra que Deus ordenou pelo evangelho. Esta obra, a obediência da fé, é uma obediência, como Deus a quer, e toda a justiça da lei, já é cumprida nesta única obra. Ora, esta doutrina é uma fuga da verdade e um engano. Quando o apóstolo afirma: “Não pelas obras da lei, mas pela fé”, com isto  exclui qualquer e todas a obras a lei. Tudo o que a pessoa pensa, quer, faz e por aquilo que ele quer cumprir uma lei de Deus, chamem isso como quiserem, de fé ou de amor, o apóstolo compreende sob o título de “obras da lei”. O apóstolo Paulo afirma a respeito de Abraão, de que ele creu, e não lidou com obras. Ele não fez algo e silencia completamente em relação à lei. Lidar com obras, fazer ou operar algo, é para ele uma e a mesma coisa, a saber, obras da lei. Se quisermos compreender bem o que a fé significa na justificação, não devemos considerar a fé uma obra, nem como fonte, como suma de todas as obras. Precisamos afastar de nós todos os pensamentos que refletem o nosso fazer, como: pensa, inventa, quer, se propõe, fazer e agir.

2.       A Apologia da Confissão de Augsburgo lembra aos que contradizem que, quando eles,
os luteranos falam da fé, eles não pensam numa fé que seja “simples pensamento inativa”, mas em na fé que uma nova luz, vida nova e força no coração que renova o coração, os pensamentos e o ânimo e faz de nós uma nova criatura. Mas ela continua: “Contudo, nem por isso devemos pensar que recebemos a remissão dos pecados e a reconciliação pela confiança nesse amor, ou em vista dele, da mesma forma como não recebemos remissão de pecados em virtude de outras obras, sequentes, senão que unicamente pela fé, e, sem dúvida, por intermédio da fé propriamente dita é que se recebe remissão de pecados, porque a promessa não pode ser recebida a não ser pela fé”. (Ap., IV, 112; FC p. 128). Portanto, não é a nossa opinião de que, quando falamos da justificação pela fé, considerar a fé como uma nova luz e vida, como o início de todas as boas obras, como se a fé, por esta causa e constituição justificasse.

3.       Quando Lutero expõe o versículo de Gênesis 15.6, ele faz a observação de que, quando
Deus considerou a fé de Abraão como justificação, ele observa: “Quando Deus faz uma promessa, ali Deus age sozinho e oferece algo, quando ele ordena algo pela lei, ele exige e requer algo de nós, e quer que façamos algo”.  Como precisamos distinguir entre promessa e lei, assim precisamos distinguir entre fé e amor e fazer distinção entre a finalidade da fé e a finalidade do amor” (St. Louis I, p. 947). Com isso Lutero afirmou que a fé que nos justifica não tem nada a ver com a lei, com obras e realizações da pessoa. A fé precisa ser separada e ser diferenciada das obras. Pois a fé é algo bem diferente do que obras através das quais a lei de Deus é cumprida.

4.       As obras das pessoas incluem em si o merecimento e dão direito à recompensa ao
salário. Quem realiza e faz alguma coisa conquista para si um salário, e há  o dever e a dívida que o salário lhe seja pago. “Quem lida com obras, a este o pagamento do salário é obrigatório”, diz o apóstolo. Se a pessoa é justificada por obras, então aquilo que a pessoa faz e opera, obrigaria e determinaria a Deus de justificá-la. Mas isto não é assim. Somente pela fé. A fé exclui todas as obras e não entra na justificação como contribuição. E é por isso que a fé é algo bem diferente do que uma obra. Assim também não é a fé que determina algo que determina ou move a Deus para ser favorável à pessoa e justificá-la é unicamente o amor de Deus, o amor por Cristo.

5.       Disto  vemos por que o artigo da justificação pela fé é um artigo tão consolador. Até
aqui esclarecemos o que a fé não é, e como não devemos interpretar a fé ao dizer que o ser humano é justificado pela fé, a saber, que não deve-se pensa que a pessoa ao crer acrescenta algo. Só isto já é altamente consolador. Em que situação desesperadora estaríamos se tivéssemos que examinar nossa situação, nossos sentimentos do coação para descobrir se nós estamos, no todo, corretos para com Deus, antes que pudéssemos ter a certeza de que fomos justificados por Deus? Neste caso nossa justificação estaria num fundamento vacilante e não teríamos consolo. Mas, se quisermos estar certos de como estamos para com Deus, se temos um Deus gracioso ou não, não devemos, de forma alguma, olhar para nossas obras, nem olhar para nossos sentimentos, nosso interior, se nossa confiança está correta diante de Deus ou não. Deus, ao nos justificar, não se orienta, de nenhuma forma, pelo nosso pensar, querer ou agir. Ele ignora isto completamente. Assim nós também devemos fazer quando  pensamos em nossa justificação. Não olhar para dentro de nós, de como é o nosso pensar em relação a Deus, nosso querer e fazer. Tudo o que possa nos impedir, estorvar e enganar quando nos ocupamos com a pergunta sobre a graça de Deus, devemos afastar e sufocar em nós. Nossa justificação está completamente fora de nós, e repousa sobre o eterna fundamento de Deus. Nós nos tornamos piedosos e justos diante de Deus pela fé, e nisto precisamos eliminar em nós todo o nosso fazer e agir. Portanto, o que significa que somos salvos pela fé? Que confiemos exclusivamente na graça de Cristo, no que Deus nos oferece e fez e faz por nós, sem olhar para dentro de nós. O nosso pensar, fazer ou agir. Vimos isto pela palavra de Deus e nossas Confissões, nos capítulos anteriores.

VI – Qual é então a correta compreensão da justificação pela fé?

1.       Por que e em que sentido a pessoa é justificada pela fé? Esta pergunta queremos
responder agora à luz da Escritura Sagrada. 

2.       Em primeiro lugar lembramos a palavra da Confissão de Augsburgo, artigo 4:

Ensina-se também que não podemos alcançar remissão de pecados e justiça diante de Deus por mérito, obra e satisfação nossa, porém, que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremo que Cristo padeceu  por nós e que, por sua causa, os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna. Pois Deus quer considerar e atribuir essa fé como justiça diante de si, conforme dia São Paulo em Romanos 3.21-26 e 4.5.

3.       O que é dito aqui da justificação, é resumido em uma frase no final do Artigo 4 da
Confissão de Augsburgo: “Pois Deus quer considerar e atribui essa fé como justiça diante de si, conforme diz São Paulo em Romanos  3.21-26 e 4.5. Todas as outra afirmações sobre a justificação estão incluídas nesta frase de que Deus nos atribui a fé para justificação. A fé é que nos justifica, por isso todo nosso merecimento, obras e realizações estão excluídas. Nós somos justificados diante de Deus “por Cristo”, somos “justificados por graça”. Nós somos, por Cristo, justos diante de Deus. Assim a fé em Cristo é que  nos justifica. O assunto do qual tratamos, se torna claro para nós, quando colocamos este único fato diante de nós, e olhamos um assunto após outro. Que a fé exclui todas nossas obras e nossos méritos, já vimos. Como a fé engloba em si o “por graça”, e quão intimamente isto está unido ao “por graça” e “pela fé”, queremos ver agora. Pois, se compreendemos bem o que significa que nós somos justificados diante de Deus por graça, então reconheceremos por que e em que sentido a fé nos justifica, qual o significado da fé na justificação.

VII – Em que sentido a fé justifica?

     O apóstolo Paulo  escreve aos Romanos: Porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sento justificados gratuitamente, por sua graça mediante a redenção que há em Jesus (Rm 3.22-24). E na carta a Tito lemos: A fim de que, justificados por graça, nos tornemos herdeiros (Tt 3.7). Por graça, por sua graça nós nos tornamos justos. A graça de Deus é a base de nossa justificação. O que significa graça? O oposto torna isso claro. “Por graça, isto é, sem o nosso mérito, como presente”. Um presente é uma doação de amor, que não devemos a alguém por obrigação. Ora, para quem trabalha, o salário não é considerado como favor, mas como dívida. Mas ao que não trabalha, porém, crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4.4,5).E, se é elar graça, já não é pelas obras, do contrário, a graça já não é graça (Rm 11.6). A graça de Deus é favor e benevolência, é favor livre, que tem sua origem unicamente em Deus, que nos carrega em si” (Introdução de Lutero a Atos dos Apóstolos. Erlanger Ausgabe, 6. p. 123). “A misericórdia e graça são dados de graça, sem merecimento” (Lutero na explicação de Rm 3.24, em Grund und Urusache aller Artikel, usw. 1520, Erl. Ausgabe, 24, p. 98). Somos justificados por graça, isto é: Sem nosso merecimento ou dignidade, como presente de Deus, por sua livre e pura misericórdia. Deus justifica a nos pobres pecadores, não por achar ou ver em nós ainda algo de bom, que o motivasse a isso, mas conforme seu incompreensível amor a nós, imerecidos e indignos pecadores, ele é movido e inclinado a nos ser gracioso. Não é nada diferente do que sua inimaginável graça que move o coração de Deus quando ele nos justifica.

