quarta-feira, 27 de julho de 2016

500 Anos da Reforma XVII -

XVII - Nossa Mensagem ao Século XX
                                                     Prof. Otto A. Goerl
     A oração sacerdotal de Jesus no evangelho de João 17, nos coloca no limiar do Santo dos Santos e nos deixa ver e adorar o que a Cortina do Templo oculta aos olhos humanos. O mistério da glória do Senhor que se revela nesta hora, da qual o Senhor Jesus fala: Pois é chegada a hora (v.1). É a hora da glorificação, a hora da complementação, a hora da proclamação da salvação.
1.       Emocionados, os discípulos ouvem a prestação de contas do Filho
de Deus e percebem os detalhes do grande plano da salvação, no qual eles – pobres e fracos seres humanos – exercem um papel importante e central na proclamação da interminável graça e misericórdia de Deus. Nesta oração sacerdotal de Jesus, eles vêem com clareza os contornos do profundo amor e o significado da obra de Jesus, para a comunidade de Jesus, o cuidado pelos seus e a tarefa para os seus. Os discípulos percebem que não estão somente diante do fim da obra, mas também diante de um começo.
2.      Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao
mundo (18). Encontramos aqui um paralelo que nos assusta diante da responsabilidade que esta ordem coloca também sobre nossos ombros e ao mesmo tempo nos puxa para cima e nos enche de júbilo por este privilégio. Somos enviados pelo Filho, assim como ele foi enviado pelo Pai. Este privilégio provém do relacionamento íntimo entre o Salvador e os salvos. É nossa comunhão, como o mostra a Palavra: Todos que me deste (v.2). Entramos neste seu trabalho como sua propriedade. Por ele nossa vida recebe sentido e um alvo determinado. Este é o sentido do versículo: Não pelo que os tires do mundo (v. 15).  
  1. A base sobre a qual nosso envio está fundamentado é dito e repetido
diversas vezes por nosso Salvador pelas palavras: Por que eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste e eles as receberam e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste.(v.8) Seguem as palavras do envio: Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo (v.18.) Antes dessas palavras, está a oração: Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade (v.17). Estas palavras firmam os apóstolos no fundamento que é a Palavra: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura (Mc 16.15). Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 18.20).
  1. Será que esta palavra vale para nós? Será que ela vale até hoje? Esta
pergunta se impõem a nós ao queremos analisar o tema: Nossa mensagem ao mundo de hoje.  Por que a pergunta?

Aqui levantam se dúvidas

  1. Não o fato de o pregador consciencioso ser muitas vezes tentando, quando a
proclamação da palavra parece não deixar nenhum eco e não traz os devidos frutos, a ponto de o pastor pensar: Eu preciso mudar minha pregação. Preciso usar outros métodos. Preciso agarrar os ouvintes e dirigir-me a eles de uma forma nova, que faça efeito. De fato, em muitos círculos ouve-se a afirmação como: O mundo de hoje é diferente e requer outra mensagem. As mensagens antigas não atingem mais as pessoas. Não alcançamos mais as pessoas com a simples proclamação do evangelho, como no tempo de nossos pais. São tempos novos. Os problemas são outros que requerem outro espírito, outros caminhos e soluções. A igreja precisa mudar sua pregação e adaptá-la à situação. Os ensinos de Cristo e os princípios da Bíblia precisam ser estudos à luz das idéias de cada século.

O mundo de hoje – nosso “aion” (época)

6. Não podemos falar mais “de um século” no sentido de antigamente. Uma década mal serve para caracterizar o tempo. Ellen Key denominou o nosso século como o Século da Criança. Mussoline o chamou de o Século do Estado. Dibelius, o Século da Igreja. Spengler o reservou para o Naufrágio do Ocidente. Ultimamente o século é descrito como Século dos foguetes, a da conquista do universo, da cibernética. O que virá amanhã? Seja como for, nosso século é e permanece o Século do ser Humano. Ele foi colocado no centro da criação e da ordem da criação. Sem ele não haveria estas ações de mudanças da qual Sartre afirma: “Nós todos sabemos que o mundo se modifica. Ele muda o homem e o homem muda o mundo”.
    Qual o aspecto do ser humano, o filho neste século, o homem de hoje?

O perfil do homem moderno

  1. O homem moderno? Cada um sabe que a palavra “moderno” é
somente um embaraço. Veremos isso no resultado final de nossas considerações. Não deveria ser difícil aos pregadores luteranos quebrar o “mito do homem moderno”, visto que o próprio homem moderno já o faz. Psicólogos, psiquiatrias, e sociólogos, (como o Dr. J. Bodamer, Prof. Dr. H. Schelsky, Prof. Dr. C. G. Jung, Prof. Dr. H. B. Prinz, Dr. G. R. Heyer, Prof. Dr. Ph. Lersch) tomam o ser humano em nossos dias sob suas lentes e chegam a resultados que são deprimentes.
  1. Vamos resumir o que o Dr. J. Bodamer, neurologista, escreve:
“Nossos dias não têm mais um ideal humano. O homem médio é espiritualmente raso e de uma espantosa leviandade espiritual. Satisfação própria é o traço predominante do homem moderno... A arrogância, exaltação própria, superficialidade, sem compaixão com seu próximo e horrendamente cruel. Nem a voz de sua consciência, nem suas necessidades espirituais o levam a conscientização. Ele só pensa nos seus problemas profissionais. O sociólogo, Prof. Dr. Helmut Schelsky, destaca (só citaremos suas palavras chaves): ganhar dinheiro – inveja social – compara-se com o prestígio social dos outros – subir, e sobrepor-se no status social aos outros – o homem de hoje é um “homem pequeno”. Dr. Bodamer ainda acrescenta que o filho querido do homem é a técnica, o motor. O motor lhe servo como o “deus do movimento”; e acrescenta: “Ele é um “virtuoso irresponsável” -  Por um lado ele é esforçado, inteligente, inventor...  por outro lado ele é imaturo, sem espírito, insincero, anti religioso e irresponsável”. Da mesma forma se expressa um de nossos poetas, Manuel Bandeira. Ele fala em primeiro lugar da luta: “A dura luta que tem sido a tarefa, nas palavras de José Maria Hostes, para tornar racional o único habitante do mundo dotado de razão. O progresso moral do homem tem permanecido infinitamente aquém do seu progresso material. O homem parece incorrigível. Se há um Deus, que o criou, esse Deus... já deve estar “sonhando com outra humanidade”. Carlos Drummond de Andrade complementa: “Ele nem precisará destruí-la, pois, os homens mesmo se destruirão rapidamente... Estamos vivendo a hora mais dramática, mais espantosa da história do mundo... sua hora decisiva”.
  1. Como sinais proeminentes da autodestruição podemos citar dois pontos: Ou o
ser humano é condicionado pelo material ou é vítima do medo. Na maioria dos casos podemos riscar o “ou”. 
  1.  Materialismo, egoísmo, orgulho e soberba – Há cada dez anos reúne
se desde 1909 (1919, 1930, 1940, 1950, 1960) , nos Estados Unidos da América a “Golden White House Conference” a fim de examinar os valores e idéias do decênio e submetê-los a um exame. E a que conclusão os 210 grupos de estudo (Professores, educadores, eclesiásticos e outros) chegaram em sua última reunião? Um dos participantes o expressou assim: “O problema dos jovens, não são os jovens, mas o espírito da época”. E como ele definiu o espírito da época? Ele afirma: “O espírito de nosso século é a instrumentalização do mundo, do ser humano e de todos os valores... O objeto maior de culto é o da adoração de si próprio, o seu Ego”.
  1.  No interior vazio, medo, incerteza – O constante martelar e rugir da técnica em
veloz progresso de nossos dias não consegue abafar o temor e gritar das almas desesperadas, muito menos acalmá-las. Dr. Donald Coggan, arcebispo de York, escreveu recentemente que 80% das doenças procedem de complexos e de semelhantes intranqüilidades da alma.   Somente 10% dos doentes espirituais na Inglaterra são abrigados em hospitais e mesmo assim ocupam 44% dos leitos hospitalares. Em outros países os dados não devem ser muito diferentes. O psicólogo Frank Caprio escreveu no seu recente livro traduzida ao português: “O homem nasce medroso, viva com medo e morre com medo”. Nos corações dos que estão afastados de Deus e não encontram o caminho a ele, há só desespero. O apóstolo Paulo lembra aos cristãos de Éfeso seu passado ao escrever:  “Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo”. (Ef 2.12) Espantosas são as palavras que a escritora Pearl S. Buck escreve em seu livro: “Uma ponte para o além” (A Bridge for Passing) em vista da morte de seu marido: - “Onde você está? Você sabe que eu estou aqui?... Você também está aqui? Você está vivo, para além das barreiras do espaço sem atmosfera? - Insisti na pergunta lançada na noite, depois retirei-me apavorada. Na realidade, eu não quero saber a verdade. Se ele existe, a espera sozinha será para mim intolerável. Eu também não suportaria saber que ele não existe. O melhor é esperar até descobrir por mim mesma”. Dr. E Stanley Jones, que em sua longa vida poderia colecionar experiências de diversos mundos e épocas, acentua: “Nós não temos que pregar contra o Hinduísmo, Budismo ou Mohammetanismo, nós temos que pregar contra o vazio (emtiness) no homem. Aqui não tem alternativa, Jesus precisa encher este vazio. (It is Christ or nothing).
     Isto é o homem moderno. Para ele nos temos uma mensagem.  Mas antes disso uma pergunta: Como estamos em relação ao mundo ao qual a ordem de Deus nos enviou?
  1.  Uma linha divisória perpassa a Bíblia, o mundo e nosso coração –
no tempo e na eternidade. - A mão de Deus dirige a espada, da qual afirma a carta aos Hebreus: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração..” (Hb 4.12)
  1.  Em João 17 esta linha divisória se torna uma muralha
intransponível, na qual é colocada pedra sobre pedra:  ...por aqueles que me deste (do mundo, (v. 9) ...neles eu sou glorificado (v.10) ...e o mundo os odiou. (v.10). Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou. (v.14). Eles não são do mundo, como também eu não sou. (v.16) Pai justo, o mundo não te conhece; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam que eu me enviaste”. (v.25)
  1.  “No mundo” não deve ser interpretado somente de forma geográfica. O perigo
próprio do mundo está em nós. O homem descrito acima é o “velho homem” em nós que, conforme o pecado original herdado dos pais, se acha em todos os cristãos. Neste chão está enraizado o materialismo, o egoísmo e outros “ismos”, da mesma natureza; bem como também o racionalismo e liberalismo, que celebram na “carne” o seu triunfo. Eles tentam, com força, mesmo os luteranos fiéis. Eles querem nos fazer crer que os objetivos do cristianismo são alcançados com maior facilidade, na fronteira com o mundo colocado por Jesus, pela coexistência e paz externa com o mundo. “O mundo” em nós está pronto para construir pontes para o mundo em nossa volta, pois parece que há um caminhar e julgar comum entre nós e o mundo. “A sabedoria que vem do homem” é contrária à sabedoria que vem do alto. Assim o “Patmos” (onde Paulo estava preso e recebeu revelação (Ap 1.9), se transforma rapidamente em “Creta” (onde Paulo naufragou. (At 27.12) O apóstolo Paulo nos admoesta: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos”. Então o apóstolo pode dizer: “Nós, porém, temos a mente de Cristo”. Pois no cristianismo, a luta é sempre pelo todo, em linha reta e exclusiva. “E se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele”. (Rm 8.8)

