XVII -
Nossa Mensagem ao Século XX
Prof. Otto A. Goerl
A oração sacerdotal de Jesus no evangelho
de João 17, nos coloca no limiar do Santo dos Santos e nos deixa ver e adorar o
que a Cortina do Templo oculta aos olhos humanos. O mistério da glória do
Senhor que se revela nesta hora, da qual o Senhor Jesus fala: Pois é chegada a hora (v.1). É a hora da
glorificação, a hora da complementação, a hora da proclamação da salvação.
1. Emocionados, os discípulos ouvem a prestação
de contas do Filho
de Deus
e percebem os detalhes do grande plano da salvação, no qual eles – pobres e
fracos seres humanos – exercem um papel importante e central na proclamação da
interminável graça e misericórdia de Deus. Nesta oração sacerdotal de Jesus,
eles vêem com clareza os contornos do profundo amor e o significado da obra de
Jesus, para a comunidade de Jesus, o cuidado pelos seus e a tarefa para os
seus. Os discípulos percebem que não estão somente diante do fim da obra, mas
também diante de um começo.
2.
Assim
como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao
mundo (18). Encontramos aqui um paralelo
que nos assusta diante da responsabilidade que esta ordem coloca também sobre
nossos ombros e ao mesmo tempo nos puxa para cima e nos enche de júbilo por
este privilégio. Somos enviados pelo Filho, assim como ele foi enviado pelo
Pai. Este privilégio provém do relacionamento íntimo entre o Salvador e os
salvos. É nossa comunhão, como o mostra a Palavra: Todos que me deste (v.2). Entramos neste seu trabalho como sua
propriedade. Por ele nossa vida recebe sentido e um alvo determinado. Este é o
sentido do versículo: Não pelo que os
tires do mundo (v. 15).
- A base sobre a qual nosso envio está
fundamentado é dito e repetido
diversas
vezes por nosso Salvador pelas palavras: Por
que eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste e eles as receberam e
verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste.(v.8)
Seguem as palavras do envio: Assim como
tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo (v.18.) Antes dessas
palavras, está a oração: Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade (v.17). Estas palavras firmam os
apóstolos no fundamento que é a Palavra: Ide
por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura (Mc 16.15).
Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou
convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 18.20).
- Será que esta palavra vale para nós? Será
que ela vale até hoje? Esta
pergunta
se impõem a nós ao queremos analisar o tema: Nossa mensagem ao mundo de
hoje. Por que a pergunta?
Aqui
levantam se dúvidas
- Não o fato de o pregador consciencioso ser
muitas vezes tentando, quando a
proclamação
da palavra parece não deixar nenhum eco e não traz os devidos frutos, a ponto
de o pastor pensar: Eu preciso mudar minha pregação. Preciso usar outros
métodos. Preciso agarrar os ouvintes e dirigir-me a eles de uma forma nova, que
faça efeito. De fato, em muitos círculos ouve-se a afirmação como: O mundo de
hoje é diferente e requer outra mensagem. As mensagens antigas não atingem mais
as pessoas. Não alcançamos mais as pessoas com a simples proclamação do
evangelho, como no tempo de nossos pais. São tempos novos. Os problemas são
outros que requerem outro espírito, outros caminhos e soluções. A igreja
precisa mudar sua pregação e adaptá-la à situação. Os ensinos de Cristo e os
princípios da Bíblia precisam ser estudos à luz das idéias de cada século.
O mundo
de hoje – nosso “aion” (época)
6. Não
podemos falar mais “de um século” no sentido de antigamente. Uma década mal
serve para caracterizar o tempo. Ellen Key denominou o nosso século como o Século da Criança. Mussoline o chamou de
o Século do Estado. Dibelius, o Século da Igreja. Spengler o reservou
para o Naufrágio do Ocidente.
Ultimamente o século é descrito como Século
dos foguetes, a da conquista do universo, da cibernética. O que virá
amanhã? Seja como for, nosso século é e permanece o Século do ser Humano. Ele foi colocado no centro da criação e da
ordem da criação. Sem ele não haveria estas ações de mudanças da qual Sartre
afirma: “Nós todos sabemos que o mundo se modifica. Ele muda o homem e o homem
muda o mundo”.
Qual o aspecto do ser humano, o filho neste
século, o homem de hoje?
O perfil
do homem moderno
- O homem moderno? Cada um sabe que a
palavra “moderno” é
somente
um embaraço. Veremos isso no resultado final de nossas considerações. Não
deveria ser difícil aos pregadores luteranos quebrar o “mito do homem moderno”,
visto que o próprio homem moderno já o faz. Psicólogos, psiquiatrias, e
sociólogos, (como o Dr. J. Bodamer, Prof. Dr. H. Schelsky, Prof. Dr. C. G.
Jung, Prof. Dr. H. B. Prinz, Dr. G. R. Heyer, Prof. Dr. Ph. Lersch) tomam o ser
humano em nossos dias sob suas lentes e chegam a resultados que são
deprimentes.
- Vamos resumir o que o Dr. J. Bodamer,
neurologista, escreve:
“Nossos
dias não têm mais um ideal humano. O homem médio é espiritualmente raso e de
uma espantosa leviandade espiritual. Satisfação própria é o traço predominante
do homem moderno... A arrogância, exaltação própria, superficialidade, sem
compaixão com seu próximo e horrendamente cruel. Nem a voz de sua consciência,
nem suas necessidades espirituais o levam a conscientização. Ele só pensa nos
seus problemas profissionais. O sociólogo, Prof. Dr. Helmut Schelsky, destaca
(só citaremos suas palavras chaves): ganhar dinheiro – inveja social –
compara-se com o prestígio social dos outros – subir, e sobrepor-se no status
social aos outros – o homem de hoje é um “homem pequeno”. Dr. Bodamer ainda
acrescenta que o filho querido do homem é a técnica, o motor. O motor lhe servo
como o “deus do movimento”; e acrescenta: “Ele é um “virtuoso irresponsável”
- Por um lado ele é esforçado,
inteligente, inventor... por outro lado
ele é imaturo, sem espírito, insincero, anti religioso e irresponsável”. Da
mesma forma se expressa um de nossos poetas, Manuel Bandeira. Ele fala em
primeiro lugar da luta: “A dura luta que tem sido a tarefa, nas palavras de
José Maria Hostes, para tornar racional o único habitante do mundo dotado de
razão. O progresso moral do homem tem permanecido infinitamente aquém do seu
progresso material. O homem parece incorrigível. Se há um Deus, que o criou,
esse Deus... já deve estar “sonhando com outra humanidade”. Carlos Drummond de
Andrade complementa: “Ele nem precisará destruí-la, pois, os homens mesmo se
destruirão rapidamente... Estamos vivendo a hora mais dramática, mais espantosa
da história do mundo... sua hora decisiva”.
- Como sinais proeminentes da autodestruição
podemos citar dois pontos: Ou o
ser
humano é condicionado pelo material ou é vítima do medo. Na maioria dos casos
podemos riscar o “ou”.
- Materialismo, egoísmo, orgulho e soberba
– Há cada dez anos reúne
se desde
1909 (1919, 1930, 1940, 1950, 1960) , nos Estados Unidos da América a “Golden
White House Conference” a fim de examinar os valores e idéias do decênio e
submetê-los a um exame. E a que conclusão os 210 grupos de estudo (Professores,
educadores, eclesiásticos e outros) chegaram em sua última reunião? Um dos
participantes o expressou assim: “O problema dos jovens, não são os jovens, mas
o espírito da época”. E como ele definiu o espírito da época? Ele afirma: “O
espírito de nosso século é a instrumentalização do mundo, do ser humano e de
todos os valores... O objeto maior de culto é o da adoração de si próprio, o
seu Ego”.
- No
interior vazio, medo, incerteza – O constante martelar e rugir da técnica
em
veloz
progresso de nossos dias não consegue abafar o temor e gritar das almas desesperadas,
muito menos acalmá-las. Dr. Donald Coggan, arcebispo de York, escreveu
recentemente que 80% das doenças procedem de complexos e de semelhantes
intranqüilidades da alma. Somente 10%
dos doentes espirituais na Inglaterra são abrigados em hospitais e mesmo assim
ocupam 44% dos leitos hospitalares. Em outros países os dados não devem ser
muito diferentes. O psicólogo Frank Caprio escreveu no seu recente livro
traduzida ao português: “O homem nasce medroso, viva com medo e morre com medo”.
Nos corações dos que estão afastados de Deus e não encontram o caminho a ele,
há só desespero. O apóstolo Paulo lembra aos cristãos de Éfeso seu passado ao
escrever: “Naquele tempo, estáveis sem
Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa,
não tendo esperança, e sem Deus no mundo”. (Ef 2.12) Espantosas são as palavras
que a escritora Pearl S. Buck escreve em seu livro: “Uma ponte para o além” (A
Bridge for Passing) em vista da morte de seu marido: - “Onde você está? Você
sabe que eu estou aqui?... Você também está aqui? Você está vivo, para além das
barreiras do espaço sem atmosfera? - Insisti na pergunta lançada na noite,
depois retirei-me apavorada. Na realidade, eu não quero saber a verdade. Se ele
existe, a espera sozinha será para mim intolerável. Eu também não suportaria
saber que ele não existe. O melhor é esperar até descobrir por mim mesma”. Dr.
E Stanley Jones, que em sua longa vida poderia colecionar experiências de
diversos mundos e épocas, acentua: “Nós não temos que pregar contra o
Hinduísmo, Budismo ou Mohammetanismo, nós temos que pregar contra o vazio
(emtiness) no homem. Aqui não tem alternativa, Jesus precisa encher este vazio.
