500 Anos da Reforma Luterana
31 de outubro de 2017
Se fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.
(Ap 2.10)
Í n d i c e
Páginas
Introdução
................................................................... 02
I –
Causas que levaram à Reforma ................................. 02
1.1 – Datas e fatos
................................................... 03
1.2 – Ruptura ..........................................................
05
1.3 – Que escolherás?
............................................. 06
II –
Precursores
............................................................
33
III – As
95 Teses ...........................................................
34
3.1 – Preliminares ...
............................................. 35
3.2 – 31 de Outubro de 1517
.............................. 36
3.3 – Texto das Teses ...........................................
37
3.4 – Análise das Teses
........................................ 44
3.5 – A lutas após a publicação das teses
........... 48
IV – Três
livros que abalaram o mundo ......................... 52
V – A
bula de Excomunhão .......................................... 53
VI – A
idéia de celebrar a Reforma .............................. 55
6.1 – O primeiro Centenário, 1617 ................... 56
6.2 – O segundo Centenário, 1717 ................... 57
6. 3 – O terceiro Centenário, 1817 .................. 58
6.4 – O quarto Centenário, 1917 ..................... 61
6.5 – O quinto centenário, 2017 ...................... 63
6.6 - Nossa Responsabilidade .......................... 68
VII -
Década de Lutero ou Década da Confissão ........ 69
VIII – Do
que a Igr. Luterana jamais pode abrir mão... 71
VIX -
Festejar com quem e como .............................. 79
X -
Fundamentalismo
............................................
87
XI –
Programas ........................................................... 91
XII -
Claus Harms e suas 95 Teses ................................ 93
XIII –
Bênção da Reforma ............................................ 95
XIX –
Rosa de Lutero .................................................. 101
XV – A
história de Luteranos no Brasil...............
105
XVI -
Aproximação entre IELB e IECLB .................... 109
XVII -
Nossa Mensagem ao Século XX ....................... 115
XVIII –
9.5 Teses para a continuação da Reforma ....... 125
XIX -
Folheto: Que significa ser cristão Evg. Luterano 139
XX –
Estudo – Por que sou Cristão Ev. Luterano? ... 142
XXI –
A Mensagem da Reforma na mutação
do tempo. Dr. Hermann
Sasse................... 150
XXII –
Sermões para a Reforma_ 1, 2, 3 .................... 164
XXIII– Folheto.
Reforma Luterana ............................ 179
XXIV –
Identidade Luterana frente ao calvinismo ...... 182
XXV –
Desencontro entre Lutero e Melanchton....... 210
XXVI –
Catecismos: Doutrina da Santa Ceia ........... 212
XXVII –
Comunhão de Púlpito e de Altar ................ 225
XXVIII –
Objetivos na celebração dos 500 Anos ....... 220
Introdução
As igrejas cristãs (luteranas, evangélicas, reformadas, unidas e anglicanas e
também católicas) estão se preparando para os 500 Anos da Reforma
Luterana, que será celebrada no dia 31 de outubro de 2017.
Por iniciativa da Federação Luterana Mundial (FLM), as igrejas
luteranas do mundo declaram os 10 anos, que antecedem os festejos dos 500
Anos da Reforma, a Década de Lutero (Luther Decade).
A FLM elaborou temas com subtemas para cada ano dessa década. A Selbständige
Evangelisch-Lutherische Kirche (SELK) da Alemanha, nossa igreja irmã,
elaborou seu temário próprio. Durante esta caminhada da década de Lutero, cada
celebração da Reforma, no dia 31 de outubro, tem seus destaques especiais.[1]
Estes preparativos estão desencadeando uma série de perguntas, que são encaminhadas
para diversos grupos de estudo e debates em busca de respostas e
soluções. Há perguntas gerais, com as quais todos se preocupam e
perguntas específicas, com as quais cada igreja individualmente se ocupa. Há
perguntas que nos afligem como Igreja Confessional, como Comunidade e perguntas
que nos afligem individualmente como cristãos luteranos.
Como nós, luteranos confessionais, que assinamos sob juramento fidelidade à
inalteradaConfissão de Augsburgo de 1530 e ao Livro de Concórdia de
1580, estamos encarando esses festejos? Como vamos celebrá-los? Que desafios
confessionais nos aguardam? Para responder estas perguntas e nos preparar para
os festejos dos 500 Anos da Reforma, sim, para cada festividade da
Reforma, será proveitoso fazer uma retrospectiva, a fim de ver como e em que
situações nossos pais celebraram os primeiros centenários; para então
analisarmos nosso contexto e nossa responsabilidade nos dias atuais como igreja
confessional.
Em primeiro lugar queremos olhar para as causas que motivaram a Reforma, em
segundo lugar, queremos analisar o primeiro passo dado para a Reforma, as 95
Teses, seu conteúdo e que lutas desencadearam. Depois queremos ver como surgiu
a idéia de festejar a Reforma e como ela foi festejada durante os primeiros
centenários. Por fim, como nos preparar e como celebrar os 500 Anos da
Reforma em 2017, se Deus nos permitir festejá-los.
I - Causas que levaram à Reforma
O CRISTIANISMO, DATAS FATOS HISTÓRICOS, DESVIOS[2]
Igreja Cristã Apostólica Católica (Romana ou
Ortodoxa)
Verdades
Centrais da Bíblia:
- Somente a Escritura, nem mais nem menos.
- Somente por graça de Cristo.
- Somente pela fé.
__________________________________________
I.I –
Datas e fatos
-
70 Destruição de Jerusalém
-
CREDO APOSTÓLICO (250)
-
Perseguições dos imperadores romanos
- 312
Conversão do imperador Constantino
- 325 Concílio
de Nicéia. CREDO NICENO
Doutrina de Ario: Jesus não igual ao Pai
- 451
CREDO ATANASIANO, Concílio
Calcedônio
Nestório nega a unidade das duas pessoas de Cristo.
Macedônio negou a divindade do Espírito Santo.
-
Expansão do Cristianismo.
-
Desvios da fé
- 593 O Purgatório
- 754 O Poder Temporal é dado ao Papa.
Imperador nomeava os bispos. Agora o Papa
empossa os imperadores (Carlos Magno ano 800).
- 847 Decretais de Isodoro. Falsos.
Conferem poder aos bispos
- 858 Doação de Constantino. Documento falso.
Doa o palácio de Latrão. Atual Vaticano.
- 1054 Ruptura entre o Oriente e Ocidente.
O Papa Leão 9° de Roma versus Patriárca
Miguel
Cerulário
de Constantinopla.
- 1075 Papa Gregório VII impõe o celibato aos padres.
Divórcio em massa.
- 1095 - 1291 Cruzadas
- 1100 Dinheiro para Missas
- 1170 Pedro Waldus. Tenta reforma. Perseguido
- 1184 Inquisição
- 1190 Venda de Indulgências
- 1226 Adoração da Hóstia
- 1229 Concílio de Toledo condena a leitura da Bíblia
- Corpus Christi, 11 de agosto. Bula Transiturus. Urbano IV
- 1303 Bula Unam Sanctam. Para ser salvo é necessário
obediência ao Papa.
- 1348 João Wiclif. Traduz a Bíblia para o inglês. Perseguido
- 1339-1373 João Huss. Boemia. Universidade de Praga. Queimado.
-
1415 Cálice na Santa Ceia negada ao povo
- 1452-1498 Jerônimo de Savanarola. Monge Dominicano,
na Itália. Tentou reforma. Foi queimado.
- 1483 Nascimento de Lutero (10/11/1483, + 18/02/1546).
- 1517 LUTERO. 95 TESES
- 1520 Lutero
(10/12) excomungado pelo Papa Leão X
- 1521 Worms,
18/04 Lutero declarado réu de morte
- 1530 Confissão de Augsburgo
- 1530 Zwínglio (1484-1531, Zurich)
Ratio Fidei
-
1534 Inácio de Loiola, funda a ordem dos Jesuítas
- 1540 Calvino (1509-1549, Genova) Institutes
- 1540 Episcopais, Rei Eduardo IV, Inglaterra
- 1545 Concílio de Trento. Roma abandona a
Bíblia.
Tradições igualadas à Bíblia. Doutrina da justificação
do pecador pela graça e por fé,
condenada.
- 1546 (18/02) Falecimento de
Lutero em Eisleben
- 1547 Guerra de
Esmalcalde
- 1555 Paz de Augsburgo entre Católicos e Luteranos
- 1560 Presbiterianos, Calvino e John Knox
- 1572 Noite de São Bartolomeu. Paris. Católicos massacram
Protestantes, por ordem do Imperador Carlos IX
- 1580 Fórmula de Concórdia. Martim Chemnitz. Divisão do
luteranismo
-
1600 Poder dos Escapulários. “Todo o que traz uma
medalha da mãe de Deus ... será salvo.”
- 1602 Batistas, John Smyth
- 1618-1648 Guerra dos 30 anos. O imperador Rodolfo II quebra a
paz
de Augsburgo. O rei Gustavo Adolfo da Suécia vem
em
socorro dos Luteranos. Novo tratado de paz.
- 1729 Metodistas, J. Wesley
- 1740 Adventistas, G. Whiterfield
- 1789 Revolução Francesa
- Racionalismo
- 1817 União Prussiana. Rei Frederico Guilherme II.
- 1830 Mórmons, Joseph Smith
- 1839 Saxões emigram para os Estados Unidos da
América e
da
Austrália
-
1847 Fundação do Sínodo de Missouri (LCMS).
- 1866 Ciência Cristã, Mrs Eddy
- 1869 - 1870 Vaticano I -
Infabilidade do Papa
- 1872 Testemunhas de Jeová, C. Russel
- 1878 Exército da Salvação, W. Booth
- 1892 Assembléia de Deus, Spurling e Bryant
- 1900 Pastor Broders, da LCMS vem ao Brasil
- 1900 Conselho Mundial de Igrejas (Ecumenismo)
- 1904 (24/06) Fundação da Igreja Ev. Luterana do Brasil
- 1908 Decreto papal que invalida os casamentos mistos
não realizados por um sacerdote romano
-
1914 Primeira Guerra Mundial (1914-1918
- 1923 Fundação da Federação Luterana Mundial
- 1939 Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
- 1950 Dogma da Assunção da Virgem Maria
-
1962 a 1965 Vaticano II - Reforma da Liturgia
I.2 -
Ruptura entre Catolicismo Romano e Cristo
Desde a ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja Cristã marchou unida e resoluta para o concílio imperial, convocado pelo imperador romano Constantino I, o Grande, para Nicéia, Turquia (hoje, Iznik), em 325 AD. Apesar da oposição pagã e das cruéis perseguições, estes primeiros quatro séculos do cristianismo foram um período de glória e conquista, não a ferro
Desde a ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja Cristã marchou unida e resoluta para o concílio imperial, convocado pelo imperador romano Constantino I, o Grande, para Nicéia, Turquia (hoje, Iznik), em 325 AD. Apesar da oposição pagã e das cruéis perseguições, estes primeiros quatro séculos do cristianismo foram um período de glória e conquista, não a ferro
e fogo,
mas pela pregação da palavra de Deus e fé na graça de Cristo.
A perseguição cedeu e deu lugar à certa prosperidade. O Imperador Constantino aboliu a perseguição aos cristãos e o imperador Teodósio o Grande tornou a religião cristã oficial no Império Romano. Rapidamente esta prosperidade se transformou em pompa na Roma Imperial.
A perseguição cedeu e deu lugar à certa prosperidade. O Imperador Constantino aboliu a perseguição aos cristãos e o imperador Teodósio o Grande tornou a religião cristã oficial no Império Romano. Rapidamente esta prosperidade se transformou em pompa na Roma Imperial.
A Ruptura
Cedo a ruptura entre a simplicidade do Evangelho e a grandiosidade de Roma se
pôs em evidência. Esta ruptura alargou-se mais e mais no decorrer dos séculos,
com preceitos de, com exigências após exigências, com regulamentos
eclesiásticos após regulamentos eclesiásticos, (dando a todos eles força da lei
divina em virtude do seu peculiar sistema ditatorial), a Igreja tem seguido
tenazmente num rumo traçado para induzir, persuadir, lisonjear, enganar e, caso
tudo falhe, submeter à força os homens à declaração de Bonifácio VIII: “É
necessário para a salvação que cada um se submeta ao Papa”. (Bula Unam
Sanctam, 1303, citada pelo papa Pio IX em sua encíclica de 8 de dezembro de
1864).
Se Lutero vivesse hoje, protestaria ainda?
Lutero não viveu mais para ver o dia 14 de agosto de 1572, dia em que milhares
cristãos foram trucidados nas ruas de Paris pelo simples crime de serem
protestantes. Não mais viveu para ver a procissão do papa Gregório XIII e de
seus cardeais, com todas as igrejas de Roma, na qual entoaram o solene Te
Deum em louvor do massacre daquela noite 24/08/1572 em São Bartolomeu,
Paris, França.
Lutero não viveu mais em
- 1824,
quando o papa Leão XII advertiu publicamente contra a leitura da Bíblia,
- 1864,
quando o papa repudiou a democrática separação da Igreja do Estado,
- 1870,
quando o papa proclamou a sua própria infalibilidade,
- 1908,
quando o papa, por decreto especial, Ne Temere, invalidou os
casamentos não
realizados por um sacerdote
romano.
- 2015, o
Papa Francisco decretou o ano do Jubileu da Misericórdia (13/032015
a
08/12/2016), que é um
incentivo às Indulgências.
-
2016 - Hoje, quatrocentos e setenta anos após a morte de Lutero, nós
nos
defrontamos com o
surpreendente fato de a Igreja Católica
Romana controlar a maior parte do
nosso hemisfério ocidental;
nós nos vemos face à face com
o fato de a América do Norte, Protestante
se tornar uma América
Romana; nós temos que responder a pergunta:
Qual o caminho
correto, o de Roma ou de Cristo?
A FINALDIADE DESTE FOLHETO
O apelo da Igreja Romana, dirigida aos protestantes, no sentido de
reconhecerem o Papa em Roma como cabeça da cristandade, está se tornando cada
vez mais insistente, especialmente diante dos festejos da Reforma em 2017.
O argumento da história é empregado pela Igreja Romana numa tentativa de
perturbar a fé dos protestantes e convencê-los de que só a Igreja
Romana é a genuína Igreja Cristã e que o Papa em Roma o verdadeiro e
único representante de Jesus Cristo na terra, portanto o único guia verdadeiro
da cristandade. O presente folheto visa esclarecer os fiéis sobre verdade
bíblica.
APENAS FATOS
Os fatos da história, um por um, demonstram como o abismo entre a Igreja de
Cristo e o mecanismo de Roma se alargou e alarga sempre mais. Os fatos
históricos evidenciam, igualmente, que todo cristão, que se defronta hoje com o
insistente apelo da Igreja de Roma, precisa fazer nítida escolha
entre os dogmas de Roma engendrados por homens e as doutrinas da Bíblia, dadas
por Deus. O presente estudo apresenta tão somente fatos históricos lado a lado,
a palavra da Igreja Romana e da palavra de Deus.
Algumas datas são, necessariamente, de valor aproximado. Os versículos bíblicos
são da tradução de Almeida, revista e atualizada (RA), da Sociedade Bíblica do
Brasil, 1961, as afirmações católicas são do Catecismo da Igreja
Católicade 1993, Concílio Ecumênico de Trento, da Montfort Associação
Cultural (htt://WWW.montfort, org.br/índex.php?secão=documentos&subsecão=concílios&artigos=trento&lang=bra).
1.3 - Que escolherás – palavras de homens ou a
Palavra de Deus?
PURGATORIO – 593 depois de Cristo (d.C.)
|
Palavra de Roma
Roma
inventou o Purgatório.
“Os que
morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente
purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua
morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para
entrarem na alegria do Céu” (Cat. Católico, §[3]
1030, pág. 247).
“Lemos
em 2 Macabeus 12.46 [Livro Apócrifo]: Eis por que ele [Judas Macabeus] mandou
oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que
fossem absolvidos do seu pecado”. Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou
a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o
sacrifício Eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão
beatificada de Deus (Cat. Católico, § 1032, pág. 248) .
Pena
temporal não perdoada
Se
alguém disser que a todo pecador penitente, que recebeu a graça da
justificação, é de tal modo perdoada a ofensa e desfeita e abolida a
obrigação à pena eterna, que não lhe fica obrigação alguma da pena temporal a
pagar, seja neste mundo ou no outro, no purgatório, antes que lhe posam ser
abertas as portas para o reino dos céus – seja excomungado (Concílio de
Trento, Sessão VI, Cânon 30).