2. E por sermos justificados por raça é por isso que somos salvos pela fé. Agora podemos compreender em que sentido a fé nos torna piedosos e justos. Graça e fé estão intimamente unidos. “Por isso as palavras misericórdia, bondade, fé são repetidas tantas vezes nos Salmos e Profetas” (Ap. IV, 107, 108; LC 127). O apóstolo Paulo escreve: Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça (Rm 4.16). Para que isso seja “por graça”, precisamos manter também que a justificação vem somente pela fé. Fé é confiança. Isto é a fé correta, que confiemos inteiramente na livre bondade e misericórdia de Deus, na graça e bondade de Deus. A fé vai além de si e se apega a Deus, no coração de Deus e disposição de Deus e se consola com isso, de que Deus é tão gracioso e misericordioso. A fé não olha para suas obras próprias, mas, ela volta-se de si, de sua própria pessoa, e se inclina para a bondade e graça de Deus, que vale para os imerecidos e transgressores pecadores. Quem crê, diz a si mesmo: Eu sou, diante de Deus, totalmente indigno, não tenho nenhuma honra diante de Deus, não sou digno de sua compaixão, nem de sua graça, mesmo assim me refúgio na graça, sim, por isso, por nada valer diante de Deus. Tão somente devido sua bondade e graça tenho certeza de que eu indigno e miserável pecador serei aceito por ele. Esta é a maneira de Deus ser gracioso ao indigno e miserável pecador. A fé é, portanto, o meio pelo qual nós nos apegamos a sua graça e misericórdia e a voltamos para nós. A fé se apega e tem e segura a graça de Deus, pela qual somos justificados. Quem crê, este se apega e possui a justificação pela fé como sua própria e é diante de Deus, por ela, piedoso e justo.

VIII – Justificação significa perdão dos pecados

1.       O apóstolo Paulo afirma que o rei Davi considera bem-aventurado a pessoa a quem
Deus confere justiça, sem obras, com a seguintes palavras: Bem-aventurados, aqueles cujas transgressões são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado aquele a quem o Senhor jamais atribuir pecado (Rm 4.6,7). Por isso lemos na Confissão de Augsburgo: “Que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé” (CA, artigo 4). Na Apologia da Confissão de Augsburgo, no Artigo IV, 76; LC p. 121, lemos: “Obter a remissão dos pecados e ser justificado, segundo o texto: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada” (Sl 32.1). O perdão dos pecados é chamado também de “graça” ou perdão dos pecados por graça, dizemos que isto é a ação e obra de Deus, que ele perdoa pecados, e isto de si mesmo, por livre vontade, por livre bondade. Portanto, por nada que estivesse sobre ele, fora dele e do nada que estivesse no ser humano ou colaborasse da parte dele.

2.       Neste sentido o perdão dos pecados é louvado muitas vezes na Escritura. O profeta
Miqueias exclama: Quem é semelhante a ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do remanescente da herança (Mq 7.18). Isto é a incomparável grandeza de Deus, que ele perdoa pecados e apaga iniquidade, e isto somente por ele ser misericordioso ou porque ele tem prazer na misericórdia (Mq 7.18). Isto é a honra e glória de Deus. Quando Moisés pediu a Deus : Peço que me mostres a tua glória. O Senhor respondeu: Farei passar toda a minha bondade diante de você e lhe proclamarei o nome do Senhor, terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de que eu me compadecer (Êx 33.18,19). E quando depois Deus, ao lhe entregar as Tábua da Lei, falou com Moisés, Deus lhe e disse: O Senhor! O Senhor Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-se e grande em misericórdia e fidelidade que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a maldade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira quarta geração! (Êx 34.5-7). Com isso Deus comprova que sua graça e misericórdia estão unicamente firmados e fundamentados em sua compaixão. Deus é gracioso e tem compaixão dos pecadores e perdoa a iniquidade, e as transgressões e pecados só por ser graciosa e misericordioso. Pelo profeta Isaías Deus diz: Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim (Is 43.25). Deus apaga as transgressões e perdoa os pecados por sua própria vontade, porque tem prazer nisso. Isto é seu direito, por isso tem prazer nisso. Conforme o profeta Isaías, Deus ao entrar em juízo com seu povo, disse: Venham, pois, e vamos discutir a questão. Ainda que os pecados de vocês sejam como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles se tornarão como a lá (Is 1.18). Em nome de Deus o profeta mostrou ao povo seus grande pecados. Agora este povo pecador está diante do juízo de Deus e espera a condenação. O povo não pode esperar outra coisa do que a condenação. Mas que milagre. Deus lhes anuncia a justificação em lugar da condenação. O pecado, a culpa vermelha deve ser perdoada e ser branca, como a neve. Este é o maravilhoso poder da graça de Deus, que torna o vermelho branco e a culpa em pureza.

3.       Exatamente este último ponto nos mostra até que ponto a fé é relevante neste
assunto. O profeta continua: Se estiverem dispostos a me ouvirem, vocês comerão o melhor desta terra. Mas, se recuarem e forem rebeldes, vocês serão devorados pela espada; porque a boca do Senhor o disse (Is 1.19,20). Isto é: Se vocês estarão dispostos para me ouvir, etc. Disto depende agora, que os pecadores ouçam este milagre de Deus que os absolve, que aceitem o mesmo. Com uma palavra, que creiam o que o Senhor diz. Se eles o ouvirem e crerem, estarão limpos de seus pecados e herdarão a bênção. Aqueles, no entanto, que se opõem a esta sentença, e resistem à palavra de Deus, não crendo, mas rejeitam o que o Senhor diz, estes ficarão com seus pecados e com isto sob ir de Deus e perecerão por fim. Esta é a incompatível obra de Deus, ele perdoa pecados e limpa os pecadores e suas transgressões por ser misericordioso: Quem é semelhante a ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do remanescente da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia (Mq 7.18).

IX – A fé se apega à graça de Deus

1.       Portanto, a fé vê e reconhece esta obra de Deus, toma e se apega a este dom de Deus,
o perdão dos pecados. A fé se abstém de suas próprias obras e se alegre e consola naquilo que Deus faz, do que Deus dá, de livre vontade, por seu amor, e consola-se com isto, de que Deus lhe ser sobremaneira gracioso e misericordioso, perdoando transgressões e pecados. É por isso que a fé justifica diante de Deus e torna a pessoa piedosa e justa por aceitar e se apropriar do perdão dos pecados. A questão é simples e fácil. Cada filho de Deus o pode tomar. O Credo Apostólico expressa todo o processo da justificação com a seguintes palavras: “Creio na remissão dos pecados”. Há perdão dos pecados. Em Deus há muito perdão. Quem crê e aceita este perdão para si, quem diz no seu coração: “Eu creio no perdão dos pecados”, este tem perdão, a este Deus considera limpo de todos seus pecados e justo.

2.       O que dissemos aqui da justificação é clarificado ainda mais pela afirmação do
apóstolo Paulo: Mas, para quem não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4.5). O apóstolo destaca aqui que é Deus que justifica e torna o ímpio justo. A pessoa está diante de Deus como pecador, como ímpio, em seus pecados e vergonhas e não tem nada para se desculpar ou justificar. E o que Deus faz? Em lugar de condenar o ímpio, o que é justo, Deus deixa sua graça  operar e justificar o ímpio. Esta é a verdadeira fé que creiamos como Abraão, que confiemos em Deus que justifica os ímpios. Quem crê, este diz a si mesmo: Eu pertenço aos pecadores aos              ímpios. Com respeito a isso não há dúvidas. Mas Deus é gracioso e justifica os ímpios. Assim ele me justificará também. Não há dúvidas quanto a isso. Este é o modo de Deus justificar. Ele declara os ímpios justos. Nisto cremos de coração e nos consolamos com isso. Assim a justificação é realizada e concluída. Aquele que crê no Deus que justifica os ímpios, a esta fé Deus atribui a justificação, a este Deus considera justo e puro, por apegar-se à esta justificação de Deus. Deus confere aos que creem e consideram este Deus como seu Deus, que os torna justos.