(It is Christ or nothing).
Isto é o homem moderno. Para ele nos temos
uma mensagem. Mas antes disso uma
pergunta: Como estamos em relação ao mundo ao qual a ordem de Deus nos enviou?
- Uma
linha divisória perpassa a Bíblia, o mundo e nosso coração –
no tempo
e na eternidade. - A mão de Deus dirige a espada, da qual afirma a carta aos
Hebreus: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas e apta para discernir os pensamentos e propósitos do
coração..” (Hb 4.12)
- Em
João 17 esta linha divisória se torna uma muralha
intransponível,
na qual é colocada pedra sobre pedra:
...por aqueles que me deste (do mundo, (v. 9) ...neles eu sou
glorificado (v.10) ...e o mundo os odiou. (v.10). Eu lhes tenho dado a tua
palavra, e o mundo os odiou. (v.14). Eles não são do mundo, como também eu não
sou. (v.16) Pai justo, o mundo não te conhece; eu, porém, te conheci, e também
estes compreenderam que eu me enviaste”. (v.25)
- “No
mundo” não deve ser interpretado somente de forma geográfica. O perigo
próprio
do mundo está em nós. O homem descrito acima é o “velho homem” em nós que,
conforme o pecado original herdado dos pais, se acha em todos os cristãos.
Neste chão está enraizado o materialismo, o egoísmo e outros “ismos”, da mesma
natureza; bem como também o racionalismo e liberalismo, que celebram na “carne”
o seu triunfo. Eles tentam, com força, mesmo os luteranos fiéis. Eles querem
nos fazer crer que os objetivos do cristianismo são alcançados com maior
facilidade, na fronteira com o mundo colocado por Jesus, pela coexistência e
paz externa com o mundo. “O mundo” em nós está pronto para construir pontes
para o mundo em nossa volta, pois parece que há um caminhar e julgar comum
entre nós e o mundo. “A sabedoria que vem do homem” é contrária à sabedoria que
vem do alto. Assim o “Patmos” (onde Paulo estava preso e recebeu revelação (Ap
1.9), se transforma rapidamente em “Creta” (onde Paulo naufragou. (At 27.12) O
apóstolo Paulo nos admoesta: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos”.
Então o apóstolo pode dizer: “Nós, porém, temos a mente de Cristo”. Pois no
cristianismo, a luta é sempre pelo todo, em linha reta e exclusiva. “E se
alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele”. (Rm 8.8)
Fonte
viva ou uma “cisterna rota?
15. As palavras de Jeremias (Jr 2.13)
parecem recentes e atuais. “Portanto ainda pleitearei convosco, diz o Senhor...
vede... Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram
deuses? Todavia o meu povo trocou a glória por aquilo que é de nenhum proveito.
Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor”.
(Jr 2.912) – nós acrescentamos: Quando o ser humano se torna displicentes, ele
lança mão no santuário de Deus e de sua glória, e Deus precisa lhe diz: “Porque
dois males cometeu o meu povo; a mim me deixaram, o manancial de águas vivas e
cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”. (Jr 2.13)
16. A glória do Senhor que encontrou sua
consumação pela única entrada do Sumo sacerdote no Santíssimo é injuriosamente
mudada quando - e isto não nos dá prazer
em tomar alguns exemplos, da abundância deles:
17 ... quando a teologia é conscientemente
mudada para uma teologia moderna, abrindo mão do seu caráter que ela alcançou
novamente pela Reforma. Melanchton o destacou e caracterizou em sua fala em
1538: “Nós queremos lembrar que a
teologia não é um raminho da ciência como as demais ciências que só tem valor
nesta vida terrena, mas uma sabedoria revelada por Deus”.
18 ...quando o espírito crítico, sob a
bandeira da ciência, se aproxima da Bíblia como se fosse um livro humano, e não
tira seus sapatos na terra santa, mas esfacela o livro dos livros, corta e o
adaptam conforme sua imaginação e seu modelo; e com um pequeno sorriso zomba
dos pais da idade média, chamando-os de pietista, devido ao seu respeito diante
do texto.
19 ...quando fazem da Bíblia, por seu
subjetivismo um lugar de tumultos e especulações propositais, colocando
diversas escolas (correntes teológicas) no cenário. (Eu sou de Paulo, eu de
Apolo), da extrema direita (se isto é possível) à extrema esquerda. Criam
incríveis confusões e intranqüilidades nas comunidades de Jesus e nas
fronteiras com o mundo, para onde somos enviados.
20 ...quando se afronta o “Está escrito” com
hipóteses fúteis, “moscas de um dia”, dá-se, por orgulho próprio, saltos de
trapezistas teológicos em alturas imaginárias, visando simplesmente
impressionar os admiradores. E para revelar sua aversão à “religião pronta”, na
qual é preciso manter um compromisso com a verdade, o que eles acham algo
indigno para uma pessoa livre, conforme o exemplo de Lessing, que afirmou “Se
Deus tivesse em sua mão direita a toda verdade e em sua mão esquerda o único
impulso em buscar a verdade, mesmo com o acréscimo de me enganar sempre e
eternamente, e me dissesse: Escolhe! Eu, com humildade, escolheria a mão
esquerda e diria: Pai, perdoa, a pura verdade é somente para ti”.
21 ...quando em crassa oposição às
declarações, admoestações e ameaça da Escritura, o ser humano ousa colocar-se
como mestre e juiz em questões de fé, diante da única e exclusiva autoridade,
conforme o falso princípio: “Nós reconhecemos como fonte da qual buscamos a
matéria um fato tríplice, a saber, a razão iluminada, como sujeito dogmatizante,
o ensino da Igreja e os livros canônicos do Antigo e Novo Testamento”.
22 ...quando se crê ser necessário
determinar o conteúdo da Escritura da observação da pessoa e colocar a
Escritura no vestido da época atual, o que Bultmann fez de coração, ao adaptar
a Escritura ao homem moderno. “Modern man sees
himself as “a self-subsistent unity imune from the interference of supernatural
powers.” “It is impossible to use electric light and the wireless and to avail
ourselves of modern medical and surgical discoveries, and at the same time to
believe in the world of demons and spirits.” (“The New Testament and
Mythology”, 1941). O homem moderno vê-se a si mesmo como unidade auto
subsistente, imune às interferências de poderes sobrenaturais. Ele julga ser
impossível usar a luz elétrica, o telefone e valer-se das modernas descobertas
da medicina e cirurgia e ao mesmo tempo crer num mundo de demônios e espíritos.
Lutero sem dúvida aceitaria a primeira das 95 Teses de Harms de 1817: “Se nosso
Senhor e Senhor Jesus Cristo diz: “Arrependei-vos!” ele quer que nós seres
humanos nos moldemos por sua doutrina; ele não molda a doutrina conforme o
homem, como se faz agora, conforme o espírito mutável da época.” Nós
acrescentamos logo a terceira tese, devido a sua frase final: “Com a idéia de
uma reforma progressiva, entende-se que o luteranismo está sendo reformado em
paganismo e o cristianismo para fora do mundo”.
23
...quando Paulo Tillich chama as calaras definições de “caricaturas” e a
predestinação bíblica de “superstição”, e a imortalidade “de pura imaginação”,
e ensina que fé e razão não podem estar em conflito, com a argumentação: “Se a
fé fosse contrária à razão, então o ser humano seria escravo de sua
humanidade.” O apóstolo Paulo tinha outra solução: “Levando cativo todo pensamento
à obediência de Cristo”. (2 Co 10.5)
24
...quando o “deão vermelho” de Stalin e seus companheiros ensina o que a
fé (o ópio do povo) e transmite isso com toda a sinceridade a centenas de
eclesiásticos nos Estados Unidos da América e quer que a apõem com
dignidade.
25
...quando Vicent Peale degrada a Bíblia a um livro mágico ao citar e
usar versículos bíblicos como fórmulas mágicas, para por elas, como
psicoterapia, curar pessoas, quando na verdade o que lhe interessa é ter seus
livros como Bestsellers nos USA (acima de 2.000.000) “O Poder do Pensamento
Positivo: “As palavras da Bíblia têm um valor terapêutico particularmente
forte.” (p. 36) Em que consiste esta técnica e aplicação? “Pratique a técnica
da articulação sugestiva, isto é, repita de forma audível algumas palavras de
candura. As palavras têm um profundo poder de sugestão e cura... Se falar
palavras de paz e serenas, seu espírito reagirá também numa maneira serena”.
(p. 35) (As seitas da prosperidade fazem a mesma coisa).
No banco
dos réus
26.
Sobre nós, que empenhamos ainda a bandeira do protestantismo, pesa a
terrível tragédia que acabamos de descrever: Almas que estão no caminho do
ermo, do deserto desolador a procura de um poço que tenha água viva para
cansados e desolados; que buscam auxílio, mas só encontram pessoas que cavam ao
lado da estrada poços rotos que não retém água.
27. No outro lado da margem do lago
Silsen, em Sils Maria, (Suiça) onde surgiu Zarathustra, um palestrante está
falando sobre um homem, que na assustadora solidão das montanhas chama por
pessoas, cuja presença ele deseja nesta desconsoladora situação de sua alma.
Mas, ninguém vem. Finalmente, seu grito silencia, o grito de uma saudade
infinita: “O canto findou. O grito da doce saudade morreu na boca... Agora o
mundo se ri. A terrível cortina se rasgou. O casamento veio para luz e trevas”.
O palestrante continua (eu escolho algumas frases desesperadoras): “Há pessoas
em cujas vidas o destino de uma época inteira se incorpora, Nietzsche pertence
a uma elas. Seu inconsolável abandono e solidão é a solidão do homem moderno.