Fonte viva ou uma “cisterna rota?
     15. As palavras de Jeremias (Jr 2.13) parecem recentes e atuais. “Portanto ainda pleitearei convosco, diz o Senhor... vede... Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia o meu povo trocou a glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor”. (Jr 2.912) – nós acrescentamos: Quando o ser humano se torna displicentes, ele lança mão no santuário de Deus e de sua glória, e Deus precisa lhe diz: “Porque dois males cometeu o meu povo; a mim me deixaram, o manancial de águas vivas e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”. (Jr 2.13)
     16. A glória do Senhor que encontrou sua consumação pela única entrada do Sumo sacerdote no Santíssimo é injuriosamente mudada quando -  e isto não nos dá prazer em tomar alguns exemplos, da abundância deles:
     17 ... quando a teologia é conscientemente mudada para uma teologia moderna, abrindo mão do seu caráter que ela alcançou novamente pela Reforma. Melanchton o destacou e caracterizou em sua fala em 1538:  “Nós queremos lembrar que a teologia não é um raminho da ciência como as demais ciências que só tem valor nesta vida terrena, mas uma sabedoria revelada por Deus”.
     18 ...quando o espírito crítico, sob a bandeira da ciência, se aproxima da Bíblia como se fosse um livro humano, e não tira seus sapatos na terra santa, mas esfacela o livro dos livros, corta e o adaptam conforme sua imaginação e seu modelo; e com um pequeno sorriso zomba dos pais da idade média, chamando-os de pietista, devido ao seu respeito diante do texto.
     19 ...quando fazem da Bíblia, por seu subjetivismo um lugar de tumultos e especulações propositais, colocando diversas escolas (correntes teológicas) no cenário. (Eu sou de Paulo, eu de Apolo), da extrema direita (se isto é possível) à extrema esquerda. Criam incríveis confusões e intranqüilidades nas comunidades de Jesus e nas fronteiras com o mundo, para onde somos enviados.
     20 ...quando se afronta o “Está escrito” com hipóteses fúteis, “moscas de um dia”, dá-se, por orgulho próprio, saltos de trapezistas teológicos em alturas imaginárias, visando simplesmente impressionar os admiradores. E para revelar sua aversão à “religião pronta”, na qual é preciso manter um compromisso com a verdade, o que eles acham algo indigno para uma pessoa livre, conforme o exemplo de Lessing, que afirmou “Se Deus tivesse em sua mão direita a toda verdade e em sua mão esquerda o único impulso em buscar a verdade, mesmo com o acréscimo de me enganar sempre e eternamente, e me dissesse: Escolhe! Eu, com humildade, escolheria a mão esquerda e diria: Pai, perdoa, a pura verdade é somente para ti”.
     21 ...quando em crassa oposição às declarações, admoestações e ameaça da Escritura, o ser humano ousa colocar-se como mestre e juiz em questões de fé, diante da única e exclusiva autoridade, conforme o falso princípio: “Nós reconhecemos como fonte da qual buscamos a matéria um fato tríplice, a saber, a razão iluminada, como sujeito dogmatizante, o ensino da Igreja e os livros canônicos do Antigo e Novo Testamento”.
     22 ...quando se crê ser necessário determinar o conteúdo da Escritura da observação da pessoa e colocar a Escritura no vestido da época atual, o que Bultmann fez de coração, ao adaptar a Escritura ao homem moderno. “Modern man sees himself as “a self-subsistent unity imune from the interference of supernatural powers.” “It is impossible to use electric light and the wireless and to avail ourselves of modern medical and surgical discoveries, and at the same time to believe in the world of demons and spirits.” (“The New Testament and Mythology”, 1941). O homem moderno vê-se a si mesmo como unidade auto subsistente, imune às interferências de poderes sobrenaturais. Ele julga ser impossível usar a luz elétrica, o telefone e valer-se das modernas descobertas da medicina e cirurgia e ao mesmo tempo crer num mundo de demônios e espíritos. Lutero sem dúvida aceitaria a primeira das 95 Teses de Harms de 1817: “Se nosso Senhor e Senhor Jesus Cristo diz: “Arrependei-vos!” ele quer que nós seres humanos nos moldemos por sua doutrina; ele não molda a doutrina conforme o homem, como se faz agora, conforme o espírito mutável da época.” Nós acrescentamos logo a terceira tese, devido a sua frase final: “Com a idéia de uma reforma progressiva, entende-se que o luteranismo está sendo reformado em paganismo e o cristianismo para fora do mundo”.
     23  ...quando Paulo Tillich chama as calaras definições de “caricaturas” e a predestinação bíblica de “superstição”, e a imortalidade “de pura imaginação”, e ensina que fé e razão não podem estar em conflito, com a argumentação: “Se a fé fosse contrária à razão, então o ser humano seria escravo de sua humanidade.” O apóstolo Paulo tinha outra solução: “Levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. (2 Co 10.5)
     24  ...quando o “deão vermelho” de Stalin e seus companheiros ensina o que a fé (o ópio do povo) e transmite isso com toda a sinceridade a centenas de eclesiásticos nos Estados Unidos da América e quer que a apõem com dignidade. 
      25  ...quando Vicent Peale degrada a Bíblia a um livro mágico ao citar e usar versículos bíblicos como fórmulas mágicas, para por elas, como psicoterapia, curar pessoas, quando na verdade o que lhe interessa é ter seus livros como Bestsellers nos USA (acima de 2.000.000) “O Poder do Pensamento Positivo: “As palavras da Bíblia têm um valor terapêutico particularmente forte.” (p. 36) Em que consiste esta técnica e aplicação? “Pratique a técnica da articulação sugestiva, isto é, repita de forma audível algumas palavras de candura. As palavras têm um profundo poder de sugestão e cura... Se falar palavras de paz e serenas, seu espírito reagirá também numa maneira serena”. (p. 35) (As seitas da prosperidade fazem a mesma coisa).