3.       Da mesma forma nossas confissões descrevem a justificação pela fé. Lemos na
Apologia: Esta fé especial, pela qual o homem crê que os pecados lhe são remetidos por Cristo, e que Deus é aplicado, e é propício, por amor de Cristo, obtém, portanto, a remissão dos pecados a nos justifica (Ap. IV,45; LC p. 116). Desta arte, a fé que recebe gratuitamente a remissão dos pecados, por isso que a ira de Deus opõe a Cristo como mediador e propiciador, não opõe méritos nossos ou nosso amor (Ap. IV,46; LC p. 116). Toda fez, pois, que falamos em fé justificante, deve saber-se que concorrem estas três coisas: a promessa, e essa gratuita, e os méritos de Cristo, como preço, e a propiciação. A promessa é recebida pela fé; gratuito exclui méritos nossos, significando que o benefício é oferecido apenas por misericórdia (Ap. IV, 53; LC p. 117). Pois a fé justifica ou salva não por isso, que seja obra de si mesma digna, mas tão somente porque aceita a misericórdia prometida. (Ap. IV, 56; LC p.117 e 118). Todavia, não se pode tratar com Deus, não se pode apreendê-lo, a não ser pela palavra. Por isso a justificação se realiza pela palavra, como diz Paulo: O evangelho é o poder de Deus para salvação e todo aquele que crê (Rm 1.16). Da mesma forma: A fé vem pela pregação (Rm 10.17). E até daí pode argumentar-se que a fé justifica, porque, se a justificação só se dá pela palavra, e a palavra é apreendida somente pela fé, segue-se que a fé justifica. (Ap. IV, 66,67/ LC p. 119). E, visto que ser justificado significa de injustos serem feitos justos, ou serem regenerados, significa também serem pronunciado ou reputados justos (Ap. IV, 72; Lc p. 120). Assim provamos, pois, a premissa menor: não pode    se aplacada a ira de Deus, se lhe opomos nossa obras, porque Cristo foi proposto como propiciador, de modo que por amor dele o Pai fique reconciliado conosco (Ap. IV, 80; LC p. 121). O profeta Habacuque afirma: “O Justo viverá pela sua fé” (2.4): Diz ele aqui, em primeiro lugar, que os homens são justos pela fé, pela qual creem ser-lhes Deus propício, acrescentando que a mesma fé vivifica, porque gera, no coração, paz, alegria e vida eterna (Ap. IV, 100; LC p. 125). A Fórmula de Concórdia nos dá uma clara e precisa explicação da fé, ao afirmar: Que o único ofício e propriedade da fé continue a ser isso de que somente ela e nenhuma outra coisa é o meio e instrumento com o qual e pelo qual a graça de Deus e o mérito de Cristo na promessa do evangelho são recebidos, aprendidos, aceitos, aplicados a nós e tornados nosso (FC III,38; LC p.585,586).

4.       Tudo o que é dito aqui da fé que justifica é claro consolo para o pobre pecador.
Também nós cristãos nunca podemos dispensar este consolo. Quando estamos diante do juízo de Deus, especialmente, no momento da última necessidade e medo, quando desaparece todo o consolo das próprias obras. Neste último momento, não acharemos nada de bom em nós, tão somente pecado, transgressões e impiedade. Ali veremos somente a Deus, o Deus que perdoa nossas transgressões e pecados, que perdoa todos os nossos pecados por amor a ele, de livre vontade, de graça ele justifica a ímpio. A este Deus nós nos entregamos, confiando, unicamente, em sua graça e misericórdia. Isto é fé. Assim subsistiremos diante de Deus.

X – Por graça pela fé

1.       Nós nos tornamos justos diante de Deus “pela graça, por causa de Cristo, mediante a
fé”. Assim lemos no 4º Artigo da Confissão de Augsburgo. Quão intimamente estas duas partes “por graça” e “pela fé” estão unidas, disto tratamos na parte anterior. Da mesma forma  estão unidas as outras duas partes “por amor a Cristo” e “nos são dados justiça e vida eterna”. Por isso a Confissão de Augsburgo acrescenta, que somos justificados: “Quando cremos que Cristo padeceu por nós e que, por sua causa os pecados nos são perdoados e nos são dados justiça e vida eterna” (Livro de Concórdia, p. 64 e 65). A Escritura descreve de forma breve a justiça da fé como fé em Cristo. Após o apóstolo Paulo usar o exemplo da fé de Abraão, ele aplica isto com as palavras: E as palavras “lhe foi atribuído” foram escritas não somente por causa dele, mas também por nossa causa, visto que a nós igualmente nos será atribuído, a saber a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4.23-25). Em sua carta aos Filipenses, o apóstolo fala da justificação e diz: Aquele que é mediante a fé em Cristo (Fp 3.9). Aos Gálatas o apóstolo escreve: Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabendo, contudo, que  homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Jesus Cristo, também temos crido em Cristo Jesus, para que fossemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras a lei ninguém será justificado (Gl 2.15). Três vezes o apóstolo mostra aqui como somos justificados diante de Deus, a saber, pela fé em Cristo. Se compreendemos isto bem, reconheceremos de que forma e porque a fé nos torna piedosos e justos.

2.       Após o apóstolo ter mostrado em Gálatas 2.16 que somos justificados somente pela fé
em Cristo, ele continua: Mas, se nós, procurando ser justificados em Cristo, fomos também achados pecadores, será que isto significa que Cristo é ministro do pecado? De modo nenhum! (Gl 2.17). Aqueles que querem ser justificados mediante a fé em Cristo (Gl 2.16), são aqueles que buscam ser justificados por Cristo. Ser justificado pela fé e em Cristo é a mesma coisas que ser justificado por Cristo. Não que somos nós que cremos, não realizamos pelo menos esta única coisa, crendo em Cristo, mas que é Cristo, no qual cremos, que nos torna justos. Ou em outras palavras: Cristo nos torna justos. O apóstolo Paulo escreve em Romanos: Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus apresentou como propiciação, no seu sangue, mediante a fé (Rm 3.24,25). O apóstolo dá detalhes, porque e em que sentido nós nos tornamos justo por Cristo. Cristo nos salvou. Ele pagou por nossos pecados. Ele pagou a dívida de nossos pecados. O preço é seu próprio sangue. Por seu sangue derramado na cruz ele pagou a dívida da humanidade. Cristo é o trono da graça do Novo Testamento, que por seu próprio sangue cobre nossos pecados e nos redimiu por seu sofrer, morrer, sangrar, ele nos reconciliou com Deus. Pela salvação que aconteceu por Cristo, somos justificados diante de Deus. Que Cristo nos livrou de nossos pecados, pagou por nossos pecados, nos reconciliou com Deus, isto nos torna justos diante de Deus. “Pela fé”, estas palavras estão neste conjunto. Pela fé somos justificados. Isto porque, pela fé nós nos apropriamos do sangue de Cristo, da salvação de Cristo, da reconciliação que Cristo operou por seu sangue. A fé se apega a Cristo e ao seu sangue, sua obra. Vá a Cristo, ao trono da graça, console-se com a salvação e reconciliação que aconteceu por Cristo. Assim a fé entre aqui em consideração como o meio, pelo qual a salvação e a obra salvífica de Cristo se torna nossa. Se nós, como pessoas, nos apegamos a salvação de Cristo, então estamos livres de nossos pecados e diante de Deus puros e justos.

3.       Neste sentido nossas Confissões falam da fé. A Apologia afirma: “Toda vez, pois, que
se fizer menção de misericórdia, saiba-se que aí se requer fé, que recebe a promessa de misericórdia. E novamente, toda a vez que falamos em fé, queremos se entenda o objeto, a saber, a misericórdia prometida. Pois a fé justifica ou salva não por isso que seja obra de si mesma digna, mas tão somente porque aceita a misericórdia prometida” (Ap. IV 55,56; LC p.117,118).

4.       O que Cristo conquistou é o tesouro. Por isso a fé justifica por aceitar e apegar-se a
este tesouro de Cristo, por este tesouro se tornar nosso e ser nosso pela fé. Nada do que é ou está em nós. E tesouro de Cristo que se torna nosso. E mais, lemos na Apologia: “Mostraremos agora que a fé justifica. Importa, aqui, em primeiro lugar, avisar os leitores do seguinte: Assim como é necessário manter a sentença que Cristo é mediador, assim é necessário sustentar que a fé justifica. Pois, como será Cristo mediador, se na justificação não nos valemos dele como mediador, se não julgamos que somos reputados justos por causa dele? Mas crer é  isto: confiar nos méritos de Cristo, que por causa dele Deus certamente quer reconciliar-se conosco. Da mesma forma, assim como importa sustentar que, para além da lei, é necessária a promessa de Cristo, assim é necessário sustentar que a fé justifica. Pois a lei não ensina a gratuita remissão dos pecados. Igualmente: não se pode cumprir a lei a não ser que primeiro se haja recebido o Espírito Santo. Por conseguinte, é mister sustentar que a promessa de Cristo é necessária. Entretanto, não se pode aceitar isto sem que seja pela fé. Por isso, os que negam que a fé justifica, nada ensinam exceto a lei, abolidos o evangelho e Cristo” (Ap. IV, 69.70; LC p. 119,120).