Na noite de sua vida não entra mais nenhum salvador, no máximo alguma figura
fantasmagórica como Zarathustra em Nietzsch.
Ele não conhece mais a Jesus, o Senhor... Esta é a interrogação do destino da maioria dos habitantes ocidentais hoje. Eles peregrinam sem Deus, sem Cristo... a escura estrada da autodestruição. Vemos aqui a grande incumbência da igreja? Ouvimos o clamor que vem dali? Ouvimos o desesperado grito da humanidade por salvação?... Ouvimos também acusação que Friedrich Nietzsche levantou contra nós, a cristandade, e que hoje numa roupagem de mil línguas ecoa através de todo o mundo e nos diz: Vocês precisam contar hinos melhores para que eu possa crer no vosso Salvador. Seus discípulos precisam me parecer mais salvos! Nós queremos Deus, mas vocês só têm discursos piedosos sobre Deus... Vossos teólogos não estão unidos na definição sobre o que é salvação – e vocês querem nos pregar salvação?... Queremos ouvir a Deus e não a vocês com vossas experiências interiores, vossas belas experiências mestiças. Estas vocês podem ficar e reter para vocês. Nós moribundos e desesperados não temos tempo para isso”. (Da palestra de Hermann Sasse, do dia 29 de agosto de 1929, em Manjala Suiça, para a abertura da reunião “Fortsetzungsauschlüsse für Glauben und Kirchenverfassung.”)
Ele não conhece mais a Jesus, o Senhor... Esta é a interrogação do destino da maioria dos habitantes ocidentais hoje. Eles peregrinam sem Deus, sem Cristo... a escura estrada da autodestruição. Vemos aqui a grande incumbência da igreja? Ouvimos o clamor que vem dali? Ouvimos o desesperado grito da humanidade por salvação?... Ouvimos também acusação que Friedrich Nietzsche levantou contra nós, a cristandade, e que hoje numa roupagem de mil línguas ecoa através de todo o mundo e nos diz: Vocês precisam contar hinos melhores para que eu possa crer no vosso Salvador. Seus discípulos precisam me parecer mais salvos! Nós queremos Deus, mas vocês só têm discursos piedosos sobre Deus... Vossos teólogos não estão unidos na definição sobre o que é salvação – e vocês querem nos pregar salvação?... Queremos ouvir a Deus e não a vocês com vossas experiências interiores, vossas belas experiências mestiças. Estas vocês podem ficar e reter para vocês. Nós moribundos e desesperados não temos tempo para isso”. (Da palestra de Hermann Sasse, do dia 29 de agosto de 1929, em Manjala Suiça, para a abertura da reunião “Fortsetzungsauschlüsse für Glauben und Kirchenverfassung.”)
28. Nietzsche não é a única voz que acusa
o cristianismo e o puxa ao tribunal. O Oriente pagão recentemente acordado do sono
do seu isolacionismo, não permite mais o papel dos projetos missionários, mas
se opõe ao cristianismo como um parceiro com direitos próprios e exerce forte
crítica ao cristianismo de hoje e seu fundamento teológico. Se Gandhi ou e Sarvepilla Radhakrischmann (1888 – 1975), filósofo
e Estadista indiano Presidente da índia de 1966 – 67, ou outros líderes do
hinduísmo e budismo. Todos eles apontam para a divisão da teologia moderna com
suas tendências liberais e medem sua culpa pela decadência da vida espiritual
do mundo ocidental, e o fracasso da igreja na luta contra a decomposição de
nossos dias.
O mundo na fronteira vê a decadência do
cristianismo com maior clareza do que os de dentro do mesmo.
[Cumpre nos acrescentar a ofensiva do
islamismo, tão bem-vinda na Europa tão decadente em sua moral, que o povo
anseia por uma lei mais rígida e abraça, desesperadamente, o islamismo, como
uma tábua de salvação por ter uma lei rígida].
O que
necessitamos?
29. O que precisamos? Um “Lutherus redivivus?” Novas teses de
Harms?[1]
Uma revisão dos atuais sistemas de teologia? Ou uma nova fórmula que esteja em
condições de dominar os espíritos e torná-los submissos a um pensamento comum?
30. Na verdade, necessitamos somente de
uma coisa: Voltar ao comissionamento que o Filho de Deus nos conferiu. Esta
ordem é clara e não permite várias interpretações ou melhoramentos. O apóstolo
Paulo não foi nenhum ignorante – ainda hoje ele dá trabalho aos teólogos de
todo o tipo – mesmo assim confessa livremente: “Porque decidi nada saber entre
vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). Com isto ele coloca
corajosamente os marcos da linha divisória que não são agradáveis à orgulhosa
razão humana. Ele fundamenta sua
afirmação de forma corajosa e forte: “A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração de
Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana;
e, sim, no poder de Deus”. (1 Co 2.4,5)
31. Quando a igreja fracassa, isto
acontece por que ela esqueceu sua real tarefa, a única que lhe dá a razão e
poder. Não é tarefa da igreja resolver os atuais problemas sociais, seja de
fundo político ou administrativo. Ela também não se envolve em problemas étnicos
e culturais. Da mesma forma não deve dispersar suas energias na luta contra
poderosos inimigos espirituais, que brotam em cada época. Ultimamente isto vale
também para o envolver-se com o “ecumenismo” que também pertence ao desviar-se
do alvo. Pois o ecumenismo só pode crescer se a correta árvore foi plantada e
cultivada em amor.
32. Ainda resta um grande perigo diante do
qual precisamos advertir, a saber, cultivar um “cristianismo universal”
(Allerweltschristentum), no qual a comunidade com seu culto é, simplesmente,
transformada em uma atividade ética ou simplesmente social. Neste detalhe, no
entanto, não queremos entrar agora. Soeren Kierkegaard critica violentamente
este tipo tão comum da fala cristã, que cresce nos púlpitos modernos: Ontem o
bispo “N” falou na igreja “x”. Ele é realmente um artista. Sua pessoa é
imponente, seus gestos, sua mímica inesquecível. Ele falou da fé e não faltou
nada. Ele dispõe de muitos meios. Quando necessário, ele sabe por as pessoas em
pânico, fazer-se de queridinho, verter lágrimas, em fim, ele possuiu tudo. Eu
fiquei encantado. Mas depois, quando me sentei para pensar, me perguntei: Qual
era o tema de sua mensagem? Não havia tema nenhum! Nenhum ponto central. Logo, não havia
sinceridade. Diante desse pensamento fiquei com medo a ponto de quase desmaiar”.
Por isso a observação que um verdadeiro ator fez é correta: “Nós atores falamos
das coisas imagináveis como se fossem reais, vocês pregadores falam de coisas
reais, como se fossem imagináveis”.
E que
“em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados”. (Lucas
24.47)
33.
Esta é a tarefa da igreja? Clamar ao mundo do século XX[2],
para dentro do barulho, do rugir e martelar das máquinas, sim, para dento dos
templos do endeusamento de si próprios: “Ó terra, terra, terra, ouve a palavra
do Senhor”. (Jr 22.29)
34.
Deus quer ser ouvido. Ele tem algo a dizer ao homem moderno. E o que ele
tem a dizer não tem o carimbo das correntes espirituais do momento – é verdade
divina, é um ponderar, julgar e determinar divino.
35. O pregador no deserto conhecia sua
tarefa e chamava as coisas pelo nome. Ele foi incumbido de preparar o caminho.
Por isso pregou arrependimento a cada um que o ouvia. Não importava se simples
trabalhadores, homens do campo, rudes soldados, astutos cobradores de impostos,
ou belicosos fariseus – Pessoas simples ou altos funcionários, estudados ou
analfabetos, pecadores de rua ou pecadores nobres – todos eles deveriam ser
atingidos em suas consciências para que acordassem do seu sono espiritual, para
que fossem sacudidos e levados ao reconhecimento de sua culpa diante de Deus. A
pregação de João Batista foi um chamado para despertar, um chamado para
arrependimento.
36.
Isso era algo novo para Nicodemos e para todos os escribas e fariseus.
Não que não o poderiam saber, pois no concerto do Antigo Testamento o
arrependimento e a volta para Deus era a base da proclamação – algo que os
gentios não conheciam. Incluímos aqui uma palavra de William F. Albright em
“Die Religion Israels” (A religião israelita), pág. 35: “As experiências da
conversão religiosa e a união mística com Deus são... fora de Israel
desconhecidos em todo o Oriente. Conversão religiosa aprece pela primeira vez
na Bíblia hebraica. Também na literatura grega não encontramos na história
helênica nenhum exemplo. Se a voz do deserto não encontrou eco em algum círculo
religioso, isto não era por falta de algum testemunho do Antigo Testamento, mas
devido à escola teológica dominante na época”.