No banco dos réus
     26.  Sobre nós, que empenhamos ainda a bandeira do protestantismo, pesa a terrível tragédia que acabamos de descrever: Almas que estão no caminho do ermo, do deserto desolador a procura de um poço que tenha água viva para cansados e desolados; que buscam auxílio, mas só encontram pessoas que cavam ao lado da estrada poços rotos que não retém água.
     27. No outro lado da margem do lago Silsen, em Sils Maria, (Suiça) onde surgiu Zarathustra, um palestrante está falando sobre um homem, que na assustadora solidão das montanhas chama por pessoas, cuja presença ele deseja nesta desconsoladora situação de sua alma. Mas, ninguém vem. Finalmente, seu grito silencia, o grito de uma saudade infinita: “O canto findou. O grito da doce saudade morreu na boca... Agora o mundo se ri. A terrível cortina se rasgou. O casamento veio para luz e trevas”. O palestrante continua (eu escolho algumas frases desesperadoras): “Há pessoas em cujas vidas o destino de uma época inteira se incorpora, Nietzsche pertence a uma elas. Seu inconsolável abandono e solidão é a solidão do homem moderno. Na noite de sua vida não entra mais nenhum salvador, no máximo alguma figura fantasmagórica como Zarathustra em Nietzsch.
     Ele não conhece mais a Jesus, o Senhor... Esta é a interrogação do destino da maioria dos habitantes ocidentais hoje. Eles peregrinam sem Deus, sem Cristo... a escura estrada da autodestruição. Vemos aqui a grande incumbência da igreja? Ouvimos o clamor que vem dali? Ouvimos o desesperado grito da humanidade por salvação?... Ouvimos também acusação que Friedrich Nietzsche levantou contra nós, a cristandade, e que hoje numa roupagem de mil línguas ecoa através de todo o mundo e nos diz: Vocês precisam contar hinos melhores para que eu possa crer no vosso Salvador. Seus discípulos precisam me parecer mais salvos! Nós queremos Deus, mas vocês só têm discursos piedosos sobre Deus... Vossos teólogos não estão unidos na definição sobre o que é salvação – e vocês querem nos pregar salvação?... Queremos ouvir a Deus e não a vocês com vossas experiências interiores, vossas belas experiências mestiças. Estas vocês podem ficar e reter para vocês. Nós moribundos e desesperados não temos tempo para isso”. (Da palestra de Hermann Sasse, do dia 29 de agosto de 1929, em Manjala Suiça, para a abertura da reunião “Fortsetzungsauschlüsse für Glauben und Kirchenverfassung.”)
     28. Nietzsche não é a única voz que acusa o cristianismo e o puxa ao tribunal. O Oriente pagão recentemente acordado do sono do seu isolacionismo, não permite mais o papel dos projetos missionários, mas se opõe ao cristianismo como um parceiro com direitos próprios e exerce forte crítica ao cristianismo de hoje e seu fundamento teológico. Se Gandhi ou   e Sarvepilla Radhakrischmann (1888 – 1975), filósofo e Estadista indiano Presidente da índia de 1966 – 67, ou outros líderes do hinduísmo e budismo. Todos eles apontam para a divisão da teologia moderna com suas tendências liberais e medem sua culpa pela decadência da vida espiritual do mundo ocidental, e o fracasso da igreja na luta contra a decomposição de nossos dias.
     O mundo na fronteira vê a decadência do cristianismo com maior clareza do que os de dentro do mesmo.
    [Cumpre nos acrescentar a ofensiva do islamismo, tão bem-vinda na Europa tão decadente em sua moral, que o povo anseia por uma lei mais rígida e abraça, desesperadamente, o islamismo, como uma tábua de salvação por ter uma lei rígida].    

O que necessitamos?
     29. O que precisamos? Um “Lutherus redivivus?” Novas teses de Harms?[1] Uma revisão dos atuais sistemas de teologia? Ou uma nova fórmula que esteja em condições de dominar os espíritos e torná-los submissos a um pensamento comum?
     30. Na verdade, necessitamos somente de uma coisa: Voltar ao comissionamento que o Filho de Deus nos conferiu. Esta ordem é clara e não permite várias interpretações ou melhoramentos. O apóstolo Paulo não foi nenhum ignorante – ainda hoje ele dá trabalho aos teólogos de todo o tipo – mesmo assim confessa livremente: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). Com isto ele coloca corajosamente os marcos da linha divisória que não são agradáveis à orgulhosa razão humana.  Ele fundamenta sua afirmação de forma corajosa e forte: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração de Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus”. (1 Co 2.4,5)
      31. Quando a igreja fracassa, isto acontece por que ela esqueceu sua real tarefa, a única que lhe dá a razão e poder. Não é tarefa da igreja resolver os atuais problemas sociais, seja de fundo político ou administrativo. Ela também não se envolve em problemas étnicos e culturais. Da mesma forma não deve dispersar suas energias na luta contra poderosos inimigos espirituais, que brotam em cada época. Ultimamente isto vale também para o envolver-se com o “ecumenismo” que também pertence ao desviar-se do alvo. Pois o ecumenismo só pode crescer se a correta árvore foi plantada e cultivada em amor. 
     32. Ainda resta um grande perigo diante do qual precisamos advertir, a saber, cultivar um “cristianismo universal” (Allerweltschristentum), no qual a comunidade com seu culto é, simplesmente, transformada em uma atividade ética ou simplesmente social. Neste detalhe, no entanto, não queremos entrar agora. Soeren Kierkegaard critica violentamente este tipo tão comum da fala cristã, que cresce nos púlpitos modernos: Ontem o bispo “N” falou na igreja “x”. Ele é realmente um artista. Sua pessoa é imponente, seus gestos, sua mímica inesquecível. Ele falou da fé e não faltou nada. Ele dispõe de muitos meios. Quando necessário, ele sabe por as pessoas em pânico, fazer-se de queridinho, verter lágrimas, em fim, ele possuiu tudo. Eu fiquei encantado. Mas depois, quando me sentei para pensar, me perguntei: Qual era o tema de sua mensagem? Não havia tema nenhum!  Nenhum ponto central. Logo, não havia sinceridade. Diante desse pensamento fiquei com medo a ponto de quase desmaiar”. Por isso a observação que um verdadeiro ator fez é correta: “Nós atores falamos das coisas imagináveis como se fossem reais, vocês pregadores falam de coisas reais, como se fossem imagináveis”. 

E que “em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados”. (Lucas 24.47)
     33.  Esta é a tarefa da igreja? Clamar ao mundo do século XX[2], para dentro do barulho, do rugir e martelar das máquinas, sim, para dento dos templos do endeusamento de si próprios: “Ó terra, terra, terra, ouve a palavra do Senhor”. (Jr 22.29)
     34.  Deus quer ser ouvido. Ele tem algo a dizer ao homem moderno. E o que ele tem a dizer não tem o carimbo das correntes espirituais do momento – é verdade divina, é um ponderar, julgar e determinar divino.
     35. O pregador no deserto conhecia sua tarefa e chamava as coisas pelo nome. Ele foi incumbido de preparar o caminho. Por isso pregou arrependimento a cada um que o ouvia. Não importava se simples trabalhadores, homens do campo, rudes soldados, astutos cobradores de impostos, ou belicosos fariseus – Pessoas simples ou altos funcionários, estudados ou analfabetos, pecadores de rua ou pecadores nobres – todos eles deveriam ser atingidos em suas consciências para que acordassem do seu sono espiritual, para que fossem sacudidos e levados ao reconhecimento de sua culpa diante de Deus. A pregação de João Batista foi um chamado para despertar, um chamado para arrependimento.
     36.  Isso era algo novo para Nicodemos e para todos os escribas e fariseus. Não que não o poderiam saber, pois no concerto do Antigo Testamento o arrependimento e a volta para Deus era a base da proclamação – algo que os gentios não conheciam. Incluímos aqui uma palavra de William F. Albright em “Die Religion Israels” (A religião israelita), pág. 35: “As experiências da conversão religiosa e a união mística com Deus são... fora de Israel desconhecidos em todo o Oriente. Conversão religiosa aprece pela primeira vez na Bíblia hebraica. Também na literatura grega não encontramos na história helênica nenhum exemplo. Se a voz do deserto não encontrou eco em algum círculo religioso, isto não era por falta de algum testemunho do Antigo Testamento, mas devido à escola teológica dominante na época”.
      37. Kierkegaard fala sempre do “individuo” que deve ser atingido na pregação, para que se preocupe com a salvação de sua alma. Após o Dr. R. Koenig ter ouvido uma pregação de Spurgeon, ele testemunhou: “O ouvinte está sendo bombardeado o tempo todo”. Ludwig Harms procurava durante sua pregação observar os estranhos no culto para, por suas expressões do rosto, observar suas reações. Quando ele dizia: “Tomemos o exemplo...” analisava as expressões dos rostos afim de atingir sua consciência e ajudar as pessoas a se orientarem. Eu acredito encontrar isso também na carta do prof. Helmut Thielicke que ele escreveu ao evangelista de Los Angeles (agosto de 1963). “Que o senhor, estimado Graham, distribui “pão celestial” e não finezas teológicas, isto ficou bem claro para mim nesta noite, pelo que eu lhe agradeço”.  Em relação à exortação a cada indivíduo para que se decida por Cristo, Dr. Thielicke escreve:  “Para mim também ficou claro que as pessoas querem a decisão, e que esta conversa e exortação individual, que também nós desde a guerra cultivamos na Alemanha, é um fragmento pobre. Eu também vou aproveitar certas conclusões para as minhas pregações, mesmo que a forma exterior talvez seja diferente”. [3]
     38. Sem dúvida, reconhecimentos semelhantes também nos motivam a examinar nossas pregações quanto ao seu caráter de arrependimento e ver se ela está em condições de levar nossos ouvintes ao reconhecimento de seu estado de pecador condenado e tornar sua alma sensível ao chamado do evangelho: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e tua casa”. (Aos 16.31)

A pregação de arrependimento prepara o caminho para o evangelho.
     39.  O evangelho é a única característica do cristianismo. “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade, e te esqueces da transgressão do restante de tua herança” (Mq 7.18). Assim o profeta Miquéias, profundamente emocionado, clama ao povo. No cristianismo, a proclamação da palavra, desde o seu início, é proclamação da salvação. Nós devemos dizer aos moribundos, que viverão; aos vencidos, que vencerão; aos acusados e condenados pela lei, que serão agraciados. Devemos dizer a cada pessoa que Deus a ama e a recebe por amor a Cristo. O filho unigênito de Deus que por seu sofrer e morrer restabeleceu o relacionamento do ser humano com Deus, que o pecado havia destruído. No seu Evangelho ecoa o seu chamamento ao ser humano: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Co 5.20). Portanto, venha para casa, a porta da casa do Pai está aberta. Nisto não há advertência, não há exigência, não há condições, não há um complicado sistema, mas é um carinhoso atrair, chamar e insistir de coração. – O evangelho proclama a fé pessoal num Salvador pessoal.