Se
alguém disser que Deus sempre perdoa toda a pena junto com a culpa, e que a
satisfação dos penitentes não é outra coisa senão a fé com a qual creem ter
Cristo satisfeito por eles – seja excomungando. (Concílio de Trento, Sessão
XIV, Cânon 12).
Indulgências
para a pena temporal
A
indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos
pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel bem disposto obtém em certas
condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da
redenção, distribui e aplica por sua autoria o tesouro das santificações de
Cristo e dos santos (Cat. Católico, § 1471, pág. 351).
A
indulgência se obtém pela Igreja que, em virtude do poder de ligar e desligar
que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o
tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das
misericórdias a remissão das penas temporais devidas aos seus pecados (Cat.
Católico, § 1478, pág. 352).
Já que
a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, apoiada nas Sagradas Letras
e na antiga Tradição dos Padres, ensinou nos sagrados Concílios e
recentemente também neste Concílio Ecumênico, que existe purgatório, e que as
almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis,
principalmente pelo sacrifício do altar, prescreve o santo Concílio aos
bispos que façam com que os fiéis mantenham e creiam a sã doutrina sobre o
purgatório (Concílio de Trento, Sessão XXV. § 983).
|
A Palavra de Deus
A
Bíblia em parte alguma fala de Purgatório
Jesus
lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (Lucas
23.43 RA).
Cristo
diz estar posto um grande abismo:
E, além
de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que
querem passar daqui (do céu) para vós outros (no inferno) não podem, nem os
de lá passar para nós (Lucas 16.26 RA).
Uma
única oportunidade
E,
assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto,
o juízo (Hebreus 9.27 RA).
Deus
não perdoa em parte, mas totalmente
Agora,
pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Romanos 8.1
RA).
A
reconciliação por Cristo é sem purgatório
Deus
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as
suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação (2 Coríntios
5.19 RA).
O
sacrifício Perfeito de Cristo
Porque,
com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo
santificados (Hebreus 10.14 RA).
Justificação
gratuita
Pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente,
por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3.23-24
RA)
Tudo
Perdoado
E a vós
outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão
da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos
delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que
constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente,
encravando-o na cruz (Colossenses 2.13-14 RA).
Tirado
do castigo
Mas ele
foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades;
o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados (Isaías 53.5 RA).
Ele
é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas
ainda pelos do mundo inteiro (1 João 2.2 RA).
|
Poder Temporal – 754 d.C.
|
Palavra de Roma
(O papa
Estêvão II coroou a Pepino rei dos francos, em recompensa ao seu auxílio no
estabelecimento da autoridade papal na Itália.)
Por
isso, apoiados no testemunho manifesto da Sagrada Escritura e concordes com
os decretos formais e evidentes, tanto dos Romanos Pontífices, nossos
predecessores, como dos Concílios gerais, renovamos a definição do Concílio
Ecumênico de Florença (1438 – 1445), que obriga todos os fiéis cristãos a
crerem que a Santa Sé Apostólica e o Pontífice Romano têm o primado sobre
todo o mundo, e que o mesmo Pontífice Romano é o sucessor de S. Pedro, o
príncipe dos Apóstolos, é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a
Igreja que o pai e douro de todos os cristãos; e que a ele entregou nosso
Senhor Jesus Cristo todo o poder de apascentar, reger e governar a igreja
universal, conforme também se lê nas atas dos Concílios Ecumênicos e nos
sagrados cânones (Concílio de Trento, Sessão IV, capítulo III. § 1826);
O Papa, Bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, “é perpétuo e
visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos quer da multidão
dos fiéis”. Com efeito, o pontífice Romano, em virtude do seu múnus de
Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno,
supremo e universal. E ele pode sempre livremente exercer este seu poder
(Cat. Católico, § 882, pág. 216).
|
Palavra de Deus
Respondeu
Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os
meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui (João 18.36 RA).
-
(Igrejas cujo programa visa o poder secular, não pertencem a Jesus Cristo.)
|
As decretais de Isidoro – 847 d.C.
|
Palavra de Roma
(As
decretais são uma coleção de cartas papais de 33 papas, coligidas por um
certo “Isidoro”, desde Silvestre I (314 – 335) até Gregório II (715 – 731). A
edição oficial do Corpus Juris (lei canônica oficial) em
1580 ainda as declarou legítimas. O propósito das decretais foi tão só o de
garantir o poder do bispo católico romano, incluindo o Bispo de Roma. A
falsificação desses documentos foi provada primeiramente por Erasmo (falecido
em 1536) e por Carlos Du Moulin (falecido em 1556, um canonista católico
romano que aderiu à Reforma.)
Amostra das decretais:
1º, um
leigo não pode levantar acusação contra um bispo.
2º, um
clérigo não pode levantar acusação contra o seu superior.
3º, a
condenação de um bispo requer 72 testemunhas.
4º, um
bispo não pode ser nem acusado nem condenado perante um tribunal secular.
(O papa
Nicolau I (858 – 867) foi o primeiro a usar uma coroa. Ele se serviu deste
documento espúrio, os Pseudo Decretais de Isidoro. Ele alegou que os
Decretais contém os arquivos da Igreja Romana (carta de 22 de janeiro de
865). Ele fez uso copioso deles numa controvérsia com os bispos da França).
No século XI as falsas Decretais chegaram a fazer parte da lei canônica da
Igreja Romana e, por conseguinte, ocuparam lugar de destaque no ensino da lei
até ao tempo da Reforma.
O papa
Gregório VII (1073 – 1085) decretou à base dos Decretais o Direito Exclusivo
de governar a Igreja.
A
Igreja romana admite dúvidas sobre esses Decretais
Continua,
porém, sendo verdadeiro que Isidoro tramou esses planos. Os papas foram
beneficiados por estas falsificações. Embora temos que admitir a boa fé de
Isidoro, ele escreveu muito distante de Roma. Não foi procedimento muito
honesto, e Isidoro estava longe de ser escrupuloso. Não se deve, porém,
julgar os homens do século IX em acordo com as ideias modernas de moral literária.
É impossível perdoar tais falsificações, mas sua história nos permite
ajuizá-las melhor e mesmo descobrir circunstâncias atenuantes em seu favor,
dando ênfase às poderosas forças ativas na sociedade daquela época, vítimas,
por assim dizer, por um fatalismo histórico. (Catholic Encyclopedia V, pág.
773-780)
|
Palavra de Deus
O único
programa da Igreja proveio de Cristo, não do homem.
Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
século (Mateus 28.19-20 RA).
Cristo
condena preceitos de homens prescritos à Igreja.
E
em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens (Mateus
15.9 RA).
Se foi
admitido – por que não foi retificado? Para que este maquinário engendrado
por mão humana? Por que não voltar à Bíblia e ao programa de Cristo dado à
Igreja?
|
A Doação de Constantino – 858 d. C.
|
A Doação de Constantino (Constitutum Donatio
Constantini ouConstitutum domini Constantini imperatoris,
em latim) foi umdocumento apresentado
na Idade Média como um édito imperial romano. Sua validade
foi questionada por motivos históricos. A legitimidade do domínio da Igreja Católica sobre os territórios ainda
é aceita historicamente, embora esse domínio fosse devido a outras razões. A
própria Igreja Católica considera o documento sem
validade.
Este documento é um escrito onde, o imperador Constantino
I (306-337 d.C. teria
doado ao Papa Silvestre I (314-335 d.C.) terras e
prédios dentro e fora da Itália, durante o quarto
consulado do monarca (315).
A
Doação é um documento falso do Imperador Constantino o Grande, endereçado ao
Papa Silvestre I (314 – 335), em que declara outorgar ao papa, entre outras
doações, os seguintes privilégios e possessões:
1º O
bispo de Roma, como sucessor de S. Pedro, deve ter a primazia sobre os 4
bispos de Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Jerusalém. Do mesmo modo
sobre todos os bispos do mundo.
2º A
basílica de Latrão em Roma, construída por Constantino, deveria superar todas
as igrejas como sede.
3º, o
bispo de Roma deve gozar os mesmos direitos honoríficos como o imperador,
entre eles o direito de usar uma coroa imperial, um manto purpúreo e túnica
e, em geral, todas as insígnias imperiais ou sinais de distinção.
4º, o
imperador dá de presente ao bispo de Roma e aos seus sucessores o Palácio de
Latrão, todas as províncias da cidade de Roma e todas as províncias,
distritos e cidades da Itália e dos territórios ocidentais.
5º, o
Imperador estabeleceu no oriente, nova capital que tem seu nome
(Constantinopla). Mudou o seu governo para esta cidade, visto ser
inconveniente um governo secular ter poderes onde Deus estabeleceu a
residência da cabeça da religião cristã.
6º, o
documento amaldiçoa a quantos ousam violar estas doações e assegura que o
Imperador se assinou de próprio punho e as colocou sobre o túmulo de S.
Pedro.
O papa usou a “Doação” para reclamar a assistência de Carlos Magno:
“Como
no tempo do agraciado Silvestre, Pontífice Romano de santa memória, pelo
muito piedoso imperador Constantino o Grande e pela sua generosidade, a Santa
Igreja Católica Apostólica Romana de Deus foi elevada e exaltada e dotada do
direito de outorgar poderes nestas regiões do ocidente, assim também nesses
vossos e nossos tempos extremamente felizes queira a Santa Igreja de Deus,
isto é do bem-aventurado Pedro, o Apóstolo, crescer e prosperar”. (Papa
Adriano I, carta a Carlos Magno do ano de 778.)
A
Igreja Católica Romana admite serem falsos! Mesmo assim, durante a Reforma,
escritos católicos romanos continuaram defendendo a doação.
Muito
depois de a autenticidade da Doação ter sido discutida no século XV, ainda
foi mantida a sua validez pela maioria dos canonistas e juristas, que em todo
o século XVI continuaram a citá-la como autêntica (Catholic Encyclopedia V
“Donation of Constantine”, pág. 121).
Outros
Papas usaram a “Doação” como documento autêntico
Esta falsificação foi usada oficialmente pelo papa Leão IX em 1054 para
sustentar as reivindicações do papismo no que respeita o poder secular.
O papa Urbano II usou este documento em 10921 para fundamentar suas
reivindicações no tocante à ilha de Córsica.
Inocência III, Gegório IX e Inocêncio IC usaram também este documento da
“Doação” como documento autêntico para provar as pretensões papais pelo que
toca o poder secular.
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Deus
condena a mentira em toda parte
Por
isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque
somos membros uns dos outros (Efésios 4.25 RA).
Deus
condena a mentira na igreja
Os
profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com
eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas
chegarem ao seu fim? (Jeremias 5.31 RA)
Jesus
disse:
Aquele,
pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim
ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém,
que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus
(Mateus 5.19 RA).
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O C E L I B A T O
Divórcio em massa, o maior da história, imposto
ao clero por Gregório VII – 1075 d.C.
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Gregório VII declarou inválido todos os matrimônios de clérigos.
“O nosso julgamento no que respeita matrimônios contratados por pessoas desta
espécie (clero) é que devem ser quebrados”. (Primeiro Concílio de Latrão,
1123, Cânon XXI)
Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos
permanentes, normalmente são escolhidos entre os homens fiéis que vivem em
celibato e pretendem manter o celibato “por causa do Reino dos céus (Mt
19.12). Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a “cuidar
das coisas do Senhor”, entregam-se inteiramente a Deus e aos homens. O
celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é
consagrado; aceito com coração alegro, ele anuncia de modo radiante o Reino
de Deus. (Cat. Católico. § 1579, pág. 373).
|
-
Deixando ele a sinagoga, foi para a casa de Simão. Ora, a sogra de Simão
achava-se enferma, com febre muito alta; e rogaram-lhe por ela. (Lucas 4.38
RA)
O apóstolo Pedro era homem casado, e Cristo não declarou seu matrimônio
inválido.
Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. (Marcos 10.9 RA)
- É
necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher,
temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar. (1 Timóteo 3:2
RA)
- Que
governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o
respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da
igreja de Deus?). (1 Timóteo 3.4-5 RA)
O apóstolo Paulo não teve objeções contra o matrimônio da parte do clero.
Ora, o
Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da
fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela
hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria
consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que
Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por
quantos conhecem plenamente a verdade. (1 Timóteo 4.1-3 RA)
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Dinheiro para missas – 1100 d.C.
|
Dinheiro
– “O costume de dar ao sacerdote uma esmola em dinheiro para uma missa data
desde o século VII ou VIII e se tornou costume geral no século XII.
Pedindo-se maior número de missas do que um sacerdote pode rezar, este é
obrigado a transferi-las a paróquias pobres, onde se fazem poucas ofertas, o
a sacerdotes em missões estrangeiras”.
O costume de aceitar estipêndios para missas é aprovado somente pela
tradição, isto é, pela aprovação da Igreja nos mil e duzentos anos
passados. Como intérprete divina das revelações de Cristo, esta não pode
decretar lei universal alguma que contrarie à lei natural ou positivamente
divina. ” (Connay, the Question Box, pág. 271
|
Pedro,
porém, lhe respondeu (ao Simão o mágico): O teu dinheiro seja contigo para
perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. (Atos 8.20
RA)
Mesmo tendo Pedro desaprovado o pecado de alcançar o dom de Deus por
dinheiro, Roma o aprovou.
Jesus disse:
-
E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes
a vossa própria tradição. (Marcos 7.9 RA)
-
Invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos
transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes. (Marcos 7.13 RA)
-
E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. (Mateus
15.9 RA)
Roma admite que o costume de exigir dinheiro é um simples preceito de homens.
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A Inquisição – 1184 d.C.
|
O
próprio papa estabeleceu a inquisição em 1213, juntamente com a pena capital
por heresia.
A
tortura aprovada pelo papa
“É
bastante curioso que a tortura não foi considerada como um modo de castigo,
mas apenas como um meio para provocar a confissão da verdade. Foi autorizada
primeiramente por Inocêncio IV em sua bula Ad Extirpanda de
15 de maio de 1252, que foi confirmada por Alexandre IV em 30 de novembro de
1259 e por Clemente IV em 3 de novembro de 1265”. (Catholic Enyclopedia
VIII Inquisition, pág. 33).
Prisão
como castigo religioso
“A
prisão nem sempre foi considerada castigo no sentido próprio da palavra; foi
antes tida por uma oportundide para o arrependimento, um preventivo contra a
apostasia ou o contágio de outros”. (Catholic Encyclopedia VIII, Inquisição,
pág. 33)
Morte
aos acatólicos
A
inquisição na Espanha foi estabelecida pelo papa Gregório IX (Bula Declinante
iam mundo de 26 de maio de 1232). Esta instituição de infame memória
foi aprovada por numerosos papas, incluindo Pio VII (1800 – 1823). Foi
abolida, faz apenas um século, pela revolução espanhola, em 1820.
|
- Jesus
lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à
espada perecerão. (Mateus 26.52 RA)
(Cristo
não quer que sua igreja seja edificada por meio da espada.)
A
verdadeira espada da igreja é a Palavra de Deus
- Tomai
também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de
Deus; (Efésios 6.17 RA)
-
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para a vossa alma. (Mateus 11.29 RA)
Onde na
inquisição está a mansidão de Cristo?
O
apóstolo Paulo afirma:
-
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da
vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor. (Efésios 4:1-2 RA)
Jesus
disse a seus discípulos:
-
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem,
e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois
assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. (Mateus 5.10-12 RA)
|
Indulgências 1190 d.C.
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Decreto
sobre as Indulgências
Tendo
recebido de Cristo o poder de conferir indulgências, já nos tempos
antiquíssimos usou a Igreja deste poder, que divinamente lhe fora doado (Mt
16.19; 18.18). Por isso ensina e ordena o sacro Concílio que se deve manter
na Igreja o uso das Indulgências, alias muito salutar para o povo cristão, e
aprovado pela autoridade dos sacros Concílios, condenando como excomungados
os que afirmem serem as indulgências inúteis, bem como os que negarem à
Igreja o poder de concedê-las. (Concílio de Trento, Sessão XXV, § 989)
Diferentes
espécies de Indulgências
Indulgência plenária significa a remissão de todos castigos temporais,
proveniente do pecado, não sendo mais exigida expiação no purgatório.
A indulgência parcial comuta apenas certa parte da pena. (Catholic Encyclopedia VII, Indulgences, pág. 783).
Quem
pode conceder Indulgência?
O Papa, na qualidade de suprema cabeça da Igreja na terra, pode conceder
todas as espécies de indulgências, a um ou a todos aos fiéis. Pio X (28
de agosto de 1903) permitiu aos cardeais nas suas igrejas titulares e
dioceses conceder 200 dias, aos arcebispos 100 Dias, aos bispos 50 Dias
(Catholic Encyclopedia VII, Indulgences, pág. 784).