37. Kierkegaard fala sempre do
“individuo” que deve ser atingido na pregação, para que se preocupe com a
salvação de sua alma. Após o Dr. R. Koenig ter ouvido uma pregação de Spurgeon,
ele testemunhou: “O ouvinte está sendo bombardeado o tempo todo”. Ludwig Harms
procurava durante sua pregação observar os estranhos no culto para, por suas
expressões do rosto, observar suas reações. Quando ele dizia: “Tomemos o
exemplo...” analisava as expressões dos rostos afim de atingir sua consciência
e ajudar as pessoas a se orientarem. Eu acredito encontrar isso também na carta
do prof. Helmut Thielicke que ele escreveu ao evangelista de Los Angeles
(agosto de 1963). “Que o senhor, estimado Graham, distribui “pão celestial” e
não finezas teológicas, isto ficou bem claro para mim nesta noite, pelo que eu
lhe agradeço”. Em relação à exortação a
cada indivíduo para que se decida por Cristo, Dr. Thielicke escreve: “Para mim também ficou claro que as pessoas
querem a decisão, e que esta conversa e exortação individual, que também nós
desde a guerra cultivamos na Alemanha, é um fragmento pobre. Eu também vou
aproveitar certas conclusões para as minhas pregações, mesmo que a forma
exterior talvez seja diferente”. [3]
38. Sem dúvida, reconhecimentos
semelhantes também nos motivam a examinar nossas pregações quanto ao seu
caráter de arrependimento e ver se ela está em condições de levar nossos ouvintes
ao reconhecimento de seu estado de pecador condenado e tornar sua alma sensível
ao chamado do evangelho: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e tua casa”.
(Aos 16.31)
A
pregação de arrependimento prepara o caminho para o evangelho.
39.
O evangelho é a única característica do cristianismo. “Quem, ó Deus, é
semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade, e te esqueces da transgressão do
restante de tua herança” (Mq 7.18). Assim o profeta Miquéias, profundamente
emocionado, clama ao povo. No cristianismo, a proclamação da palavra, desde o
seu início, é proclamação da salvação. Nós devemos dizer aos moribundos, que
viverão; aos vencidos, que vencerão; aos acusados e condenados pela lei, que
serão agraciados. Devemos dizer a cada pessoa que Deus a ama e a recebe por
amor a Cristo. O filho unigênito de Deus que por seu sofrer e morrer
restabeleceu o relacionamento do ser humano com Deus, que o pecado havia
destruído. No seu Evangelho ecoa o seu chamamento ao ser humano: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Co
5.20). Portanto, venha para casa, a porta da casa do Pai está aberta. Nisto
não há advertência, não há exigência, não há condições, não há um complicado
sistema, mas é um carinhoso atrair, chamar e insistir de coração. – O evangelho
proclama a fé pessoal num Salvador pessoal.
Ambos, gregos e não gregos são devedores
Será que este evangelho é apropriado
para nossos dias?
40.
Não há outro evangelho. Nosso tempo precisa, especialmente, este velho
evangelho, visto que os problemas do ser humano são antigos. As tentativas para solucioná-los são no fundo
as mesmas dos séculos passados, caracterizados com o estigma do impossível que
de início leva toda a tentativa ao fracasso.
41.
A expressão “mundo”, em Jo 17, não exclui nenhuma época. Os discípulos
de Cristo também permanecem atuais em todos os tempos – para falar como o
apóstolo Paulo – devedores à “gregos e não gregos”.
42.
Três grandes linhas caracterizam o pensamento que busca soluções em
nossos dias: Marxismo, existencialismo e catolicismo. (Catolicismo é obras, as
seitas também). Nisto não devemos esquecer que a metade ou quase a metade do
mundo humano esquematizado permanece excluída desse esquema. Milhões de pessoas
não cabem nesses três grupos, mas querem ser ouvidos e serão ouvidos. Por isso nós
seremos mais precisos se falarmos de uma divisão do mundo em duas partes:
Cristãos e não cristãos. Isso corresponde melhor à realidade, seja lá de que
século for. “Gregos e não gregos” podem apresentar diferentes sombreados até
aparentes idéias opostas sob a bandeira do panteísmo ou existencialismo, ou
pragmatismo, mas no fim da linha todos eles estão diante do meso nada. Enquanto
isso o medo e a falsa segurança impulsionam as almas humanas e fazem com elas
suas funestas brincadeiras. E o “pai da mentira” (Jo 8.44) entoa seu
entorpecente hino, que ele já cantou no paraíso – da sede pelo saber e da força
humana que quer conquistar o céu. Este hino é velho, há quase seis mil anos,
mesmo assim milhares de pessoas o entoam com o Bhagavadgita:
43.
Quem conseguir, sem paixão e ódio, perpassar o mundo das idéias,
- alcançará, em harmonia consigo mesmo, a paz
que nenhuma
tempestade afetará.
- Esta sua paz da alma, nem necessidade ou
sofrimento deste
mundo
poder-lhe-á perturbar.
- Pois quem o consegue acalmou seu coração,
sentir-se-á firmado
em si
mesmo.
- A quem, no entanto, faltar devoção, esse ficará
para traz em espírito
e no
aprofundar se em si mesmo,
- A quem, porém, faltar introspecção em si,
esse também
carecerá de verdadeira paz da alma.
- Só quem renunciar e fechar seu coração ao
egoísmo e à
inveja,
- conquistará a disposição da alma, que
experimentará a paz.
- Quem vive assim, vive em Deus, acima dos
enganos e aparências,
- E quando sua luz apagar na morte, ele entrará
na divindade.
Que terrível engano – primeiro endeusamento
de si próprio, depois a queda no precipício do nada.
O poder
de Deus
44. Um grupo de pescadores do mar da
Galiléia, queimados pelo sol e com mãos calejadas pelo trabalho, o que eles
querem? Um homem de Tarso se juntou a eles e daqui e dali mais alguns, o que
eles querem? Num inigualável episódio da história, estas pessoas conquistam,
numa marcha vitoriosa, impérios, modificam a aparência de uma parte do mundo e
criaram o assim chamado mundo Ocidental.
45.
O poder está no Evangelho. Que poder é esse? É o poder de Deus. O poder
que salva todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego (Romanos
1.16). Pois, “esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”. (1 João 5.4).
Isto está escrito na bandeira individual de cada cristão.
Tal
exército não perecerá
46. Assim cresce a pequena comunidade,
reunida em torno do sumo sacerdote em oração. Ela ultrapassa a pequena sala,
além de centenas de anos e épocas – Jesus lhes diz no caminho: “Não rogo
somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por
intermédio de sua palavra” (João 17.20) .- isto é verdadeira ecumenismo, a
única santa Igreja de Jesus Cristo na terra. O evangelho dele, diz August
Vilmar (1800-1868) em sua pregação missionária, “aquele que carregou todos os
pecados do mundo e venceu a morte é a única linguagem, que todas as pessoas
compreendem da mesma forma – O Turco e o Hindu, o Europeu e o da Nova Zelândia,
cultos e incultos, instruídos e analfabetos, sábios e ignorantes – a linguagem
do Cristo crucificado e ressurreto – de Cristo, do perdão dos pecados por ele e
da ressurreição a vida por ele, esta linguagem todos compreendem. E nesta
linguagem, mas somente nesta, também eles a entendem entre si, por mais
estranhos que sejam nas relações aqui na terra”.
47. Nossa propriedade é uma maravilhosa certeza.
Vilmar escreve: “Se a oração sumo sacerdotal de nosso Senhor Jesus (João 17) é
realidade... então, pela mesma e através da mesma, desta eterna intercessão de
nosso misericordioso Sumo sacerdote, está incluída e garantida a preservação
(unmittelbar), sem intervenção de outros atos de Deus. Se nossa fé nesta oração
do Sumo Sacerdote e sua eterna intercessão for real, nossa fé deve ter o mesmo
conteúdo, da presença real e ação de Cristo, o Senhor da Igreja, transmitida
pela presença pessoal do Espírito Santo, que perpassa de forma interrupta e
igual, continuamente, todos os séculos até a sua volta em glória”.
48.
Nossa mensagem ao mundo de hoje – como resumo do todo, numa palavra de
Kierkegaard: “O que nosso tempo no fundo mais necessita, se resume numa única
palavra: “Eternidade”.
Porto Alegre, 1956
Otto A. Goerl
Tradução - Horst R. Kuchenbecker,
outubro 2014
Igreja
Luterana, n° 5, 1956, pág. 222-235
XVIII - 9.5
TESES PARA A CONTINUAÇÃO DA
REFORMA
REFORMA
Introdução
Estas 9.5 teses
foram elaboradas em 1993 pelo pastor Harold L. Senkbeil, da Igreja Ev. Luterana
Sínodo de Missouri (LCMS), para sua congregação. Foram escritas devido à grande
e crescente influência do espírito arminiano, isto é, o ensino de que a pessoa
pode e deve ajudar na sua conversão. É uma teologia centrada no homem em vez de
em Deus. Este ensino errôneo afeta a liturgia e o culto, a educação paroquial,
a mordomia e o evangelismo. É um problema que afeta toda a Igreja confessional
em nossos dias. (O tradutor, HK).
9.5 Teses para a
continuação da Reforma
I - O coração e centro
da vida da Igreja é o Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor.
O coração das 95
teses de Lutero é, sem dúvida alguma, a tese de número 62: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da
graça de Deus”. Pode até parecer redundante e supérfluo começar este
trabalho com esta tese. Mas o Evangelho nunca pode ser estimado o suficiente.
De fato, estamos diante de evidências de que o Evangelho veio a ser, nas
igrejas da Confissão de Augsburgo, um mero sibolete[4],
isto é, prestamos ao Evangelho um simples serviço de lábios. Pois, nossa vida
não é mais dirigida de forma acentuada pelo evangelho, mas pela lei. Mesmo não
negando que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê,
criou-se em nossas igrejas uma brecha entre fé e prática, isto é, entre
justificação e santificação.
Esta brecha ameaça
esvaziar os três “somente”. É preciso que nos perguntemos novamente: O que
significa somente a Escritura, somente
por graça, somente pela fé? Quando falhamos em confessar a completa
exclusividade da natureza do Evangelho, voltamos a viver novamente sob lei. Se
a Reforma Luterana deve ser uma realidade em nossos dias, precisamos ter a
coragem de encarar essa situação.