                  Ambos, gregos e não gregos são devedores

         Será que este evangelho é apropriado para nossos dias?
     40.  Não há outro evangelho. Nosso tempo precisa, especialmente, este velho evangelho, visto que os problemas do ser humano são antigos.  As tentativas para solucioná-los são no fundo as mesmas dos séculos passados, caracterizados com o estigma do impossível que de início leva toda a tentativa ao fracasso.
     41.  A expressão “mundo”, em Jo 17, não exclui nenhuma época. Os discípulos de Cristo também permanecem atuais em todos os tempos – para falar como o apóstolo Paulo – devedores à “gregos e não gregos”.
     42.  Três grandes linhas caracterizam o pensamento que busca soluções em nossos dias: Marxismo, existencialismo e catolicismo. (Catolicismo é obras, as seitas também). Nisto não devemos esquecer que a metade ou quase a metade do mundo humano esquematizado permanece excluída desse esquema. Milhões de pessoas não cabem nesses três grupos, mas querem ser ouvidos e serão ouvidos. Por isso nós seremos mais precisos se falarmos de uma divisão do mundo em duas partes: Cristãos e não cristãos. Isso corresponde melhor à realidade, seja lá de que século for. “Gregos e não gregos” podem apresentar diferentes sombreados até aparentes idéias opostas sob a bandeira do panteísmo ou existencialismo, ou pragmatismo, mas no fim da linha todos eles estão diante do meso nada. Enquanto isso o medo e a falsa segurança impulsionam as almas humanas e fazem com elas suas funestas brincadeiras. E o “pai da mentira” (Jo 8.44) entoa seu entorpecente hino, que ele já cantou no paraíso – da sede pelo saber e da força humana que quer conquistar o céu. Este hino é velho, há quase seis mil anos, mesmo assim milhares de pessoas o entoam com o Bhagavadgita:   
     43.   Quem conseguir, sem paixão e ódio, perpassar o mundo das idéias,
- alcançará, em harmonia consigo mesmo, a paz que nenhuma   
   tempestade afetará.
- Esta sua paz da alma, nem necessidade ou sofrimento deste
  mundo poder-lhe-á perturbar.
- Pois quem o consegue acalmou seu coração, sentir-se-á firmado
  em si mesmo.
- A quem, no entanto, faltar devoção, esse ficará para traz em espírito
  e no aprofundar se em si mesmo,
- A quem, porém, faltar introspecção em si, esse também    
  carecerá de verdadeira paz da alma.
- Só quem renunciar e fechar seu coração ao egoísmo e à
  inveja,
- conquistará a disposição da alma, que experimentará a paz.
- Quem vive assim, vive em Deus, acima dos enganos e aparências,
- E quando sua luz apagar na morte, ele entrará na divindade.

    Que terrível engano – primeiro endeusamento de si próprio, depois a queda no precipício do nada.

O poder de Deus

     44. Um grupo de pescadores do mar da Galiléia, queimados pelo sol e com mãos calejadas pelo trabalho, o que eles querem? Um homem de Tarso se juntou a eles e daqui e dali mais alguns, o que eles querem? Num inigualável episódio da história, estas pessoas conquistam, numa marcha vitoriosa, impérios, modificam a aparência de uma parte do mundo e criaram o assim chamado mundo Ocidental.
     45.  O poder está no Evangelho. Que poder é esse? É o poder de Deus. O poder que salva todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego (Romanos 1.16). Pois, “esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”. (1 João 5.4). Isto está escrito na bandeira individual de cada cristão.

Tal exército não perecerá
     46. Assim cresce a pequena comunidade, reunida em torno do sumo sacerdote em oração. Ela ultrapassa a pequena sala, além de centenas de anos e épocas – Jesus lhes diz no caminho: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio de sua palavra” (João 17.20) .- isto é verdadeira ecumenismo, a única santa Igreja de Jesus Cristo na terra. O evangelho dele, diz August Vilmar (1800-1868) em sua pregação missionária, “aquele que carregou todos os pecados do mundo e venceu a morte é a única linguagem, que todas as pessoas compreendem da mesma forma – O Turco e o Hindu, o Europeu e o da Nova Zelândia, cultos e incultos, instruídos e analfabetos, sábios e ignorantes – a linguagem do Cristo crucificado e ressurreto – de Cristo, do perdão dos pecados por ele e da ressurreição a vida por ele, esta linguagem todos compreendem. E nesta linguagem, mas somente nesta, também eles a entendem entre si, por mais estranhos que sejam nas relações aqui na terra”.
     47. Nossa propriedade é uma maravilhosa certeza. Vilmar escreve: “Se a oração sumo sacerdotal de nosso Senhor Jesus (João 17) é realidade... então, pela mesma e através da mesma, desta eterna intercessão de nosso misericordioso Sumo sacerdote, está incluída e garantida a preservação (unmittelbar), sem intervenção de outros atos de Deus. Se nossa fé nesta oração do Sumo Sacerdote e sua eterna intercessão for real, nossa fé deve ter o mesmo conteúdo, da presença real e ação de Cristo, o Senhor da Igreja, transmitida pela presença pessoal do Espírito Santo, que perpassa de forma interrupta e igual, continuamente, todos os séculos até a sua volta em glória”.

48. Nossa mensagem ao mundo de hoje – como resumo do todo, numa palavra de Kierkegaard: “O que nosso tempo no fundo mais necessita, se resume numa única palavra: “Eternidade”.
                                                                               Porto Alegre, 1956
                                                                                Otto A. Goerl
                                         Tradução - Horst R. Kuchenbecker, outubro 2014

Igreja Luterana, n° 5, 1956, pág. 222-235


             XVIII  -   9.5 TESES PARA A CONTINUAÇÃO DA           
                                                 REFORMA
Introdução
     Estas 9.5 teses foram elaboradas em 1993 pelo pastor Harold L. Senkbeil, da Igreja Ev. Luterana Sínodo de Missouri (LCMS), para sua congregação. Foram escritas devido à grande e crescente influência do espírito arminiano, isto é, o ensino de que a pessoa pode e deve ajudar na sua conversão. É uma teologia centrada no homem em vez de em Deus. Este ensino errôneo afeta a liturgia e o culto, a educação paroquial, a mordomia e o evangelismo. É um problema que afeta toda a Igreja confessional em nossos dias. (O tradutor, HK). 