5.       Portanto a fé se apega a Cristo, nosso Mediador e confia nisto de que somos, por meio
dele, justos diante de deus. A Fórmula de Concórdia também acentua que a fé é “o meio e instrumento”: “A fé é dom de Deus pelo qual acertadamente chegamos a conhecer a Cristo, nosso Salvador, na palavra do evangelho e nele confiamos, que somente por causa de sua obediência, por graça, temos perdão dos pecados, somos considerados piedosos e justo por Deus Pai e nos salvamos eternamente” ( FC DS III,11; LC p. 580). E: “a fé não justifica por ser obra tão boa e tão bela, e sim porque apreende e aceita o mérito de Cristo na promessa do santo evangelho. Pois o mesmo tem de ser aplicado a nós e tornado nosso mediante a fé, se por ele devemos ser justificados” (FC DS III,13; LC p. 581). A fé toma e se apega à obediência de Cristo. Assim a fé se torna para nós a justiça de Cristo, atribuída a nós.

6.       Nós tratamos, em primeiro lugar, a fé como um meio, pelo qual a graça e misericórdia
nos é atribuída. Agora chamamos a fé o meio pelo qual nós nos apropriamos da graça de Cristo. Isto não deve ser entendido como duas coisas separados. Como se a fé recebe os bens de Cristo. Como se a fé, em primeiro lugar é um meio, que se apega e abraça a graça de Cristo e depois recebe os bens de Cristo. Não! Como se a fé como meio e o bens de Cristo fossem duas coisa separadas. Não! A duas coisas estão unidas. A Fórmula de Concordia, frequentemente, se expressa assim: “A justiça de Cristo ou a fé, que Jesus imputa por graça, pela fé, a pobre pecadores para justiça.” (FC DS III,1; LC p. 578). “Sobre a justiça da fé ante Deus cremos, ensinamos e confessamos, unanimemente, de acordo com o epítome de nossa fé e confissão cristãs acima apresentado: que o pobre pecador é justificado diante de Deus, isto é, absolvido e declarado livre e isento de todos os seus pecado e da sentença da bem merecida condenação, e é recebida para a adoção de filho e a herança da vida eterna, sem qualquer “mérito ou dignidade”, de nossa parte, também sem qualquer obras antecedentes, presentes ou subsequentes, tão-só por graça, exclusivamente por causa do só mérito, da obediência integral, do amargo sofrimento, da morte e da ressurreição de Cristo nosso Senhor, cuja obediência nos é atribuída como justiça” (FC DS III, 9; LC p. 580). Isto é conforme a Escritura. Conforme a Escritura somos salvos somente pela graça de Deus, que foi realizada por Cristo (Rm 3.24,25). É pura graça, pela qual Deus nos justifica, perdoa os pecados, e é pura graça que Deus nos justifica dessa maneira, por amor a Cristo, que Cristo realizou. É preciso que esta seja a nossa confissão, como o Livro de Concórdia afirma: “Pois o mesmo tem de ser aplicado a nós e tornado nosso mediante a fé, se por ele devemos ser justificados” (FC DS III,13; LC p. 581). Deus quis revelar sua justiça e direito de castigar. Ele queria ser também aquele que é e permanece o único justo (Rm 3.25,26). Por isso, Cristo precisou sofrer, morrer e suportar a ira divina. Cristo morreu suportou tudo em lugar dos pecadores e assim os salvou. Isto é pura graça e misericórdia de Deus. Deus, de livre vontade, por pura graça e bondade, de si, enviou a Cristo, e o entregou à morte e reconciliou o mundo consigo mesmo. Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo (2 Co 5.19). Deus por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no amado. Nele temos redenção, pelo seu  sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça (Ef 1.5-7). Assim a fé se apega  agarra  e recebe ambas as coisas, um no outro, a graça de Deus em Cristo que por isso nos torna justos diante de Deus (FC DS III.9; LC p.580).

7.       Precisamos destacar mais um ponto de forma especial, que já está nos capítulos
anteriores. Nós ensinamos e confessamos que pela vontade de Cristo, pelo mérito de Cristo, ao qual nós nos apegamos pela fé, nos tornamos justos diante de Deus. Isto, no entanto, não deve ser entendido como se o mérito de Cristo, sua obediência, e nossa justiça, separados, fossem coisas diferentes. Como se nossa fé, se apegasse só em parte ao mérito e à obediência de Cristo, como se pela fé ao apegar-se à justiça de Cristo, nossa justiça seria operada em nós. Não, o mérito de Cristo e sua obediência, exatamente esta é nossa justiça, exatamente esta é a justiça que nos vale diante de Deus, pela qual subsistimos diante de Deus. E, vistoque a fé se apropriar do mérito de Cristo, este mérito passa a lhe valer, que vale diante de Deus. Assim acontece que nós, pela fé, somos justos diante de Deus. Este e o claro ensino da Escritura e de nossas Confissões.

8.       Nossa fé se apega, como o apóstolo escreve aos romanos a Cristo, que foi entregue
por causa das nossas transgressões e ressuscitou para nossa justificação (Rm 4.25). Isto é, Deus entregou Jesus à morte e o ressuscitou novamente, para que nossos pecados fossem pagos e extintos, e nossa justificação realizada. Nos cremos que isto é assim. Confiamos nisso de coração. Esta é a questão. Para o apóstolo Paulo é o mesmo que dizer: Nós somos reconciliados pela morte do Filho de Deus, ou dizer: pelos seu sangue, nós nos tornamos justos (Rm 5.9,10). Por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos para a justificação que dá vida (Rm 5.18). E pela fé recebemos a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo (Rm 5.17). Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não levando em conta o pecados dos seres humanos (2 Co 5.19). Deus reconciliou, por Cisto, o mundo consigo, e por isso perdoou ao mundo todos os pecados. Agora é necessário que creiamos e nos “deixemos reconciliar com Deus” (2 Co 5.20). O apóstolo Pedro confirma: Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio do seu nome, todo o que nele crê recebe remissão dos pecados (At 10.43). Todos os que creem em Cristo, em seu nome, tomam e recebem com isto perdão dos pecados. Todos os fiéis dizem com o apóstolo “nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados segundo a riqueza de sua graça” (Ef 1.7). Nós que cremos em Cristo temos Cristo e com isto, em Cristo, temos a salvação por seu sangue, que é a mesma coisa que dizer: o perdão dos pecados. Isto é certo, pois nós que estamos em Cristo, estamos unidos com Cristo e temos o que é dado com e em Cristo, perdão dos pecados. Este Jesus Cristo se tornou para nós, da parte de Deus,... justiça, santificação e redenção ( Co 1.30). Portanto, para justiça de todo aquele que crê (Rm 10.4).

9.       Nossas Confissões concordam com a Escritura. A Apologia observa: “Remissão de
pecados é coisa prometida por causa de Cristo. Logo, não se pode recebê-la a não ser pela fé somente. Pois promessa não pode ser recebida senão unicamente pela fé” (Ap. IV,84; LC p. 123). Na Fórmula de Concórdia lemos: “Cremos, ensinamos e confessamos que somente a fé é o meio, o instrumento com que aprendemos a Cristo, e, assim, em Cristo, aquela justiça que vale diante de Deus. E, a essa fé, por causa de Cristo, é atribuída com justiça (Rm 4.9), (FC Epítome III.3; LC p. 509). E mais: “A Escritura ensina que a justiça da fé perante Deus consiste unicamente na graciosa reconciliação ou perdão dos pecados, com que somos presenteados meramente de graça, por causa do mérito de Cristo, o mediador, e que é recebida somente pela fé na promessa do evangelho” (FC DS III,30; LC p. 584). “Visto, porém (conforme acima se mencionou), a obediência ser da pessoa toda, constitui perfeita satisfação e reconciliação do gênero humano,... Nela a fé confia diante de Deus” (FC DS III,57; LC p. 589). Portanto o sofrer e morrer de Cristo, sua obediência é a reconciliação do ser humano, e é nossa justificação que vale diante de Deus. Nisto a fé confia diante de Deus. E exatamente por isso, por a fé em Cristo se apegar a esta justiça, que é nossa justificação, a fé nos torna justos diante de Deus.  

10.   Isto mostra, por outro, que a doutrina da justificação pela fé concede forte consolo à
consciência do pobre pecador. Exatamente isto, no que a razão natural se escandaliza de que somos salvos diante de Deus por uma justiça alheia, a saber, a justiça de Cristo. Esta, no entanto, é, para o pobre pecador, o único consolo na vida e na morte. Com nossa justiça própria não podemos subsistir diante do juízo de Deus. Mas a fé pega algo de fora e se agarra na perfeita obediência de Cristo, esta é a justiça que vale diante de Deus. A fé se apega a Cristo, o crucificado e ressuscitado, isto é, a este fato certo que Cristo morreu na cruz e ressuscitou dos mortos. Com isto fomos libertados de nossos pecados e justificados diante de Deus. Pela fé e o permanecer na fé temos a Cristo. Tendo somente a Cristo temos tudo o que precisamos. Em Cristo temos perdão dos pecados e onde há perdão dos pecados, ali há vida e bem-aventurança.