A base
desta doutrina
Um elemento essencial nas indulgências é o aplicar-se alguém a satisfação
efetuada por outros. Além (da satisfação de Cristo), há as obras
satisfatórias da Santa Virgem Maria, não diminuídas por pena devida a pecado
seu, e as virtudes, penitências e sofrimentos dos santos, que em muito
superam qualquer pena temporal em que estes servos de Deus possam ter
incorrido. Estas são acrescentadas ao tesouro da Igreja como depósito
secundário. (Catholic Encyclopedia, Indulgences, pág. 784).
A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas
aos efeitos do sacramento da penitência.
Que
é a indulgência?
A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos
pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel bem-disposto obtém em certas
condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da
redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de
Cristo e dos santos.
A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente
da pena devida pelos pecados. As indulgências podem aplicar-se aos vivos e
aos defuntos.
|
Cristo
expiou todos os pecados
Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (João 1.29 RA)
O
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 João 1.7 RA)
Apenas
Deus pode perdoar pecados
- E os
escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem
pode perdoar pecados, senão Deus? (Lucas 5.21 RA)
- Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça. (1 João 1.9 RA)
Nenhuma
pessoa humana pode expiar os pecados de outrem
Ao
irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu
resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa
para sempre.), (Salmos 49.7-8 RA)
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Transubstanciação – 1215 d.C.
|
Pão e
vinho são transformados em corpo e sangue de Jesus
“Por
ter Cristo, nosso Redentor, dito que aquilo que oferecia sob a espécie de pão
era verdadeiramente o seu Corpo, sempre se teve na Igreja esta convicção, que
o santo Concílio declara novamente: pela consagração do pão e do vinho se
efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de
Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu
sangue. Esta conversão foi com muito acerto e propriedade chamada pela Igreja
Católica detransubstanciação. (Concílio de Trento, Sessão XIII, Cânon
IV, # 877; Cat. Católico, § 1376, pág. 330).
Eucaristia
é, portanto, um sacrifício porque re-presenta (torna
presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e
porque aplica seus frutos:
E como
neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, se encerra e é sacrificado
incruentamente aquele mesmo Cristo que uma só vez cruentamente no altar da
cruz se ofereceu a si mesmos (Hb 9.27), ensina o santo Concílio que este
sacrifício é verdadeiramente propiciatório, e que, se com coração sincero e
fé verdadeira, com temor e reverência, contritos e penitentes nos achegarmos
a Deus, conseguiremos misericórdia e acharemos graça no auxílio oportuno (Hb
14.16). Porquanto, aplacado o Senhor com a oblação dele e concedendo o bom da
graça e da penitência, perdoa os maiores delitos e pecados... Por isso, com
razão se oferece, consoante a Tradição apostólica, este sacrifício incruento,
não só pelos pecados, pelas penas, pelas satisfações e por outras
necessidades dos fiéis vivos, mas também pelo que morreram em Cristo, e que
estão plenamente purificados. (Concílio de Trento, Sessão XXI, capítulo 2; §
940).
Se
alguém disser que o santo sacrifício da Missa é uma blasfêmia contra o
santíssimo sacrifício que Cristo realizou na Cruz, ou que aquele derroga este
– seja excomungando. (Concílio de Trento, Sessão XII, cânon 4; § 951)
A
importância desta invenção aparentemente inofensiva tornou-se evidente, onze
anos mais tarde, pela introdução da ideia de “um novo sacrifício incruento e
a adoração da hóstia.
|
Pão e
vinho, corpo e sangue
-
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do
cálice; (1 Coríntios 11.28 RA)
-
Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de
Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? (1 Coríntios
10.16 RA)
Na
Santa Ceia pão e vinho não se transformam. A Escritura afirma expressamente
que comemos pão e bebemos vinho, e o corpo e sangue estão presentes: em, com
e sob o pão e o vinho. É um comer sacramental.
|
Adoração da Hóstia – 1226 d.C.
|
Origem
desta praxe
O
costume de expor a hóstia para fins de adoração foi iniciado pelo bispo
Pierre de Corbie (1185 – 1195), em comemoração da vitória de Luiz VII sobre
os albiguenses. Esta exposição atraiu grandes multidões que prosseguiram na
adoração dia e noite, adoração essa subsequentemente aprovada pelo próprio
papa.
Culto e
veneração que se devem tributar à Eucaristia
Não há
dúvida alguma de que todos os fiéis de Cristo, segundo o costume que sempre
vigorou na Igreja, devem tributar a este santíssimo sacramento a veneração e
o culto de adoração (latria), que só se deve a Deus. Nem se deve adorá-lo menos
pelo fato de ter sido instituído por Cristo Senhor nosso como alimento. Pois
cremos estar nele presente aquele mesmo, do qual o Eterno Pai, ao
introduzi-lo no mundo, disse: Adorem-no todos os anjos de Deus (Hb 1.6; Sl
96.7) e os Magos, prostrando-se, o adoraram Mt 2.11). (Concílio de Trento
Sessão XIII, capítulo 5, § 878)
O culto
da Eucaristia. Na
liturgia da missa, exprimimos a nossa fé na presença real de Cristo sob as
espécies do pão e do vinho, entre outras coisas, dobrando os joelhos, ou
inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. “A Igreja
católica professou e professa este culto de adoração que é devido ao
sacramento da Eucaristia não somente durante a Missa, mas também fora da
celebração dela, conservando com o máximo cuidado as hóstias consagradas,
expondo-as aos fiéis para que as venerem com solenidade, levando-as em
procissão. (Mysterium Fidei, 56) ]
Associações
de adoração perpétua seguiram depois de 1592, quando se lhes concederam
indulgências especiais. Uma das mais importantes é a organização
(estabelecida em Roma em 1882) da “Adoração perpétua das nações católicas”,
representada na Cidade Eterna.
|
Jesus
disse:
- Deus
é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em
verdade. (João 4.24 RA)
- Não haja
no meio de ti deus alheio, nem te prostres ante deus estranho. (Salmos 81.9
RA)
Não há
razão para fazer deste sacramento um deus estranho.
|
A Bíblia – 1229 d.C.
|
As
Escrituras não bastam – a tradição deve ser acrescentada
“A
santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas
as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a
partir das coisas criadas. (Cat. Católico, §36, pág.26)
A
Revelação
A mesma
Santa Igreja crê e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode
ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das
coisas criadas; pois as perfeições invisíveis tornaram-se visíveis depois da
criação do mundo, pelo conhecimento que as suas obras nos dão dele (Rm 1.20);
mas que aprouve à sua misericórdia e bondade revelar-se a si e os eternos
decretos da sua vontade ao genro humano por outra via, e esta sobrenatural,
conforme testemunha o Apóstolo. (Hb 1.1)
Esta revelação sobrenatural, porém, segundo a doutrina da Igreja universal,
definida pelo Concílio Tridentino, está contida “nos livros e nas tradições
não escritas que, recebidas pelos Apóstolos da boca do próprio Cristo, ou que
transmitidas como que mão em mão pelos próprios Apóstolos sob a inspiração do
Espírito Santo, chegaram até nós” (Concílio Tridentino). Estes livros do
Antigo e do Novo Testamento, inteiros e com todas as suas partes, conforme
vem enumerados no decreto do mesmo Concílio e se encontram na antiga edição
latina da Vulgata, devem ser aceitos como sagrados e canônicos... a ninguém é
permitido interpretar a mesma Sagrada Escritura contrariamente a este sentido
ou também contra o consenso unânime dos Santos Padres. (Concílio de Trento
Sessão III, capítulo II, § 1785, 1787, 1788).
O
concílio de Toledo (1229)
colocou a Bíblia noIndex Librorum prohibitorum, lista de livros
cuja leitura não é permitida aos católicos.
Condenação
das Sociedades Bíblicas
“Entre
as principais maquinações com que, em nossos tempos, acatólicos de diferentes
denominações (isto é, evangélicos) procuram ludibriar fiéis católicos e
dissuadi-los da santidade de sua fé, ocupam lugar de destaque as Sociedades
Bíblicas. A estas sociedades, estabelecidas primeiramente na Inglaterra e
desde então espalhadas por toda a parte, vemos agora em ordem de batalha,
tramando a traduzir os livros das divinas Escrituras para todas as línguas
faladas, a fornecer inúmeros exemplares, a distribuí-los indiscriminadamente
entre os cristãos e gentios e a induzir cada indivíduo a lê-las sem orientação
alguma.” (Papa Gregório XVI, Encíclica Inter Praecipuas, 08
de maior de 1844).
“Elas
(Bíblia e Tradição) estão entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois
promanando ambas da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e
tendem para o mesmo fim. “ (Dei Verbum) Tanto uma como a outra tornam
presente o fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer
com os seus “todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20). (Cat.
Católico, § 80; pág. 35)
A
Sagrada Escritura é
a Palavra de Deus enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo.
Quanto à Sagrada Tradição, ela “transmite integralmente aos
sucessores dos apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo
Espírito santo aos apóstolos para que, sob a luz do Espírito da verdade, eles
por sua pregação fielmente a conservem, exponham e difundam.
Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a
interpretação da Revelação, não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que
foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas
e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. (Dei Verbum, 9)
(Hoje,
devido a difusão da Bíblia pelos evangélicos, os católicos também se esforçam
na propagação da Escritura e lançam Bíblias com notas ao pé da página,
firmando sua posição doutrinária).
|
Somente
a Escritura
-
Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas
mesmas que testificam de mim. (João 5.39 RA)
-
Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a
salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.15-17 RA)
Ora,
estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a
palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se
as coisas eram, de fato, assim. (Atos 17.11 RA)
(Muitos
acusam os luteranos dizendo: Vocês têm as vossas Confissões! É verdade, mas
elas não se equiparam a Bíblia. A Bíblia é a única fonte, as Confissões são
norma normada, isto é, enquanto de acordo com a Bíblia.)
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O Papa reivindica a supremacia política – 1303
d.C.
|
O papa
Bonifácio VIII (1235 – 1303) emitiu o documento oficial com respeito aos
objetivos políticos do papismo com sua bula Unam Sanctum (18 de
novembro de 1302), hoje boa lei canônica:
1º É necessário para a salvação que todos os homens se submetam ao
Papa.
2º A espada material é desembainhada a favor da Igreja, a espiritual pela
Igreja.
3º A supremacia do Papa, também em assuntos temporais, deve ser inculcada.
4º O poder secular está subordinado ao eclesiástico como poder superior.
O Papa
pretende ainda hoje esta reivindicação?
O Papa,
Bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, “é o perpétuo e visível princípio e
fundamento da unidade, quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis. Com
efeito, o Pontífice Romano, em virtude do seu múnus (função) de Vigário de
Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e
universal. E ele pode sempre livremente exercer este seu poder. (Lumen
Gentium, 22; Cat. Católico, § 882. Pág. 216).
Houve
quem perguntasse se à Igreja cabe a autoridade não só para condenar um
delinquente a penas físicas, mas também para ela mesma as infligir. Quanto a
isto, basta lembrar que o direito de a Igreja apelar para a ajuda do poder
civil na execução de suas sentenças foi expressamente defendido por Bonifácio
VIII na bula Unam Sanctum. A questão é mais de importância
teórica que prática, visto terem os poderes civis de há muito deixando de
reconhecer a sua obrigação de inculcar as decisões de qualquer autoridade
eclesiástica. O suposto estado de coisas tão só existiria, se toda
uma nação fosse de espírito inteiramente católico e a força das
decisões papais fossem por todos reconhecidos como caso de consciência”.
(Catholic Encyclopedia XII, Pope, pág. 266)
|
Um só
Mestre
- Nem
sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. (Mateus 23.10 RA)
Somente
uma ordem para a Igreja
- E
disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
(Marcos 16.15 RA)
Igreja
e Estado
Responderam:
De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus. (Mateus 22.21 RA)
A
respeito do Reino de Deus
Respondeu
Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os
meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui. (João 18.36 RA)
|
Negando aos leigos o cálice da Comunhão – 1415
d.C.
|
Somente
o pão no sacramento
Leigos
e aqueles clérigos que não oficiam, ... recebem o sacramento sob uma
espécie... , tão pouco se porá de qualquer maneira em dúvida, sem prejuízo da
fé, que a Comunhão sob uma das espécies lhes basta para a salvação. (Concílio
de Trento, Sessão XXI, Cânon 1)
Graças
à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a comunhão somente
sob a espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia. Por
motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como
a mais habitual no rito latino. (Cat. Católico, § 1390; pág. 333)
|
A
Instituição da Santa Ceia é um testamento de Cristo. Ninguém tem o direito de
alterar um testamento, por isso deve ser dada sob os dois elementos: pão e
vinho.
1º
Tomai, comei; isto é o meu corpo.
2º
Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança,
derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.
Mt
26.26-29; Mc 14.22-26; Lc 22.14-20; 1 Co 11.23-26.
Como os
sacerdotes católicos se atrevem a negar aos leigos o cálice, transgredindo a
ordem de Cristo?
|
A tradição igualada à Bíblia em autoridade – 1545
d.C.
|
A
Sagrada Escritura não é a única fonte teológica de revelação dada por Deus à
sua Igreja. Lado a lado com as Escrituras corre a tradição. Este ponto de
vista tornou-se parte da tradição do Concílio de Trento. (Concílio de Trento,
1545 – 1563)
A Tradição
da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes
receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam através do
Espírito Santo. Com efeito, a primeira geração de cristãos ainda não dispunha
de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o processo
da Tradição viva.
Dela é preciso distinguir as “tradições” teológicas, disciplinares,
litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais.
Constituem elas formas particulares sob as quais a grande Tradição recebe
expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da
grande Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo
abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja.
O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou
transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja
autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo (Dei Verbum), isto é, aos bispos
em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. (Cat. Católico, § 83,
85; pág. 35, 36)
|
Porque
não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo
seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas
oculares da sua majestade, (2 Pedro 1.16 RA)
Porque
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. (1
Coríntios 2.2 RA)
A
minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé
não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. (1 Coríntios
2.4-5 RA)
Cristo
– não a tradição
Cuidado
que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;
porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.
Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e
potestade. (Colossenses 2.8-10 RA)
A
Bíblia é suficiente. A tradição católica é desnecessária.
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Justificação – 1545 d. C.
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Opinião
católica
Se alguém disser
que a fé que justifica não é outra coisa, senão uma confiança na divina
misericórdia, que perdoa os pecados por causa de Cristo ou que é só por esta
confiança que somos justificados — seja excomungado. (Concílio de
Trento, Sessão VI, Cânon 12, # 822)
Todos os erros de Martinho Lutero se resumem no ponto –
Justificação – donde resolveu a questão da eficácia dos Sacramentos, a
autoridade dos sacerdotes, o purgatório, o sacrifício da Missa e todos os
outros recursos para obter remissão dos pecados. É necessário, por isso, pelo
contrário, que aquele que quer estabelecer o corpo da doutrina católica,
destronize a heresia da justificação somente pela fé. (Giovani Del Monte,
pouco antes de se tornar Papa Júlio III, no Concílio de Trento.)
O sacramento do Perdão
Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os
membros pecadores de sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do
Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a graça batismal e feriram
a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova
possibilidade de converter-se a de recobrar a graça da justificação. Os
Padres d Igreja apresentam este sacramento como “a segunda tábua (de
salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça”.
... A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, um nome de
Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação. (Cat.
Católico, § 1446 e 1448; pág. 345)
Se alguém disser que a Penitência na Igreja Católica não é verdadeiro
e próprio sacramento instituído por Jesus Cristo Nosso Senhor para
reconciliar os fiéis com o mesmo Deus, todas as vezes que depois do Batismo
caírem em pecados – seja excomungado (Concílio de Trento, Sessão XIV, Cânon
1, § 911)
|
A
Bíblia afirma:
-
Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das
obras da lei. (Romanos 3.28 RA)
-
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo. (Romanos 5.1 RA)
- De
maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que
fôssemos justificados por fé. (Gálatas 3.24 RA)
-
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de
Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2.8-9 RA)
(Esta justificação somente pela fé a Igreja católica destroniza.)
- E ser
achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é
mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé.
(Filipenses 3.9 RA)
- Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. (João 6.47
RA)
Observação: Lemos na Declaração
conjunto Católica Romana – Evangélica Luterana. Porto Alegre, 1998.
Preâmbulo, 1997: § 7). Assim como os próprios diálogos, também está a DC se
baseia na convicção de que uma superação de questões controversas e de
condenações doutrinárias até agora vigentes não minimiza as divisões e
condenações nem desautoriza o passado da própria Igreja. Repousa, porém,
sobre a convicção de que no decorrer da história nossas igrejas chegam a
novas percepções e de que ocorrem desdobramentos que não só lhes permitem,
mas ao mesmo tempo também exigem que as questões e condenações divisórias
sejam examinadas e vistas a uma nova luz.