9.5 Teses para a continuação da Reforma
I - O coração e centro da vida da Igreja é o Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor.
     O coração das 95 teses de Lutero é, sem dúvida alguma, a tese de número 62: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus”. Pode até parecer redundante e supérfluo começar este trabalho com esta tese. Mas o Evangelho nunca pode ser estimado o suficiente. De fato, estamos diante de evidências de que o Evangelho veio a ser, nas igrejas da Confissão de Augsburgo, um mero sibolete[4], isto é, prestamos ao Evangelho um simples serviço de lábios. Pois, nossa vida não é mais dirigida de forma acentuada pelo evangelho, mas pela lei. Mesmo não negando que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê, criou-se em nossas igrejas uma brecha entre fé e prática, isto é, entre justificação e santificação. 
     Esta brecha ameaça esvaziar os três “somente”. É preciso que nos perguntemos novamente: O que significa somente a Escritura, somente por graça, somente pela fé? Quando falhamos em confessar a completa exclusividade da natureza do Evangelho, voltamos a viver novamente sob lei. Se a Reforma Luterana deve ser uma realidade em nossos dias, precisamos ter a coragem de encarar essa situação.
     Nós nos orgulhamos de nosso conservadorismo, mas é um conservadorismo somente de nome. Estamos apegados as nossas Confissões históricas somente na teoria e revelamos uma crescente paixão pela prática que nos vem de outras confissões. Insistimos em ser luteranos, mas nossa teologia da santificação, do evangelismo e da vida litúrgica vem de forma acentuada do arminianismo e fontes do reavivamento[5].
     Parece que a doutrina veio a ser uma “substância” que pode ser expressa em inúmeros “estilos”. Fazendo assim, corremos o risco de substituir a doutrina divina por mandamentos de homens. Perdemos a visão da conexão entre fé e vida na Igreja. Precisamos distinguir entre justificação e santificação, sem, no entanto, separá-las. Wilhelm Loehe lembra: “A verdadeira fé não é somente pregada em sermões, mas também cantada em hinos e orações”. Quando não confiamos mais na Palavra e nos sacramentos, passamos a olhar para métodos, ordens humanas que trabalham no povo de Deus. Precisamos ser suficientemente corajosos para indagar a nós mesmos e penetrar na pergunta: Será que nossa crescente fascinação por metodologias centradas em pessoas é evidência da crescente falta de nossa confiança nos meios da graça dados por Deus? Megachurch, metachurch, crescimento por liderança e qualquer auto-ajuda na vida cristã estão surgindo em abundância e inclinam-se mais para a ciência social (homem total ou integral) do que para o evangelho.
     Está na hora de recuperarmos em nosso meio o espírito dos confessores que nos precederam, para confessar ativamente por palavras e obras o que cremos e ensinamos. Se Jesus Cristo é nossa vida, então somente ele é nossa vida.
II - O Senhor da Igreja está presente em nosso meio pelo ministério de sua Palavra e dos santos sacramentos.
      A presença real de nosso Senhor Jesus Cristo em sua Igreja, por sua santa Palavra e seus santos sacramentos, não é somente um distintivo de nós luteranos, mas é o que o mundo necessita desesperadamente.
     Essa é a principal diferença entre nós e o resto dos protestantes evangélicos. Nós não ensinamos somente princípios, mas proclamamos a realidade de que Cristo vive entre seu povo por sua Palavra e sacramentos. A verdadeira presença de Cristo não é somente doutrina, mas é realidade... e uma realidade não confinada somente na Santa Ceia. Não ensinamos meramente a respeito de Cristo, mas ensinamos Cristo. Isso tem uma implicação dramática na vida cristã. Por exemplo, ao advertir os efésios contra a imoralidade sexual, o apóstolo Paulo não estabeleceu regras para a conduta cristã, ele não colocou seis princípios para a sexualidade cristã, ele simplesmente disse: “Mas não foi assim que aprendestes a Cristo” (Efésios 4.20). O pastor não ensina sobre Cristo e sua vontade para o povo, como Confúcio ou Buda – que foram grandes moralistas. O pastor não ensina sobre Cristo, ele ensina Cristo. Isso não é mera semântica. Isso tem a ver com a nova visão fundamental do Evangelho e dos outros meios da graça. Deus vem atualmente a nós, quer de forma oral ou pela palavra visível do Evangelho, isto é, pela pregação, absolvição e os sacramentos.
     Não precisamos subir ao céu ou descer ao abismo para buscar a Cristo. O apóstolo Paulo afirma: “Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos” (Romanos 10.8; Dt 30.12-14).
    Em Jesus Cristo habita “corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2.9). Ele foi crucificado por nossos pecados, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu e está à direita do Pai. Este mesmo Jesus Cristo está conosco na palavra, seu Evangelho, e na palavra tangível, seus sacramentos. Ele vem com seu perdão e muito mais. Pois onde há perdão dos pecados, há também vida e eterna salvação.
    Ele é ainda hoje o mesmo entre nós como o foi com seus discípulos. O reino de Deus está em nosso meio. Pois onde quer que Jesus esteja, ali está o reino de Deus. Jesus está presente na proclamação do seu Evangelho e na administração de seus sacramentos. Isto tem profunda implicação para o trabalho que executamos em seu nome e sua força, na sua santa Igreja.
III - O artigo da justificação não é um artigo entre outros, mas o artigo com o qual a Igreja permanece ou cai.
     Luteranos conservadores da geração anterior ficaram pasmados quando a Federação Luterana Mundial (LWF) não chegou a um consenso sobre o significado da justificação. O tempo mostrou que é melhor não rirmos, pois, a aderência à justificação em nossos dias, na melhor das hipóteses, é muito tênue. Como já dissemos no “somente por graça” e “somente pela fé” perderam o “somente”. Há uma falta de confiança na graça de Deus. Obras cristãs de serviços estão sendo promovidas para suplementar o Evangelho. Como um proeminente evangelista luterano o colocou: O “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28.19), tornou-se o principal material de nossa teologia. Em outras palavras, a ordem missionária de ir e fazer discípulos veio a ser o ponto central de nossa pregação, contra o Evangelho, a boa nova da salvação que Jesus nos conquistou na cruz. Isso quer dizer que a Lei veio a substituir o Evangelho. Eu tenho ouvido pastores luteranos dizerem que a Lei deve ser realçada após o Evangelho, a fim de “pôr dentes no Evangelho”.
     Não somos antinomistas. A Lei tem o seu lugar dado por Deus para sufocar o velho homem e orientar a vida do novo homem, mas a Lei nunca concede vida. Essa é, para nós, a linha básica. Nossa esperança por perdão, vida e salvação está sempre, inteira e exclusivamente firmada no Evangelho – a ativa e passiva obediência de nosso Senhor Jesus Cristo, sua morte vicária e gloriosa ressurreição da morte. A pregação da Lei sempre vem antes do Evangelho. Para nossa convicção isto está claro: a Lei sempre acusa.
     Hoje, no entanto, consideram o Evangelho sem lei, incompleto. Somos informados de que o alvo do evangelho não é o perdão dos pecados, mas levar os pecadores a obedecerem à lei. Como foi possível que tal idéia veio a ser aceita na Igreja da Reforma? Por que pecadores penitentes são dirigidos para dentro de si mesmos em busca de consolo, para dentro de sua própria luta interna, em vez de olharem e confiarem na graça de Cristo, para sua justificação diante de Deus? Por que a vida da Igreja veio a ser governada pela opinião pública e pelos gurus culturais de nossos dias? Para tudo isso há uma só resposta: A justificação veio a ser outra doutrina para muitas pessoas. O artigo principal da fé cristã não perpassa mais todas as doutrinas.[6]
    É tempo de voltarmos à posição dos confessores da Confissão de Augsburgo, de Lutero e outros reformadores, à verdade da igreja dos apóstolos e dos profetas, construída sobre o fundamento de Jesus Cristo. Nossa justiça diante de Deus, agora e até o fim dos tempos, é a justiça de Cristo, que Deus Pai creditou a todos os que crêem em seu Filho, pelo poder do Espírito Santo. Somente esta fé salva e salva sozinha. Adicionar algo a esta fé – seja sentimento humano, obras humanas ou um dos seus santos mandamentos – adicionar qualquer coisa a esta fé é destruir a graça. Então não é mais “somente pela fé”.
     O que significa isso para nossa fé pessoal, para nossa proclamação pública, para a estrutura de nossa Igreja, para os programas das várias agências sinodais e nosso programa paroquial? Praticamos realmente o que cremos?
IV - O mundo muda, mas o Evangelho e os meios da graça, não.
     As inovações em nossas igrejas são muitas, todas elas defendidas com argumentos como: Os tempos mudaram! As mudanças em nosso mundo clamam por mudanças na igreja. Não podemos mais fazer as coisas como fomos acostumados. Sim, como em todas as coisas, há certas verdades nessas afirmações. Somente um tolo dirá: Visto que Lutero usou tipos móveis na tecnologia da impressão de livros, vamos continuar a usar somente esses tipos e rejeitar os modernos processadores de textos. Ou, visto que Lutero traduziu a Missa para a língua alemã, continuaremos a usar na liturgia somente a língua alemã. Não! Pensar assim seria loucura.
     Mas quando se fala em mudanças, hoje, se requer mais. Ensina-se que liturgia em si mesma é um fenômeno cultural e que o estilo litúrgico deve ser adaptado a cada cultura individualmente. Da mesma forma, o Evangelho deve ser embrulhado e oferecido a cada cultura e época, conforme os termos próprios da cultura do momento.
     Essa maneira de pensar não prevaleceu entre as igrejas confessionais. Nos últimos anos, no entanto, essa maneira de pensar, de adaptar-se à cultura da época, vem crescendo na América, aonde o arminianismo anti credo veio a ser um ensino cristão destacado em nossa cultura.[7] David Wells, em sua importante crítica ao movimento evangélico, comenta: “O arminianismo reavivamentalista fez um casamento perfeito com a vontade americana do século XIX, ativa, confiante e expansionista. Ele abafou efetivamente o protestantismo reformado sobre o qual a nação foi fundada e continua a florescer através do nosso século. Mas ele perdeu sua força, quando começou a ganhar largura; dividiu-se, finalmente, no evangelismo contemporâneo”.
     Se Wells está certo, e eu acredito que esteja, então não é de se admirar que luteranos estejam olhando invejosamente na direção dos evangélicos, em busca de modelos do cristianismo que sejam compatíveis com a cultura americana.
    Esta adaptabilidade cultural é que Wells critica com maior severidade. Pois a cultura de nossa época tomou um rumo decididamente não cristão – não meramente em sua moral, mas em seus princípios fundamentais. Vivemos na época pós-moderna. O que quer que isso significa, o mínimo que isso significa é que vivemos em dias nos quais não há maior autoridade do que a escolha pessoal de cada um, e não há força mais poderosa do que o sentimento pessoal. Pluralismo e individualismo são as marcas gêmeas de nossa era, isto é, há um consenso comum de que não há consenso sobre o que somos e o que seremos. Valores conflitantes ou nenhum valor são igualmente aceitáveis. Um não pode negar ao outro o direito de fazer esta ou aquela escolha em uma ou em todas as coisas. Pragmatismo é a única base sobre a qual podemos fazer essas escolhas. Em tal sistema, o único mal real, o único pecado cardinal é não fazer nenhuma escolha. Cabe a cada um criar seu mundo à base de sua própria escolha.