XI – A fé se apega à Palavra de Deus

1.       Por graça, pela vontade de Cristo, o pecador é justificado diante de Deus. A fé e apega
à graça de Deus em Cristo e com isto à justificação que vale diante de Deus. Assim a fé nos justifica e nos trona justos diante de Deus. Disto nós já falamos. Estes bens, a graça de Deus e sua misericórdia, que vale diante de Deus, nos são oferecidos e dados pela palavra, o evangelho. E a fé se apega a esta Palavra. Quando refletimos sobre como a fé se apega à Palavra, veremos como e de que maneira a fé nos justifica. Os bens, dos quais tratamos aqui, graça, perdão dos pecados, justiça, são bens espirituais, invisíveis. Deus colocou estes bens espirituais, que são invisíveis, em sua Palavra, a pregação do evangelho, para que as pessoas, que são carne e sangue, possam apegar-se a eles e entender. A Palavra pode ser lida e ouvida. Por isso, tudo depende de que esta Palavra, que temos diante de nossos olhos e que ecoa em nossos ouvidos e chega ao nosso coração (mente), penetre em nosso coração e atue ali, gerando a fé. Portanto, a verdadeira fé consiste em aceitar e receber esta preciosa Palavra do perdão dos pecados. Então temos o que esta Palavra encerra, o perdão dos pecados. Isto mostra, claramente, que a fé não é uma obra nossa que prestamos a Deus, tão somente um meio pelo qual recebemos e tornamos nosso o dom de Deus, o dom da justificação.

2.       Nós cristãos sabemos o que é o evangelho de Cristo, nosso Salvador, a saber: a
pregação do perdão dos pecados (Lc 24.47). O evangelho nos diz: Deus é gracioso, Deus perdoa as transgressões, os pecados. Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo, não lhes imputando os seus pecados. Cristo morreu pelos pecados da humanidade e pagou a culpa de todas as pessoas com o seu sangue. Assim preparou a salvação aos malditos pecadores. O céu lhes está aberto. E a correta fé é esta, que a pessoa aceite, se apega a esta verdade e diga o Amém ao evangelho. Então a pessoa tem o que Palavra encerra, oferece, dá e cela, perdão dos pecados. Ela tem a misericórdia de Cristo, a bem-aventurança. O evangelho não é simplesmente uma afirmação, não simplesmente uma doutrina sobre Deus e Cristo, sobre o que Deus pensa. Esta afirmação é ao mesmo tempo a promessa de Deus. O evangelho é chamado na Escritura muitas vezes de promessa. Quando Deus promete algo, isto não é uma promessa vazia. Ao Deus prometer algo ao ser humano, ele o dá e presenteia isto à pessoa. O evangelho se dirige, individualmente, ao pecador e lhe diz: Aqui, eu te dou de presente o que te falta e o que tu precisas urgentemente. Aqui tu tens a graça de Cristo, o perdão, a justiça, o consolo, a paz e bem-aventurança. Toma o que eu te ofereço e dou. Confiar nisto é a correta fé, que a pessoa aceita com alegria o que Deus lhe confia e alcança por pura graça, no evangelho.
     Quem, portanto, crê na palavra do evangelho, nesta pessoa a promessa de Deus se cumpre e confirma. Esta pessoa possui o dom de Deus e está limpa de todos os pecados, é piedosa e justa diante de Deus e tem, em esperança, a bem-aventurança. O evangelho é e se chama de evangelho de Deus. É a palavra de Deus que lhe diz: Eu, eu apago toda as tuas transgressões por minha vontade e não vou lembrar mais os teus pecados. Mesmo se teus pecados sejam vermelhos como o sangue, serão brancos como a neve e a lã. A verdadeira fé se apega e alegre de coração com esta palavra e afirmação, com este julgamento de Deus e se consola. Sim, se console contra as acusações de sua própria consciência, opondo a estas acusações a palavra e julgamento de Deus. Quem, portanto, confia nesta Palavra do evangelho, este está, por sua pessoa, sob a sentença justificadora de Deus, portanto pura e justa

XII – A graça da justificação nos é oferecida e aplicada pela palavra de Deus.

1.       Um cristão que compreende razoavelmente a Escritura e do que trata o evangelho,
este também entenderá o artigo da justificação pela fé. Nós queremos aqui rever agora algumas afirmações, especialmente, aquelas que tratam da justificação, aquelas que pertencem aos versículos centrais do consolo, que o cristão precisa ler e ouvir com frequência e sobre elas meditar e movê-las em sua mente. Estas afirmações da Escritura mostram que a graça justificadora do evangelho nos transmite e aplica a nós a justiça do evangelho. Mostram também quão intimamente o evangelho, está unida nos ensinamentos e o que que é a fé que justifica diante de Deus.

2.       Na primeira parte de Romanos 1 a 5, o apóstolo Paulo aborda a doutrina da
justificação. O tema de sua exposição é: Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus, para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: “O justo viverá por fé” (Rm 1.16,17). Aqui o apóstolo testemunha que a justiça, que vale diante de Deus, que foi preparada por Cristo é revelada no evangelho e oferecida e aplicada às pessoas. Por isso o evangelho é o poder de Deus para a salvação. Esta justiça, que vale diante de deus, vem da fé, é recebida pela fé, é destinada para a fé, para a pessoa que a aceita pela fé. E a fé a busca no evangelho, que a oferece. Por isso, todos os que creem no evangelho, são bem-aventurados. Em romanos 1.1-18 e 3.20, o apóstolo mostra que todas a pessoas são pecadoras, quer judeus quer gregos (gentios) e sua justiça própria não tem valor diante de Deus, pois ninguém é salvo pelas obras da lei. Então o apóstolo passa a descreve a justiça da fé, e coloca, logo de início, a seguinte frase: Mas, agora, sem lei, a justiça de Deus se manifestou, sendo testemunhada pela Lei e pelos Profetas. É a justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem (Rm 3.21,22). Com isto o apóstolo repete e reafirma que a justiça, que vale diante de Deus, é a que foi preparada por Cristo e revelada pelo evangelho a judeus e gentios. Já no Antigo Testamento os profetas testemunharam, em lei e evangelho, esta justiça. Pelo evangelho, que agora é pregado em todo o mundo, esta justiça foi exposta de forma clara e precisa e apresentada aos pecadores para que a aceitem. Esta justiça é aceita pela fé. Por isso, todos os que creem, tornam-se participantes da mesma. Quem crê este dá ouvidos a Moises e aos profetas, ao evangelho e reconhece esta justiça no evangelho e se apega à mesma, pela qual pode subsistir diante de Deus. O apóstolo Paulo mostra em sua carta aos romanos que muitos em Israel, não alcançaram esta justificação, por não terem crido no evangelho (Rm 9.3ss e 11.16).

3.       O apóstolo Paulo chama a Palavra também de “meio”, pelo qual a justiça é dirigida e
transmitida, e a pessoa se apropria dela pela fé, sendo justificado. Também neste caso se pensa na Palavra do evangelho. Lemos na carta aos Romanos: Ora, Moisés descreveu assim a justiça que procede da lei: “Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá”. Mas a justiça que procede da fé afirma o seguinte: “Não pergunte em seu coração: Quem subirá ao céu?” isto é, para trazer Cristo lá do alto; ou: “Quem descerá ao abismo?” isto é, para levantar Cristo dentre os mortos. Porém, o que se diz? “A palavra está perto de você, na sua boca e no seu coração”, isto é, a palavra da fé que pregamos. Se com a boca você confessar Jesus como Senhor, e em seu coração crer que Deus o ressuscitou dentre os mortos você será salvo (Rm 10.5-9). Aqui o apóstolo coloca a justiça da lei e a justiça da fé uma contra a outra. A primeira torna o assunto difícil para a pessoa, sim, impossível de alcançar a justiça. Pois quem não cumpre toda a lei perfeitamente, não se torna justo e não será bem-aventurado. A justiça da fé, pelo contrário,  torna o adquirir a justiça fácil para a pessoa, pois o evangelho traz a justiça ao coração da pessoa que crê. Não é preciso buscar a Cristo de longe, nem do céu, nem da profundeza. Cristo já veio do céu à terra, morreu e ressuscitou. Por sua humanação, seu sofrer, morrer e ressuscitar, ele conquistou a justiça que vale diante de Deus. Por isso o apóstolo continua e diz: A palavra está próxima, na tua boca, no teu coração, a palavra da fé, que pregamos. Assim diz a justiça da fé, Portanto, Cristo, a salvação, a justiça está na Palavra. Esta Palavra está próxima de todos. Esta Palavra está sendo pregada. Cremos nesta Palavra e a movimentamos em nosso coração, e a confessamos com a boca. Assim Cristo, a salvação, a justiça nos está próxima e se torna nossa pela fé. De forma semelhante o apostolo escreve ao coríntios: Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos seres humanos e nos confiando a palavra da reconciliação. Portanto, somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por meio de nós. Em nome de Cristo, pois, pedimos que vocês se reconciliem com Deus (2 Co 5.19,20). A reconciliação, que Deus trabalhou em Cristo, o perdão dos pecados, Deus colocou na Palavra, isto quer dizer que a Palavra, o evangelho é a palavra da reconciliação. Pela Palavra, que os mensageiros pregam, o evangelho da reconciliação, o perdão dos pecados é difundido no mundo pecador. Jesus admoesta os pecadores pelos pregadores, para que aceitem esta palavra, creiam nesta palavra e portanto na reconciliação, para terem o perdão dos pecados.