Nossa igreja (IELB, com suas igrejas irmãs no mundo não assinou esta DC. Não
podemos abrir mão das verdades bíblicas e de nosas confissões.
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Escapulários
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Que são
escapulários?
Uma
prática oriunda do século XVI, após a Reforma, de levar consigo tiras de pano
por cima ou por baixo das vestes para obter indulgências oferecidas pelos
grupos que abençoaram estes escapulários. O Escapulário de Nossa Senhora do
Monte Carmelo é o mais conhecido, se bem que haja mais que uma dúzia de
outros dessa espécie.
O Poder
dos Escapulários
Todo
aquele, embora agora seja pecador, que traz a medalha da mãe de Deus durante
toda a sua vida como seu fiel servo, não se fiando presunçosamente no
escapulário como amuleto milagroso, antes confiante fielmente no poder e na
bondade de Maria, pode esperar firmemente que Maria, por sua poderosa e
maternal intercessão, procurará em favor dele todas as graças necessárias
para a verdadeira conversão e a perseverança no bem. É este o sentido e a
importância do primeiro privilégio do Escapulário Carmelite, que costuma ser
expresso com as palavras: “Todo aquele que trouxer o escapulário até a morte,
será preservado do inferno.”
O segundo privilégio do escapulário pode ser definido em poucas palavras como
significando que a assistência maternal de Maria aos seus servos na Confraria
do Escapulário continuará depois da morte e terá o seu efeito especialmente
nos sábados, dia da consagração em sua honra”. (Catholic Encyclopedia, XIII
“Scapular”, pág. 510)
Medalhas
escapulários
Desde
16 de dezembro de 910 é permitido usar uma única medalha de metal em lugar de
um ou mais pequenos escapulários” (Catholic. Encyclopedia XIII “Scapulár”,
pág. 510).
Escapulários
tem virtude apenas quando usados
Caso
alguém deixasse de usar o escapulário por muito tempo (mesmo por causa de
indiferentismo), não obtém nenhuma das indulgências durante esse período;
retomando, porém, simplesmente o escapulário, participa novamente das
indulgências privilégios, etc. (Catholic Encyclopedia XIII, “Scapular”, pág.
510)
|
Deus
cuida de nós e não a virgem Maria
-
Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo
oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele
tem cuidado de vós. (1 Pedro 5.6-7 RA)
Um só
Advogado
-
Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia,
alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; (1 João 2.1
RA)
Um só Mediador
-
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus, homem, (1 Timóteo 2.5 RA)
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Imaculada conceição de Maria – 1854 d.C.
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O papa
Pio IX, pela Bula Ineffabilis Deus, em 08 de dezembro de 1854, proclamou e
definiu o novo dogma da imaculada Conceição da Virgem Maria:
“No primeiro momento de sua conceição, por um privilégio singular uma graça
concedida por Deus, tendo em vista a raça humana, a Virgem Maria foi
conservada isenta de toda mancha do pecado original, e viveu uma vida
completamente livre de pecado”.
Pio IX
(Encíclica Lux Veritatis, Natal de 1931) decretou que cada
bom católico deve crer na Virgem Maria como medianeira e intercessora perante
Deus. Ao mesmo tempo o papa apelou aos protestantes para se associarem à
adoração de Maria.
A
Igreja Católica Romana admite que a Bíblia não fala sobre isso
Não se
pode encontrar nenhuma prova direta ou categórica e rigorosa para esta
doutrina (Catholic Encyclopedia VII, Immaculate Conception, pág. 675)
|
Todas
as pessoas nascem com o pecado original
Não há
homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque. (Eclesiastes 7.20
RA)
Pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus. (Romanos 3.23 RA)
Quando
fizeste coisas terríveis, que não esperávamos, desceste, e os montes tremeram
à tua presença. (Isaías 64.3 RA)
Maria
confessa ser Jesus o seu Salvador
Então,
disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou
em Deus, meu Salvador. (Lucas 1.46-47 RA)
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Syllabus de Erros – 1864 d.C.
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Esta
encíclica o papa Pio IX refutou oitenta erros sérios, incluindo a liberdade
de imprensa, protestantismo, comunismo, sociedades bíblicas, casamento civil,
livre investigação científica, separação da Igreja e do Estado, escolas
públicas e tolerância religiosa. Concluindo, condenou a exigência de o
“pontífice romano poder e dever conformar-te e estar de acordo com o
progresso, o liberalismo e a civilização, ultimamente introduzidos”.
Exemplos de erros condenados peloSyllabus:
15º
Cada homem é livre para aceitar e professar a religião que, guiado pela luz
da razão, considerar a verdadeira.
A Igreja Romana condena esse fundamental direito americano.
55º A
Igreja devia estar separada do Estado e o Estado da Igreja.
A Igreja Romana condena esse fundamental princípio.
Qual a
atitude Católica Romana para com a liberdade?
No tocante à lei de Deus, ninguém tem o direito de aceitar qualquer religião
a não ser a católica, ou de ser membro de qualquer igreja senão da Igreja
Católica, ou de exercer qualquer forma de culto divino a não ser aquele que é
ordenado ou sancionado pela Igreja Católica. (Connell, opus cit. Pág. 4.
|
A
Igreja não usa a força para converter alguém
-
Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por
força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos.
(Zacarias 4.6 RA)
- E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8.32 RA)
Igreja
e Estado separados
-
Jesus, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
(Mateus 22.21 RA)
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A Infalibilidade do Papa – 1870 d. C.
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O
concílio Vaticano I definiu, em 18 de julho de 1870, sob o Papa
Pio IX, como dogmadivinamente revelado que o Pontífice Romano,
falando ex-cátedra, é munido daquela infalibilidade de que o
divino Redentor deseja ver dotada a sua Igreja ao definir doutrinas de fé e
de moral. O Papa, ensinando ex-cátedra, é um independente órgão da
infalibilidade. “As condições exigidas para ensinar ex-cátedra são
mencionadas no decreto vaticano”:
a) O Pontífice deve ensinar em
suas
atribuições
públicas e oficiais de pastor e doutor de todos os cristãos, não apenas em
suas atribuições particulares de teólogo, pregador ou locutor, nem em suas
atribuições de príncipe secular ou de mero ordinário da Diocese de Roma. Deve
estar claro que fale como cabeça espiritual da Igreja Universal.
b) Somente quando ensina nestas
atribuições
alguma doutrina de fé ou de moral, é infalível.
c) Outrossim, deve ser bastante
evidente
que pretende ensinar com toda a plenitude e finalidade de sua Suprema
Autoridade Apostólica, em outras palavras, que ele deseja determinar um ponto
de doutrina dum modo absolutamente definitivo e irrevogável ou defini-lo no
sentido técnico.
d) Finalmente, para que seja uma
decisão
ex-cátedra, deve estar claro que o Papa vise obrigar toda a Igreja, exigir de
todos os fiéis o assentimento interno ao seu ensino, sob pena de incorrer em
naufrágio espiritual, de acordo com a expressão usada por Pio IX ao definir a
Imaculada Conceição da bendita Virgem. (Catholic Encyclopedia VII,
Infalility, pág. 796; Wikipédia, a encuclopédia livre)
Cânones:
1837. Foi, portanto, este Dom
da verdade e da fé, que nunca falece, concedido divinamente a Pedro e aos
seus sucessores nesta cátedra, a fim de que cumprissem seu sublime encargo
para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado
por eles do venenoso engodo do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina
celeste, para que assim, removida toda ocasião de cisma, e apoiada no seu
fundamento, se conservasse unida a Igreja Universal, firme e inexpugnável
contra as portas do inferno.
1838. Mas, como nestes nossos tempos, em que mais do que nunca se precisa da salutífera eficácia do ministério apostólico, muitos há que combatem esta autoridade, julgamos absolutamente necessário afirmar solenemente esta prerrogativa que o Filho Unigênito de Deus dignou-se ajuntar ao supremo ofício pastoral. 1839. Por isso Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis. 1840. [Cânon]: Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita, - seja excomungado. |
Sinal
do Anticristo
Ninguém,
de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha
a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o
qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto,
a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o
próprio Deus. (2 Ts 2.3-4 RA)
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Decreto invalidando todos os casamentos mistos
não realizados por um sacerdote romano – 1908 d.C.
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Estes
casamentos eram válidos antes de 19 de abril de 1908
Um
casamento entre um católico e um protestante batizado... ou entre dois
católicos... celebrado por um ministro ou um juiz de paz, era válido
(Conway, “The Question Box, The Paulist Fathers, N.Y., 2. Ed. 1929, pág.
337).
O
decreto Ne Temere de Pio IX que entrou em vigor no domingo
de Páscoa, 19 de abril de 1908, declara: Só aqueles casamentos são válidos
que são contratados perante o sacerdote paroquial ou o ordinário local ou o
sacerdote encarregado por um ou outro destes dois e, pelo menos, duas
testemunhas (Cânon 1904, Conway, op. pág. 337-838)
Recentemente
há um abrandamento neste sentido. Eis as recentes declarações no Catecismo
Católico:
- A
diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculo insuperável
para o casamento, desde que consigam colocar em comum o que cada um deles
recebeu na sua comunidade.
-
Conforme o direito em vigor na Igreja Latina, um casamento misto exige, para
sua legalidade, a permissão expressa da autoridade eclesiástica. Em caso de
disparidade de culto, requer-se uma dispensa expressa do impedimento para a
validade do casamento.
- Em
muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs
envolvidas conseguiram criar uma pastoral comum para os casamentos mistos.
- Do
Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua
natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no matrimônio cristão, os
cônjuges são robustecidos e como que consagrados, como sacramento especial,
aos deveres e à dignidade do seu estado. (Cat. Católico # 1633 – 1638; pág.
385, 396)
|
O
infeliz decreto Ne Temere foi baixado por um homem para
escravizar o povo; não por Cristo, que os libertou de semelhantes
regulamentos cruéis.
- Para
a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos
submetais, de novo, a jugo de escravidão. (Gálatas 5.1 RA)
|
PS – Não
podíamos deixar de incluir aqui o Ano Jubilar de Misericórdia da
Igreja Católica.
Jubileu da Misericórdia
O Papa decretou no dia 13 de março de 2015 o Jubileu da Misericórdia,
que oficialmente estende-se de 08 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016,
chamado também de Ano Santo ou Ano Jubilar.
O Papa, que estabeleceu tal ano, foi Sisto IV em
1475. Este ano Jubilar pode ser repetido de 25 em 25 anos, ou por ocasiões e
momentos bem especiais. Ele se inspira no Ano Sabático judaico
(Levíticos 25.8). O Ano Jubilar tem a duração de um ano e
consiste, afirma o Papa, “no perdão dos pecados dos fiéis que
cumprem certas disposições eclesiais estabelecidas pelo Vaticano
(Indulgências). É o ano do perdão e da reconciliação”.
Como se obtém este perdão? É um verdadeiro momento de encontro com a
“misericórdia de Deus”. Como? “Espero que a indulgência jubilar chegue a cada
um”, disse o Papa Francisco.
Para viver e obter a “indulgência” os fiéis são chamados a realizar uma breve
peregrinação rumo à Porta Santa”, aberta em cada Catedral importante. E os
doentes? O Papa respondeu: É preciso “viver com fé e esperança
jubilar este momento... recebendo a comunhão ou participando na santa missa...
que será para eles o modo de obter a indulgência jubilar”, afirmou o Papa.
A pergunta é: O que uma indulgência? O Catecismo
Católico responde: “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da
pena temporal devido aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, bem
disposto, obtém em certas condições determinadas, pela intervenção da Igreja
que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o
tesouro das satisfações de Cristo e dos santos”.
“A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da
pena devida pelos pecados”. As indulgências podem aplicar-se aos vivos e aos
defuntos.
As penas do pecado – Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso
admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da
comunhão com Deus e, consequentemente, nos torna incapazes da vida eterna; esta
privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo
venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exigem purificação, quer
aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado purgatório. Esta
purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado... (Catecismo da
Igreja Católica. Editora Vozes. 1993; X Indulgências, §
1471, 1472; pág. 351)
Interessante que o Papa Francisco, com toda sua aparência cordial e
amável, que fala tanto da “misericórdia de Deus”, que abre a porta na Catedral
no Vaticano, bate com o martelo três vezes nela e diz em latim: “Abram-me as
portas da justiça, entrando por elas confessarei ao Senhor”. Afirma que “assim
a Igreja pode tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da
misericórdia”. E sublinha: “Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus e
que a Igreja é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém. As suas portas
estão escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam
encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o pecado, maior deve ser o amor
que a Igreja manifesta aos que se concertem”. No entanto, nega o “somente pela
misericórdia”.
Um católico piedoso reagiu e escreveu: “Espero que neste jubileu, os padres se
disponham a atender confissões! Que não inventem desculpas, cursos, projetos,
compromissos, para atender só na Semana Santa...”
Apesar de todas as palavras bonitas sobre “misericórdia” permanece a doutrina
católica das obras, das indulgências, do purgatório e roubam, com isso, a
certeza da salvação “somente por graça”. Que triste! Desconhecem a
“justificação objetiva e subjetiva”. De que Cristo ao exclamar na cruz: Está
consumado, pagou a culpa de toda a humanidade. E que ao Deus Pai
ressuscitar Jesus no dia da Páscoa, declarou que aceitou o sacrifício de seu
filho e absolveu toda a humanidade de seus pecados (João 3.26). Nada mais
precisa ser feito. O convite está aí: “Vinde que tudo está preparado”. Os que,
na verdade, rejeitam este convite, perdem a mesa posta, por sua própria culta
(Mateus 22.1-14). Mas aí, também, dos que distorcem e obscurecem este
maravilhoso convite. Não há dúvida de que o Papa, por mais cordial
e amável que se apresente, “é o homem da iniquidade, o filho da perdição, o
qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a
ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o
próprio Deus” (2 Tessalonicenses 2.4). Apesar dos muitos anticristos que se
levantam no mundo (1 João 2.18) o Papa é o que fere com toda
sua aparente piedade o ponto central da igreja, fere a Cristo nos olhos,
negando o “somente pela graça”. “Não vos enganeis, de Deus não se zomba”
(Gálatas 6.7).
O que consola, é que muitos católicos – na hora da morte – jogam tudo isso fora
e se apegam unicamente à graça. É o que tenho presenciado muitas vezes nos
hospitais.
Lutero
e a Igrja Católica - Aqui precisamos relembrar uma palavra de
Lutero sobre a Igreja Católica do seu tempo. Lutero estava convencido que a
verdadeira Igreja Cristã ainda existia mesmo nos dias da mais pavorosa
decadência na igreja medieval. Ele escreveu: Com seu misericordioso poder, como
no tempo de Elias, Deus preservou sua igreja. Pois por aquilo que ainda
permanecia no papado, o Espírito Santo pôde trabalhar, gerar e manter a fé.
Vejam, ali ainda havia: 1. O Santo Batismo, 2. A leitura da Palavra de Deus, 3.
O perdão dos pecados pela absolvição, 4. O santo sacramento do altar, mesmo
privado de uma das espécies. 5. O sacerdócio para consolar com o crucifixo,
lembrando a paixão de Cristo. 6. A oração, o Credo e o Pai Nosso (WA, XXXVIII,
p.221).
Conclusão. Muitas vezes ouvimos as
afirmações: Isto são coisas do passado. Muitas coisas já mudadas. Quais? Alguns
costumes mudaram. Um detalhe visível que mudou é a questão da Bíblia. Diante da
grande difusão da Bíblia, a Igreja Católica passou a incentivar a leitura da
Bíblia, para o que recomendam as suas traduções. Na Declaração Conjunta Católica
Romana – Evangélica Luterana FLM, 1993, consta a resolução “de não invocarem
mais as condenações mútuas”. O que significa isso? Mudaram a doutrina? Não.
São
Leopoldo, março de 2012
Horst
R. Kuchenbecker
[1] A Vereinigte
Evangelisch-lutherische Kirche (VELK), tem os seguintes temas, adotados pela
FLM: 2008: Abertura; 2009: Confissão; 2010: Formação; 2011: Liberdade; 2012:
Música; 2013: Tolerância; 2014: Política; 2015: Bíblia; 2016: O mundo. Confira
e acompanhe estes temas na seguinte página da internet: www.luther2017.de – A Selbständige Evangelisch-Lutherische
Kirche (SELK - nossa Igreja irmã na Alemanha) tem os seguintes temas: 2009: 95
Teses; 2010: A Confissão de Pecados; 2011: O Batismo; 2012: A Santa Ceia; 2013:
A Comunidade; 2014: A Igreja; 2015: Tradições; 2016: A vida cristã; 2017:
Reforma. Cada tema está dividido em 10 subtemas. Confira na seguinte página da
internet: www.blickpunkt-2017.de.