    Aqueles que torcem pelo surgimento do “humanismo secular”, veem somente a ponta do iceberg. O problema real em nossa cultura é mais profundo. Já, há uma década e meia, Solzhenitsyn advertiu o Ocidente sobre um “mundo fragmentado” em seus valores pelo materialismo. Seu comentário foi dramaticamente ignorado pela mídia. Hoje está provado que foi uma profecia trágica. David Wells informa que está surgindo uma geração completamente nova. Uma nova mentalidade de pensar que está perpassando tudo, que está conquistando tudo silenciosa e dolorosamente pelo auxílio da crescente confiança no materialismo tecnológico e da urbanização. Essa nova visão do mundo, essa nova civilização na qual nos encontramos, é o que Wells e outros rotulam de “modernidade”. 
     O que significa isso para você e para mim que pregamos, ensinamos e vivemos num mundo que não tem centro? Não há valores duráveis ou princípios superiores que sejam assumidos em comum. Em tal mundo, cada pessoa cria sua própria opinião a sua livre escolha. Filósofos afirmam que palavras não têm sentido, a não ser o sentido que o leitor lhes dá. A matéria não importa, mas a experiência. Individualismo e pragmatismo levaram a religião a uma crescente privatização. Cristianismo popular foi efetivamente colocado na ponta. Não se prega mais cabeça para baixo, isto é, arrependei-vos, mas cabeça ao alto, isto é, sois dignos, louvai. A pregação não é mais centralizada em Deus, mas no ser humano.[8]
     É esta a cultura à qual devemos adaptar o Evangelho? Ou, a propósito, devemos adaptar o Evangelho a qualquer cultura? Amoldar a Igreja para encaixá-la numa cultura é selar nossa própria condenação. Geoffrey Chaucer escreveu: “Quem quer jantar com o diabo, precisa de uma colher muito grande”. Guiness escreveu um livro intitulado: Jantando com o diabo: O namoro da Mega-Church com a modernidade. Nesse livro, ele sublinha algumas das ameaças que a modernidade traz ao cristianismo. “Nós inventamos a tecnologia para colocar a Palavra de Deus em prisão”. A fascinação por um evangelismo no qual o culto é dirigido para as necessidades do público consumidor, traz o Evangelho contemporâneo, perigosamente, para perto do liberalismo criticado por Richard Niebuhr: “ ...com um Deus sem ira, a homens sem pecado, para dentro de um reino sem julgamento, pelo ministrar de um Cristo sem cruz”.
     Sim, o mundo está mudado. Somente um cego não o vê. Mas o que é assustador é que tantos na Igreja estão prontos a comprometerem sua fé com a cultura mutável de nossos dias. É tempo de questionarmos seriamente a fascinação acrítica que nossa igreja tem mostrado recentemente com o pronunciamento dos dirigentes da opinião pública e das tendências dos vigias em nossa era. Nós realmente esperamos que nossa Igreja opere à base dessas visões e opiniões populares?
    Em cada época, a igreja precisa fazer certas mudanças, para acertar seu foco. Essas são feitas à luz da Palavra de Deus e não no seu conteúdo. As coisas santas de Deus, que ele deu a sua igreja, essas são imutáveis. O santo Evangelho, os santos sacramentos, a santa liturgia[9] – essas coisas são colocadas no mundo, mas elas não são do mundo. Elas são por definição transculturais – isto é, elas estão enraizadas firmemente na Palavra e seus olhos estão fixados nas coisas do alto (Cl 3.1-4), onde Cristo está assentado à direita do Pai. Por seu sangue, Jesus nos libertou de nossos pecados e nos faz sacerdotes, para servirmos a Deus Pai em seu reino. E este reino não é deste mundo.
     Por isso a igreja é, fundamentalmente, oposta à cultura. Ela é a cultura da cruz, isto é, a mensagem do Evangelho que se dirige contra a idolatria que está no coração de cada cultura humana. A igreja tem uma mensagem que transcende ao tempo, que ela dirige à cada tribo e língua, povo e nação. Ela chama as pessoas a se voltarem da morte para a vida, do pecado para Cristo, que é a vida, para terem nele a vida eterna. Ela convida pessoas de cada tribo, língua e nação a virem a ser cidadãos do reino celestial, e cidadãos de uma cidade com o fundamento cujo Criador e construtor é Deus. As cidades dos homens mudam, Deus não. 
V – A grande ameaça para a Igreja vem de dentro dela.
     A legendária batalha de Tróia, que levou à trágica derrota, serve de exemplo para a Igreja. Pois, ao levarem o Grande Cavalo com muita alegria para dentro de sua cidade, como troféu de vitória, os troianos não se deram conta de que estavam levando o inimigo para dentro de sua cidade, que agora pôde combatê-los de dentro. O troféu de vitória foi um malogro.
     Essa lenda épica serve como pungente advertência à igreja de hoje em todos os níveis. Primeiro, ao movimento evangélico como um todo, aparentemente tão zeloso no abraçar os troféus da Nova Era e tentar cristianizá-los para o serviço da Igreja. Segundo, de forma mais especial aos luteranos, que adotam esses métodos de forma assustadora e absoluta, sem examinar sua teologia, amável e não luterana, para colocá-los a serviço do Evangelho. O pragmatismo, já há muito tempo vem estendendo sua mão ao luteranismo como um todo. Nosso moto, para analisar esses métodos, parece ser simples: “Isto funciona? Isto dá resultados? Ora, o que opera na América hoje é o que sempre operou na América – uma alta dose de sentimentalismo atado ao subjetivismo envolto em sua estrutura de: Faça você mesmo! Este é o estilo evangélico que é reivindicado e que está sendo adaptado à substância luterana assim como é.
     Tal teologia centrada no homem é oferecida e vai bem em nossa cultura. Há, no entanto, um problema, isso não é Evangelho. A verdade nunca pode ser colocada em jugo igual com a respeitabilidade cultural, pois, nesse caso, a verdade sempre ficará com a parte menor. Onde quer que a verdade case com a cultura, ela está destinada a, cedo ou tarde, enviuvar.
    Esse mesmo argumento foi usado em favor do método crítico-histórico. Naquele tempo se dizia: Não podemos purificá-lo, mas podemos usá-lo com pressuposições luteranas. A história mostrou algo diferente. Infelizmente, somos maus alunos da história. Parece que estamos condenados a repetir os mesmos erros trágicos das primeiras gerações, sempre aderindo aos movimentos exatamente quando ameaçam parar, apegando-nos ao restolho, lançando fora o nosso tesouro.
     Vinte anos atrás, o Sínodo de Missouri (LCMS), cansado das disputas políticas internas, procurou um tema, uma ação comum que pudesse unir o Sínodo novamente. O tema encontrado foi o Grande Comissionamento (1980). Esse tema foi bem preparado e tinha certa base teológica, pois o povo tinha crescido no respeito à Escritura, devido à sua visão da integridade e autoridade da Bíblia.
     Assim, de forma acrítica e com grande entusiasmo, puxamos o cavalo de Tróia do evangelismo para o nosso meio. A semente do arminianismo e do reavivamento começou a crescer e lançar seus frutos. Ao mesmo tempo, diminuiu cada vez mais a confiança no poder do evangelho, através dos meios da graça. A vida piedosa e litúrgica de nossas congregações reflete de forma crescente a piedade no estilo de culto e do reavivamento americano. O futuro mostrará se vamos reter ou não nossas Confissões.
     A pergunta pungente de Jesus, dirigida a nosso tempo, permanece no ar: “Quando vier o Filho do Homem, achará porventura fé na terra? ” (Lc 18.8).     
VI – As indulgências modernas são o sentir e o pragmatismo.
     Em suas 95 Teses, Lutero julgou o poder e a eficácia das indulgências. Essas indulgências alegavam conceder completa libertação dos castigos eternos que pesavam sobre os pecadores.
     João Tetzel não veio para a longínqua América. Ou será que veio? Precisamo-nos perguntar se nosso atual apego aos sentimentos subjetivos e à adoção sem crítica do pragmatismo[10] não é uma forma de indulgência? Uma rápida olhada nos títulos de livros, numa livraria evangélica ou num catálogo de livros evangélicos, nos dará muitos exemplos da moderna fascinação por programas e métodos designados para alterar formas do comportamento humano e conceder indulgências. O que, no entanto, experimentamos é o mesmo que experimentaram no século XVI, a perda do verdadeiro tesouro da Igreja, do santo Evangelho da graça de Deus.
     Lutero olhou através da tática da venda show das indulgências, da chantagem e do seu impressionante sucesso. No fundo, não era uma questão de embalagem, mas de conteúdo, a negação do próprio Evangelho. Se você prefere colocar evidências, razão e sentimento sobre a fé, você sempre terminará em erro. O Evangelho não é matéria de evidência racional ou evidência experimental, é matéria da cruz. Seis meses após as 95 Teses, Lutero articulou claramente os princípios fundamentais de sua teologia: a teologia da cruz.
   Na 21ª tese da Disputa de Heidelberg: “A teologia da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; a teologia da cruz diz as coisas como elas são.[11] Isto é evidente, pois quem ignora Cristo, ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por isso, prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade, a sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o apóstolo chama de “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18), certamente porque odeiam a cruz e os sofrimentos, ao passo que amam as obras e sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz de um mal, e o mal das obras de um bem. Já dissemos, no entanto, que Deus não é encontrado senão nos sofrimentos e na cruz de Cristo. Os amigos da cruz afirmam que a cruz é boa e que as obras são más, porque, pela cruz, são destruídas as obras e é crucificado Adão; pelas obras, este é, antes, edificado. Portanto, é impossível que não se envaideça com suas boas obras a pessoa que não for primeiramente exinanida (enfraquecida) e destruída pelos sofrimentos e males, até que saiba que ela mesma nada é e que as obras não são suas, mas de Deus”.
     Assim não nos surpreende quando o pragmatismo triunfa sobre a verdade ou quando o Evangelho e os meios da graça são sacrificados em favor do emocionalismo. Para ambos, pragmatismo e sentimentalismo são obras - e o velho Adão é especialmente edificado por obras.
     Nas igrejas da Confissão de Augsburgo é especialmente trágico capitular diante do deus desse século. Se adotarmos a teologia da glória e chamamos o bem de mal e o mal de bem; se nos tornamos cegos e adotamos alegremente a doutrina e a prática daquilo “que faz efeito, que dá certo”,             negamos a Deus. Esse Deus que escolheu deliberadamente a palavra da cruz, para se dirigir a este mundo, que é por definição loucura, para o mundo, para os que se perdem, mas para os salvos, poder de Deus e sabedoria de Deus (1 Coríntios 1.18-25). Não nos deixemos iludir, sirvamos ao Deus da cruz, à palavra da cruz.
VII – Evangelicalismo e liberalismo são dois extremos do mesmo erro.