4.       Onde o apóstolo Paulo trata da justificação pela fé, ele liga muitas vezes estes dois
termos: promessa e fé. Quando ele trata da promessa, ele não tem nenhuma outra coisa na mente do que a palavra do evangelho. Lemos em Romanos: Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja garantida para toda a descendência, não somente à descendência que está no regime da lei, mas também a descendência que tem a fé que Abraão teve – porque Abraão é pai de todos nós (Rm 4.16). Antes ele disse: Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa (Rm 4.14). Se a pessoa alcançou a herança celestial pelas obras da lei, diz o apóstolo, então a fé e a promessa cairiam por terra.   A promessa é o contrário da lei. A promessa não exige nada da pessoa, para que a pessoa faça algo, opere algo para que seja justa e alcance a bem-aventurança, pelo contrário, na promessa Deus promete por graça, de presente, livremente a bem-aventurança. O que ele requer dos seres humanos é somente a fé. Mas a fé não é uma obra da lei, mas o agarrar, tomar para si o que Deus lhe oferece. Não, não é pelas obras, mas unicamente pela fé a pessoa recebe a justiça e bem-aventurança. Assim também a promessa permanece firme e certa. Assim a promessa chega ao seu direito e consistência, quando a pessoa põem de lado todas suas obras e confia e aceita simplesmente o que Deus lhe oferece por graça. Todos os que creem recebem pela fé a justiça prometida, a bem-aventurança. Por isso o apóstolo Paulo afirma a respeito de Abraão que ele creu na promessa e não duvidou dela (Rm 3.20). Na carta aos Gálatas o apóstolo Paulo afirma a respeito da promessa da fé que ela é mais antiga do que a ordem da lei (Gl 3.15ss.) A promessa feita a Abraão fala do descendente que é Cristo (Gl 3.16), da justiça (Gl 3.21), da herança (Gl 3.18). Neste conjunto lemos: Foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão (Gl 3.18). Portanto, o que Deus prometeu em Cristo, justiça e vida eterna, isto ele concede em sua promessa. E estes presentes se tornam propriedade daqueles que creem. Os que creem têm o que a promessa lhes oferece, dá e sela, justiça e bem-aventurança. Isto o apóstolo afirma na frase final: A Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo a promessa fosse concedida aos que creem (Gl 5.22).   

XIII – Assim também ensinam as Confissões luteranas

1.       A Confissão luterana é também nesta parte um eco fiel da revelação de Deus. A
Confissão de Augsburgo trata no 4º Artigo Da Justificação e está intimamente ligado ao 5º Artigo que trata Do Ofício da pregação do Evangelho e observa ali, não somente que Deus dá pelo evangelho o Espírito Santo e gera a fé, mas destaca que “naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo não pelos nossos, um Deus gracioso se o cremos” (CA, Artigo 5º). Portanto, a fé se apega ao evangelho e no evangelho encontra um Deus gracioso. A Apologia da Confissão de Augsburgo destaca no 4º Artigo Da Justificação que a fé se apega e permanece apegada à graciosa promessa do Pai. “Que a fé significa não apenas notícia histórica, se não aquela fé que assente à promessa, testifica-o claramente o apóstolo Paulo, que diz: Esta é a razão por que provém da fé, a fim de que seja firme a promessa (Rm 4.16). Julga que não se pode receber a promessa exceto pela fé” (Ap. IV, 50 ; LC p. 117). Por conseguinte é mister que a promessa de Cristo é necessária. Entretanto, não se pode aceitar isto sem que seja pela fé” (Ap. IV, 70; LC p. 119, 120). A Apologia mostra ainda que a graça de Cristo está firmada no mérito de Cristo e desta forma justifica a pessoa. Por isso, “toda vez, pois, que falamos em justiça da fé, deve saber-se que concorrem esta três coisas: a promessa, e essa gratuita, e os méritos de Cristo, como peço, e a propiciação. A promessa é recebida pela fé; gratuito exclui méritos nossos, significando que o benefício é oferecido apenas por misericórdia”. (Ap. IV, 53; LC p. 117). Estas são, portanto, as três partes que estão sempre juntas. A fé que recebe a promessa e recebe com isto aquilo do que a promessa fala, a graça de Deus, o mérito de Cristo, que torna a pessoa justa. Por isso, a outra sentença afirma: “Esta fé especial, pela qual o homem crê que os pecados lhe são remetidos por Cristo, e que Deus é aplacado, e é propício, por amor a Cristo, obtém, portanto, a remissão dos pecados e nos justifica” (Ap. IV, 45; LC p. 116). Isto é, com uma palavra o perdão dos pecados, o qual recebemos pela promessa de Deus e a fé nesta promessa. “Logo não se pode recebê-la a não ser pela fé somente. Pois promessa não pode ser recebida senão unicamente pela fé. Na carta do apóstolo Paulo aos Romanos lemos: Essa é a razão porque provém da fé para que seja firme a promessa, segundo a graça (Rm 4.16). Como se dissesse: se isso dependesse de mérito nosso, seria incerta e inútil a promessa, visto que nunca poderíamos estabelecer quando é que o teríamos merecido suficientemente. E isso podem entendê-lo com facilidade consciências peritas. “Diz, por isso, o apóstolo Paulo em Gálatas: Deus encerrou tudo sob o pecado, para que mediante a fé em Jesus Cisto fosse a promessa concedida aos que creem (Gl 3.22). Aqui nos tira o mérito, porquanto diz que todos são réus e encerados sob o pecado. Acrescenta, em seguida, que é dada a promessa, a saber, da remissão dos pecados e da justificação, adicionando de que maneira pode a promessa ser recebida, a saber, pela fé (Ap. IV, 84; LC p.123).

2.       A Fórmula de Concórdia mostra no Artigo 3: “Da  justificação da Fé Perante Deus”, que
estes bens, a graça de Deus, o mérito de Cristo, o Perdão dos Pecados, a Justiça que vale diante de Deus, que é anunciada no evangelho e pela Fé que se apega ao Evangelho, e assim aceita e atribuída a nós. Ela ensina: “Deus nos perdoa os pecado, nos reputa por piedosos e justos e nos salva eternamente. Esta justiça nos é oferecida pelo Espírito Santo mediante o evangelho e nos sacramentos, e aplicada, torna-se nossa e aceita pela fé, de onde os crentes têm reconciliação com Deus, perdão dos pecados, a graça de Deus, a adoção de filhos e a herança da vida eterna” (FC DS III,16; LC p.581). A Fórmula de Concórdia confessa: “A justiça da fé consiste exclusivamente no perdão dos pecados por mera graça, tão  só por causa do mérito de Cristo, bens que nos são oferecidos na promessa do evangelho e são recebidos, aceitos, aplicados a nós e tornados nossos unicamente pela fé” (FC DS III,39. LC p.586). “Pois a fé justifica apenas porque, como meio e instrumento, apreende e aceita a graça de Deus e o mérito de Cristo na promessa do evangelho” (FC DS X III,43; LC p. 587). “Nem é a contrição, ou o amor, ou outra virtude, senão apenas a fé o único meio e instrumento com que e por meio do qual podemos receber e aceitar a graça de Deus, o mérito de Cristo e o perdão dos pecados, que nos são oferecidos na promessa do evangelho” (FC DS III,31; LC p. 584).
  
3.       Queremos lembrar ainda uma citação de Lutero, Da Liberdade Cristã, que cabe aqui:
“Quando, pois, [a pessoa] aprendeu sua impotência por meio dos preceitos e já ficou ansiosa quanto a como satisfazer a lei, visto que é necessário satisfazer a lei, de sorte que nem um jota, nem uma letra sequer se passe (Êx 20.17), (caso contrário) [a pessoa] será condenada sem qualquer esperança), então, realmente humilhada e reduzida a nada a seus olhos, não encontra em si mesma aquilo pelo qual possa ser justificada e salva. Neste ponto se faz presente a outra parte da Escritura – as promessas de Deus, que anunciam a glória de Deus e dizem: “Se queres cumprir a lei, não cobiçar, como exige a lei, crê em Cristo no qual te são prometidas graça, justiça, paz, liberdade e tudo; se creres, terás; se não creres, ficaras sem.” Pois o que te é impossível em todas a obras da lei, que são muitas, e, assim mesmo, inúteis, isso cumprirás de modo fácil e resumido pela fé. Porque Deus Pai depositou tudo na fé, para que quem tem a esta, tenha tudo; quem não a tem, não tenha nada. “Pois encerrou todas as coisas sob a incredulidade, para compadecer-se de todos” (Rm 11.12). Assim as promessas de Deus dão de presente o que os preceitos exigem, e cumprem o que a lei ordena, para que tudo seja exclusivamente de Deus, tanto os preceitos quanto seu cumprimento. Só ele dá preceitos, só ele os cumpre; por isso as promessas de Deus fazem parte do Novo Testamento, melhor, são o Novo Testamento (MARTINHO LUTERO, Obras Selecionadas, Vol. ll, p. 440).