[2] RUPTURA, do Rev.
Rodolfo Hasse, Livreto editado pela Editora Concórdia, Porto Alegre, 1948, aqui
ampliado.
[3] Indica o
Parágrafo no Catecismo Católico.
II - Precursores da Reforma
Não podemos deixar de mencionar de forma breve os precursores da
Reforma.
A luta em prol da verdade começou cedo. Jesus advertiu seus apóstolos ao dizer:
“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos, sede, portanto,
prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos
homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas;
por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes
servir de testemunho, a eles e aos gentios”. (Mt 10.16-18)
Os apóstolos, com exceção do apóstolo João, experimentaram todos
essa verdade e sofreram morte de mártir. Eles advertiram as
congregações: “Assim como no meio do povo surgirão falsos profetas, assim
também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente
heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os
resgatou, trazendo sobre si “mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1). “Amados,
não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de
Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora” (1 Jo 4.1). A
história da igreja nos mostra o quanto isso foi e é verdade.
Vejamos alguns exemplos. Atanásio (296-373), chamado também de o
pai da ortodoxia. DepoisAgostinho (354-430), cuja literatura ajudou
muito a Lutero para encontrar a correta interpretação da Escritura.
Na história do cristianismo em nenhuma época faltaram mártires. Uma das
perseguições mais cruentas foi a do imperador romano Diocleciano
(245-313). Sua perseguição durou de 284-305. Ele ordenou que todos os
pastores e diretorias das Comunidades fossem mortos e todas as Bíblias
queimadas. Muitos cristãos enterraram seus manuscritos dos evangelhos e das
epístolas. O que se tornou, mais tarde, uma grande bênção para a igreja.
Inácio de Antioquia sofreu
o martírio sob o imperador Trajano (198-117). Ele foi lançado às feras no
Coliseu em Roma. A mesma sorte tiveram muitos pais apostólicos. Policarpo
(60-156), Papias (150), Hermes (140) e outros.
Com o imperador Constantino o grande (274-337) a situação mudou. As
perseguições foram abolidas. O rei instituiu a liberdade religiosa e decretou
depois a religião cristã como oficial do império.
Então Satanás mudou de estratégia. A igreja enriqueceu. Seus líderes tornaram-se
cobiçosos e vaidosos. Surgiram disputas doutrinárias. Grande foi a luta de
Agostinho pela verdade. E não demorou, com o surgimento do papado em Roma, que
erros doutrinários criaram raízes na igreja. Começaram as perseguições contra
os que não se submetiam ao papal em Roma.
Assim Pedro Waldus (1170) de Lion. Ele viu que a cristandade se
havia desviada do caminho reto da salvação. Começou a pregar o evangelho.
Mandou traduzir os quatro evangelhos para a língua francesa. Teve milhares de
seguidores, chamados de valdenses. Ele foi excomungando pelo Papa e seus
seguidores perseguidos. Faleceu em 1217.
João Wiclif (132
–1384) foi doutor e professor de Teologia, docente na Universidade de
Oxford. Condenou com veemência o comercio das indulgências e a veneração de
relíquias. Traduziu a Bíblia para a língua inglesa. Foi acusado de herege.
Devido a sua habilidade dialética conseguiu se defender e foi absolvido. Mas o
ódio contra ele não cessou nem após sua morte. O concílio de Constança condenou
sua doutrina. Seus restos mortais exumados e queimados.
João
Hus (1368-1416) tornou-se sacerdote em 1400 e reitor da Universidade
em Praga. Chegou ao conhecimento da verdade pelas pregações de Wiclif. Levantou
sua voz contra os erros de Roma. Foi excomungado e as portas de sua igreja
lacradas. Ele foi convocado para o concílio de Constança para ali ser julgado.
Recebeu o salvo- conduta do imperador Siegesmundo, confirmado pelo papa João
XXIII. Quando chegou a Constança foi imediatamente preso. Diante do Concílio
defendeu sua causa de forma clara e firme. No dia 06/07/1415 foi condenado à
morte na fogueira.
Jerônimo
de Savanarola (1452-1488) Monge dominicano. Ele adquiriu seus conhecimentos
estudando a Bíblia e os escritos de Agostinho. Tornou-se um orador eloqüente e
passional de arrependimento em Florença. Com isso atraiu sobre si a ira do
papa. Não poupou o papa em suas pregações. O papa tentou dissuadi-lo de suas
pregações por reforma. Não conseguindo seu intento, o papa o amaldiçoou. Ele
foi condenado pela justiça secular à morte na fogueira. Morreu pela mão do
carrasco no dia 23 de maior de
1498.
(Fontes:
Encyclopedia Luterana, 1954.
GUSTAVO JUST, Deus despertou
Lutero.
III – As 95 Teses
Na preparação dos 500 Anos da Reforma estão surgindo muitos
estudos e conferências a respeito das 95 Teses.. Cada qual procura um ângulo
novo para ver e interpretar Lutero. A tendência de interpretar as teses
conforme o desejo pessoal de cada um é grande. A produção literária, em nossos
dias, o confirma.
Outro fator, em nossos dias de ecumenismo, há uma forte tendência de
interpretar as 95 Teses de Lutero conforme o espírito ecumênico ou confessional
de nossos dias.
Diante disso, precisamos lembrar que Lutero foi professor e pastor. As teses brotaram de sua alma pastoral, pelo cuidado de seu rebanho que estava sendo desviado da verdade. São, portanto, teses profundamente pastorais como já o demonstra a primeira tese: “Dizendo nosso Senhor Jesus Cristo: Arrependei-vos, etc.[1], certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento”. Neste espírito as teses também terminam: 94ª e 95ª: “Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno; - E desta maneira mais esperem entrar no Reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessa de paz infundadas”.
Diante disso, precisamos lembrar que Lutero foi professor e pastor. As teses brotaram de sua alma pastoral, pelo cuidado de seu rebanho que estava sendo desviado da verdade. São, portanto, teses profundamente pastorais como já o demonstra a primeira tese: “Dizendo nosso Senhor Jesus Cristo: Arrependei-vos, etc.[1], certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento”. Neste espírito as teses também terminam: 94ª e 95ª: “Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno; - E desta maneira mais esperem entrar no Reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessa de paz infundadas”.
O verdadeiro chamado a Cristo sempre inicia com o chamado ao arrependimento e
termina com o convite para confiar em Cristo, em verdadeira fé, sob a cruz.
Isto é verdadeiro ecumenismo.
3.1 -
Preliminares
As preleções de Lutero sobre os Salmos e a carta aos Romanos nos
anos entre 1513 a 1516, nos levam a concluir que os conhecimentos teológicos de
Lutero já estavam maduros. Os ensinamentos essenciais da Escritura estavam
claros em sua alma e mente, como: A corrupção da humanidade: Pecado Original; a
morte vicária de Cristo por toda a humanidade (justificação objetiva): a
justificação do pecador pela fé na graça de Cristo (justificação subjetiva); o
amor e a vida em santificação como frutos da fé, a luta pela vida santificada
sob a cruz.
O segundo passo de Lutero foi destronar, do âmbito da religião cristã, a
Aristóteles e Platão, com toda sua teologia pagã, Com a palavra de Deus, a
espada de dois gumes, Lei e Evangelho, Lutero triturou o humanismo daquele
tempo. As teses dessa discussão foram impressas e distribuídas em 04/09/1517.
Naquele tempo, Christoph Scheurl escreveu: “Uma grande mudança está à vista na
teologia. Em breve será possível ser um teólogo sem Aristóteles e Platão”.
Melanchton, em sua gramática grega de 1518, quando ele ainda não era amigo de
Lutero, tachou Lutero de superficial. A universidade de Erfurt, Leipzig e mesmo
os colegas de Lutero se incomodaram com os escritos de Lutero contra
Aristóteles e Platão, mas Karlstadt e Armsdorf o apoiaram. As lutas e disputas,
naqueles dias foram intensas.
É preciso lembrar que desde 1514, Lutero não era somente monge e professor
universitário, mas também pregador em Wittenberg, na Igreja da cidade. Sua
tarefa era mostrar às pessoas o verdadeiro caminho a Deus e denunciar os falsos
caminhos, entre eles, as aberrações das indulgências.
Por isso, quando começou o barulho da venda de Indulgências em sua volta, ele
preparou algumas teses contra as indulgências em 1516, para discussão. Apesar
do tom agressivo e crítico a várias formas do ensino, ninguém reagiu. O mundo
intelectual em sua volta, não lhe deu a mínima atenção. Como pastor, no
entanto, ouviu, no confessionário de seus congregados, as declarações sobre as
promessas do monge Dominicano Tetzel.
Nesse período, Lutero estava muito ocupado. Ele escreveu a um de seus amigos em
outubro de 1516: “Na verdade, eu precisaria de dois secretários. Gasto o dia
escrevendo cartas. Sou pregador no mosteiro, leitor na mesa, diariamente me
querem como pregador na Igreja, sou orientador dos estudantes, prior de onze
mosteiros. Cuido do meu açude em Zeitzkau, tenho preleções sobre Romanos, etc.
Exatamente desses trabalhos brotou sua obra de Reformador. Como pastor da
Igreja da cidade de Wittenberg era responsável pelo bem-estar espiritual de seu
rebanho.
Nisto surgiu o padre dominicano Tetzel com a venda de Indulgências. Ele era
padre, mesmo assim tinha duas filhas. Ele era hábil orador. O Conde de
Brandenburg o contratou para vender indulgências. Tetzel se gabava de ter feito
mais pelo reino de Deus do que a virgem Maria. Ele proclamava: “Tão logo a
moeda tinir no cofre, a alma de vossos entrequeridos saem do purgatório e vão
para o céu”.
Lutero ficou revoltado. Ele disse a seus amigos: “A casa de oração
tornou-se, novamente, um covil de ladrões e salteadores. (Mt 21.13; Mc 11.17;
Lc 9.46)
No ano de 1517, Lutero pregou quatro vezes contra as indulgências, sendo a
última, provavelmente, na noite antes do dia 1º de novembro daquele ano.
Ele continuou estudando cuidadosamente o assunto durante seis meses até lançar
mão à pena para escrever. Ele sabia que o assunto iria despertar acirradas
discussões. Ao escrever, tinha que medir cada palavra e precisava estar bem
preparado para responder as indagações e acusações. Assim formulou as 95 teses.
Ele as escreveu a mão, em latim numa grande folha e as fixou no dia 31 de
outubro (ou 1° de novembro) de 1517 à porta da igreja do castelo de Wittenberg.
Elas deveriam servir de base para discussão com padres e professores sobre o
assunto indulgências. As teses, no entanto, foram logo copiadas e traduzidas
para outras línguas. Elas se espalharam qual fogo em palha seca por toda a
Europa. Chegaram também ao Papa em Roma que ficou furioso, pois, com o dinheiro
da venda das indulgências ele estava construindo a Basílica de São Pedro em
Roma. Banqueiros e duques tinham parte no lucro, por isso as teses
desencadearam duras contestações. Mas, da parte dos intelectuais não houve
reação. A finalidade para a qual foram escritas: Debater o assunto. Não aconteceu.
Não houve nenhum debate sobre elas. O povo simples as aceitou de bom grado. E
as teses desencadearam uma mudança na igreja, a qual Lutero jamais imaginou,
mesmo estando ciente com quem estava mexendo.
Naquele ano, realizou-se em Wittenberg a grande exposição das relíquias do
Eleitor Frederico o Sábio a qual, pela visita às mesmas, dava indulgências.
Entre outras coisas, Lutero afirmou: “Pelas indulgências ninguém pode ter
certeza de que seus pecados tenham sido completamente perdoados, pois verdadeiro
perdão, a pessoa só obtém se estiver arrependida de seus pecados e confiar em
Cristo”. Ele disse a um de seus amigos: “A Eleitor Frederico ficou indignado
com ele por causa daquele sermão”.
Indulgências
O que são indulgências? Na verdade, ninguém sabe ao certo o que são
indulgências. É uma instituição da Igreja, criada na época das Cruzadas. A
Igreja Católica tem no seu Sacramento de Penitência três passos: Contritio
cordis (contrição), confessio oris (confissão)
e satisfactio (satisfação). Esta última imposta pelo
sacerdote, a saber: esmolas, jejuns, peregrinações, orações e outras práticas.[2] Estas
obrigações, impostas pela igreja, poderiam ser pagas aqui ou no purgatório, ou
por indulgências (pagamentos em dinheiro). Elas livram, no entanto, somente das
obrigações impostas pela igreja. Não livram do inferno. Cinqüenta anos antes de
Lutero, o Papa Clemente VI, por sua Bula“Unigenitus de 27 de janeiro de
1343”, estendeu as indulgências também em favor dos já falecidos. Alguns
Papas se valeram das indulgências para arregimentar pessoas para as cruzadas e
também para angariar dinheiro para a construção de igrejas e, especialmente, a
Basílica de São Pedro. Mais tarde, o Concílio de Trento (1564) se ocupou com a
matéria das Indulgências e procurou colocar certa ordem nas mesmas e defini-las
melhor.[3]
Quando o padre Dominicano Tetzel se engajou nesse trabalho, ele foi a certos
extremos. Lutero nunca o viu, mas ouviu muito a respeito dele e de sua
campanha. O Eleitor Frederico o Sábio, para resguardar sua grande exposição de
relíquias[4] que também forneciam indulgências, não
permitiu a Tetzel entrar em sua jurisdição. Muitos dos congregados de Lutero,
no entanto, foram até a fronteira para comprar ali as indulgências. No
confessionário Lutero ouviu a respeito e ficou horrorizado. Em seu cuidado
pastoral, ele não pôde mais ficar calado. Era hora de levantar sua voz. Ele o
fez por escrito.
As teses ainda hoje são importantes e merecem ser lidas e estudadas com cuidado.
3.2
- 31 de outubro de 1517
No dia 31 de outubro, ao meio dia, havendo já uma multidão esperando a abertura
da igreja, Lutero passou no meio dela e pregou as teses na porta da igreja do
Castelo de Wittenberg.[5] Gustav Just descreve o momento
assim: As pessoas se aglomeravam na rua principal, aguardando o culto
que costumava preceder à festa da igreja a realizar-se no dia de Todos os
Santos. Nisso, um homem de passos apressado rompia a multidão expectante; magro
e macilento era seu corpo, descorado o seu rosto, mas seus olhos tinham um
brilho vivo e intenso. Dirigindo-se ao portal da igreja do paço, ele tirou da
sua escura roupa de frade uma folha de pergaminho escrita e a afixou, com
poderosas marteladas, na porta da igreja. No começo, a sua ação foi notada
apenas pelos circunstantes mais próximos. Então um deles leu em voz alta o
seguinte: “Debate sobre o esclarecimento do poder das indulgências. Por amor à
verdade e pela necessidade de trazê-la à luz, será discutido em Wittenberg o
que abaixo segue, sob a presidência do respeitável padre M. Lutero. Aqueles que
não podem debater esse assunto pessoalmente conosco, poderão fazê-lo por
escrito. Em nome de nossos Senhor Jesus Cristo, Amém”. Terminada a leitura,
ouviu-se uma voz do meio da multidão: “Vamos, leiam! O que nos anuncia este
escrito maravilhoso?”[6] As teses estavam escritas a
mão, em latim. Nas mesmas, Lutero convidou o clero para discutir o
assunto das indulgências. Os letrados não lhe deram atenção. Ninguém aceitou o
desafio; o povo, porém, cansado das indulgências, estava sedento pelo evangelho.
O que Lutero nem imaginou, aconteceu. Em poucos dias as teses se espalharam por
toda a Europa. Elas foram traduzidas do latim para o espanhol, o holandês e o
italiano. Consta que após 4 anos, um monge comprou uma cópia delas em
Jerusalém. Houve elogios, bem como condenações. Quando Tetzel tomou
conhecimento das mesmas, ele se encheu de furor. Realmente as teses eram uma
declaração de guerra.
No mesmo dia, à noite, Lutero pregou sobre as indulgências. Gastou a tarde
escrevendo cartas a diversas autoridades eclesiásticas, que foram enviadas com
uma cópia das teses. Ele, em si, não fez nada para que as teses fossem
espalhadas entre o povo. Ele queria discutir o assunto com os responsáveis.