     Esta tese, de primeira vista, parece dura, porque ela nos golpeia intimamente. Sobretudo a nós luteranos que estamos entre os primeiros a ostentar orgulhosamente o título “evangélicos”. Desde a Reforma, o nome “evangélico” se refere exclusivamente aos cristãos descendentes de protestantes fundamentalistas. Por isso, repugnamos abrir mão deste nome: evangélico. Mas precisamos estar atentos ao que aconteceu, na América, a esse termo na metade do século XX. A palavra “evangelical” veio a referir-se aos cristãos evangelicais modernos, que têm mostrado uma tendência natural para a cultura. E aqui está sua conexão com o velho liberalismo. Ainda que de muitas maneiras eles sejam extremamente opostos em suas conclusões, eles encontram uma fonte comum na cultura de nossos dias. Evangelicais e não menos liberais têm, ambos, mostrado uma tendência para o abandono da doutrina em favor da vida.
     Na visão de David Wells, liberais e evangelicais beberam todos da mesma fonte. Esta fonte é a modernidade. Em ambos os casos, no entanto, a confissão veio a ser uma casualidade porque a modernidade é hostil a toda a verdade que é absoluta e transcendental em sua natureza. O que permanece é simplesmente a reflexão acadêmica e praticidade no evangelismo.
     Wells documenta um abandono gradual da integridade doutrinária entre os evangelicais, somada a um destaque à cultura. Se ele está certo – e eu acho que sim – luteranos deveriam pensar muito antes de acoplarem seu vagão a um ator destinado a ser, cedo, um buraco negro. Wells usa uma admoestação profética a respeito do crescimento do vácuo doutrinário no movimento evangélico. “A palavra “evangélico” tornou-se descritivamente anêmica. Ela é, creio, o negro prelúdio da morte. Quando os parasitas finalmente trouxerem para fora suas multidões, em meio ao clamor de todos esses modelos novos da fé evangélica, soará o guizo da morte.
VIII – A confusão litúrgica é um sintoma da crise confessional.
      Quer me parecer que somos tolamente ignorantes em nossos círculos, a respeito de algo que a Igreja conhece há centenas de anos: A maneira como você ora, determina o que você crê. O que você crê, determina a maneira como você ora. “Lex orandi, lex credendi”. Nossos pais do Sínodo de Missouri se inclinaram para um caminho mais prático. Eles simplesmente edificaram a maneira antiga, colocando a liturgia na base confessional de sua constituição. O artigo seis de nossa Constituição Sinodal inclui a condição para se tornar e permanecer membro do Sínodo. Ali lemos o seguinte: “Uso exclusivo da Agenda Litúrgica da doutrina pura, hinário e Catecismo nas igrejas e escolas (Handbook, LCMS, 1995, p.11, art. VI.4; Regimento da IELB, Título V, art. 73, VI).[12] Hoje, muitas de nossas congregações desprezam essa exigência. Há uma ansiedade em fugir da integridade doutrinal em favor de emoções. Sentir parece ser o primeiro critério que torna uma música litúrgica aceitável. Se um tom musical toca o coração e, na lírica referente ao nome de Jesus há muito disso, então qualquer canto pode ser usado, mesmo se lança os corações em confusão.
     Como isso se tornou possível? A resposta é óbvia – parece-me que nossa confusão litúrgica torna evidente a profunda crise confessional na qual vivemos. Estamos confusos quanto ao que cremos. Não cremos mais que o Evangelho e os sacramentos são as únicas e exclusivas ferramentas do Espírito Santo, se não, como poderíamos cantar hinos e prestar culto de uma tal maneira que a vontade humana e as emoções são os condutores dos sentidos em nosso relacionamento com Deus?
    Não é surpresa, por isso, haver em nosso meio uma grande controvérsia sobre liturgia. Muitos vêem na liturgia tradicional uma fonte de letargia em nossa espiritualidade e impotência na missão. E afirmam que só voltaremos a crescer, se nos libertarmos de nossa liturgia tradicional, ultrapassada de prestar culto. A pesquisa da Worship Towerd 2000 demonstrou, há alguns anos atrás, que há uma grande confusão em nosso meio a respeito do que acontece realmente no domingo de manhã nas igrejas. Em algumas igrejas se busca uma saída radical da liturgia histórica, nas quais o altar já é substituído por um palco.
     Alguns julgam que, fazendo assim, encontraram a chave para o crescimento da igreja, da mega igreja e meta igreja tão fascinante. Por que algumas congregações, com boa reputação de conservadoras, se afastam de forma crescente da forma liturgia histórica e da hinologia confessional? Somos nossos próprios inimigos. Abandonamos o coração da vida da Igreja luterana: A presença real de nosso Senhor Jesus Cristo em sua Igreja na terra, pelos meios da graça.
    A Igreja sofre hoje de forma crescente de demência. Ela deixou conscientemente o que ela é. Deixando a si própria sozinha num mundo muito impessoal e antagônico. Ela corre atrás de algo que a faça sentir-se melhor, algo que lhe dê um sentimento religioso.
     Mas a Igreja é a noiva de Cristo. Ela não necessita de algo relativo que a faça esquecer sua situação neste mundo. Ela necessita de seu noivo. O Senhor vivo de céu e terra. Jesus vem à procura de sua santa noiva, que ele comprou com seu próprio sangue, pela qual ele deu sua vida. E este Senhor vivo vem a ela em sua Palavra e em seu santo Sacramento, para habitar com sua noiva e cuidar dela em sua sacra liturgia.
     Quando falo da liturgia, algumas pessoas me perguntam: Você está dizendo que se temos a liturgia correta, temos o Evangelho correto? Sim, mas isto não é toda a verdade. Minha reivindicação é que tenhamos o Evangelho correto, então teremos a liturgia correta. Somos tentados a tornar a liturgia em um entretenimento, terapia ou catarse. Isso não é culto.
    A liturgia histórica é consoante com o Evangelho. Pois a Igreja na terra não tem vida separada de Cristo. Seu moto é como o apóstolo Paulo disse: “Para mim o viver é Cristo” (Fp 1.21). A liturgia é a vida da Igreja, sobre tudo porque é na liturgia que o Senhor vivo vem ao encontro de sua noiva. A liturgia é a vida da Igreja, por meio dela a noiva se entrega a seu noivo celestial. A liturgia não tem vida em si mesma, mas somente porque ela é cheia da vida de Cristo, em Palavra e sacramento. A liturgia é ambos, a fonte para a vida da Igreja e a forma da vida da Igreja. É o lugar de onde ela busca o pão e onde ele o dá de volta. É onde ela inala o poder doador da vida do Espírito e onde ela exala este poder do Espírito. É onde ela recebe perdão dos pecados, vida e salvação nos meios da graça e onde ela oferece seu sacrifício de culto ao Pai pelo Filho, no Espírito.
IX – O caminho da Reforma inicia com arrependimento.
      Onde começaremos a purificar a Igreja? Começaremos com nós mesmos. Onde começaremos a nos purificar? Começaremos ali onde a Igreja sempre começou, com arrependimento. Entre nós não é diferente como o foi, no início, em Éfeso aos quais o apóstolo Paulo escreveu: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados... Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos” (Efésios 2.1,4,5). Assim iniciamos a caminhada para a Reforma no século XXI. Exatamente onde Lutero começou a Reforma no século XVI na Saxônia, com a primeira tese: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos, etc, certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento”.
    É tão fácil dizer isso aos outros e esquecer a trave que está em nosso próprio olho. É tão fácil expor os erros do Church Growth, ou dos Evangelicais, ou da Meta-Church, e não ver os pecados em nossos corações.
     Irmãos e irmãs em Cristo nós precisamos começar a examinar nosso próprio coração para ver onde deixamos a confiança no Evangelho, onde e como menosprezamos a pregação e a Palavra de Deus, como temos promovido ou suportado a substituição da Palavra de Deus por mandamentos humanos. Precisamos olhar para nossa própria congregação em busca de evidências da apostasia da fé destinada aos santos, de exemplos no focalizar obras de homens em vez das obras de Deus, colocando a ciência social humana em lugar da graça de Deus, dando atenção às experiências humanas em lugar das verdadeiras promessas de Deus em sua Palavra e sacramentos. Isso é pecado. E pecado requer arrependimento.
     Para as igrejas nada é diferente do que para os cristãos. “O velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente”.
     Pois onde há arrependimento e fé, há perdão dos pecados, vida eterna e salvação. Esta é nossa esperança, nossa única esperança nos dias atuais.
IX.5 – A esperança imutável da Igreja é unicamente pelo mundo novo.
    Esta não é simplesmente a única esperança para a Igreja, ela é também a única esperança para o mundo perdido em pecado. Por isso, esta última tese é somente metade de uma tese, a outra metade é nossa, pois ela clama por uma resposta, a resposta do arrependimento que leva à vida. Quando cremos na santa Palavra de Deus, também levamos uma vida conforme a vontade de Deus. Quando a Igreja confia no Evangelho, também vive do Evangelho. Ela evangeliza com o Evangelho e adora conforme o Evangelho.
     Em 1817, Claus Harms propôs 95 teses para o reavivamento da Igreja Luterana com integridade confessional em face do unionismo, racionalismo e pietismo. Sua primeira tese chama ao arrependimento como tal. O que foi número um para ele, cento e setenta e seis anos antes, fora número um também para Lutero e é número um para toda a Igreja Luterana, a saber, a Igreja Cristã Apostólica em nossa era pós-modernista.
     Proclamando o Evangelho em nossos dias, não queremos conformar nosso ensino ao espírito alterado de nossa época, nem colocar o mistério da fé em embalagens fúteis de nossos dias. É tempo de prover para o nosso mundo que está morrendo, apesar de todo o avanço da medicina, o remédio puro da Palavra de Deus com a correta aplicação de Lei e do Evangelho. Ainda que tal remédio não desça fácil em nossa época idólatra, ele é o único remédio que traz vida.
     “Quando sentamos à mesa com nossa cultura, lembra Os Guines, a Igreja precisa de uma colher muito longa”. “Nosso mundo não necessita de qualquer “McChurch”. Ela necessita da Igreja que se expande através de todo o tempo e espaço, enraizada na eternidade, terrível como um exército com banners” (Lewis). Nosso mundo necessita de nenhuma meta, mega, ou para igreja. Ela necessita hoje da Igreja, a santa noiva de Cristo, a companhia dos redimidos no tempo e na eternidade, no céu e na terra, como mordomos que administrem fielmente, aqui no mundo, os santos mistérios da Santa Trindade.
     Ainda que não somos do mundo, estamos no mundo. E tenha certeza, não desprezamos os dons que Deus concede a este mundo. A igreja faz uso dos experts em tecnologia e da ciência social. Mas o que o mundo mais necessita é que uma criança de 7 anos saiba o que é a Igreja verdadeira: As ovelhas fiéis de Cristo que ouvem a voz do seu Pastor (Art. Smalcalde XII. A Igreja).
                                                            Rev. Heroldo L. Senkbeil. Elm Grave Ev. Luth. Church
                                               Tradução, com pequenas adaptações: Horst R. Kuchenbecker
Bibliografia:
- David Wells. No Place for Truth (or Whatever, Happended to Evangelical Theology?) Wm. H.B. Eerdmann Publishing Co. 1993
- Os Guiness. Dining with the Davil (The Megachurch Movement Flirts with Modernity) Baker Book House, 1993.    
      