XIV – O grande consolo desta doutrina

1.       Que doutrina consoladora! Temos a Palavra, o evangelho. Isto nos é
continuamente anunciado (pregado). Pesquisamos nela continuamente. Esta Palavra está próxima da nossos ouvidos, olhos e boca, em nosso coração. Cremos nesta Palavra. Nós nos apegamos a ela enquanto vivemos.  Ela nos acompanha e guia até a morte. Nesta Palavra temos tudo o que precisamos, com que vivemos e morremos. Com ela, que nos anuncia a graça de Deus, o sangue de Cristo, o mérito de Cristo, a justiça que vele diante de Deus, podemos subsistir diante de Deus. Esta Palavra não é nossa própria palavra, ela não procede de nosso coração, de nossos pensamentos humanos. Ela é a palavra de Deus. O que Deus diz em sua Palavra e nos promete, de que ele nos é gracioso e misericordioso, para tornar-nos piedosos e justos. Esta preciosa promessa do evangelho é firme e imutável, mesmo que o diabo, o mundo e nossa própria carne nos acusam e condenam. Esta palavra de Deus está acima e todas a vozes e mutações de nossa vida. Ouvimos sempre a mesma voz. A voz cordial de nosso Salvador, o veredito gracioso; perdoados são os teus pecados! Tu és meu filho querido! Que nos apeguemos fielmente a esta Palavra, para sermos fortalecidos na fé. Isto nos dará certeza de como estamos diante de Deus e como Deus está para conosco, de que ele, por amor a Cristo não tem nada contra nós, pois pela fé na graça e Cristo estamos diante de Deus no estado da graça.

2.       Nos artigos anteriores esclarecemos detalhadamente o que significa a justificação da
fé. A fé é, na justificação, um meio, somente um meio, pelo qual recebemos a graça e misericórdia de Deus, o mérito de Cristo, sua obediência e justiça, que vale diante de Deus, o perdão dos pecados. Pela promessa do evangelho, na qual nos são dados e aplicados todos os graciosos dons de Deus, que aceitamos pela fé. Só por isso, por aceitarmos pela fé a justiça que vale diante de Deus, somos justos diante de Deus. Queremos mais uma vez, de forma reduzida mostrar o que aprendemos a respeito disto da Escritura e das Confissões e ver a forma e natureza da fé que justifica para nos firmar na correta compreensão da fé.   

XV - A correta compreensão da fé

1.       A fé “não nos justifica, por ser nossa e nossa obra. A fé é o oposto a todas as obras da
lei. A lei exige que o ser humano faça algo a Deus e não requer somente obras exteriores, mas que o ser humano tema e ame a Deus de todo o seu coração, e entregue seu coração como sacrifício a Deus. No trato da justificação, da qual fala o evangelho, trata-se de algo bem diferente. No evangelho Deus não exige nada do ser humano. No evangelho Deus abre ao ser humano, que não cumpre as exigência de Deus, que não consegue oferecer algo a Deus, a este ser, Deus abre seu coração paterno e mostra ao pecador sua graça. No evangelho Deus mostra que perdoa, ao pecador condenado, gratuitamente todos os seus pecados por amor a Cristo e lhe concede vida em comunhão com Deus e a bem-aventurança. No evangelho Deus oferece ao indigno pecador a justiça que vale diante de Deus. E a pessoa que crê na palavra de Deus, crê e aceita o que Deus lhe alcança, ela o tem. Esta pessoa não deu, antes, nada a Deus que pudesse ser lhe recompensado. Esta pessoa, em nenhum momento é compromissada por Deus. Deus não lhe coloca nenhuma condição. O pecador que nada tem e não é capaz de fazer nada para sua justificação diante de Deus, que carece de tudo e não tem qualquer honra diante de Deus, aceita com gratidão e alegria a salvação que Deus lhe preparou, oferece e dá. Neste respeito, Deus fez e faz tudo sozinho: salvou, oferece e dá, opera e mantém a fé. A fé se apega a esta obra e se consola com o que Deus lhe fez e lhe dá.

2.       Na verdade, dizemos que o evangelho requer que creiamos. Assim lemos também na
Apologia que a promessa requer a fé.  A fé precisa se apegar ao evangelho, para podermos ser participante destas bênçãos do evangelho. Quem não aceita o dom do evangelho, antes o rejeita, não tem parte no evangelho. Esta é a exigência de Deus no tempo do Novo Testamento: Creiam no evangelho. Esta é a sincera vontade de Deus. Mesmo assim não é uma exigência em forma de lei. A exigência para que o pecador creia, flui do evangelho, é o próprio evangelho. Creiam no Senhor Jesus Cristo. Creiam no evangelho. Esta é a mais forte e consoladora promessa que podemos imaginar. Creiam em Cristo. Creiam no evangelho. Com isto Deus não diz: Eu fiz tudo, agora façam pelo menos esta obra, e creiam. Todas outras obras e realizações eu deixo de exigir de vocês. Eu estrei contente, se vocês fizerem esta única obra por amor a mim, creiam. Creiam no evangelho. Isto não é exigir de mais de vocês. Não, não é isto que significa a promessa creia no evangelho.  Com isto Deus está dizendo: Eu fiz tudo por vocês, você não precisam fazer. Eu vos dou tudo de livre vontade, de presente, o que vocês não conseguiriam conquistar com nenhuma obra, a saber perfeita justiça, está eu estou dando a vocês. Está tudo pronto. Vocês só precisam tomar e se apegar ao evangelho. Aqui você tem a graça de Cristo, perdão, justiça, consolo paz e bem-aventurança. Tomem, peguem, agarrem o com duas mãos, comam, bebam. A salvação está diante da porta. A Palavra está tão perto de vocês. Vocês a tem diante dos olhos e nos ouvidos. Creiam à Palavra, a salvação está ao alcance de vocês.  Quem o crê de coração, e o confessa com a boca, este é justificado e bem-aventurado. De fato, isto é o evangelho, a poderosa promessa de Deus. Com tais palavras Deus oferece aos pecadores sua graça e insiste com elas para que creiam.

3.       De fato, a fé, o crer e tomar não é alto exterior. Coração e vontade da pessoa entram
em ação. A fé que justifica e é confiança e certeza de coração. Mesmo assim, esta confiança não é uma obra da lei, não é obra no sentido como a lei a exige. Quando a pessoa faz uma obra em cumprimento da lei, ela oferece algo que ela deve a Deus. Também o temor e amor a Deus, a parte mais nobre da obediência da lei, é um sacrifício do coração que a pessoa faz a Deus. Quando, no entanto, a pessoa crê no evangelho, ela não faz um sacrifício a Deus, não faz algo em serviço, que ele deve a Deus. Não! Pelo contrário, a pessoa abre seu coração a Deus, e recebe, em seu coração, de Deus, a Cristo, a graça de Deus, o mérito de Cristo, a justiça de Cristo. A fé, esta confiança afirme, alegre do coração, não é uma obra própria, que tem seu valor e valia. Não! A fé recebe e pega a obra de Deus e o presente de Deus, que é o único que tem valor diante de Deus. Nós confiamos de coração na graça e misericórdia de Deus, nós depositamos no mérito e na obediência de Cristo toda confiança e temos certeza de que Deus, em Cisto, nos perdoa todo os pecados e nos justifica. Construímos nossa vida e esperança nesta promessa de Deus. Isto é a fé. No momento em que tiramos aquilo à que a fé se apega, no momento em que rejeitamos o evangelho, a promessa da graça e Cristo, o perdão dos pecados, também a nossa confiança cai e perdemos a fé.

4.       O evangelho torna a fé possível. Pelo evangelho o Espírito Santo gera, opera e mantém
a fé. O evangelho nos revela a justiça que vale diante de Deus. O evangelho do perdão dos pecados é uma nova doutrina, uma nova revelação, que não tem nada em comum com a revelação da lei, a qual não gera a fé. O evangelho é muito superior à lei. Assim também a fé, que se apega ao evangelho e com isso à justiça que vale diante de Deus, é algo novo, especial, algo bem diferente do que qualquer obra da lei. Visto que o evangelho é proclamado no mundo, surge por ele também a fé no mundo. Pelo evangelho Deus revela sua graça, o perdão às pessoas, assim revela e opera ao mesmo tempo a fé, pela qual a pessoa se torna participante da graça. Deus derramou no mundo, pelo evangelho, a abundância de sua graça, para que os pecadores possam desfrutar esta bênção. Para isso Deus providenciou um meio pelo qual puderam receber esta abundância da graça, a saber a fé. Assim a fé está totalmente na esfera do evangelho. A fé em Cristo é algo único em sua forma, diferente de obras, do agir das pessoas. A Apologia destaca que nenhuma obra, mas unicamente a fé abraça a promessa da graça. Lutero escreve: “Se tu juntasses todas a tuas obras, sim, juntasses a elas todas a outras obras do mundo, mesmo assim ainda não terias Cristo e não serias um cristão. Cristo é algo bem diferente e superior do que a lei e ordem humana. Ele é o Filho de Deus que está pronto a dar, mas não a receber. Se estou apto a recebê-lo, eu o tenho, então sou chamado de cristão”. (St. Louiser Ausgabe, XI, p. 1838).
Este tomar é a fé.