A primeira carta foi dirigida ao Arcebispo Eleitor de Mogúncia[7] que estava comandando a venda de
indulgência na sua jurisdição em Brandenburg. Ele também havia elaborado Instruções sobre
a venda das Indulgências e amparou Tetzel e seus auxiliares. Lutero se dirigiu
ao arcebispo de forma mui respeitosa e humilde. Contou o que seus congregados
lhe contaram a respeito de Tetzel.[8] “Que posso fazer digníssimo bispo,
sereníssimo príncipe, se não rogar a Vossa Alteza, por Nosso Senhor Jesus
Cristo, que se digne olhar com fraternal cuidado para este assunto retirando as
“Instruções” e impondo outro tom aos pregadores de indulgências?...
Queira teu amor paternal aceitar minha fiel admoestação. Também eu sou servo de
tuas ovelhas. Queira o Senhor Jesus Cristo te proteger em todos os tempos!
Amém. ”[9] O Arcebispo não respondeu, mas mandou
as Teses imediatamente para Roma. Lutero considerou esta sua carta um dos
documentos principais de seus trabalhos.
3.3 - Texto das 95 TESES
Frei MARTINHO LUTERO
CONTRA O COMÉRCIO DAS INDULGÊNCIAS
Tradução: Rodolfo F. Hasse
Movido pelo amor e pelo empenho em prol do
esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittenberg, sob a presidência do
rev. padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar
presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por
escrito.
Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
1ª Tese
|
Dizendo
nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... certamente quer que
toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
|
2ª Tese
|
E esta
expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao
sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício
dos sacerdotes.
|
3ª Tese
|
Todavia
não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento
interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de
modificações da carne.
|
4ª Tese
|
Assim
sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura
enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para
a vida eterna.
|
5ª Tese
|
O papa
não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre
ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
|
6ª Tese
|
O papa
não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que Já foi perdoado
por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes
casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou
perdoada.
|
7ª Tese
|
Deus a
ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera
humildade, ao sacerdote, seu vigário.
|
8ª Tese
|
Canones poenitendiales, que não as ordenanças de prescrição da maneira
em que se deve confessar e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de
acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.
|
9ª Tese
|
Eis
porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de todos
os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema
|
10ª Tese
|
Procedem
desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos
penitencias canônicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem
cumpridas.
|
11ª Tese
|
Este
joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, previstas pelos
cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando
os bispos se achavam dormindo.
|
12ª Tese
|
Outrora canonicae
poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram
impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a
sinceridade do arrependimento e do pesar.
|
13ª Tese
|
Os
moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito
canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.
|
14ª Tese
|
Piedade
ou amor Imperfeitos da parte daquele qtie se acha às portas da morte
necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto
maior o temor.
|
15ª Tese
|
Este
temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar
o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do
desespero.
|
16ª Tese
|
Inferno,
purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o
desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
|
17ª Tese
|
Parece
que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas
também deve crescer e aumentar o amor.
|
18ª Tese
|
Bem
assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura,
que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do
crescimento no amor.
|
19ª Tese
|
Ainda
parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza
de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta
certeza disto.
|
20ª Tese
|
Por
isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário
de todas as penas” que todo o tormento é perdoado, mas as penas por ele
impostas.
|
21ª Tese
|
Eis
porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem
perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
|
22ª Tese
|
Pensa
com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que
segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.
|
23ª Tese
|
Verdade
é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos
mais perfeitos, que são muito poucos.
|
24ª Tese
|
Assim
sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto
perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
|
25ª Tese
|
Exatamente
o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura
d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer
para com os seus em particular.
|
26ª Tese
|
O papa
faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do poder das
chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.
|
27ª Tese
|
Pregam
futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair
na caixa a alma se vai do purgatório.
|
28ª Tese
|
Certo é
que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro
cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só
corresponde à vontade e ao agrado de Deus.
|
29ª Tese
|
E quem
sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem
diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.
|
30ª Tese
|
Ninguém
tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muito
menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.
|
31ª Tese
|
Tão
raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros, tão
raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem
poucos os que se encontram.
|
32ª Tese
|
Irão
para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza
de sua salvação mediante breves de indulgência.
|
33ª Tese
|
Há que
acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a
mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é
reconciliado com Deus.
|
34ª Tese
|
Tanto
assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena
satisfatória estipulada por homens.
|
35ª Tese
|
Ensinam
de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que
querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão
não necessitam de arrependimento e pesar.
|
36ª Tese
|
Todo e
qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente
pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que
lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
|
37ª Tese
|
Todo e
qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens
de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de
indulgência.
|
38ª Tese
|
Entretanto
se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa.
Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão
divino.
|
39ª Tese
|
É
extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do
povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o
verdadeiro arrependimento e pesar.
|
40ª Tese
|
O
verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a profusão da
indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando
há oportunidade para isso.
|
41ª Tese
|
É
necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem
singelo não julgue erroneamente ser a indulgência
preferível às demais obras de caridade ou melhor do
que elas.
|
42ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de
indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de
caridade.
|
43ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos
necessitados do que os que compram indulgências.
|
44ª Tese
|
Ê que
pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais
piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e
livre da pena.
|
45ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a
despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do
papa. mas provoca a ira de Deus.
|
46ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário
para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
|
47ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada
|
48ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais
necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
|
49ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto o
homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência
delas, se perde o temor de Deus.
|
50ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da
traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de
São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os
ossos de suas ovelhas.
|
51ª Tese
|
Deve-se
ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o seu
dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de
indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro.
|
52º Tese
|
Comete-se
injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto
ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.
|
53ª Tese
|
São
inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de
indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.
|
54ª Tese
|
Esperar
ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o
comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como
garantia.
|
55ª Tese
|
A intenção
do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor,
com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o Evangelho, que
é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e
solenidades.
|
56ª Tese
|
Os
tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não
são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja de Cristo.
|
57ª Tese
|
Que não
são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não
distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
|
58ª Tese
|
Tão
pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são
eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e
a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.
|
59ª Tese
|
São
Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a
palavra era usada na sua época.
|
60ª Tese
|
Afirmamos
com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves
da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.
|
61ª Tese
|
Evidente
é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o
poder do papa por si só basta.
|
62ª Tese
|
O
verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de
Deus.
|
63ª Tese
|
Este
tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os
primeiros sejam os últimos.
|
64ª Tese
|
Enquanto
isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz
com que os últimos sejam os primeiros.
|
65ª Tese
|
Por
essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se
apanhavam os ricos e abastados.
|
66ª Tese
|
Os
tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as
riquezas dos homens.
|
67ª Tese
|
As
indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça
decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
|
68ª Tese
|
Nem por
isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com
a graça de Deus e a piedade da cruz.
|
69ª Tese
|
Os
bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das
indulgências apostólicas com toda a reverência-
|
70ª Tese
|
Entretanto
têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes
comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os
seus próprios sonhos.
|
71ª Tese
|
Aquele,
porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos
apregoadores de indulgências, seja abençoado.
|
72ª Tese
|
Quem
levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e
maldito.
|
73ª Tese
|
Da
mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos
que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.
|
74ª Tese
|
Muito
mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto
de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de
agir.
|
75ª Tese
|
Considerar
as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver alguém dos
pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa
ser demente.
|
78ª Tese
|
Bem ao
contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado
venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.
|
77ª Tese
|
Dizer
que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior
indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.
|
78ª Tese
|
Em
contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de
muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o dom de curar,
etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.
|
79ª Tese
|
Afirmar
ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja
tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.
|
80ª Tese
|
Os
bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do
povo, terão de prestar contas deste procedimento.
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81ª Tese
|
Semelhante
pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com que
mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a
maledicência e as fortes objeções dos leigos.
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82ª Tese
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Eis um
exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do purgatório,
movido por santíssima' caridade e em face da mais premente necessidade das
almas, que seria justíssirno motivo para tanto, quando em troca de vil
dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra um sem número de
almas, logo por motivo bastante Insignificante?
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83ª Tese
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Outrossim:
Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos
defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se
permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas oferecidos em
favor dos mortos, visto ser injusto continuar a rezar pelos já resgatados?
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84ª Tese
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Ainda:
Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo
resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não
resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por
livre amor e sem paga?
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85ª Tese
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Ainda:
Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e
morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de
indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?
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86ª Tese
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Ainda:
Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer
Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em
vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?
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87ª Tese
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Ainda:
Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos
que pela penitência completa assiste o direito à indulgência plenária?
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88ª Tese
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Afinal:
Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como já o faz, cem vezes
ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da
indulgência a título gratuito.
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89ª Tese
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Visto o
papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os
breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as
mesmas virtudes?
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90ª Tese
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Refutar
estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante
argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria dos
inimigos e desgraçar os cristãos.
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91ª Tese
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Se a
Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles
receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.
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92ª Tese
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Fora,
pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e
não há Paz.
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93ª Tese
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Abençoados
sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz!
e não há cruz.
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94ª Tese
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Admoestem-se
os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do
padecimento, morte e inferno.
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95ª Tese
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E assim
esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas tribulações do que
facilitado
diante de consolações infundadas.
(Confira mais adiante: 95 Teses de Harms e 9.5 Teses de Senkbeil)
|
3.4 -
Análise das Teses
As teses de Lutero diferem das disputas comuns. Elas foram escritas na santa
ira pastoral e são ousadas, claras e diretas.
As teses se dirigiram principalmente contra o abuso das indulgências. Ele
escreveu: “É preciso ensinar aos cristãos que, se o Papa conhecesse as exações
(cobranças) dos pregadores de indulgência, preferiria que a metrópole de São
Pedro[10] fosse queimada e reduzida a cinzas a
vê-la edificada com a pele, carne e os ossos de suas ovelhas”. Logo mais,
Lutero descobriu que o Papa pensava bem
diferente.
Nas teses há três grandes afirmações, duas negativas e uma positiva: 1)
Contestação e condenação do comércio das indulgências. 2) Negação ao poder do
Papa de perdoar penas do purgatório. 3) Reflexão sobre a salvação do
pecador.
a) Condenação do comércio das
indulgências. Todas
as economias do povo
cristão
estão sendo engolidas por Roma, para a construção da Basílica de São Pedro. Em
breve todas as igrejas, murros e pontes em Roma serão construídos com o nosso
dinheiro.
b) O Papa não tem poder para perdoar
pecados ou castigos, ou remir do
castigo
do purgatório. Perdão é dado no sacramento de penitência aos pecadores
verdadeiramente arrependidos. As indulgências não livram da culpa e do pecado.
Isto só Deus pode fazer. Os santos não têm um crédito em obras que possa ser
vendido aos outros. Se o Papa tivesse um reservatório de perdão, porque não o
distribui gratuitamente a todos. Tese 82: “Indulgências são vãs e desviam do
verdadeiro amor”.
c) O verdadeiro caminho de salvação
do pecador. As
pessoas (também cada
cristão)
deve ser ensinado que quem dá aos pobres faz algo melhor do que comprar
indulgências. Quem compra indulgências não ganha perdão, mas a ira de Deus. Se
alguém crê que está totalmente perdido, então a luz do evangelho começa a
brilhar. Paz vem pela palavra de Deus, de Cristo, pela fé. Quem não
tem fé na graça de Cristo, está condenado. “Verdadeiro arrependimento e pesar
busca e ama o castigo” (40ª Tese).
Vejamos
alguns detalhes
Quando examinamos as teses,
precisamos lembrar alguns fatos. Lutero não foi um sectário. Ele foi pastor da Una
Santa Igreja Católica. Viveu, orou e lutou por esta igreja. Reconheceu que
a igreja (invisível) é a noiva de Cristo, adornada pela graça de Cristo, sem
mácula e sem defeito. Ao mesmo tempo reconheceu que a Igreja (visível) é um
hospital. O remédio para o ser humano enfermo pelo pecado é a Palavra de Deus,
lei e evangelho corretamente ensinados, aplicados e administrados pelos
ministros fiéis, para cura e o correto relacionamento do ser humano com Deus,
para que o pecador possa desfrutar a paz e a esperança da graça de Cristo.
Por isso, analisando as 95 teses, precisamos ter em mente que o centro pastoral
delas visa o correto relacionamento do pecador com Deus, não por indulgências,
mas pela fé na graça de Deus. Portanto, “o Evangelho é o centro da igreja e das
teses”. (Sasse)
Outro detalhe para podermos compreender as teses, precisamos conhecer o
contexto histórico no qual foram escritas, melhor, precisamos conhecer o
Catecismo Católico, para reconhecer os reais erros da Igreja Católica que vigoram
ainda hoje. Usaremos para isso o Catecismo da Igreja Católica,
Editora Vozes, 3ª edição, 1993, Vejamos esses detalhes.
3.4 --Breve
exposição das teses
Teses 1 a
4
As teses começam e terminam com a preocupação pelas almas, daí o chamado ao arrependimento
e para seguir a Cristo sob a cruz. (1,94,95)
Este arrependimento “não deve ser interpretado como referindo-se ao sacramento
da
penitência”. (2)
-
Catecismo Católico: “Chama-se
sacramento da Penitência porque consagra um esforço
pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação do cristão
pecador”. (§ 1423, pág. 340)
Lutero afirma: “Arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não
produz toda sorte de mortificação da carne”. (3)
- Cat.
Católico: A penitência interior. Como já nos profetas, o apelo de Jesus à
conversão e à penitência visa em primeiro lugar as obras exteriores, “o saco e
a cinza”, os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a
penitência interior... Sem ela as obras de penitência continuam estéreis...
(§1430, pág. 342) Para os Católicos o arrependimento consiste em contrição,
confissão e satisfação, sendo a satisfação a parte essencial do arrependimento.
- Confissão
de Augsburgo afirma: “O arrependimento consiste propriamente nas duas
partes seguintes: uma é a contrição, ou os terrores metidos na consciência pelo
reconhecimento do pecado, a outra é a fé, que nasce do evangelho ou da
absolvição, e crê que os pecados são perdoados por causa de Cristo, consola a
consciência e liberta dos terrores”. (Art. XII, 3-6)
Nas Teses de 5 a 10, Lutero
condena os erros do Papa. Nas Teses 11 a 13, a falha da Igreja, em
transformar penitência e satisfação em penas no purgatório.
- Cat.
Católico: Que é indulgência? A indulgência é a remissão, diante de Deus, da
pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel
bem-disposto obtém em certas condições determinadas, pela intervenção da
Igreja, que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade
o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos. – A indulgência é parcial ou
plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados.
As indulgências podem aplica-se a vivos e a mortos. (§ 1471, p. 351) – A
purificação final ou Purgatório. Os que morrem na graça e na amizade de Deus,
mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação
eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a
santidade necessária para entrarem na alegria do Céu. A Igreja denomina
de Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é
completamente distinta do castigo dos condenados. (§ 1030; p. 247)
-
Confissão de Augsburgo: “Ensina-se também que não podemos alcançar remissão
do pecado e justiça diante de Deus por mérito, obras e satisfação nossos, porém
que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela
graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por
nós e que por sua causa os pecados nos são perdoados e nos são dados justiça e
vida eterna. (Rm 3 e 4). CA Art. IV) “Daí o axioma: A graça divina e o
merecimento humano se excluem mutuamente; todavia a graça divina inclui os
méritos divino de Cristo”. (Dogmática de Mueller, pág. 245)
Teses
14 a 20, falam do relacionamento com Deus.
- Piedade
ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte,
necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menos o amor; tanto
maior o temor. (14) O relacionamento com Deus, na época de Lutero era através
de sofrimentos aqui ou no purgatório. A falta do verdadeiro amor a Deus era
para o homem mortal: medo, pavor, desespero. Mas o relacionamento com Deus deve
ser sem medo, em amor. O homem moribundo vê a morte e o juízo como uma coisa
só. Diante de Deus a consciência levanta as perguntas: Será que minha vida
agradou a Deus? Querer consolar-se com o sofrimento das penas no purgatório não
aumentam o amor a Deus, é pura ilusão.
“Por isso
o Papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário de
todas as penas”, o perdão de todo o tormento, mas tão só as penas por ele
impostas” (20).
- Cat.
Católico: “A satisfação. Muitos pecados prejudicam o próximo... É
preciso restituir... restabelecer... A simples justiça exige isso... A absolvição
tira o pecado, mas não remedia todas as desordens que ele causou... Liberto do
pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto,
fazer alguma coisa a mais para reparar seus pecados, deve “satisfazer” de modo
apropriado ou “expiar” seus pecados:
Esta
satisfação chama-se também “penitência”. (§ 1459; p. 348)
Nossa
Confissão: “Embora a graça nos seja dada por nada, assim que nada nos
custa, não obstante a alguém outro custou muitíssimo em benefício nosso; pois
foi obtida mediante um tesouro incalculável, a saber, mediante o próprio Filho
de Deus”. (Dog. Mueller, pág. 245)
- Confissão
de Augsburgo: Ensina-se também que não podemos alcançar remissão do pecado
e justiça diante de Deus por mérito, obra e satisfação nossos, porém, que
recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça,
por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e
que, por sua causa, os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida
eterna. Pois Deus quer considerar e atribuir essa fé como justiça diante de si,
conforme diz São Paulo em Romanos 3.21-26; 4.5.