Perguntas para debate
1ª Tese – O Evangelho
1.1  – O Evangelho é o centro de nossas mensagens, liturgias e hinos ou    
   predomina neles a ação humana?
1.2   - Na vida dos membros, palavra e obras (Tábua dos Deveres), estão   
   centralizados no evangelho?
2ª Tese – Ministério
     2.1 – A presença de Cristo em sua igreja é por palavra e sacramentos? O  
              que significa isto?
     2.2 – O que significa: “De graça deverei ser salvo?” (HL 371.3) (do
              original: Quer o sinta ou não?). E: Alegrai-vos sempre no Senhor?
             (Fp 4.4). Como fica o sentimento?

3ª Tese – Justificação
      3.1 – O que significa “ser justificado ou reconciliado com Deus”?
      3.2 – Qual a diferença entre o “Cristo por nós” e o “Cristo em nós”?

4ª Tese – Mudanças
     4.1 – O que é mutável e o que é imutável na igreja?
     4.2 – Quais os perigos nas mudanças?

5ª Tese – Ameaças Internas
     5.1 – Quais são?
     5.2 – Como vigiar?

6ª  Tese – Indulgências
     6.1 – Quais são as indulgências modernas?
     6.2 – Defina os termos: “teologia da cruz” e “teologia da glória”.

7ª  Tese – Evangelismo e Liberalismo
     7.1 – Qual a diferença fundamental entre o evangelismo luterano e o
              resto das igrejas evangélicas, e evangelismo chamado de “Missão
              Integral”?
     7.2 – O que significa no evangelismo: semear a boa semente?

8ª  Tese – Liturgia
     8.1 – Por que liturgia?
     8.2 – Qual a diferença entre: Culto Principal e Culto Evangelístico?

9ª  Tese – Reforma
     9.1 – Em que consiste o arrependimento diário?
     9.2 – De que temos que nos arrepender como igreja?       




[1] Claus Harms 95 Teses de 1817. Você pode encontrá-las na internet, sob este título em língua alemão e traduzi-las pelo Google.
[2] Hoje XXI
[3] Aqui podemos lembrar nossos pais: Lutero, Walther e outros que terminavam suas pregações com uma exortação tríplice: - 1) Vocês que vivem nestes pecados, arrependam-se. – 2) Vocês que estão atribulados por terem fracassado, saibam que Cristo vos ama e perdoa. – 3) Vocês que estão lutando por vida santificada, continuem, pela graça de Cristo a crescer cada vez mais. 
[4] Sibolete ou Chibolete. Palavra hebraica que quer dizer “riacho” ou “espiga”, que era pronunciada de modo diferente nos dois lados do rio Jordão (Juizes 12.6). A pronúncia desta palavra denunciava a origem da pessoa, do lado de cá ou do lado de lá. A expressão é usada hoje como algo que caracteriza a confissão ou crença de uma pessoa. 
[5] Basta analisar os hinos que são cantados em nossos cultos que provém das seitas. Não que não haja hinos bons nos hinos das seitas. Por vezes os textos precisam de uma pequena correção, substituição de uma palavra ou acréscimo de uma linha ou estrofe, para expressarem a doutrina corretamente. Este trabalho cabe à Igreja.
[6] Nota do tradutor: Temos que examinar nossos sermões. Fala-se do evangelho e logo depois vem a carga: Os que aceitam a Cristo como Senhor, os renovados, os transformados não fazem mais isto e aquilo, vivem agora para Cristo, para herdarem o céu! Como se o consolo estivesse no que fazemos.
[7] Aqui é preciso lembrar que o cristianismo em sua expansão após pentecostes não se adaptou às culturas de sua época, mas as transformou ao longo da história da humanidade.
[8] Chamam isso hoje de “Missão Integral”, que na verdade é a Teologia da Libertação
[9] Santa liturgia não se refere à simples forma que se encontra nos Hinários ou Agendas, mas a correta adoração “em espírito e verdade”, com correta ordem e aplicação de lei e evangelho, hinos doutrinariamente corretos (nota do tradutor).
[10] Pragmatismo: ativismo, implicações práticas, soma de regras que, se seguidas, dão resultados.
[11] Lutero, Martinho. Obras Selecionadas. Editora Sinodal e Concórdia Editora, Porto Alegre, 1987, vol. I, p. 39.
[12] Confere Regimento da IELB, Artigo 73.VI: Usar formas cúlticas, hinos e manuais de instrução doutrinárias que estejam de acordo com a Escritura Sagrada e as Confissões Luteranas. (Edição 2010)

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