Nós nos orgulhamos
de nosso conservadorismo, mas é um conservadorismo somente de nome. Estamos
apegados as nossas Confissões históricas somente na teoria e revelamos uma
crescente paixão pela prática que nos vem de outras confissões. Insistimos em
ser luteranos, mas nossa teologia da santificação, do evangelismo e da vida
litúrgica vem de forma acentuada do arminianismo e fontes do reavivamento[5].
Parece que a
doutrina veio a ser uma “substância” que pode ser expressa em inúmeros
“estilos”. Fazendo assim, corremos o risco de substituir a doutrina divina por
mandamentos de homens. Perdemos a visão da conexão entre fé e vida na Igreja.
Precisamos distinguir entre justificação e santificação, sem, no entanto,
separá-las. Wilhelm Loehe lembra: “A verdadeira fé não é somente pregada em
sermões, mas também cantada em hinos e orações”. Quando não confiamos mais na
Palavra e nos sacramentos, passamos a olhar para métodos, ordens humanas que
trabalham no povo de Deus. Precisamos ser suficientemente corajosos para
indagar a nós mesmos e penetrar na pergunta: Será que nossa crescente
fascinação por metodologias centradas em pessoas é evidência da crescente falta
de nossa confiança nos meios da graça dados por Deus? Megachurch, metachurch,
crescimento por liderança e qualquer auto-ajuda na vida cristã estão surgindo
em abundância e inclinam-se mais para a ciência social (homem total ou
integral) do que para o evangelho.
Está na hora de
recuperarmos em nosso meio o espírito dos confessores que nos precederam, para
confessar ativamente por palavras e obras o que cremos e ensinamos. Se Jesus
Cristo é nossa vida, então somente ele é nossa vida.
II - O Senhor da Igreja
está presente em nosso meio pelo ministério de sua Palavra e dos santos
sacramentos.
A presença real
de nosso Senhor Jesus Cristo em sua Igreja, por sua santa Palavra e seus santos
sacramentos, não é somente um distintivo de nós luteranos, mas é o que o mundo
necessita desesperadamente.
Essa é a principal diferença entre nós e o
resto dos protestantes evangélicos. Nós não ensinamos somente princípios, mas
proclamamos a realidade de que Cristo vive entre seu povo por sua Palavra e
sacramentos. A verdadeira presença de Cristo não é somente doutrina, mas é
realidade... e uma realidade não confinada somente na Santa Ceia. Não ensinamos
meramente a respeito de Cristo, mas ensinamos Cristo. Isso tem uma implicação
dramática na vida cristã. Por exemplo, ao advertir os efésios contra a
imoralidade sexual, o apóstolo Paulo não estabeleceu regras para a conduta
cristã, ele não colocou seis princípios para a sexualidade cristã, ele
simplesmente disse: “Mas não foi assim que aprendestes a Cristo” (Efésios 4.20). O pastor não ensina sobre Cristo e sua vontade para o
povo, como Confúcio ou Buda – que foram grandes moralistas. O pastor não ensina
sobre Cristo, ele ensina Cristo. Isso não é mera semântica. Isso tem a ver com
a nova visão fundamental do Evangelho e dos outros meios da graça. Deus vem
atualmente a nós, quer de forma oral ou pela palavra visível do Evangelho, isto
é, pela pregação, absolvição e os sacramentos.
Não precisamos subir ao céu ou descer ao
abismo para buscar a Cristo. O apóstolo Paulo afirma: “Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu
coração; isto é, a palavra da fé que pregamos” (Romanos 10.8; Dt 30.12-14).
Em Jesus Cristo habita “corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2.9).
Ele foi crucificado por nossos pecados, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao
céu e está à direita do Pai. Este mesmo Jesus Cristo está conosco na palavra,
seu Evangelho, e na palavra tangível, seus sacramentos. Ele vem com seu perdão
e muito mais. Pois onde há perdão dos pecados, há também vida e eterna
salvação.
Ele é ainda hoje o mesmo entre nós como o
foi com seus discípulos. O reino de Deus está em nosso meio. Pois onde quer que
Jesus esteja, ali está o reino de Deus. Jesus está presente na proclamação do
seu Evangelho e na administração de seus sacramentos. Isto tem profunda
implicação para o trabalho que executamos em seu nome e sua força, na sua santa
Igreja.
III - O artigo da
justificação não é um artigo entre outros, mas o artigo com o qual a Igreja
permanece ou cai.
Luteranos conservadores da geração
anterior ficaram pasmados quando a Federação
Luterana Mundial (LWF) não chegou a um consenso sobre o significado da
justificação. O tempo mostrou que é melhor não rirmos, pois, a aderência à
justificação em nossos dias, na melhor das hipóteses, é muito tênue. Como já
dissemos no “somente por graça” e “somente pela fé” perderam o “somente”. Há
uma falta de confiança na graça de Deus. Obras cristãs de serviços estão sendo
promovidas para suplementar o Evangelho. Como um proeminente evangelista
luterano o colocou: O “Ide, portanto,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo” (Mateus 28.19), tornou-se o principal material de nossa
teologia. Em outras palavras, a ordem missionária de ir e fazer discípulos veio
a ser o ponto central de nossa pregação, contra o Evangelho, a boa nova da
salvação que Jesus nos conquistou na cruz. Isso quer dizer que a Lei veio a
substituir o Evangelho. Eu tenho ouvido pastores luteranos dizerem que a Lei
deve ser realçada após o Evangelho, a fim de “pôr dentes no Evangelho”.
Não somos antinomistas. A Lei tem o seu
lugar dado por Deus para sufocar o velho homem e orientar a vida do novo homem,
mas a Lei nunca concede vida. Essa é, para nós, a linha básica. Nossa esperança
por perdão, vida e salvação está sempre, inteira e exclusivamente firmada no
Evangelho – a ativa e passiva obediência de nosso Senhor Jesus Cristo, sua
morte vicária e gloriosa ressurreição da morte. A pregação da Lei sempre vem
antes do Evangelho. Para nossa convicção isto está claro: a Lei sempre acusa.
Hoje, no entanto, consideram o Evangelho
sem lei, incompleto. Somos informados de que o alvo do evangelho não é o perdão
dos pecados, mas levar os pecadores a obedecerem à lei. Como foi possível que
tal idéia veio a ser aceita na Igreja da Reforma? Por que pecadores penitentes
são dirigidos para dentro de si mesmos em busca de consolo, para dentro de sua
própria luta interna, em vez de olharem e confiarem na graça de Cristo, para
sua justificação diante de Deus? Por que a vida da Igreja veio a ser governada
pela opinião pública e pelos gurus culturais de nossos dias? Para tudo isso há
uma só resposta: A justificação veio a ser outra doutrina para muitas pessoas.
O artigo principal da fé cristã não perpassa mais todas as doutrinas.[6]
É tempo de voltarmos à posição dos
confessores da Confissão de Augsburgo, de Lutero e outros reformadores, à
verdade da igreja dos apóstolos e dos profetas, construída sobre o fundamento
de Jesus Cristo. Nossa justiça diante de Deus, agora e até o fim dos tempos, é
a justiça de Cristo, que Deus Pai creditou a todos os que crêem em seu Filho,
pelo poder do Espírito Santo. Somente esta fé salva e salva sozinha. Adicionar
algo a esta fé – seja sentimento humano, obras humanas ou um dos seus santos
mandamentos – adicionar qualquer coisa a esta fé é destruir a graça. Então não
é mais “somente pela fé”.
O que significa isso para nossa fé
pessoal, para nossa proclamação pública, para a estrutura de nossa Igreja, para
os programas das várias agências sinodais e nosso programa paroquial?
Praticamos realmente o que cremos?
IV - O mundo muda, mas o
Evangelho e os meios da graça, não.
As inovações em nossas igrejas são muitas,
todas elas defendidas com argumentos como: Os tempos mudaram! As mudanças em
nosso mundo clamam por mudanças na igreja. Não podemos mais fazer as coisas
como fomos acostumados. Sim, como em todas as coisas, há certas verdades nessas
afirmações. Somente um tolo dirá: Visto que Lutero usou tipos móveis na
tecnologia da impressão de livros, vamos continuar a usar somente esses tipos e
rejeitar os modernos processadores de textos. Ou, visto que Lutero traduziu a
Missa para a língua alemã, continuaremos a usar na liturgia somente a língua
alemã. Não! Pensar assim seria loucura.
Mas quando se fala em mudanças, hoje, se
requer mais. Ensina-se que liturgia em si mesma é um fenômeno cultural e que o
estilo litúrgico deve ser adaptado a cada cultura individualmente. Da mesma
forma, o Evangelho deve ser embrulhado e oferecido a cada cultura e época,
conforme os termos próprios da cultura do momento.
Essa maneira de pensar não prevaleceu
entre as igrejas confessionais. Nos últimos anos, no entanto, essa maneira de
pensar, de adaptar-se à cultura da época, vem crescendo na América, aonde o
arminianismo anti credo veio a ser um ensino cristão destacado em nossa
cultura.[7]
David Wells, em sua importante crítica ao movimento evangélico, comenta: “O
arminianismo reavivamentalista fez um casamento perfeito com a vontade
americana do século XIX, ativa, confiante e expansionista. Ele abafou
efetivamente o protestantismo reformado sobre o qual a nação foi fundada e
continua a florescer através do nosso século. Mas ele perdeu sua força, quando
começou a ganhar largura; dividiu-se, finalmente, no evangelismo contemporâneo”.