Teses 21
a 31
Nestas teses Lutero mostra o quando a igreja se afastou dos ensinos da Bíblia.
A igreja estava realmente pregando “futilidades humanas” (27).
Teses 32
a 37
Lutero afirma: “Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que
julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência”. Ele
continua: “Todo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e
sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse
que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência” (36).
- Cat.
Católico: Através das mudanças por que passaram a disciplina e a celebração
deste sacramento ao longo dos séculos, podemos discernir sua própria estrutura
fundamental que consta de dois elementos igualmente essenciais de um lado, os
atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a
contrição, a confissão e a satisfação, de outro lado, a ação de Deus por
intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, em
nome de Jesus Cisto, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação,
ora pelo pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado
na comunhão eclesial. (§ 1448; p. 345)
A isto Lutero responde: “Cada verdadeiro cristão quer na vida, quer na morte,
tem parte em todos os bens de Cristo e da Igreja, que Deus lhe dá mesmo sem
indulgências” (37).
- Pela
graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de
obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas (Efésios 2.8-10).
Teses 38
a 45
Estas teses falam do verdadeiro
arrependimento, do pesar e do gratuito perdão dos pecados.Como é difícil
exaltar “o verdadeiro arrependimento e pesar” (39). “O verdadeiro
arrependimento e pesar buscam e amam o castigo” (40). Como vamos compreendê-lo?
Verdadeira contrição, isto é, reconhecimento do seu pecado, tristeza por ter
ofendido a Deus, confiar na graça de Deus, certeza do perdão, leva a amar a
Deus, a humilhar-se à poderosa mão de Deus, e a suportar com humildade os
juízos punitivos de Deus, nos quais há bênçãos. Pois “todas as coisas cooperam
para o bem dos que temem e amam a Deus”. (Rm 8.26-39) O verdadeiro amor a Deus,
leva ao amor ao próximo. Neste caso é mais bem-aventurado o “que empresta ao
necessitado do que os que compram indulgências” (43). Lutero continua: “Deve-se
ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a
despeito disso gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgência do
Papa, mas desafia a ira de Deus”. (45) A isto o Concílio de Trento respondeu com
mais força: “Se alguém disse que os homens são justificados ou só pela
imputação da justiça de Cristo, ou só pela remissão dos pecados, excluídas a
graça e a caridade que o Espírito Santo infunde em seus corações... seja
excomungado” (Sessão II, Canon, 11).
Teses 47
– 61
“Deve-se
ensinar aos cristãos... ”. Diversos ensinos sobre a vida cristã. ‘São inimigos
de Cristo e do Papa quantos por causa da prédica de indulgência proíbem a
Palavra de Deus nas demais igrejas” (53). “Inimigos de Cristo e do Papa”.
Naquela oportunidade, Lutero ainda achava que o Papa era um servo fiel de
Deus que desconhecia as aberrações de Tetzel. Não demorou em saber que tudo
isso acontecia com o aval do santo Padre. Lutero ficou chocado. O Dr. Eck nos
debates provocou levar Lutero a dizer que o Papa e os Concílios podem errar.
Lutero o afirmou, à base do que Tetzel exigiu que Lutero fosse excomungado como
herege.
Teses
62 - 66
“O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho...”. Com esta
firmação, Lutero expõe qual o verdadeiro tesouro da Igreja. Positivo:
“Por essa razão os tesouros evangélicos foram outrora as redes com que se
apanhavam os ricos abastados“ (65). Negativo: “Os tesouros das indulgências,
porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens” (66).
Tese 67 -
91
Diversos erros das indulgências e seus apregoadores. “Por que o Papa não livra
duma só vez todas as almas do purgatório movido pela santíssima caridade? ”
(82) “Por que o Papa, cuja fortuna é maior do que a de qualquer creso (rico),
não prefere construir a basílica de São Pedro de seu próprio bolso? ” (86)
“Fora, pois, com todos estes pregadores que dizem à Igreja de Cristo: Paz! Paz!
Sem que haja paz” (92). Abençoados, porém, sejam todos os pregadores que dizem
à Igreja de Cristo: Cruz! Cruz! Sem que haja cruz” (93), isto é: Preguem o
Evangelho. Somente pela graça! Somente pela fé! E os fiéis possam seguir a
recomendação de Cristo: “Se alguém vem após mim, a si mesmo se negue, tome a
sua cruz e siga-me” (Mc 8.34).
Teses 92
e 95
Seguir a Cristo pela teologia da cruz, este é o caminho ao céu, não a teologia
da glória. “Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir a Cabeça,
Cristo, através da cruz, da morte e do inferno” (94); “e desta maneira mais esperem
entrar no Reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessas de
paz infundadas” (95).
Sem dúvida, poderia se disser muito mais na análise das 95 Teses, mas o espaço
não o permite.
Conclusão
Tendo analisado as teses, surge a pergunta: Que valor as 95 Teses de
Lutero têm para nós hoje? Vejamos.
Ouve-se, hoje, a afirmação de que a pergunta de Lutero: “Como posso conseguir
um Deus misericordioso”, não é mais a pergunta do homem moderno. Hoje se
questiona até a existência de Deus. De fato, a ciência em seu domínio sobre
forças da natureza, fez o ser humano perder o temor de Deus. Mesmo assim, quem
realmente pergunta por Deus se defronte imediatamente com a pergunta sobre a
misericórdia de Deus, que é o próprio ser de Deus. Todas as perguntas por Deus,
que não perguntam por sua graça, são perguntas da vã filosofia. A pessoa que
não pergunta pela graça de Deus, ainda não se defrontou, na realidade, com o
verdadeiro e santo Deus. Pois as necessidades do homem moderno não são
outras do que as de antigamente. Culpa e perdão, com o desejo de fazer um novo
começo. (H. Sasse)
O pano de fundo das 95 Teses são exatamente essas
preocupações: pecado, graça, libertação, paz com Deus.
3.5
- As lutas após a publicação das teses
Como já dissemos, as Teses desencadearam muitas discussões, debates, lutas e
condenações; revolucionaram cidades e Ducados. O Papa em Roma ficou furioso e
instigou príncipes e reis para que fizessem calar esse monge Lutero. Vejamos
alguns dos principais debates.
1. O Dr. Hieronymus Schurf
repreendeu Lutero severamente e lhe disse: “Tu queres escrever contra o Papa! O
que pretendes alcançar com isso? Eles não o suportarão”. Lutero lhe respondeu:
Mas eles terão de suportá-lo.
2. O arcebispo Albrecht acusou
Lutero de herege e entregou o assunto ao Papa. O papa Leão X encaminhou o
assunto ao superior de Lutero, Staupitz, para que fizesse Lutero se retratar.
3. O assunto foi encaminhado à
Assembléia dos Agostinhanos, à qual Lutero pertencia. Estava prevista uma
Assembléia dessa Ordem nos dias 18/04/1518, em Heidelberg, para a qual Lutero
foi convocado. Lutero foi a pé e chegou lá no dia 25 de abril. Na Ordem do Dia
constava: Examinar a atitude do frade rebelde. Para este
encontro Lutero preparou 40 Paradoxos, baseados em São Paulo e Sto. Agostinho.
Defendeu a Teologia da Cruz contra a Teologia da
Glória. As últimas doze destronaram a filosofia de Aristóteles.
Encontravam-se ali três jovens que vieram a ser, mais tarde, amigos de Lutero e
precursores da Reforma em suas regiões: Martim Bucer, João Brenz e Ehrard
Schepf. Bucer escreveu ao Dr. Beato Rhenanus: “Lutero presidiu uma convenção
dos seus irmãos da ordem em que houve debates. Ele sustentou teses que não só
ultrapassam toda a expectativa, mas também pareciam quase todas heréticas. Ele
possui uma maneira maravilhosa e agradável de responder e grande paciência para
ouvir.[11] Na pulverização das objeções,
reconhece-se nele a perspicácia de Paulo. Todos ficaram admirados”. O papa Leão
X havia encarregado o Procurador Marius de Perussis para fazer o exame de
suspeita de heresia e Hieronimus de Glunuci, bispo de Adkoli, deveria conduzir
o processo. Mas em lugar de examinar as teses, ele passou a acusar
grosseiramente a Lutero.
Lutero respondeu: “Eu esperava que o Papa iria me proteger, pois minhas teses
estão repletas de citações bíblicas e decretos papais. Eu estava certo de que o
Papa condenaria Tetzel e me abençoaria. Mas em lugar de bênção, recebi dele
raios e trovoadas e fui tratado como ovelha que sujou a água do lobo. Tetzel
saiu livre eu preciso deixar que me estraçalhem”.
4. Outra luta. No dia 7 de
agosto de 1518, o Papa convidou Lutero para que se apresentasse dentro de 60
dias em Roma, pois pesava contra ele a acusação de ser herege. Mas o Eleitor da
Saxônia, Frederico o Sábio, não estava interessado em perder a maior luz de sua
Universidade e pediu que Lutero fosse julgado na Alemanha. Como a escolha de um
novo rei estava às portas e o voto do Eleitor Frederico era valioso ao Papa e
ao rei, fizeram sua vontade.
O Cardeal Thomas Vio de Gaeta ou Caieta, conhecido como Cajetano, foi o legado
papal na dieta de Augsburgo. Dele procedeu no Concílio de Latrão (1512 – 1517),
a proposta de considerar o Papa infalível, acima dos Concílios e da igreja, sua
serva. Convocado a Augsburgo, Lutero foi a pé. Seus amigos temeram por sua vida
e insistiram para que não fosse. Pouco antes de Augsburgo Lutero adoeceu.
Levaram-no então de carroça até Augsburgo. Ali muitos queriam ver este monge
corajoso. O Dr. Peutinger o convidou à mesa. Cajetano se hospedou no palácio do
banqueiro Jacob Fugger.
No dia 11 de outubro de 1518, Lutero entrou no palácio para a audiência com
Cajetano. Ao entrar, Lutero se ajoelhou com o rosto em terra. Cajetano,
gentilmente, ordenou que se levantasse e pediu cordialmente que Lutero se
retratasse. Ele não queria se humilhar e discutir com um simples monge. Lutero
insistiu que veio para discutir temas bíblicos. Após algumas horas de
discussões, Cajetano consentiu que Lutero respondesse as questões por escrito.
Lutero preparou as respostas.
No dia 14/11 Lutero compareceu com Staupitz, Feilitsch, Link e outros amigos
novamente para a audiência com Cajetano. Os italianos, curiosos de ver o monge,
lotaram o recinto. Cajetano olhou rapidamente as folhas que continham a
resposta de Lutero e simplesmente pediu que Lutero se retratasse.
Sobre esta reunião Lutero escreveu: “Dez vezes eu pedi a palavra, mas fui
impedido de falar. Finalmente levantei minha voz e disse: Eu me retrataria se o
Papa Clemente VII (1523 – 1534) de fato tivesse dito que a indulgência é o
mérito de Cristo”. Cajetano buscou um livro e leu triunfalmente: “Cristo
conquistou por sua vida a indulgência”. Ao que Lutero respondeu: “Um momento,
venerado Pai. Se Cristo conquistou por seu sofrer e morrer este tesouro, então
seu mérito não pode ser a indulgência”. O delegado ficou perplexo. Ele tentou
esconder seu espanto, mas Lutero não cedeu. Vocês acham que nós alemães não
entendemos de gramática. Uma coisa é “ser um tesouro” outra é “conquistar um
tesouro”.
Cajetano era bom teólogo e hábil dialético. Ele tinha escrito uma tese sobre
indulgências. Mas aqui ele foi refutado. Cajetano perdeu a paciência e expulsou
Lutero da sala, dizendo: “Não me apareça aqui, a não ser para se retratar”.
Lutero escreveu ao Papa, pedindo outro interlocutor, mais sábio que
Cajetano. Cajetano pediu ao Papa que excomungasse Lutero como herege.
O Dr. Campeggio que acompanhou Cajetano em nome do Papa, disse mais tarde:
“Cajetano estragou tudo, usando de violência”.
No dia seguinte a este último encontro com Cajetano, os amigos informaram a
Lutero que as portas da cidade estavam sendo vigiadas e que Lutero deveria
fugir, no que eles o auxiliaram. Ele fugiu à noite, a cavalo, sem espada, nem
esporas, sem calças de montaria e foi para Nuernberg. Isto no momento exato,
pois no outro dia chegou a ordem de Roma para que Cajetano trouxesse Lutero,
esse herege, a Roma.
Após isso, o Papa, devido interesses políticos, mudou de tática. Tornou-se mais
brando. Ele enviou a Karl von Miltitz ao Eleitor Frederico da Saxônia para
conseguir o voto do mesmo na eleição do rei e pedir que Lutero se calasse.
Lutero concordou se os seus opositores fizerem o mesmo.
Os adversários de Lutero, no entanto, não guardaram silêncio. Lutero foi
desafiado para novo debate com o Dr. Eck. Lutero se preparou cuidadosamente
para esse debate. Ele estudou as leis canônicas da igreja do século XII e
descobriu que parte dessas leis tinham sido falsificadas. O debate foi
realizado em Leipzig. O chanceler pomerano Olswitzer de Roma informou que há a
intenção de eliminar Lutero por envenenamento ou uma facada.
No dia 24 de junho de 1519, Lutero, na companhia de 200 estudantes cingidos com
suas espadas, dirigidas pelo Duque Barnim, reitor da Universidade de
Wittenberg, entrou em Leipzig.
O bispo de Merseburg, por meio de um panfleto quis impedir o debate, visto que
Roma já havia condenado Lutero pela Bula de 09/11/1518, mas o Duque Georg
mandou que o bispo se calasse. A Universidade de Leipzig não se envolveu nesta
disputa histórica. Por isso, no dia 27 de junho, o jurista Simon Pistoris
chamou os visitantes bem-vindos. Em procissão todos se dirigiram à igreja São
Thomé. Dali eles seguiram em procissão com banners e ao ritmo de tamborins ao
castelo Pleissenburg do Duque Georg. O professor Peter Mosellanus, prof. e
poeta, saudou a todos com um discurso de duas horas. Após o que todos se
ajoelharam e um coral entoou o hino: Komm, Heiliger Geist, Herre Gott (Santo
Espírito, ó nosso Deus... (HL 142). Seguiu uma pausa de duas horas para almoço.
O debate iniciou à tarde. Dr. Eck defendeu, durante 4 dias, o livre arbítrio do
ser humano. Dr. Karlstadt, a livre graça. Discutiram cinco dias sobre o Poder
do Papa. Dr. Eck defendeu que o papado foi fundado por Jesus Cristo. Lutero o
negou, dizendo ser uma instituição humana.
No dia 5 de julho, o Dr. Eck disse que a doutrina de Lutero de que
a igreja aqui na terra não precisa de uma cabeça e que o Papa não é necessário
para a salvação, é a mesma heresia de Hus, que o grande concílio de Constança
condenou. A discussão foi árdua. Lutero, realmente, se assustou com a grande
brecha que estava se abriu entre ele e a igreja.
No dia 6 de julho, Lutero afirmou: “Somente a Bíblia é infalível. Concílios
podem e têm errado“.
No dia 7 de julho, Lutero afirmou: “Concílios não têm o direito de decretar
novas doutrinas”. O Dr. Eck respondeu: “Se tu crês que Concílios não podem
decretar novas doutrinas e que eles têm errado, eu te considero um “gentio e
publicano”.
Lutero condenou a doutrina do purgatório e das indulgências. No dia 14 de
julho, no encerramento dos debates, Lutero disse: “Vejo que o Dr. Eck entra tão
fundo na Bíblia como uma aranha na água, sim ele a teme, como o diabo, a cruz.
Com todo o respeito aos pais da igreja, eu me mantenho à Bíblia”.
Ao se encerrar os debates, o Reitor da cidade de Leipzig, Johannes Lang, disse:
“Lutero é um homem de grande pureza, tanto no falar como no viver que segue o
exemplo de Agostinho”.
O Dr. Eck foi festejado durante nove dias, durante os quais pode desfrutar as
regalias do palácio do Duque George. Outros professores e nobres louvaram
Lutero.