5.       O apóstolo Paulo trata da justificação em sua carta aos romanos e escreve: Abraão,
esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas gerações, segundo lhe havia sido dito: “Assim será a sua descendência.” E, sem enfraquecer na fé, levou em conta o seu próprio corpo já amortecido, tendo ele quase cem anos, e a esterilidade do ventre de Sara. Não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que Deus era poderoso para cumprir que havia prometido. Assim, também isso lhe foi atribuído para justiça (Rm 4.18-22). Abraão recebeu a promessa de Deus, de que sua descendência seria numerosa como as estrelas do céu, como a areia do mar. Ele seria pai de muitos gentios. Desta numerosa descendência, ele não viu, no tempo de sua vida, nem o menor sinal. Ele não tinha filhos. Conforme a natureza humana, nem poderia esperar mais o nascimento de um filho, pois seu corpo já havia amortecido, como também o corpo de Sara, sua esposa. Ambos já  eram avançados em idade. Mas, conforme sua fé, Abraão creu, mesmo contra a esperança. Ele não olhou para sua impossibilidade, nem a de Sara, mas dirigiu seu olhar firmemente à promessa. Coração, pensamentos e seus sentimentos estavam firmados e convictos, sem duvidar que Deus poderia fazer o que prometeu. Assim, Abraão deu, pela fé, a honra a Deus, rejeitando seu próprio raciocínio e se firmou unicamente na promessa de Deus. Sua fé foi lhe atribuída como justiça. Ele confiou plenamente em Deus, deixando Deus agir e operar a seu tempo. Promessa esta que apontava para Cristo e a salvação.  

6.       O apóstolo Paulo chama atenção em Romanos 4.23ss de que o que foi dito a Abraão, é
tido a nós que cremos em Cristo, o crucificado e ressuscitado. Do exemplo de Abraão nós devemos aprender, o que é a verdadeira fé. Isto é, como mostra o exemplo de Abraão, a forma da fé de Abraão, para que não duvidemos daquilo que não se vê, do que creiamos, naquilo que, conforme a natureza, nada temos a esperar, para deixarmos o mundo visível fora de nossos olhos. Esta é a natureza da fé que justifica. Esta fé não olha para sua própria pessoa, da própria capacidade, da própria indignidade. Esta fé é algo peculiar e maravilhoso. A fé está no próprio eu. É um movimento do coração e de nossa vontade. Nós somos os que cremos. Mas, ao crermos, negamos a nós mesmos, a nossas própria experiências, nossa própria consciência. Porque não vemos, nem achamos nada de bom e útil em nós, só fraquezas, incapacidade, pecado, culpa e transgressões. Não podemos negar que pecamos diariamente. Nossa consciência nos acusa diariamente. A experiência nos ensina que somos incapazes para fazer o bem. Nisto, no entanto, se mostra a verdadeira fé, que não olha para dentro de si mesmo, para sua fraqueza, pecado, culpa, pois também nossa justiça própria é falha. De tudo isso temos que afastar nossos olhos e dirigi-los em outra direção. A fé olha para outro lugar, além de nós e se apega a Cristo.

7.       A fé olha para cima, para Deus que nos deu a promessa, como aprendemos de Abraão.
A fé se apega à promessa do evangelho. Ela constrói e confia contra sua natureza, sua razão e o testemunho de sua própria consciência, e se apega somente à graciosa promessa de Deus e dá toda honra somente a Deus. Esta é a natureza da fé: o apegar e agarrar-se as coisas invisíveis deste mundo. Esta é a natureza da fé que  justifica que se estende a Deus e abraça a graça, a promessa da graça, o evangelho e se mantém apegado a elas sob todas e quais quer situações. Esta é a verdadeira fé. Que nós, assim como somos, sem medo e em receios nos atiramos nos braços da graça, da misericórdia de Deus, nos cobrirmos com a graça, ela é nosso escudo. Vivemos da e na graça, firmados nela na vida e na morte. Esta é a verdadeira fé que se apega a Cristo, recebe Cristo em nosso coração. Nossa alma está totalmente coberta pelo sangue de Cristo, seu mérito e sua justiça. Estamos totalmente em Cristo, somos uma só pessoa com ele, sim, membros do seu corpo. Tudo o que é dito de Cristo, a fé se apropria, de tal forma que estamos diante de Deus como Cristo, justos e santos, como se fossemos Cristo. Isto é a fé verdadeira. Quando os pecados nos ferem e doe, nós nos refugiamos no artigo do perdão dos pecados e buscamos refúgio na grande palavra do Credo Apostólico: “Creio na remissão dos pecados”. Colocamos esta palavra diante de nossos olhos e em nosso coração. Esta verdade sufoca o sentimento e a consciência do pecado.

8.       Esta é a verdadeira fé cristã que toma o evangelho de Cristo, a preciosa promessa que
nos promete graça, consolo, paz e bem-aventurança. Esta promessa mantemos diante de nossos olhos e em nosso coação, na mente e nos pensamentos. Nesta promessa nós nos aprofundamos, para que a alma fique cheia dessa palavra do evangelho. Lutero disso: “Somos mudados pela Palavra. Libertados pela Palavra e feitos piedoso, justo, alegre e bem-aventurado. Pela fé, nós nos tornamos uma massa, um bolo com Cristo. A fé nos torna, duma maneira única e especial, para receber Cristo. Isto é a parte especial, maravilhosa na fé, de nos apropriar e receber algo que está fora de nós, a saber, a palavra da justiça. Uma justiça que vale diante de Deus, uma justiça alheia, e isto de forma que esta justiça se torna nossa propriedade. Assim, a fé, como diz a Escritura, dá a Deus a honra, de tal forma, que a fé não quer saber de outra coisa do que de Deus, de Cristo, do que Deus fez e faz por Cristo e nos dá de presente. Também quando uma pessoa cumpre os mandamentos de Deus, e faz o que Deus exige dele pela lei, ela honra a Deus. Mas tal cumprimento é de uma forma bem diferente e em outro sentido do que quando damos a honra a Deus ao crermos, quando reconhecemos e prezamos e nos alegramos e consolamos com aquilo que Deus nos fez e oferece. Assim a fé nos é atribuída como justiça, assim nós somos justos pela fé, ao deixarmos a  graça de Deus soar e agir, e aceitamos a justiça de Cristo que nos é dada pela Palavra. 

9.       Esta justiça da fé, da qual falamos, que não olha para si e sua indignidade, mas se
apega à graça de Deus, é um milagre. Esta fé não brota da própria natureza, do que a pessoa pensa e quer. É Deus que aqui faz tudo. É Deus que gera e mantém a fé no coração pelo evangelho. Esta pergunta, no entanto, de onde a fé vem, como ela surge cabe ao artigo da conversão, que não analisamos aqui. Confira a explicação de Lutero do terceiro artigo do Credo Apostólico.

10.   Aqui, no artigo da justificação, mantemos uma coisa, que é Deus que nos justifica. A fé
nos justifica. Mas isto significa como vimos: Deus nos justifica. A fé aceita a justificação de Deus que é alcançada na Palavra, a saber, a justificação que vale diante de Deus. Quando um pobre pecador, que nada tem, recebe esmolas e vive somente de esmolas, então, o benfeitor que dá a esmola é o único que mantém este pobre pecador. Seria ironia e escárnio se quiséssemos dizer que o pobre também está fazendo algo, pelo fato de aceitar a esmola e com isso ele está contribuindo com algo para se manter. Assim estamos para com Deus. Nós aceitamos, como pobres pecadores, a graça de Deus, graça sobre graça, perdão e justiça. Com isso, está excluído qualquer cooperação ou honra nossa. É Deus que nos justifica. Ao crermos e aceitarmos tudo de Deus, estamos dizendo: Senhor, não a nós, mas unicamente ao teu nome, ó Deus, cabe toda a honra e glória, somente à tua graça e verdade. Amém.

Fonte: Der Lutheraner, vol. 44, de 1888, de março a maio. Georg Stöckhardt.
Bíblia usada – Nova Almeida Atualizada
Tr. Horst R. Kuchenbecker
São Leopoldo, 20/08/2019

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