Se Wells está certo, e eu acredito que esteja,
então não é de se admirar que luteranos estejam olhando invejosamente na
direção dos evangélicos, em busca de modelos do cristianismo que sejam
compatíveis com a cultura americana.
Esta adaptabilidade cultural é que Wells
critica com maior severidade. Pois a cultura de nossa época tomou um rumo
decididamente não cristão – não meramente em sua moral, mas em seus princípios
fundamentais. Vivemos na época pós-moderna. O que quer que isso significa, o
mínimo que isso significa é que vivemos em dias nos quais não há maior
autoridade do que a escolha pessoal de cada um, e não há força mais poderosa do
que o sentimento pessoal. Pluralismo e individualismo são as marcas gêmeas de
nossa era, isto é, há um consenso comum de que não há consenso sobre o que somos
e o que seremos. Valores conflitantes ou nenhum valor são igualmente
aceitáveis. Um não pode negar ao outro o direito de fazer esta ou aquela
escolha em uma ou em todas as coisas. Pragmatismo é a única base sobre a qual
podemos fazer essas escolhas. Em tal sistema, o único mal real, o único pecado
cardinal é não fazer nenhuma escolha. Cabe a cada um criar seu mundo à base de
sua própria escolha.
Aqueles que torcem pelo surgimento do
“humanismo secular”, veem somente a ponta do iceberg. O problema real em nossa
cultura é mais profundo. Já, há uma década e meia, Solzhenitsyn advertiu o
Ocidente sobre um “mundo fragmentado” em seus valores pelo materialismo. Seu
comentário foi dramaticamente ignorado pela mídia. Hoje está provado que foi
uma profecia trágica. David Wells informa que está surgindo uma geração
completamente nova. Uma nova mentalidade de pensar que está perpassando tudo,
que está conquistando tudo silenciosa e dolorosamente pelo auxílio da crescente
confiança no materialismo tecnológico e da urbanização. Essa nova visão do
mundo, essa nova civilização na qual nos encontramos, é o que Wells e outros
rotulam de “modernidade”.
O que significa isso para você e para mim
que pregamos, ensinamos e vivemos num mundo que não tem centro? Não há valores
duráveis ou princípios superiores que sejam assumidos em comum. Em tal mundo,
cada pessoa cria sua própria opinião a sua livre escolha. Filósofos afirmam que
palavras não têm sentido, a não ser o sentido que o leitor lhes dá. A matéria
não importa, mas a experiência. Individualismo e pragmatismo levaram a religião
a uma crescente privatização. Cristianismo popular foi efetivamente colocado na
ponta. Não se prega mais cabeça para baixo, isto é, arrependei-vos, mas cabeça
ao alto, isto é, sois dignos, louvai. A pregação não é mais centralizada em
Deus, mas no ser humano.[8]
É esta a cultura à qual devemos adaptar o
Evangelho? Ou, a propósito, devemos adaptar o Evangelho a qualquer cultura?
Amoldar a Igreja para encaixá-la numa cultura é selar nossa própria condenação.
Geoffrey Chaucer escreveu: “Quem quer jantar com o diabo, precisa de uma colher
muito grande”. Guiness escreveu um livro intitulado: Jantando com o diabo: O namoro da Mega-Church com a modernidade.
Nesse livro, ele sublinha algumas das ameaças que a modernidade traz ao
cristianismo. “Nós inventamos a
tecnologia para colocar a Palavra de Deus em prisão”. A fascinação por um
evangelismo no qual o culto é dirigido para as necessidades do público
consumidor, traz o Evangelho contemporâneo, perigosamente, para perto do
liberalismo criticado por Richard Niebuhr:
“ ...com um Deus sem ira, a homens sem pecado, para dentro de um reino sem
julgamento, pelo ministrar de um Cristo sem cruz”.
Sim, o mundo está mudado. Somente um cego
não o vê. Mas o que é assustador é que tantos na Igreja estão prontos a
comprometerem sua fé com a cultura mutável de nossos dias. É tempo de
questionarmos seriamente a fascinação acrítica que nossa igreja tem mostrado
recentemente com o pronunciamento dos dirigentes da opinião pública e das
tendências dos vigias em nossa era. Nós realmente esperamos que nossa Igreja
opere à base dessas visões e opiniões populares?
Em cada época, a igreja precisa fazer
certas mudanças, para acertar seu foco. Essas são feitas à luz da Palavra de
Deus e não no seu conteúdo. As coisas santas de Deus, que ele deu a sua igreja,
essas são imutáveis. O santo Evangelho, os santos sacramentos, a santa liturgia[9]
– essas coisas são colocadas no mundo, mas elas não são do mundo. Elas são por
definição transculturais – isto é, elas estão enraizadas firmemente na Palavra
e seus olhos estão fixados nas coisas do alto (Cl 3.1-4), onde Cristo está
assentado à direita do Pai. Por seu sangue, Jesus nos libertou de nossos
pecados e nos faz sacerdotes, para servirmos a Deus Pai em seu reino. E este
reino não é deste mundo.
Por isso a igreja é, fundamentalmente,
oposta à cultura. Ela é a cultura da cruz, isto é, a mensagem do Evangelho que
se dirige contra a idolatria que está no coração de cada cultura humana. A
igreja tem uma mensagem que transcende ao tempo, que ela dirige à cada tribo e
língua, povo e nação. Ela chama as pessoas a se voltarem da morte para a vida,
do pecado para Cristo, que é a vida, para terem nele a vida eterna. Ela convida
pessoas de cada tribo, língua e nação a virem a ser cidadãos do reino
celestial, e cidadãos de uma cidade com o fundamento cujo Criador e construtor
é Deus. As cidades dos homens mudam, Deus não.
V – A grande ameaça para
a Igreja vem de dentro dela.
A
legendária batalha de Tróia, que levou à trágica derrota, serve de exemplo para
a Igreja. Pois, ao levarem o Grande Cavalo com muita alegria para dentro de sua
cidade, como troféu de vitória, os troianos não se deram conta de que estavam
levando o inimigo para dentro de sua cidade, que agora pôde combatê-los de
dentro. O troféu de vitória foi um malogro.
Essa lenda épica serve como pungente
advertência à igreja de hoje em todos os níveis. Primeiro, ao movimento
evangélico como um todo, aparentemente tão zeloso no abraçar os troféus da Nova
Era e tentar cristianizá-los para o serviço da Igreja. Segundo, de forma mais
especial aos luteranos, que adotam esses métodos de forma assustadora e
absoluta, sem examinar sua teologia, amável e não luterana, para colocá-los a
serviço do Evangelho. O pragmatismo, já há muito tempo vem estendendo sua mão
ao luteranismo como um todo. Nosso moto, para analisar esses métodos, parece
ser simples: “Isto funciona? Isto dá resultados? Ora, o que opera na América
hoje é o que sempre operou na América – uma alta dose de sentimentalismo atado
ao subjetivismo envolto em sua estrutura de: Faça você mesmo! Este é o estilo
evangélico que é reivindicado e que está sendo adaptado à substância luterana
assim como é.
Tal teologia centrada no homem é oferecida
e vai bem em nossa cultura. Há, no entanto, um problema, isso não é Evangelho.
A verdade nunca pode ser colocada em jugo igual com a respeitabilidade
cultural, pois, nesse caso, a verdade sempre ficará com a parte menor. Onde
quer que a verdade case com a cultura, ela está destinada a, cedo ou tarde,
enviuvar.
Esse mesmo argumento foi usado em favor do
método crítico-histórico. Naquele tempo se dizia: Não podemos purificá-lo, mas
podemos usá-lo com pressuposições luteranas. A história mostrou algo diferente.
Infelizmente, somos maus alunos da história. Parece que estamos condenados a
repetir os mesmos erros trágicos das primeiras gerações, sempre aderindo aos
movimentos exatamente quando ameaçam parar, apegando-nos ao restolho, lançando
fora o nosso tesouro.
Vinte anos atrás, o Sínodo de Missouri
(LCMS), cansado das disputas políticas internas, procurou um tema, uma ação
comum que pudesse unir o Sínodo novamente. O tema encontrado foi o Grande Comissionamento (1980). Esse tema
foi bem preparado e tinha certa base teológica, pois o povo tinha crescido no
respeito à Escritura, devido à sua visão da integridade e autoridade da Bíblia.
Assim, de forma acrítica e com grande
entusiasmo, puxamos o cavalo de Tróia do evangelismo para o nosso meio. A
semente do arminianismo e do reavivamento começou a crescer e lançar seus
frutos. Ao mesmo tempo, diminuiu cada vez mais a confiança no poder do
evangelho, através dos meios da graça. A vida piedosa e litúrgica de nossas congregações
reflete de forma crescente a piedade no estilo de culto e do reavivamento
americano. O futuro mostrará se vamos reter ou não nossas Confissões.
A pergunta pungente de Jesus, dirigida a
nosso tempo, permanece no ar: “Quando
vier o Filho do Homem, achará porventura fé na terra? ” (Lc 18.8).
VI – As indulgências
modernas são o sentir e o pragmatismo.
Em suas 95 Teses, Lutero julgou o poder e
a eficácia das indulgências. Essas indulgências alegavam conceder completa
libertação dos castigos eternos que pesavam sobre os pecadores.
João Tetzel não veio para a longínqua
América. Ou será que veio? Precisamo-nos perguntar se nosso atual apego aos
sentimentos subjetivos e à adoção sem crítica do pragmatismo[10]
não é uma forma de indulgência? Uma rápida olhada nos títulos de livros, numa
livraria evangélica ou num catálogo de livros evangélicos, nos dará muitos
exemplos da moderna fascinação por programas e métodos designados para alterar
formas do comportamento humano e conceder indulgências. O que, no entanto,
experimentamos é o mesmo que experimentaram no século XVI, a perda do
verdadeiro tesouro da Igreja, do santo Evangelho da graça de Deus.