As coisas progrediram rapidamente. Após o debate com Tetzel, Lutero apelou aos
bispos, após o debate com Cajetano, apelou ao Papa, no dia 25 de novembro de
1518, apelou ao Concílio; no dia 6 de julho de 1519 apelou à Bíblia como única
autoridade infalível. Assim estava agora sozinho, tendo o mundo contra si. Este
debate teve conseqüências ainda cem anos depois, quando o rei da Suécia,
Gustavo Adolfo, vindo em defesa da causa luterana, perdeu a vida numa batalha
na planície de Leipzig. (W. Dallmann. Evg.-Lutherisches Kirchenbladt, nº 12, 15
de junho de 1917, p. 95).
[1] Mt
4.17)
[2] Esta
satisfação provém da antiga crença germânica: Aqui se faz, aqui se paga.
[3] Concílio
de Trento, Sessão XXV.989. Cat. Católico, § 1032 e 1471s.
[4] O Eleitor
Frederico o Sábio queria montar em Wittenberg o maior Museu de relíquias.
Viajou pela Europa em busca de relíquias. Dizia-se que ele tem um espinho da
coroa de Cristo, um pano das fraldas que Maria usou no nenê Jesus, um pedaço de
madeira da cruz de Cristo, etc.
[5] Hoje há escritores
que contestam o fato, da pregação das Teses na porta do Castelo de Wittenberg.
Alguns perguntam: Isto é um fato histórico ou uma lenda? Outros questionam a
data e a colocam para o dia 1° de novembro. De fato, nós não temos muitas
provas a respeito. Nem Lutero escreve sobre a data. Mas no dia 1º de Novembro
de 1527, ele se reuniu com seus amigos e celebrou, com louvor a Deus, os
primeiros dez anos da Reforma. Confira: Roland
Bainton, Martin LutherVandenhoeck & Ruprecht in Göttingen. 7ª
Edição, 1980, p. 58.
[6] GUSTAVO,
Just, Deus espertou Lutero. Editora Concórdia, Porto Alegre, 2ª
Edição, 2003.
[7] cf.: Hasse p. 50
[8] Lutero nunca o
viu. Mas disse que é um homem muito capaz e trabalhador. Quando ele estava doente
num mosteiro, Lutero lhe enviou uma carta de consolo.
[9] LESSA, Vicente
Themundo, Lutero. Cada Editora Presbiteriana, São Paulo, 1960,
p.86.- HASSE, Rodolfo. Frei Martinho. Casa Publicadora concórdia,
Porto Alegre, 2ª edição, 1959, p.50.
[10] Basílica de São
Pedro, em construção. Construída no Vaticano, numa área de 2.3 hectares. Em sua
praça cabem 60 mil pessoas. A construção foi terminada em 1590.
[11] Martin Bucer
(1491 – 1551), monge dominicano, inclinou-se inicialmente para a teologia de
Lutero. Mas, depois seguiu o humanismo de Erasmo. Não assinou a Confissão de
Augsburgo. Como humanista tentou unir Lutero e Zwínglio. Assinou mais tarde a
Confissão Tetrapolitana (Suábia) de 1530, que foi apresentada ao rei Carlos V,
em Augsburgo, como uma alternativa à Confissão de Augsburgo. É a Confissão mais
antiga da Igreja Reformada. Foi escrita por Martin Bucer e Wolfgang
Capito e apresentada em nome das cidades: Estrasburgo, Constança, Memmingen e
Lindau.
IV - Três livretos que abalaram o mundo
Os diversos debates
despertaram em Lutero muitas perguntas, vários assuntos precisavam ser
examinados com maior profundidade.
Especialmente o último debate com o Dr. Eck, que comparou Lutero a Hus,
levou Lutero a examinar os sermões de Hus, bem como os documentos de condenação
a Hus. Ao lê-los, Lutero exclamou: “Durante cem anos o puro evangelho foi
sufocado. O tempo de calar passou, é tempo de falar”. (Ex 3.7) Ele examinou
também os documentos sobre a autoridade secular do papa e a doação de
Constantino. Qual não foi sua surpresa ao descobrir que os documentos da doação
foram falsificados. Estes estudos o levaram a escrever. O fruto desses seus
estudos foram os três livretos que foram logo impressos e alvoroçaram o
mundo: À Nobreza Cristã da Nação Alemão.[1] Do
Cativeiro Babilônico da Igreja Cristã.[2] A
Liberdade Cristã.[3] Vejamos, resumidamente, o
conteúdo destas três obras.
1. À Nobreza Cristã da Nação Alemã – O primeiro livreto,
à Nobreza Cristã, foi
publicado
em abril de 1520. Neste documento Lutero mostra que a Igreja de Roma ergueu em
torno de si três muralhas, com as quais ela se defende, “de sorte que ninguém a
pôde reformar, razão por que toda a cristandade decaiu terrivelmente”. As
muralhas são:
1ª
Muralha. “Quando
a igreja foi ameaçada pelo poder secular, a igreja determinou e disse que o
poder secular não tem direito sobre eles, e sim o contrário: o eclesiástico
estaria acima do secular”. – Lutero objetou: Todo o cristão batizado é
sacerdote de Deus (1 Co 12.12ss.; 1 Pe 2.9)
2ª
Muralha. “Quando
se tentou mostrar os erros da igreja pela Sagrada Escritura, eles objetaram
dizendo que a ninguém cabe interpretar a Escritura senão ao Papa”. – Lutero
objetou: Querem ser mestres exclusivos da Escritura, mas não a conhecem. Todo o
cristão deve ler a Escritura e pode compreendê-la. (1 Co 14.30; Jo 6.45; Lc
22.32; Jo 17.20; 1 Co 2.15; 2 Co 4.13)
3ª
Muralha. “Quando
ameaçados com um concílio, inventaram que ninguém pode convocar um concílio
senão o Papa. Assim nos roubaram, às ocultas, as três varas, para poderem ficar
impunes e tomaram lugar na segura fortaleza destas três muralhas, para praticar
toda sorte de vilanias e maldades que agora vemos”.[4] –
Lutero objetou: Esta cai por si. Se o Papa age contra a Escritura, temos o
dever de admoestá-lo: Mt 18.15ss.; At 15.6. Não foi Pedro que convocou o
Concílio, mas todos os apóstolos.
Na
segunda parte do livreto, Lutero expõe a terrível corrupção que reina no pátio
em Roma.
Na
terceira parte, sugere 26 pontos para melhorar a situação.
2. Do Cativeiro Babilônico - Dois meses, após o lançamento
do primeiro
livrinho,
já surge o segundo, em 6 de outubro de 1520, como resposta à Bula de
Excomunhão. Esta obra coloca o machado na raiz da doutrina do papado. Lutero
conhecia bem a responsabilidade desse seu escrito. Ele encarou a tarefa com
coragem e calma. Ele ataca os sete sacramentos do Papa, dizendo que são sete
argolas[5] que
escravizam os cristãos, do nascimento à sepultura.
a) A Santa Ceia deve
ser administrada como instituída por Deus: em ambos os
elementos;
não é o sacerdote que transforma o pão em carne; a Santa Ceia não
é um sacrifício incruento.
b) O Santo Batismo. Ele
é em si uma bênção, mas o Papa o obscureceu com muitos votos, peregrinações e
obras.
c) O ato penitencial.
Este ato não é um sacramento. Conseguimos consolo na
absolvição,
o perdão dos pecados, mas não como conseqüência de nossa contrição. O pecador
arrependido deve ser animado para que se console com o perdão de Cristo
oferecido, dado e selado pelo evangelho e os sacramentos.
d) A Confirmação. Ela
não é um sacramento, mesmo sendo algo bom e louvável
ensinar
crianças na palavra de Deus e abençoá-las, isso, porém, não é trabalho
exclusivo de um bispo.
e) Os outros sacramentos romanos
foram tratados e contestados da mesma forma.
3. Da Liberdade Cristã – Neste sublime documento,
tão proveitoso para toda
a vida
cristã, Lutero afirma: Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas
e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de todas as coisas e
sujeito a todos.
O documento trata da justificação do pecador que recebemos pela fé na graça de
Cristo e da vida em comunhão com Deus, da santificação.
Na primeira tese, Lutero mostra que Cristo, por seu sofrer e morrer pela
humanidade na cruz, nos libertou. Este perdão, esta justificação é oferecida
pelo evangelho e recebida pela fé. Pela fé nos tornamos filhos de Deus, a noiva
de Cristo.
A segunda tese trata da vida desta “noiva de Cristo”. Ainda estamos na carne e
no mundo. Há tentações e lutas. O cristão serve em amor a Deus e ao próximo,
não em busca da liberdade, pois esta ele recebeu de presente pela graça de
Cristo, e como “noiva de Cristo” torna-se voluntariamente servidor do próximo.
Este livreto foi impresso em latim e alemão. No mesmo ano de seu lançamento
teve 9 reedições.
V - A Bula de Excomunhão
De tudo isso não poder-se-ia esperar outra reação de Roma do que a Bula
de Excomunhão. No dia 15 de junho de 1520, o papa Leão X, que se encontrava
na vila esportiva em Magliano assinou a Bula de Excomunhão, solicitada pelo Dr.
Eck, que também foi encarregado de levá-la à Alemanha. Em sua viagem até
Wittenberg, o Dr. Eck mandou fixar a Bula nas cidades de Halle, Brandenburg e
outras. Cidades nas quais os católicos fizeram fogueiras e queimaram livros e
escritos de Lutero. Lutero recebeu a Bula no dia 11 de outubro de 1520. Na
Bula Exsurge, Domini... constava o seguinte:
Levanta-te,
Senhor, e julga a tua causa, lembra-te dos impropérios ditos contra ti,
daqueles com que um povo néscio te injura todos os dias... Levanta-te, Pedro,
atenta na causa da tua igreja romana, mãe de todas as igrejas e mestra da fé...
Levanta-te, também tu, ó Paulo... Levanta-te toda a assembléia dos santos,
santa igreja de Deus...
Somente
após alguns dias, após a chegada da Bula em Wittenberg, Lutero reagiu contra
ela. No dia 1º de dezembro, Lutero se dirigiu com estudantes e muitos
professores da Universidade para fora da cidade e à frente da porta de Elster,
onde se costumava incinerar o lixo, ali a Bula papal foi lançada ao fogo com
livros canônicos papais, e outras obras medievais, com as palavras: “Porque
afligiste o Santo de Deus (Lc 1.35), o fogo eterno te devore”.
A Bula dava a Lutero 60 Dias para se retratar. Como ele não se retratou,
seguiu-se no dia 3 de janeiro de 1521, a “Bulle Decet romanum
Pontificum”, que declarou Lutero anátema bem como a todos seus apoiadores.
Mesmo assim, Worms torna-se o novo centro de atenções, pois em 1519 faleceu o
rei Maximiliano e foi eleito como rei o jovem Carlos V, que jurou manter a fé,
defender a Igreja e prestar submissão ao Papa e à Sé de Roma. Como jovem, ele
foi cauteloso. Ele precisava do apoio dos príncipes alemães, resolveu fazer
mais uma tentativa para resolver pacificamente o assunto Lutero. Ele convocou
sua primeira Dieta (Assembléia) para Worms, convocando Lutero para a mesma.
Lutero recebeu a convocação no dia 24 de março. Ele aceitou a mesma e partiu no
dia 02 de abril, refutando os temores de seus amigos. O Conselho de Wittenberg
lhe ofereceu uma carruagem toldada. Com ele foram os amigos Amsdorf, professor
da Universidade, Pezensteiner, seu companheiro de mosteiro, o estudante
dinamarquês, Pedro Swaven, e seu amigo Jerônimo Schurff, professor de direito
em Wittenberg. Como amante da música, Lutero não esqueceu seu alaúde para esta
longa viagem. Em Leipzig, apesar da animosidade durante a disputa com o Dr.
Eck, os magistrados e estudantes lhe dispensaram boa acolhida.
Nesta viagem apoteótica houve diversos problemas. Lutero chegou a Frankfurt no
dia 14. Ali residia, Cochloeus, um de seus terríveis inimigos. Este ao ouvir da
chegada de Lutero, preparou uma cilada traiçoeira a Lutero. Convenceu um dos
amigos de Lutero, o dominicano Bucer, de que a ida de Lutero a Worms seria
muito perigoso. Ele deveria ficar em Frankfurt, e ele, Cochloeus, procuraria
intermediar do Imperador um interlocutor para tratar o assunto em Frankfurt.
Seu plano, na verdade, era atrasar a viagem de Lutero, pois seu salvo conduta,
para a ida, expirava dia 16. Lutero não se deixou enganar e respondeu: “Mesmo
havendo tantos demônios como telhas em Worms, eu vou para lá”. Alguns amigos
ainda o aconselharam entrar sorrateiramente em Worms, pois havia católicos que
queriam assassiná-lo. No dia 16 de abril, às 16h, a trombeta da torre da
catedral, “anunciou a aproximação de uma comitiva estranha. Na frente cavalgava
o arauto, ostentando no peito a água imperial. Numa carruagem aberta, seguia o
Dr. Martinho Lutero em seus trajes monásticos, cercado de um grande número de
cavaleiros... Uma enorme multidão acorreu e se apertava em torno da carruagem”.[6] Assim
o frei Martinho. Lutero entrou em Worms a vista de todos, triunfalmente pelo
portão central. No dia seguinte, de manhã cedo, o chanceler do imperador lhe
entregou a convocação para comparecer à tarde, às 16h, diante do
imperador.
Na sala de audiência, o Chanceler lhe apresentou duas perguntas em nome
do imperador:Reconheces que estes livros por ti foram escritos? Em segundo
lugar, estás pronto a retratar-te do que neles escreveste, ou persistes no teu
modo de pensar? Lutero ia responder a primeira pergunta
afirmativamente, quando seu amigo Jerônimo Schurff, designado pelo imperador
para acompanhar Lutero, pediu que se lessem primeiro os títulos das obras. O
que foi feito. Quanto à segunda pergunta, Lutero respondeu em latim e alemão:
“Devido a complexidade peço um tempo para reflexão”. O imperador e os membros
da assembléia reuniram-se em particular para deliberar, após o que o chanceler
comunicou: “Martinho Lutero! Sua majestade imperial, segundo a bondade que o
caracteriza, quer te conceder um dia ainda, mas sob a condição de lhe dares a
resposta verbalmente e não por escrito”.
Este dia de espera foi difícil para Lutero. Amigos temiam por ele. Lutero
buscou conforte, calma e força na leitura da Palavra de Deus e na oração.
No dia seguinte, 18 de abril, pelas seis horas da tarde, Lutero compareceu
novamente diante do imperador. Já haviam acendido as luzes (tochas). Ele estava
pálido. O chanceler do imperador pediu uma resposta curta e clara às perguntas
que ontem lhe foram formuladas. Lutero respondeu em alemão com voz tranqüila e
majestosa serenidade: Quanto à primeira pergunta, reconheço esses livros como
de minha autoria, a não ser que tenham modificado certas passagens neles... e
dispôs estes livros em três categorias. Durante esta exposição sobre os livros,
o chanceler se impacientou, pedindo resposta clara e definida, se estava
disposto a renunciar ou não.
Então Lutero respondeu com as memoráveis palavras:
A menos
que eu seja convencido de erro pelas Escrituras ou por raciocínio claro, pois a
minha consciência está presa à Palavra de Deus, não posso nem quero
retratar-me, porque agir contra a própria consciência não é, nem verdadeiro,
nem honesto. Aqui estou! De outra maneira não posso! Que Deus me ajude! Amém!
Imediatamente segui-se certo tumulto na assembléia. Amigos e inimigos ficaram
impressionados. Frederico o Sábio observou a Spalatim: “O padre Martinho falou
bem perante sua majestade imperial a todos os príncipes e classes do reino, em
latim e em alemão. Acho-o demasiadamente audaz”. Tendo Lutero chegado a sua
hospedaria, ergueu os braços e exclamou: Passei! No dia 25 de
abril deixou Worms. Em 21 dias seu salvo-conduto iria expirar. No dia 26 de
maio, o imperador assinou um decreto que declarava frei Martinho proscrito.
Qualquer pessoa poderia prendê-lo e entregá-lo às autoridades.
Conclusão
A Assembléia do Santo Império não conseguira calar o frei Martinho Lutero, nem
dobrar sua consciência, para que se retratasse. A Palavra de Deus estava sendo,
novamente, proclamada de forma clara e compreensível e continua assim até hoje.
Não em todos os lugares. Queira Deus nos ser gracioso e preservá-la a
nós.
[1] Obras
Selecionadas de Lutero, vol. II, p. 277
[2] Obras
Selecionadas de Lutero, vol. II, p.341
[3] Obras
Selecionadas de Lutero, vol. II, p. 435
[4] Op.cit.
p.281
[5] Como
colocadas nos animais, para dominá-los.
[6] Gustav
Just, Deus despertou Lutero, Concórdia Editora, P. Alegre, RS, 2ª Edição 2003,
p. 76.
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