Lutero olhou através da tática da venda
show das indulgências, da chantagem e do seu impressionante sucesso. No fundo,
não era uma questão de embalagem, mas de conteúdo, a negação do próprio
Evangelho. Se você prefere colocar evidências, razão e sentimento sobre a fé,
você sempre terminará em erro. O Evangelho não é matéria de evidência racional
ou evidência experimental, é matéria da cruz. Seis meses após as 95 Teses,
Lutero articulou claramente os princípios fundamentais de sua teologia: a
teologia da cruz.
Na 21ª tese da Disputa de Heidelberg: “A teologia da glória afirma ser bom o que
é mau, e mau o que é bom; a teologia da cruz diz as coisas como elas são.[11] Isto é
evidente, pois quem ignora Cristo, ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por
isso, prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade,
a sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o
apóstolo chama de “inimigos da cruz de
Cristo” (Fp 3.18), certamente porque odeiam a cruz e os sofrimentos, ao
passo que amam as obras e sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz de um
mal, e o mal das obras de um bem. Já dissemos, no entanto, que Deus não é
encontrado senão nos sofrimentos e na cruz de Cristo. Os amigos da cruz afirmam
que a cruz é boa e que as obras são más, porque, pela cruz, são destruídas as
obras e é crucificado Adão; pelas obras, este é, antes, edificado. Portanto, é
impossível que não se envaideça com suas boas obras a pessoa que não for
primeiramente exinanida (enfraquecida) e destruída pelos sofrimentos e males,
até que saiba que ela mesma nada é e que as obras não são suas, mas de Deus”.
Assim não nos surpreende quando o
pragmatismo triunfa sobre a verdade ou quando o Evangelho e os meios da graça
são sacrificados em favor do emocionalismo. Para ambos, pragmatismo e
sentimentalismo são obras - e o velho Adão é especialmente edificado por obras.
Nas igrejas da Confissão de Augsburgo é
especialmente trágico capitular diante do deus desse século. Se adotarmos a
teologia da glória e chamamos o bem de mal e o mal de bem; se nos tornamos
cegos e adotamos alegremente a doutrina e a prática daquilo “que faz efeito, que dá certo”, negamos a Deus. Esse Deus que
escolheu deliberadamente a palavra da cruz, para se dirigir a este mundo, que é
por definição loucura, para o mundo, para os que se perdem, mas para os salvos,
poder de Deus e sabedoria de Deus (1 Coríntios 1.18-25). Não nos deixemos
iludir, sirvamos ao Deus da cruz, à palavra da cruz.
VII – Evangelicalismo e
liberalismo são dois extremos do mesmo erro.
Esta tese, de primeira vista, parece dura,
porque ela nos golpeia intimamente. Sobretudo a nós luteranos que estamos entre
os primeiros a ostentar orgulhosamente o título “evangélicos”. Desde a Reforma,
o nome “evangélico” se refere exclusivamente aos cristãos descendentes de
protestantes fundamentalistas. Por isso, repugnamos abrir mão deste nome:
evangélico. Mas precisamos estar atentos ao que aconteceu, na América, a esse
termo na metade do século XX. A palavra “evangelical” veio a referir-se aos
cristãos evangelicais modernos, que têm mostrado uma tendência natural para a
cultura. E aqui está sua conexão com o velho liberalismo. Ainda que de muitas
maneiras eles sejam extremamente opostos em suas conclusões, eles encontram uma
fonte comum na cultura de nossos dias. Evangelicais e não menos liberais têm, ambos,
mostrado uma tendência para o abandono da doutrina em favor da vida.
Na visão de David Wells, liberais e
evangelicais beberam todos da mesma fonte. Esta fonte é a modernidade. Em ambos
os casos, no entanto, a confissão veio a ser uma casualidade porque a
modernidade é hostil a toda a verdade que é absoluta e transcendental em sua
natureza. O que permanece é simplesmente a reflexão acadêmica e praticidade no
evangelismo.
Wells documenta um abandono gradual da
integridade doutrinária entre os evangelicais, somada a um destaque à cultura.
Se ele está certo – e eu acho que sim – luteranos deveriam pensar muito antes
de acoplarem seu vagão a um ator destinado a ser, cedo, um buraco negro. Wells
usa uma admoestação profética a respeito do crescimento do vácuo doutrinário no
movimento evangélico. “A palavra “evangélico” tornou-se descritivamente
anêmica. Ela é, creio, o negro prelúdio da morte. Quando os parasitas
finalmente trouxerem para fora suas multidões, em meio ao clamor de todos esses
modelos novos da fé evangélica, soará o guizo da morte.
VIII – A confusão
litúrgica é um sintoma da crise confessional.
Quer me parecer que somos tolamente
ignorantes em nossos círculos, a respeito de algo que a Igreja conhece há
centenas de anos: A maneira como você ora, determina o que você crê. O que você
crê, determina a maneira como você ora. “Lex orandi, lex credendi”. Nossos pais
do Sínodo de Missouri se inclinaram para um caminho mais prático. Eles
simplesmente edificaram a maneira antiga, colocando a liturgia na base
confessional de sua constituição. O artigo seis de nossa Constituição Sinodal
inclui a condição para se tornar e permanecer membro do Sínodo. Ali lemos o
seguinte: “Uso exclusivo da Agenda Litúrgica da doutrina pura, hinário e Catecismo
nas igrejas e escolas (Handbook, LCMS, 1995, p.11, art. VI.4; Regimento da
IELB, Título V, art. 73, VI).[12] Hoje, muitas de
nossas congregações desprezam essa exigência. Há uma ansiedade em fugir da
integridade doutrinal em favor de emoções. Sentir parece ser o primeiro
critério que torna uma música litúrgica aceitável. Se um tom musical toca o
coração e, na lírica referente ao nome de Jesus há muito disso, então qualquer
canto pode ser usado, mesmo se lança os corações em confusão.
Como isso se tornou possível? A resposta é
óbvia – parece-me que nossa confusão litúrgica torna evidente a profunda crise
confessional na qual vivemos. Estamos confusos quanto ao que cremos. Não cremos
mais que o Evangelho e os sacramentos são as únicas e exclusivas ferramentas do
Espírito Santo, se não, como poderíamos cantar hinos e prestar culto de uma tal
maneira que a vontade humana e as emoções são os condutores dos sentidos em
nosso relacionamento com Deus?
Não é surpresa, por isso, haver em nosso
meio uma grande controvérsia sobre liturgia. Muitos vêem na liturgia
tradicional uma fonte de letargia em nossa espiritualidade e impotência na
missão. E afirmam que só voltaremos a crescer, se nos libertarmos de nossa
liturgia tradicional, ultrapassada de prestar culto. A pesquisa da Worship
Towerd 2000 demonstrou, há alguns anos atrás, que há uma grande confusão em
nosso meio a respeito do que acontece realmente no domingo de manhã nas
igrejas. Em algumas igrejas se busca uma saída radical da liturgia histórica,
nas quais o altar já é substituído por um palco.
Alguns julgam que, fazendo assim,
encontraram a chave para o crescimento da igreja, da mega igreja e meta igreja
tão fascinante. Por que algumas congregações, com boa reputação de
conservadoras, se afastam de forma crescente da forma liturgia histórica e da
hinologia confessional? Somos nossos próprios inimigos. Abandonamos o coração
da vida da Igreja luterana: A presença real de nosso Senhor Jesus Cristo em sua
Igreja na terra, pelos meios da graça.
A Igreja sofre hoje de forma crescente de
demência. Ela deixou conscientemente o que ela é. Deixando a si própria sozinha
num mundo muito impessoal e antagônico. Ela corre atrás de algo que a faça
sentir-se melhor, algo que lhe dê um sentimento religioso.
Mas a Igreja é a noiva de Cristo. Ela não
necessita de algo relativo que a faça esquecer sua situação neste mundo. Ela
necessita de seu noivo. O Senhor vivo de céu e terra. Jesus vem à procura de
sua santa noiva, que ele comprou com seu próprio sangue, pela qual ele deu sua
vida. E este Senhor vivo vem a ela em sua Palavra e em seu santo Sacramento,
para habitar com sua noiva e cuidar dela em sua sacra liturgia.
Quando falo da liturgia, algumas pessoas
me perguntam: Você está dizendo que se temos a liturgia correta, temos o
Evangelho correto? Sim, mas isto não é toda a verdade. Minha reivindicação é
que tenhamos o Evangelho correto, então teremos a liturgia correta. Somos
tentados a tornar a liturgia em um entretenimento, terapia ou catarse. Isso não
é culto.
A liturgia histórica é consoante com o
Evangelho. Pois a Igreja na terra não tem vida separada de Cristo. Seu moto é
como o apóstolo Paulo disse: “Para mim o
viver é Cristo” (Fp 1.21). A liturgia é a vida da Igreja, sobre tudo porque
é na liturgia que o Senhor vivo vem ao encontro de sua noiva. A liturgia é a
vida da Igreja, por meio dela a noiva se entrega a seu noivo celestial. A
liturgia não tem vida em si mesma, mas somente porque ela é cheia da vida de
Cristo, em Palavra e sacramento. A liturgia é ambos, a fonte para a vida da
Igreja e a forma da vida da Igreja. É o lugar de onde ela busca o pão e onde
ele o dá de volta. É onde ela inala o poder doador da vida do Espírito e onde
ela exala este poder do Espírito. É onde ela recebe perdão dos pecados, vida e
salvação nos meios da graça e onde ela oferece seu sacrifício de culto ao Pai
pelo Filho, no Espírito.
IX – O caminho da Reforma
inicia com arrependimento.
Onde começaremos a purificar a Igreja?
Começaremos com nós mesmos. Onde começaremos a nos purificar? Começaremos ali
onde a Igreja sempre começou, com arrependimento. Entre nós não é diferente
como o foi, no início, em Éfeso aos quais o apóstolo Paulo escreveu: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos
vossos delitos e pecados... Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do
grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu
vida juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos” (Efésios 2.1,4,5).
Assim iniciamos a caminhada para a Reforma no século XXI. Exatamente onde
Lutero começou a Reforma no século XVI na Saxônia, com a primeira tese: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo:
Arrependei-vos, etc, certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra
seja contínuo e ininterrupto arrependimento”.
É tão fácil dizer isso aos outros e
esquecer a trave que está em nosso próprio olho. É tão fácil expor os erros do Church Growth, ou dos Evangelicais, ou da Meta-Church, e não ver os pecados em nossos corações.
Irmãos e irmãs em Cristo nós precisamos
começar a examinar nosso próprio coração para ver onde deixamos a confiança no
Evangelho, onde e como menosprezamos a pregação e a Palavra de Deus, como temos
promovido ou suportado a substituição da Palavra de Deus por mandamentos
humanos. Precisamos olhar para nossa própria congregação em busca de evidências
da apostasia da fé destinada aos santos, de exemplos no focalizar obras de
homens em vez das obras de Deus, colocando a ciência social humana em lugar da
graça de Deus, dando atenção às experiências humanas em lugar das verdadeiras
promessas de Deus em sua Palavra e sacramentos. Isso é pecado. E pecado requer
arrependimento.
Para as igrejas nada é diferente do que
para os cristãos. “O velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários,
deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e por sua vez,
sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de
Deus eternamente”.
Pois onde há arrependimento e fé, há
perdão dos pecados, vida eterna e salvação. Esta é nossa esperança, nossa única
esperança nos dias atuais.
IX.5 – A esperança
imutável da Igreja é unicamente pelo mundo novo.
Esta não é simplesmente a única esperança
para a Igreja, ela é também a única esperança para o mundo perdido em pecado.
Por isso, esta última tese é somente metade de uma tese, a outra metade é
nossa, pois ela clama por uma resposta, a resposta do arrependimento que leva à
vida. Quando cremos na santa Palavra de Deus, também levamos uma vida conforme
a vontade de Deus. Quando a Igreja confia no Evangelho, também vive do
Evangelho. Ela evangeliza com o Evangelho e adora conforme o Evangelho.
Em 1817, Claus Harms propôs 95 teses para
o reavivamento da Igreja Luterana com integridade confessional em face do unionismo,
racionalismo e pietismo. Sua primeira tese chama ao arrependimento como tal. O
que foi número um para ele, cento e setenta e seis anos antes, fora número um
também para Lutero e é número um para toda a Igreja Luterana, a saber, a Igreja
Cristã Apostólica em nossa era pós-modernista.
Proclamando o Evangelho em nossos dias,
não queremos conformar nosso ensino ao espírito alterado de nossa época, nem
colocar o mistério da fé em embalagens fúteis de nossos dias. É tempo de prover
para o nosso mundo que está morrendo, apesar de todo o avanço da medicina, o
remédio puro da Palavra de Deus com a correta aplicação de Lei e do Evangelho.
Ainda que tal remédio não desça fácil em nossa época idólatra, ele é o único
remédio que traz vida.
“Quando sentamos à mesa com nossa cultura,
lembra Os Guines, a Igreja precisa de
uma colher muito longa”. “Nosso mundo não necessita de qualquer “McChurch”. Ela necessita da Igreja que
se expande através de todo o tempo e espaço, enraizada na eternidade, terrível
como um exército com banners” (Lewis). Nosso mundo necessita de nenhuma meta,
mega, ou para igreja. Ela necessita hoje da Igreja, a santa noiva de Cristo, a
companhia dos redimidos no tempo e na eternidade, no céu e na terra, como
mordomos que administrem fielmente, aqui no mundo, os santos mistérios da Santa
Trindade.
Ainda que não somos do mundo, estamos no
mundo. E tenha certeza, não desprezamos os dons que Deus concede a este mundo.
A igreja faz uso dos experts em tecnologia e da ciência social. Mas o que o
mundo mais necessita é que uma criança de 7 anos saiba o que é a Igreja
verdadeira: As ovelhas fiéis de Cristo que ouvem a voz do seu Pastor (Art.
Smalcalde XII. A Igreja).
Rev. Heroldo L. Senkbeil.
Elm Grave Ev. Luth. Church
Tradução, com pequenas
adaptações: Horst R. Kuchenbecker
Bibliografia:
- David Wells. No Place for Truth (or Whatever, Happended to Evangelical Theology?)
Wm. H.B. Eerdmann Publishing Co. 1993
- Os Guiness. Dining with the Davil (The
Megachurch Movement Flirts with Modernity) Baker Book House, 1993.
Perguntas para debate
1ª Tese – O Evangelho
1.1 – O Evangelho é o centro de nossas
mensagens, liturgias e hinos ou
predomina neles a ação
humana?
1.2 -
Na vida dos membros, palavra e obras (Tábua dos Deveres), estão
centralizados no
evangelho?
2ª Tese – Ministério
2.1 – A presença de Cristo em sua igreja é por palavra e sacramentos?
O
que significa isto?
2.2 – O que significa: “De graça deverei ser salvo?” (HL 371.3) (do
original: Quer o sinta ou não?).
E: Alegrai-vos sempre no Senhor?
(Fp 4.4). Como fica o sentimento?
3ª Tese – Justificação
3.1 – O que significa “ser justificado ou reconciliado com Deus”?
3.2 – Qual a diferença entre o “Cristo por nós” e o “Cristo em nós”?
4ª Tese –
Mudanças
4.1 – O que é mutável e o que é imutável na igreja?
4.2 – Quais os perigos nas mudanças?
5ª Tese – Ameaças
Internas
5.1 – Quais são?
5.2 – Como vigiar?
6ª Tese – Indulgências
6.1 – Quais são as indulgências modernas?
6.2 – Defina os termos: “teologia da cruz” e “teologia da glória”.
7ª Tese – Evangelismo e Liberalismo
7.1 – Qual a diferença fundamental entre o evangelismo luterano e o
resto das igrejas evangélicas, e
evangelismo chamado de “Missão
Integral”?
7.2 – O que significa no evangelismo: semear a boa semente?
8ª Tese – Liturgia
8.1 – Por que liturgia?
8.2 – Qual a diferença entre: Culto Principal e Culto Evangelístico?
9ª Tese – Reforma
9.1 – Em que consiste o arrependimento diário?
9.2 – De que temos que nos arrepender como igreja?
[1]
Claus Harms 95 Teses de 1817. Você
pode encontrá-las na internet, sob este título em língua alemão e traduzi-las
pelo Google.
[2]
Hoje XXI
[3]
Aqui podemos lembrar nossos pais: Lutero, Walther e outros que terminavam suas
pregações com uma exortação tríplice: - 1) Vocês que vivem nestes pecados,
arrependam-se. – 2) Vocês que estão atribulados por terem fracassado, saibam
que Cristo vos ama e perdoa. – 3) Vocês que estão lutando por vida santificada,
continuem, pela graça de Cristo a crescer cada vez mais.
[4]
Sibolete ou Chibolete. Palavra hebraica que quer dizer “riacho” ou “espiga”,
que era pronunciada de modo diferente nos dois lados do rio Jordão (Juizes
12.6). A pronúncia desta palavra denunciava a origem da pessoa, do lado de cá
ou do lado de lá. A expressão é usada hoje como algo que caracteriza a
confissão ou crença de uma pessoa.
[5]
Basta analisar os hinos que são cantados em nossos cultos que provém das
seitas. Não que não haja hinos bons nos hinos das seitas. Por vezes os textos
precisam de uma pequena correção, substituição de uma palavra ou acréscimo de
uma linha ou estrofe, para expressarem a doutrina corretamente. Este trabalho
cabe à Igreja.
[6]
Nota do tradutor: Temos que examinar nossos sermões. Fala-se do evangelho e
logo depois vem a carga: Os que aceitam a Cristo como Senhor, os renovados, os
transformados não fazem mais isto e aquilo, vivem agora para Cristo, para
herdarem o céu! Como se o consolo estivesse no que fazemos.
[7]
Aqui é preciso lembrar que o cristianismo em sua expansão após pentecostes não
se adaptou às culturas de sua época, mas as transformou ao longo da história da
humanidade.
[8]
Chamam isso hoje de “Missão Integral”, que na verdade é a Teologia da
Libertação
[9]
Santa liturgia não se refere à simples forma que se encontra nos Hinários ou
Agendas, mas a correta adoração “em espírito e verdade”, com correta ordem e
aplicação de lei e evangelho, hinos doutrinariamente corretos (nota do
tradutor).
[10]
Pragmatismo: ativismo, implicações práticas, soma de regras que, se seguidas,
dão resultados.
[11]
Lutero, Martinho. Obras Selecionadas. Editora Sinodal e Concórdia Editora,
Porto Alegre, 1987, vol. I, p. 39.
[12]
Confere Regimento da IELB, Artigo 73.VI: Usar formas cúlticas, hinos e manuais
de instrução doutrinárias que estejam de acordo com a Escritura Sagrada e as
Confissões Luteranas. (Edição 2010)
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